Em busca de algo pra fazer

Quando se vive muitas coisas, emoções se tornam montanha russa. Pousara no cenário triste e ao se deparar com o milagre do nascimento, sentira esperança. Aos poucos Kirlia foi percebendo que sua vida mudara por completo, virando ao avesso e a desafiando a uma nova experiência. Vidas mudam pelo avesso; não fora diferente depois de sua primeira evolução.

Talvez se levasse sua nova característica como um "novo corpo", pudesse se sentir bem com isso. Evoluir não é de todo bom; mas também não é ruim. O nascimento causou isso na psíquica: principalmente por a fazer regredir e rememorar seu próprio vínculo de nascença. Luthien nasceu cega e por isso se apegara muito a Gabriel. Nascer, se apegar e crescer com ele foram suas únicas três histórias e agora ela podia falar.

Podendo falar, ela ganhava certa autonomia que a cegueira não lhe dava. Numa projeção rápida, se imaginou com histórias independentes e uma vida própria. Isso lhe retirara um suspiro mudo; não se sentia confortável em botar isso em palavras ainda, mas o momento dela iria chegar. Voltou para a esfera satisfeita, viu seu mestre fazer esse para-lá-e-para-cá corriqueiro e entendeu que iriam para um "novo lugar".

Pois é, Gabriel pegou um novo ônibus, foi para o mesmíssimo lugar, seguiu o endereço do cartão e deu de cara para um prédio comercial. Entraria na portaria, falaria com o porteiro para onde queria ir e seria liberado. Poderia ir para o andar vinte e sete, entrar na porta 2708 e dar de cara com Rodrigo & Donults.

Sim, o consultório do cara tinha open Donults. E aquelas máquinas de expresso que tem chocolate quente e café! O cara receberia Gabriel pessoalmente se assim quisesse, lhe guiando diretamente para seu set terapêutico. Bem isolado sonoramente, com poltronas bem fofas e um cheiro bem gostosinho. Paredes brancas e algumas plantas ao redor...

Progresso:

Por incrível que pareça a recepção de Rodrigo fora até calorosa. Como ele bem avisou, não teria outras pessoas para atender de manhã e disponibilizaria a uma hora para entender o caso de Gabriel e Luthien. Inclusive, esta fora a primeira pergunta aos dois:
- Qual o nome de vocês?! - Perguntara, já imaginando que Kirlia tinha um nome. Porque ele imaginava isso?! Não sei ao certo. Talvez ele tenha ouvido algo do diálogo de Gabriel no parque - Fiquem a vontade.

A princípio o homem não pegou um bloco de notas. Sentara de frente para a dupla, cruzou as pernas, botou um dos cotovelos em seu joelho e apoiou seu queixo sobre a mão. Estava atento, mostrando-se interessado nos dois; ora olhava para Gabriel, outra ora olhava para Luthien. De início fez duas perguntas simples:
- Gabriel, porque você é treinador?! - Fora essa a pergunta introdutória, que logo depois se tornou outra - E como vocês se conheceram?! - Esta fora uma pergunta para os dois, mas falada diretamente à Kirlia.

O homem pensara em emendar algumas perguntas, mas deixou que a introdução puxasse algum gancho. Ele queria saber mais sobre o pequeno medo que Kirlia demonstrava ao vocalizar algo; não era o primeiro pokémon que via falando, mas certamente era o mais inseguro. Sua dúvida era do "porque", já que Rodrigo não sabia que isso acabara de acontecer.

Apesar de reparar num modus "diferente" que Luthien usa, Rodrigo também ainda não sabia que ela era cega, então se limitava a perguntar porque a estranheza com a percepção das coisas. Quando reparou a dificuldade (ou melhor, a falta de esforço) que a Kirlia tinha de virar para ele quando ele falava, ele começou a suspeitar.

Ao invés de das-as-vistas à Rodrigo, Luthien dava os ouvidos.
- Você tem uma relação muito íntima com o som, né?!

Ok, talvez ele tenha emendado uma nova pergunta.

Progresso:

- Ei Luthien, eu sou Rodrigo - Respondera. Gabriel já conhecia o rapaz, ficava a cargo de Kirlia conhecê-lo pela primeira vez - Eu queria saber, Kirlia, o que você sabe sobre seu Pai Gallade e seu treinador Gabriel, você pode me dizer?!

