Ato 04 — Enlaçados.

Um último suspiro, decepcionado, afinal, a silhueta em meio à névoa de detritos não lembrava nada a joia que a dupla almejava. A garota se achegou do treinador, dando um sorriso aprazível ao mesmo; apesar de brincar acerca do dinheiro, o que importava, no fim de tudo, eram aqueles momentos pacatos que dificilmente se repetiriam. Emma se colocou na ponta dos pés para roubar um selinho do kantoniano, levando-o para fora do brinquedo assim que Nicholas recolhera o prêmio de consolação.

Já no exterior da atração, a garota volveu a se enlaçar no braço, encostando sua cabeça no ombro de Nicholas.

— Mas foi quase que a gente conseguiu, né? — indagou, em terno sorriso. — Não precisa ficar chateado não. Aliás, tem um outro brinquedo pra gente brincar, olha ali — e apontou para uma tenda onde um senhor jazia junto a um martelo. — Por que não damos um pulinho ali?

Apenas balançando a cabeça, o treinador calcorreou junto de seu par na direção daquela atração.

E sem pestanejar, a dupla se aproximava da tenda do homem calvo com seus braços amostra devido sua vestimenta. Era Walter, o homem mais forte do mundo — segundo ele mesmo — brandindo um grande martelo ao lado de uma máquina quiçá comum em parques de diversão. O brinquedo era simples: consistia em impactar um botão e, a partir dali, medir a força até o máximo que o brinquedo suporta. A loura semicerrou as pálpebras para focar melhor suas vistas, e percebendo, o entusiasta tratou de chamá-la depois de sua propaganda acerca de sua atração.

Relutante, Emma apontou para si mesma, rapidamente volvendo para o treinador ao seu lado. Deu uma piscadela, arrastando-o pelo braço até perto da atração enquanto o homem explicava o funcionamento do brinquedo; nada de excepcional, a não ser que fosse um dos monstrinhos dos dois que o fizessem. Em gentil sorriso, a garota deu alguns tapinhas no tórax de Nicholas.

— Ah, sim, ele tem um bem fortão que com certeza vai chegar no máximo, não é? — volveu para Nico, surpreso, pela reação súbita e espontânea da loura. — Você viu o que o Shellos fez, não é? Ele derrotou três pokémons e tá bem mais forte. Vai lá e brilha!

Desconcertado, o louro coçou a sua nuca. Emma tinha seu lado espontâneo e um pouco tagarela, e a tendência sempre seria constrangê-lo, mesmo que inocentemente; seria esse um dos motivos dos motivos do casal ser tão caricato. Ainda sem jeito, o kantoniano arqueou a esfera bicolor de sua lesma marinha, materializando-a com o mesmo brilho corriqueiro ao abrir a pokébola. Preguiçoso, o aquático observou mais uma vez seu mestre chamá-lo para o exterior, descerrando suas pálpebras ao percebê-lo. Gentil, Nicholas agachou-se, para ficar no mesmo nível de seu monstrinho.

— E aí, garotão. Agora é a hora da gente colocar esse muque pra funcionar, beleza? — indagou, manso, com Shellos assentindo e logo se volvendo ao martelo de maneira instintiva. — Escuta: você vai pegar o martelo e então... — o louro manteve sua mão esquerda estática, e com a direita, chocou-se contra a outra; uma maneira não verbal de falar sobre o impacto da pancada sobre o botão do brinquedo. — Entendeu?

Ainda pouco relutante, não delongou para que Shellos entendesse acerca do que fazer por ali. Foi logo na direção do entusiasta da atração, pedindo, com gentileza, o martelo para segurar com sua boca; importante salientar que o mesmo estava deveras focado.

Espero que ele consiga um desempenho excelente depois de toda a propaganda feita pela loura, não é?

Os olhos da dupla saltaram no momento em que o painel indicava a força em que o impacto da martelada de Shellos galgava, estacionando na marca próxima dos oitenta. A lesma marinha largou o utensílio no chão, quiçá esbaforida por um esforço desmedido súbito; resumiu a vislumbrar seu desempenho exímio para um monstrinho de pouca força física. O marinho róseo cerrou suas pálpebras e sorriu, estampando em seu cenho toda a sua satisfação.

— Santo Celebi do céu, como você ficou forte, amorzinho — a loura agachou, afagando sucintamente a parte superior da cabeça do aquático, que grunhia exultante com o chamego.

O velho riu alto com o desempenho do monstrinho róseo, possivelmente surpreso com o fato de uma criatura tão pequena conseguir um desempenho tão satisfatório. E, então, era chegada a hora da premiação: uma caixa fora entregue ao treinador juntamente da berry conforme descrevia os cartazes ao redor. Shellos e Nicholas se entreolharam, e não era necessário verbalizar nada, afinal, o pokémon entendia — mesmo que infimamente — a maneira do louro demonstrar seu afeto; sorriu de volta, até o momento em que era recolhido para a sua esfera bicolor.

E sem muitas delongas, a dupla teve de rever o itinerário para se ter certeza de que não faltava mais nenhuma atração. Divagando sobre o dia, logo se recordaram que, no meio de todas aquelas atrações, uma loja que trocava shards por TR’s poderia ser de interesse, e logo trataram de rumar para lá.

— Olha, não vou mentir pra você que eu esperava um passeio super romântico, tipo aqueles de filme, sabe? Mas até que essas suas diversões de treinador são legais — inferiu a loura, erguendo a sua sobrancelha rapidamente, fitando o rapaz ao lado com terno olhar.

— De certo modo, você também é uma, então deveria se divertir também — respondeu prontamente.

— Ah, mais ou menos, você sabe como eu vim parar aqui, né? Meio que eu não sei se tenho toda essa vocação pra ser uma treinadora igual você; também não sei se seria suficiente pra competir em um contest ou algo, sabe? Depois de tudo aquilo que aconteceu, eu ainda acho que preciso melhorar e muito.

— Não se cobre tanto, Emma. Vai ficar tudo bem. Você é boa em várias coisas e uma hora ou outra vai se achar.

— Eu não ganho dinheiro por te constranger ou algo do tipo, e olha que eu sou boa nisso.

— Isso não entra em questão. Vamo abrir a caixa?

A mudança súbita de assunto, claro, foi uma medida emergencial tomada pelo louro para que a treinadora não começasse com seus apelidos constrangedores; e nada melhor do que a tensão de abrir um presente, não é mesmo?