off. :
ANTES TARDE DO QUE NUNCA! Extremamente grato por pegar minha rota, caro narrador. Que nos divirtamos e Arceus abençoe o evento!
Um itinerário até de fato tomarem o rumo até Johto, no National Park: volta à Rustboro, Mauville onde puderam ensinar algumas técnicas novas aos monstrinhos para que, enfim, pudessem ir ao destino outrora planejado. Mesmo que por tão pouco tempo, os acontecimentos na rota cento e quinze marcaram a dupla cada qual ao seu modo: a garota ainda se sentia um pouco melancólica com a despedida da criança que lhe fora terna, enquanto o companheiro ressurgia mais determinado, como a fênix mitológica; em seu peito, um colar, agora um farol para tentar iluminá-lo quando as águas sombrias da vingança lhe afligirem.
Contudo, aquilo seria o suficiente para pará-lo? Era uma indagação retórica, que nem ao menos se chegaria a uma ínfima iluminação à resposta da questão. Uma eterna dicotomia entre o bem e o mal, ying e yang, luz e trevas: esse era Nicholas. Ao seu lado, bem como em seu peito, dois grandes faróis tentavam extinguir por completo aquilo aprisionado em seu intrínseco. Como colocado inúmeras vezes, o louro era vítima dos próprios sentimentos que tanto suprimiu.
Se em algum momento anterior de sua vida se entregou aos sentimentos, sentira-se traído pelos mesmos, que o fizeram ser ainda mais cauteloso quando se trata de assuntos emocionais. Rompeu com estas, e buscando força na razão, seguiu para Hoenn; apenas para se entregar às emoções novamente, como uma mosca se gruda a uma teia de aranha em seus voos rasantes tão lépidos. Ao menos durante aquela viagem, pôde olvidar de tudo aquilo que o lancinou outrora.
— Você acha que vai ficar tudo bem? — indagou Emma, branda, apertando ainda mais ao braço do companheiro que se enlaçava; achegou-se ainda mais do braço de Nicholas para que o mesmo o envolvesse com o membro destro em um abraço, repousando suas mãos sobre a cintura da enamorada. — Quer dizer... Ela ter ido embora, eu mesma nem sei se foi real.
— Já passou. Para de ficar remoendo — soprou o garoto, com os olhares fixos na paisagem na janela do transporte. Aproveitou a pausa ínfima para aproximar Emma de seu corpo ainda mais. — Fique feliz porque aconteceu, e porque cumprimos a promessa. É o suficiente.
— Mas, sabe de uma coisa? Se tivermos uma filha, podemos chamá-la de Sofya, que tal?
— Filha?! Como é que é?! Se tem uma coisa que eu não quero ser é pai. Quem sabe daqui há muito tempo.
— Para de ser chato, Nico! Em todos os livros é assim: quando o mocinho e a mocinha encontram alguém muito querido e essa pessoa se vai, eles sempre homenageiam seus filhos com o nome dessa pessoa que se foi. E com a gente não vai ser diferente.
— É claro que vai. A gente tá no mundo real, e não em uma fantasia. Se algum livro representasse o mundo real como ele é, com certeza o autor seria o Stephen King.
Em baixo tom, Emma ensaiou uma breve gargalhada. Subiu os olhos na direção do semblante do companheiro, que mantinha os orbes ziguezagueando pela paisagem em sua janela.
— Como sempre... Você é tão pessimista.
— Não se é pessimista quando é a verdade. E isso que eu tô me poupando daqueles sensacionalismos ridículos daqueles jornais de tarde.
— Não tem nada a ver com o assunto, mas você não é daqui, não é?
— Não. Sou de Pallet.
— E como você ficou depois de tudo aquilo acontecer? Deve ter sido horrível a sensação, né? Se você conseguiu aguentar tudo isso e ainda se manter desse jeito, você é um cara muito forte.
— Sendo sincero: foi uma merda. Eu tinha uma reserva de dinheiro, e ao invés de vir pra cá, mandei o meu pai e minha mãe pra uma embarcação que nem ao menos sei pra onde foi. Era pra eu ter morrido em Pallet, mas dei sorte de pegar um barco pra Littleroot, e o que aconteceu depois você já deve saber.
— Já percebeu que você tem essa fixação de sempre se entregar pra outra pessoa continuar bem? Você sempre tentar negar, mas é igualzinho aqueles heróis medievais, sabe?
— Mas é claro que não. Por que eu me basearia em personagens fictícios. Prefiro pensar que eu sou só... humano.