Porque Rodrigo direcionara toda a fala para a pokémon?! Pelo simples fato de reparar que Gabriel estava tomando para si as falas do espaço. Kirlia sentia-se levemente desconfortável em falar na presença do psicólogo, mas se Gabriel tomasse as rédeas do processo, seria ainda mais difícil. Por essas (e outras) Rodrigo dessa vez direcionou o olhar diretamente para Luthiem; ele tinha dúvida se ela conseguia pronunciar seu próprio nome com segurança, então errou de propósito:
- Luthem... - Esse fora o singelo erro proposital - É assim?! Me mostra como é seu nome...

Agora o homem levantara da cadeira e ia até uma mesinha de canto. Puxava uma gaveta de correr e trazia um papel e uma caixinha de lápis. Ele já pretendia pedir para que ela escrevesse! O problema é que logo em seguida, Kirlia se admitiu cega. Se a pokémon é cega, dificilmente ela é letrada, né?! Tentando mudar a tática, Rodrigo botou sobre a mesa as folhas e a caixinha de lápis. Não seu um dever ou um compromisso à ela logo de cara, mas deu-lhe um gatilho que poderia lhe animar a "ilustrar" seu modo de visualização:
- E como você reconhece o mundo então?!

Progresso:

- Você acha que tem que ser protegida? - Apesar da pergunta ter se virado para Kirlia, essa era muito bem uma pergunta que Gabriel poderia falar. Quando Luthien terminasse sua resposta, Rodrigo viraria ao treinador e perguntaria um simples - E você? Acha que ela tem que ser protegida?

A resposta talvez ficasse no ar por mais um tempo e a conversa se desenrolaria a partir dali. Pouco depois disso, o nome certo de Luthien viria a tona e o psicólogo sorriria em resposta:
- Lu-thi-em... tem significado?! - Indagou.

Claro que o homem não estava muito interessado no significado de Luthien, mas na percepção que a própria psíquica tinha de si. Já percebeu uma boa capacidade de reconhecimento quando ela corrigiu seu próprio nome, viu nela uma certa consciência genealógica quando falou de seu pai e também uma consciência ética, quando definiu seu treinador como seu treinador e seus amigos como seus amigos. Faltavam agora duas noções que Rodrigo tinha certa curiosidade: (1) Luthien tem consciência de sua própria importância aos outros?! (2) E Luthien tem consciência da dimensão de seu corpo?!

A segunda pergunta era uma típica pergunta que qualquer psicólogo faria a uma pokémon cega. Sem se ver no espelho, como seus limites são delineados pela própria pokémon?! Se seu poder psíquico se estende por toda essa sala, talvez ela considere o próprio papel e a própria caneta partes de si. Se isso acontecer, será de uma potência psíquica enorme, mas certamente trará certo sofrimento à Luthien... ao menos todas as vezes que ela se frustrar ao descobrir que não é bem assim que o mundo funciona:
- Você sabe o que é isso?! - Disse, se referindo ao papel e aos lápis - Não precisa lembrar os nomes, mas sabe a utilidade deles?!

Progresso:

"O Gabriel usa". Isso ficou na cabeça do doutor, que logo mais aceitou que isso era um ótimo indicativo. Ela sabia bem o que eram ferramentas; podia não saber manuseá-las, mas diferenciava bem o mundo ao seu redor de si. Quando reparou que pedí-la para representar no papel seria algo bem impossível, ele andou até os papéis que levitavam e os organizou em bloco, guardando-os de volta na gaveta:
- Esses são papéis e lápis. São feitos para escrever, desenhar ou passar mensagens e símbolos para os outros. Imagino que nunca usou eles para passar uma mensagem, mas é uma forma. Você antes de aprender a falar, passava como o que estava sentindo para Gabriel?! - Era uma pergunta honesta. Rodrigo não sabia se Luthiem rememoraria isso, mas realmente queria saber. Era chorando?! Mimicando?! Apontando?! Telepitia?! São tantas as opções - Você já usou seus golpes para ilustrar alguma coisa?!


Fora ai que o psicólogo parou. "Usar seus golpes"... numa auto-crítica, ele reparou o quanto de sua curiosidade entrou naquele processo e chegou a se podar. O ponto é que aquela pergunta podia ser emendada num dito anterior, que ele queria retornar:
- Você sabe quais golpes?! Se gosta de batalhar, deve saber ao menos seis, né?! - Dera uma pausa para resposta, seja demonstrativa ou narrada - Me conta qual foi sua batalha mais importante... você se lembra?! Queria ouvir sobre como você se sentiu nela.

Agora o homem virara o rosto para Gabriel. Apontara para a Key Stone do garoto e esperou que Kirlia terminasse de falar para que indagasse o óbvio:
- Você já mostrou a Mega Stone pra ela?!

Progresso: