017 - Fighting Off Fate

Fighting Off Fate

Escovei o meu cabelo ainda úmido calmamente, observando a minha imagem no espelho. Fazia algum tempo que eu não dava a devida atenção para o meu corpo durante essa correria de viagens intercontinentais. Terminei de beber a primeira garrafinha de água do dia, logo pela manhã, antes da primeira refeição. A sessão de alongamentos de meia hora atrás foi extremamente importante para eu começar o dia bem, como se a minha cabeça estivesse finalmente no lugar depois de muito tempo.

Optei por roupas que me vestiam bem. Nada desconfortável, mas ainda assim de boa procedência. Lilycove realmente tinha lojas maravilhosas e, apesar do preço salgado como o vasto oceano de Hoenn, valiam a pena. Como Slateport era uma cidade portuária, meus trajes eram uma camiseta de tecido fresco, tons vermelhos e pretos, com algumas rosas estampadas na frente. A bermuda de linho também possuía a mesma vibe floral, com detalhes inspirados em Tapu Lele. O meu calçado favorito finalizava o conjunto: chinelos acolchoados. Era simples, mas perfeito para a ocasião, além disso também possuía flores ao longo da sua extensão.

Quando senti que finalmente estava pronto e completamente preparado para enfrentar um dia comum de uma cidade litorânea, arrumei as coisas que havia tirado do lugar e tranquei o quarto do Centro Pokémon, preferia manter a chave com a Enfermeira Joy, para não correr o risco de perdê-la ao longo do dia. Minha bolsa estava tão leve que até sentia que estava faltando algo. Deixei apenas o essencial ali, o resto estava ou no Depósito da Virtuum ou dentro do armário. Assim que me virei para descer para a cafeteria dois feixes incandescentes me causaram um leve susto. Com olhos travessos e sorrisos serelepes Thalia e Nikita me cumprimentavam, prontas para me guiar.  

- Bom dia para vocês também. Certo, vamos tomar café. Antes que vocês fiquem mais ansiosas. – Contive um riso, para não incentivar o comportamento. Entretanto a sensação era tão familiar e agradável que eu simplesmente não conseguia repreende-las.

Após o café da manhã, fui até o sistema de armazenamento para retirar alguns monstrinhos que pretendia fazer um check-up e, obviamente, matar a saudade. Dei a eles alguns agrados e percebi que isso tomou uma boa parte do tempo que eu tinha livre. Eu devia ouvir mais os meus pais, eu acabei capturando tantos Pokémon que não estava dando conta de treinar todos, mas como boa parte deles eram apenas ajudantes na fazenda, isso não era tão grave.

- Comam os seus doces e vamos caçar o que fazer. – Gargalhei com a reação da coelha e da símia ao perceberem que os seus agrados eram maiores que os dos outros filhotes. Eu podia não ser vidente, mas uma semana bem cheia aparecia oscilando em minha bola de cristal imaginária.  

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Ainda durante a refeição percebi uma estranha agitação dentro do Centro Pokémon e uma reportagem que estava sendo exibida na televisão parecia dar as explicações do que estava acontecendo. Uma quantidade anormal de pessoas afirmava ter seus desejos realizados por algo traiçoeiro e que gostava de pregar peças com base no pedido.

O símbolo da Virtuum era um Jirachi. Um ser mítico conhecido especificamente por acatar os desejos dos mortais. Entretanto, o Pokémon era extremamente raro e deveria repousar em um lugar restrito, a sua existência nem havia sido comprovada, bem como outras criaturas celestiais. Talvez não passasse de uma alucinação coletiva...

Quando estava prestes a ir checar as minhas parceiras, após o consumo dos doces exóticos, tive minha atenção puxada para uma pessoa entregando panfletos. Fui institivamente em direção a ela e a cumprimentei, enquanto aceitava um dos folhetos. Torneio das Táticas? Sem dúvidas um nomezinho de algo que poderia exigir mais intelecto do que eu poderia oferecer, mas não custava dar uma lida.

Retornei à mesa onde estava sentado anteriormente para analisar a proposta com mais calma. Assim que olhei para as minhas parceiras, uma sequência surpreendente de evoluções começou a acontecer. Thalia, sendo a mais exibida, chamava a atenção dando um mortal para trás, a transformação se completou assim que a símia tocou o chão, ela estava ainda mais enérgica do que antes. Nikita ficou um pouco mais na sua, não fazendo tanto alvoroço como a Grass Type, ela me lançou um sorriso de canto bem extrovertido após se transformar em Raboot, sem perder o jeito de moleca. Por sua vez, Dinah tentou não chamar atenção como as outras, mas as suas penas cinzas e negras eram tão lindas que ela não conseguia passar despercebida.

- O que tinha nesses doces? Vocês estão fantásticas! – Elogiei o trio, antes de mostrar o panfleto, esquecendo-me de que elas não o compreenderiam melhor do que eu. – Vamos participar disso. Nem sei o que é, mas acho que vai ser legal. - Durante a conversa puxei o meu Poké Nav para enviar um trio para ser treinado no Day Care.

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Passando a emoção das evoluções, retornei a leitura do panfleto. Esbocei uma expressão levemente confusa e ao mesmo tempo interessada. Que eventinho estranho esse... Não havia nada fora do comum na parte de ser algo grande, com o objetivo de testar as habilidades de treinadores e Pokémon por meio de batalhas. Porém a parte sobre cinco campos diferentes me chamava muita atenção, o que será que isso significava realmente?

Ao menos a minha equipe estava bem diversa e isso poderia trazer alguma vantagem dentro dessa dinâmica de múltiplos terrenos, ou pelo menos formas menos angustiantes de sofrer. Outra vantagem do torneio era a inscrição ser gratuita e isso provavelmente significava que teria uma plateia imensa, pois nós seriamos entretenimento.

Havia bastante patrocinadores também, mas o horário do evento me deixava em alerta. Aconteceria ainda hoje e em questão de horas! Faltava duas horas, mas eu não sabia como chegar no local, então eu precisaria começar a procurar desde já. Antes de partir, retornei minhas parceiras para as suas esferas de captura e fui procurar alguém para me indicar o caminho. Talvez a própria moça da panfletagem pudesse me orientar, ou a Enfermeira Joy, caso ela não soubesse.

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Recebi ajuda da moça que estava cuidando da panfletagem do evento, mas a sua resposta acabou me fazendo perceber que eu precisaria desembolsar um pouquinho para chegar no evento no horário. Fiquei reflexivo, pensando em qual das possibilidades teria o melhor custo-benefício.

- Obrigado! Tenha um bom dia. – A agradeci, antes de retornar para a mesa e puxar o meu Poké Nav do bolso.

Conclui que a opção mais prática era um motorista de aplicativo, contudo seria um pouco mais cara que o ônibus, mas como eu não fazia ideia dos horários do transporte local isso poderia me atrapalhar e na outra opção, na pior das hipóteses, ainda teria um GPS, bugado, para guiar o profissional.

Acessei o app, já familiar com o processo. Procurei o Centro Pokémon no campo de busca e o coloquei como ponto de partida, no destino apenas verifiquei o verso, caçando um endereço. Caso não encontrasse nada ali, retornaria para a promotora para pedir outra ajuda.

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Então uma pequena briga interna começou a rolar. A minha parte econômica estava se coçando para clicar na opção da viagem compartilhada, além do dinheiro gasto ser bem menor, talvez a pessoa tivesse o mesmo destino que eu. Olhei para os cantos do Centro Pokémon, procurando por outros treinadores, na esperança de me sentir menos preocupado com o trajeto.

Por outro lado, a vozinha consciente na minha cabeça estava me alertando de vários “porém” que essa tomada de decisão poderia me trazer de consequência. Esquisitões estavam a solta em todos os lugares. A outra pessoa poderia estar indo para a puta que pariu e isso impactar na rota do motorista. E, mas não menos importante, eu simplesmente não sabia as intenções dessa pessoa.

Pela primeira vez em muito tempo... Ignorei totalmente o bom senso. Solicitando a viagem compartilhada sem pensar mais sobre o assunto, já sabendo que as chances de eu me arrepender eram colossais.