Ato 04 — Enlaçados.

Tendo em mãos seu mais novo monstrinho e ciente de como funcionaria a barraca, de frente às tendas de captura, uma das atrações do parque de grande relevância aparentava estar com fila reduzida: a tenda de arqueologia. Com informativos ao redor, inúmeros prêmios chamativos fizeram as pupilas do casal dilataram-se com a possibilidade de encontrar não apenas utensílios de grande utilidade para sua cruzada, como joias de valor monetário significativo. Entreolharam-se com um faceiro sorriso, rapidamente açodando para o final da fila.

Aproveitaram que tinha pouca gente em comparação às demais atrações para poderem usufruir da arqueologia, arriscando, mais uma vez, alguma sorte em atrações como a anterior.

Quem sabe não poderia vir algo bom, não é mesmo?

A fila estava menor que as demais atrações, de fato, contudo, não significava que estava vazia. Uma quantia significativa de turistas ainda aguardava para adentrar na tenda que arremetia a sítios arqueológicos — como o próprio nome da atração sugeria: Peritos da Arqueologia. Ainda grudada próximo ao rapaz, a loura fizera mais algum bico enquanto, ciclicamente, batia seu pé direito contra o chão em protesto à demora para poder usufruir do brinquedo.

— Eu não aguento mais esperar nessa joça — desviou seu rosto para o lado contrário do kantoniano. — Se não vier um big nugget, no mínimo, por essa demora que a gente tá aqui, eu vou ficar muito brava com o senhor, tá entendendo?

— Vê se para de reclamar, bicuda — como outrora, pressionou, gentil, com o dedo indicador e o polegar os lábios róseos da garota. — Tohjo finalmente tá livre daqueles perrengues, é normal que venha muita gente, não é?

— Pode até ser, mas eu não aguento mais esperar.

E seguiram aguardando, até que finalmente adentraram à atração da arqueologia. Próximo a uma das entradas, um rapaz de idade similar aos dois começava a explicar o funcionamento do brinquedo: a dupla teria de escavar aquele ínfimo sítio arqueológico, limpando, também, todos os instrumentos que recolheriam para si com todos os equipamentos providenciados pela administração do local. Ao término das orientações, foram dados os utensílios necessários para que, enfim, entrassem na atração: picaretas, pás e tudo o que um garimpeiro utiliza em seu cotidiano.

Apenas acenando com a cabeça, adentraram no espaço adequado para que escavassem; distraída, Emma cantarolava a música de “Bob, o construtor” mexendo sua cabeça para lá e para cá, alternando entre algumas risadas inocentes.

Já no recinto, arquearam, cada um, os instrumentos para iniciar a escavação e as buscas pelos brindes prometidos nos informativos acerca da tenda arqueológica. Sorte ou técnica? Apenas o tempo dirá.

Foi dada a largada, e ao invés dos costumeiros tiros, o primeiro soído fora a martelada que o louro desferiu contra uma rocha mais corpulenta, e repetiu o processo infindáveis vezes. Naturalmente, a poeira subia, dificultando infimamente a visão do treinador para vislumbrar o que havia pego; no meio das partículas e dos detritos, um brilho metálico assaltou aos olhos da dupla, que subitamente se entreolharam, jubilosos pela possibilidade de ser algo que valesse muito dinheiro. Emma pensava nas viagens que poderia fazer com seu par, junto de cafés, jantares e tudo que uma princesa como ela merecia; Nicholas, como um legítimo viajante, começava os cálculos para comprar as técnicas necessárias aos seus monstrinhos com a finalidade de ser um vencedor.

Tomou aquela massa exacerbada em suas mãos. Pincelou, gentil, aquela superfície cintilante, com a retina finalmente processando o que havia encontrado. Para quem esperava um big nugget, acordou com uma iron ball.

Em um sorriso desconcertado, o louro fitou a treinadora; sua expressão faceira se derretia diante das expectativas que criou apenas ao vislumbrar os raios refletidos pela superfície do utensílio. Nicholas sabia que poderia ser útil em alguns momentos. Só que como explicar isso para a garota ao seu lado, que novamente crescia um bico, emburrada?

— Ah, não. Sério isso? — resmungou Emma, batendo o pé com aquela manha costumeira. — Olha, eu vou te dar um crédito porque ainda tem mais duas tentativas. Se a gente não achar alguma coisa que valha um bom dinheiro pra gente poder aproveitar, você quem me aguarde — volveu na direção de uma rocha em sua retaguarda. — Dessa vez, tenta aquela dali, você vai ver que eu dou mais sorte que você.

Em passos lentos, Nicholas se dirigiu até a loura, jazendo na frente da mesma. Afável, inclinou seu tronco para baixo, dando um terno beijo estralado na testa da garota emburrada.

— Fica calma, Emma — achegou-se à rocha, apontando com o martelo para a mesma. — Você vai ver que vai vir algo muito bom agora — deu uma piscadela, erguendo o utensílio mais uma vez, reiniciando todo o processo.

Veio o segundo item depois de toda aquela nuvem de poeira encobrir e enevoar a visão da dupla por um curto lapso de tempo. Diferente da outra vez, era nítido que não tinha o formato da joia pretendida pela dupla; súbito, a garota revirou os olhos, antes de levar sua mão esquerda à testa e dar algumas gargalhadas culpando sua má sorte por não ter atraído o item almejado. Nicholas pincelou o achado, pressionando suavemente aquela lama disforme. Não delongou para que o mesmo a identificasse como uma light clay, que poderia ser útil, principalmente em batalha para deixar os efeitos das telas especiais mais longevos.

Balançou a cabeça positivamente, dando um sorriso sucinto.

Antes mesmo de guardar aquele item, um dos funcionários apareceu para avisá-los de que era a última tentativa de conseguir qualquer apetrecho mais. Os dois se entreolharam, sorriram um para o outro; não precisaram abrir a boca para passar aquela confiança de que, agora, viria o item almejado. Nicholas estralou o pescoço e girou o martelo em sua mão eximiamente, dirigindo-se à uma rocha esparsa.

Respirou fundo, delongando principalmente ao expirar. Ao julgar-se pronto, ergueu o martelo com as duas mãos, recomeçando todo o processo de garimpo repetido outrora.