— Olha... Esses heróis medievais são sempre pessoas de coração puro e do mais nobre sentimento. São justos, pessoas iluminadas e é impossível não amar. Se você não se parecesse com um, eu já tinha te dado uma bota faz tempo, bobinho. E também se sinta feliz: você é o meu primeiro namorado.
— Primeiro...?
— Por que que é tão difícil de acreditar? Tá insinuando alguma coisa, mocinho?!
— É claro que não. Olha só pra você: é linda, inteligente, um amor de pessoa. E como assim um nerdão do interior de Kanto é o seu primeiro namorado? A pergunta é: quem que não desconfiaria?
— Ai, Nico, você e esse seu pessimismo... Mas, bom, eu te conto. Todos os meninos em Lumiose eram um saco, sabe? Todos iguais: mesquinhos, convencidos e sempre tinham um papo estranho; só porque viviam por lá e tinham uma boa condição de vida se achavam os donos da porra toda. Só que na verdade, eram uns bostas, né. Aliás, eles sempre eram piada na minha roda de amigas.
— E...?
— O nerdão é diferente. É lindo, cheiroso, tem um coração nobre, imponente, inteligente. Você sabia que sempre que você faz aquela cara séria enquanto tá lutando eu acho muito sexy?
Nicholas engoliu em seco. Volveu ainda mais o seu pescoço na direção da janela para esconder a fronte ruborizada. Quiçá, o louro não era tão acostumado a receber elogios ou cantadas daquela maneira. Do outro lado, uma risada silenciosa se manifestava no cenho da treinadora, sempre atenta às reações de Nico.
— Qual o problema, tigrão? Tá com vergonhinha, tá?
— Para de ficar falando essas besteiras. Eu, hein!
— Bom, eu tô com um pouquinho de sono, então você vai ser meu travesseiro, entendeu? Nada de movimentos bruscos. Quando já estivermos em Johto, é pra me acordar, tá? Te amo.
Emma ergueu sua mão direita até o queixo do louro, volvendo sua fronte para a sua direção. Morosa, avançou na direção de Nicholas, selando os lábios com terno beijo antes de se enlaçar novamente aos braços do companheiro. Depois de um longo suspiro acompanhado de um faceiro riso, cerrou as pálpebras. Sua respiração padronizara, e agora em silêncio, a figura angelical dormia depois de poucos minutos junto ao corpo de seu herói medieval.
— Herói medieval, tigrão... — recostou Nicholas a cabeça sobre a poltrona, encarando o teto, murmurando para si próprio. — Quanta besteira...
A viagem seguiu, e agora, sozinho com os seus pensamentos, o louro pudera cerrar suas pálpebras sem que adormecesse. Tomado por lembranças: das mais ternas às horripilantes. Sempre que voltava para próximo de sua terra natal, era tomado por incessante nostalgia. Fora em Pallet que viveu seus tempos áureos antes que toda a água ruísse não só com aquele garoto sonhador do interior de Kanto, como suas construções físicas e todos os laços que construíra com os residentes. Planejara, com certeza, em algum momento retornar àquele ambiente que enchia seu âmago de esperanças e sentimentos aprazíveis; a brisa marítima da rota cento e quinze fê-lo ter um vislumbre de como fora sua infância.
Retornaria, mas em outra oportunidade. Ainda tinha muitas missões a cumprir: rever seus pais, encontrar um certo alguém e proteger ao farol que repousava ao seu lado. Foi desse modo até chegarem a Johto, no National Park.
Não houve tantas surpresas quando o casal desceu. Emma esfregou os seus olhos para vislumbrar a grande roda gigante que tinha ao fundo, ficando boquiaberta com aquilo. Súbita, suas mãos se encontraram em aplauso agudo; fechara os membros superiores, voluteando em seu próprio eixo com a paisagem ao redor. Nostálgica, abriu um jubiloso sorriso. Um parque, muitas pessoas de lá para cá, e as inúmeras atrações fizeram-na recordar de Lumiose, a cidade das luzes de Kalos. Ao seu lado, Nicholas descia dos degraus do transporte, sisudo, com os orbes anis ziguezagueando por toda a paisagem. O emaranhado de vozes irreconhecíveis e bramidos a plenos pulmões das pessoas desconhecidas acalentava o âmago de ambos, afinal, quem não estaria abalado depois de um evento sobrenatural como aquele da rota cento e quinze, não é mesmo? E o melhor remédio para essa patologia era um momento de distração.
— Ei, e se nós fazermos de conta de que é o nosso primeiro date? — empolgada, Emma volvia, repentina, na direção de Nicholas; o louro até mesmo se assustou de início. — Eu tenho uma roupa aqui de reserva que é a coisa mais linda e maquiagem, então, eu quero ficar maravilinda pra gente poder dar uma volta no parque. Vou trocar essas roupas e você também troca a sua, eu sei que você tem uma outra reserva.
— Dois pontos: — Nicholas ergueu seu dedo indicador e médio de sua mão direita, como se tivesse numerando o que ponderaria a seguir. — você já é linda por natureza e a roupa que eu tenho reserva aqui não é nada demais. Uma jeans, uma camiseta branca sem estampa e um sapato preto.
— É melhor usar isso do que sua roupa escolar que você usa em jornada. E eu também vou me arrumar, então é justo, vai!
Empolgada, a loura dera dois pulinhos acompanhado de algumas palmas empolgada. Nicholas suspirou fundo, volvendo os olhos na direção da companheira em riso conformado.
— Tudo bem então.
— Ai, eu te amo, Nico! Você é o máximo! Você vai ver sair a miss universo do banheiro feminino, eu prometo!
Célere, a loura açodou na direção do banheiro feminino que não era muito longe dali. Ainda parado, Nicholas dava risada da situação até volver-se na direção do toillet masculino. A maneira como a garota era espontânea conseguira fazer crescer um pé de cerejeiras em um terreno tão pedregoso e ácido era simplesmente impressionante. Ao contrário de Emma, o treinador avançava em passos morosos até o próximo destino. Sem muitas delongas, adentrou até uma cabine, arqueando suas singelas roupas da mochila.
Nico não é um cara muito vaidoso, e fazia apenas o básico. Trocava suas casuais roupas de aventura por sua camiseta branca sem estampas, uma jeans azul clara e alguns rasgos justa e um tênis preto casual. Não olvidou de passar um desodorante aerossol em suas axilas e um doce perfume em seu pescoço. Saindo da cabine, encarou por ínfimos segundos sua imagem no espelho do higiênico banheiro do parque. Passou a mão sobre suas madeixas áureas, jogando-as para trás; seu cabelo liso volvia a escorrer sobre sua testa. Comparado com o estado anterior, estava melhor.
No sanitário feminino, a garota fazia um ritual completamente diferente. Primeiro, apenas trocava as suas roupas: colocou uma cropped branca, uma calça pantalona de coloração alaranjada e uma sandália de plataforma da mesma cor das vestes da parte inferior do corpo. Gentil, retirou sua característica faixa vermelha, rumando ao espelho. No espelho, para deixá-la ainda mais venusta, maquiava o seu rosto com a ajuda de Jigglypuff — a fada não apenas auxiliava-a, como também dava alguns pitacos. Ao fim, passava um batom carmim forte em seus finos lábios, para valorizá-los ainda mais. Por fim, reposicionou seu adorno carmesim em sua cabeça. Arqueou o seu smartphone, acionando a câmera. Em frente ao espelho, fazia inúmeras poses com sua rechonchuda, sempre alternando cada uma delas: ora mais curvada, ora mais reta. A loura esforçava-se para conseguir uma boa foto — apesar de todas mostrarem o quanto sua beleza era ofuscante, raras vezes dizia que os registros eram bons. Quando, enfim, julgou uma como a ideal, postou em seu pokégram, recolhendo seu monstrinho depois de tanto agradecê-la.
Do lado de fora, um pouco impaciente, aguardava Nicholas. Quando vislumbrou a loura, até ensaiou algumas palavras repreensivas por conta da demora. Todavia, no momento em que a imagem de Emma se tornava nítida, ficou boquiaberto conforme a treinadora se aproximava.
— Caralho... — exprimiu, hipnotizado com a beleza da áurea. — Você tá perfeita.
— Eu disse, não disse? — convencida, retrucou, achegando-se do enamorado e roubando mais um sucinto beijo; seu batom não se borrou, importante salientar. — Você também tá bem melhor. Agora, tá até parecendo um homem.
— Obrigado pela parte que me toca.
Deu uma gargalhada abafada, tomando as mãos de Nicholas, entrelaçando as duas mãos e iniciando a caminhada para o interior do parque.
— Bobão. Agora, a gente pode ter um primeiro encontro decente, né? E não pense que eu me esqueci daquela história do fliperama, senhor moço. Eu vou cobrar beijo que você me deve, ouviu?
— E eu pago com todo prazer. Vam’bora.
Devidamente trajado e de humor renovados, a dupla se dirigiu à entrada do National Park para aproveitar o aprazível sol que banhava as atrações com o seu esplendor. De uma experiência de quase morte a um encontro no parque pouco tempo depois. A vida e suas inconstâncias; apaixonante e tão enigmática.
Contudo, aquilo seria o suficiente para pará-lo? Era uma indagação retórica, que nem ao menos se chegaria a uma ínfima iluminação à resposta da questão. Uma eterna dicotomia entre o bem e o mal, ying e yang, luz e trevas: esse era Nicholas. Ao seu lado, bem como em seu peito, dois grandes faróis tentavam extinguir por completo aquilo aprisionado em seu intrínseco. Como colocado inúmeras vezes, o louro era vítima dos próprios sentimentos que tanto suprimiu.
Se em algum momento anterior de sua vida se entregou aos sentimentos, sentira-se traído pelos mesmos, que o fizeram ser ainda mais cauteloso quando se trata de assuntos emocionais. Rompeu com estas, e buscando força na razão, seguiu para Hoenn; apenas para se entregar às emoções novamente, como uma mosca se gruda a uma teia de aranha em seus voos rasantes tão lépidos. Ao menos durante aquela viagem, pôde olvidar de tudo aquilo que o lancinou outrora.
— Você acha que vai ficar tudo bem? — indagou Emma, branda, apertando ainda mais ao braço do companheiro que se enlaçava; achegou-se ainda mais do braço de Nicholas para que o mesmo o envolvesse com o membro destro em um abraço, repousando suas mãos sobre a cintura da enamorada. — Quer dizer... Ela ter ido embora, eu mesma nem sei se foi real.
— Já passou. Para de ficar remoendo — soprou o garoto, com os olhares fixos na paisagem na janela do transporte. Aproveitou a pausa ínfima para aproximar Emma de seu corpo ainda mais. — Fique feliz porque aconteceu, e porque cumprimos a promessa. É o suficiente.
— Mas, sabe de uma coisa? Se tivermos uma filha, podemos chamá-la de Sofya, que tal?
— Filha?! Como é que é?! Se tem uma coisa que eu não quero ser é pai. Quem sabe daqui há muito tempo.
— Para de ser chato, Nico! Em todos os livros é assim: quando o mocinho e a mocinha encontram alguém muito querido e essa pessoa se vai, eles sempre homenageiam seus filhos com o nome dessa pessoa que se foi. E com a gente não vai ser diferente.
— É claro que vai. A gente tá no mundo real, e não em uma fantasia. Se algum livro representasse o mundo real como ele é, com certeza o autor seria o Stephen King.
Em baixo tom, Emma ensaiou uma breve gargalhada. Subiu os olhos na direção do semblante do companheiro, que mantinha os orbes ziguezagueando pela paisagem em sua janela.
— Como sempre... Você é tão pessimista.
— Não se é pessimista quando é a verdade. E isso que eu tô me poupando daqueles sensacionalismos ridículos daqueles jornais de tarde.
— Não tem nada a ver com o assunto, mas você não é daqui, não é?
— Não. Sou de Pallet.
— E como você ficou depois de tudo aquilo acontecer? Deve ter sido horrível a sensação, né? Se você conseguiu aguentar tudo isso e ainda se manter desse jeito, você é um cara muito forte.
— Sendo sincero: foi uma merda. Eu tinha uma reserva de dinheiro, e ao invés de vir pra cá, mandei o meu pai e minha mãe pra uma embarcação que nem ao menos sei pra onde foi. Era pra eu ter morrido em Pallet, mas dei sorte de pegar um barco pra Littleroot, e o que aconteceu depois você já deve saber.
— Já percebeu que você tem essa fixação de sempre se entregar pra outra pessoa continuar bem? Você sempre tentar negar, mas é igualzinho aqueles heróis medievais, sabe?
— Mas é claro que não. Por que eu me basearia em personagens fictícios. Prefiro pensar que eu sou só... humano.
— Olha... Esses heróis medievais são sempre pessoas de coração puro e do mais nobre sentimento. São justos, pessoas iluminadas e é impossível não amar. Se você não se parecesse com um, eu já tinha te dado uma bota faz tempo, bobinho. E também se sinta feliz: você é o meu primeiro namorado.
— Primeiro...?
— Por que que é tão difícil de acreditar? Tá insinuando alguma coisa, mocinho?!
— É claro que não. Olha só pra você: é linda, inteligente, um amor de pessoa. E como assim um nerdão do interior de Kanto é o seu primeiro namorado? A pergunta é: quem que não desconfiaria?
— Ai, Nico, você e esse seu pessimismo... Mas, bom, eu te conto. Todos os meninos em Lumiose eram um saco, sabe? Todos iguais: mesquinhos, convencidos e sempre tinham um papo estranho; só porque viviam por lá e tinham uma boa condição de vida se achavam os donos da porra toda. Só que na verdade, eram uns bostas, né. Aliás, eles sempre eram piada na minha roda de amigas.
— E...?
— O nerdão é diferente. É lindo, cheiroso, tem um coração nobre, imponente, inteligente. Você sabia que sempre que você faz aquela cara séria enquanto tá lutando eu acho muito sexy?
Nicholas engoliu em seco. Volveu ainda mais o seu pescoço na direção da janela para esconder a fronte ruborizada. Quiçá, o louro não era tão acostumado a receber elogios ou cantadas daquela maneira. Do outro lado, uma risada silenciosa se manifestava no cenho da treinadora, sempre atenta às reações de Nico.
— Qual o problema, tigrão? Tá com vergonhinha, tá?
— Para de ficar falando essas besteiras. Eu, hein!
— Bom, eu tô com um pouquinho de sono, então você vai ser meu travesseiro, entendeu? Nada de movimentos bruscos. Quando já estivermos em Johto, é pra me acordar, tá? Te amo.
Emma ergueu sua mão direita até o queixo do louro, volvendo sua fronte para a sua direção. Morosa, avançou na direção de Nicholas, selando os lábios com terno beijo antes de se enlaçar novamente aos braços do companheiro. Depois de um longo suspiro acompanhado de um faceiro riso, cerrou as pálpebras. Sua respiração padronizara, e agora em silêncio, a figura angelical dormia depois de poucos minutos junto ao corpo de seu herói medieval.
— Herói medieval, tigrão... — recostou Nicholas a cabeça sobre a poltrona, encarando o teto, murmurando para si próprio. — Quanta besteira...
A viagem seguiu, e agora, sozinho com os seus pensamentos, o louro pudera cerrar suas pálpebras sem que adormecesse. Tomado por lembranças: das mais ternas às horripilantes. Sempre que voltava para próximo de sua terra natal, era tomado por incessante nostalgia. Fora em Pallet que viveu seus tempos áureos antes que toda a água ruísse não só com aquele garoto sonhador do interior de Kanto, como suas construções físicas e todos os laços que construíra com os residentes. Planejara, com certeza, em algum momento retornar àquele ambiente que enchia seu âmago de esperanças e sentimentos aprazíveis; a brisa marítima da rota cento e quinze fê-lo ter um vislumbre de como fora sua infância.
Retornaria, mas em outra oportunidade. Ainda tinha muitas missões a cumprir: rever seus pais, encontrar um certo alguém e proteger ao farol que repousava ao seu lado. Foi desse modo até chegarem a Johto, no National Park.
Não houve tantas surpresas quando o casal desceu. Emma esfregou os seus olhos para vislumbrar a grande roda gigante que tinha ao fundo, ficando boquiaberta com aquilo. Súbita, suas mãos se encontraram em aplauso agudo; fechara os membros superiores, voluteando em seu próprio eixo com a paisagem ao redor. Nostálgica, abriu um jubiloso sorriso. Um parque, muitas pessoas de lá para cá, e as inúmeras atrações fizeram-na recordar de Lumiose, a cidade das luzes de Kalos. Ao seu lado, Nicholas descia dos degraus do transporte, sisudo, com os orbes anis ziguezagueando por toda a paisagem. O emaranhado de vozes irreconhecíveis e bramidos a plenos pulmões das pessoas desconhecidas acalentava o âmago de ambos, afinal, quem não estaria abalado depois de um evento sobrenatural como aquele da rota cento e quinze, não é mesmo? E o melhor remédio para essa patologia era um momento de distração.
— Ei, e se nós fazermos de conta de que é o nosso primeiro date? — empolgada, Emma volvia, repentina, na direção de Nicholas; o louro até mesmo se assustou de início. — Eu tenho uma roupa aqui de reserva que é a coisa mais linda e maquiagem, então, eu quero ficar maravilinda pra gente poder dar uma volta no parque. Vou trocar essas roupas e você também troca a sua, eu sei que você tem uma outra reserva.
— Dois pontos: — Nicholas ergueu seu dedo indicador e médio de sua mão direita, como se tivesse numerando o que ponderaria a seguir. — você já é linda por natureza e a roupa que eu tenho reserva aqui não é nada demais. Uma jeans, uma camiseta branca sem estampa e um sapato preto.
— É melhor usar isso do que sua roupa escolar que você usa em jornada. E eu também vou me arrumar, então é justo, vai!
Empolgada, a loura dera dois pulinhos acompanhado de algumas palmas empolgada. Nicholas suspirou fundo, volvendo os olhos na direção da companheira em riso conformado.
— Tudo bem então.
— Ai, eu te amo, Nico! Você é o máximo! Você vai ver sair a miss universo do banheiro feminino, eu prometo!
Célere, a loura açodou na direção do banheiro feminino que não era muito longe dali. Ainda parado, Nicholas dava risada da situação até volver-se na direção do toillet masculino. A maneira como a garota era espontânea conseguira fazer crescer um pé de cerejeiras em um terreno tão pedregoso e ácido era simplesmente impressionante. Ao contrário de Emma, o treinador avançava em passos morosos até o próximo destino. Sem muitas delongas, adentrou até uma cabine, arqueando suas singelas roupas da mochila.
Nico não é um cara muito vaidoso, e fazia apenas o básico. Trocava suas casuais roupas de aventura por sua camiseta branca sem estampas, uma jeans azul clara e alguns rasgos justa e um tênis preto casual. Não olvidou de passar um desodorante aerossol em suas axilas e um doce perfume em seu pescoço. Saindo da cabine, encarou por ínfimos segundos sua imagem no espelho do higiênico banheiro do parque. Passou a mão sobre suas madeixas áureas, jogando-as para trás; seu cabelo liso volvia a escorrer sobre sua testa. Comparado com o estado anterior, estava melhor.
No sanitário feminino, a garota fazia um ritual completamente diferente. Primeiro, apenas trocava as suas roupas: colocou uma cropped branca, uma calça pantalona de coloração alaranjada e uma sandália de plataforma da mesma cor das vestes da parte inferior do corpo. Gentil, retirou sua característica faixa vermelha, rumando ao espelho. No espelho, para deixá-la ainda mais venusta, maquiava o seu rosto com a ajuda de Jigglypuff — a fada não apenas auxiliava-a, como também dava alguns pitacos. Ao fim, passava um batom carmim forte em seus finos lábios, para valorizá-los ainda mais. Por fim, reposicionou seu adorno carmesim em sua cabeça. Arqueou o seu smartphone, acionando a câmera. Em frente ao espelho, fazia inúmeras poses com sua rechonchuda, sempre alternando cada uma delas: ora mais curvada, ora mais reta. A loura esforçava-se para conseguir uma boa foto — apesar de todas mostrarem o quanto sua beleza era ofuscante, raras vezes dizia que os registros eram bons. Quando, enfim, julgou uma como a ideal, postou em seu pokégram, recolhendo seu monstrinho depois de tanto agradecê-la.
Do lado de fora, um pouco impaciente, aguardava Nicholas. Quando vislumbrou a loura, até ensaiou algumas palavras repreensivas por conta da demora. Todavia, no momento em que a imagem de Emma se tornava nítida, ficou boquiaberto conforme a treinadora se aproximava.
— Caralho... — exprimiu, hipnotizado com a beleza da áurea. — Você tá perfeita.
— Eu disse, não disse? — convencida, retrucou, achegando-se do enamorado e roubando mais um sucinto beijo; seu batom não se borrou, importante salientar. — Você também tá bem melhor. Agora, tá até parecendo um homem.
— Obrigado pela parte que me toca.
Deu uma gargalhada abafada, tomando as mãos de Nicholas, entrelaçando as duas mãos e iniciando a caminhada para o interior do parque.
— Bobão. Agora, a gente pode ter um primeiro encontro decente, né? E não pense que eu me esqueci daquela história do fliperama, senhor moço. Eu vou cobrar beijo que você me deve, ouviu?
— E eu pago com todo prazer. Vam’bora.
Devidamente trajado e de humor renovados, a dupla se dirigiu à entrada do National Park para aproveitar o aprazível sol que banhava as atrações com o seu esplendor. De uma experiência de quase morte a um encontro no parque pouco tempo depois. A vida e suas inconstâncias; apaixonante e tão enigmática.