(014) — heart of glass

Como se tudo já não fosse mágico o suficiente, a orbe se desfazia diante das minhas palmas e amorficamente começava a dançar dentre minhas mãos e meus braços até descer pelo meu tronco. A princípio, não vou negar, fiquei um pouco com medo -- os olhos arregalados não me deixam mentir -- mas a energia que a orbe passava pelo meu corpo era tão, mas tão boa, que acho que nunca vou esquecer. A tranquilidade tomou conta do meu consciente e, com um sorriso estampado no rosto, deixei que a energia mágica fizesse o que queria.

Não demorou muito e a orbe — ou seja lá o que for isso — saltou do meu corpo para minha frente; o ambiente começou a mudar uma última vez, voltando à conformação original de quando cheguei até aqui. Mas não era isso que minhas janelas cerúleas focaram, pelo menos não no momento: diante de mim estava o pequeno Dratini, tão alegre e feliz que encheu meu coração de ternura quase que de imediato. Os olhos lacrimejaram genuinamente pela segunda vez naquela noite e, com os braços esticados, corri para abraçar o dragão.

— Eu... C-consegui. — a voz saía fraca; levei meus olhos ao firmamento e, dentre lágrimas, abri talvez o sorriso mais puro em muito, muito tempo. — Por você, mamãe. Tudo por você. — encostei meu rosto ao lado do de Dratini, dando um longo suspiro em seguida — ... — dentre lágrimas e mais lágrimas, soltei um dos braços, apontando para cima — Vo-você vai levar o nome da melhor pessoa que já passou por esse mundo, tá bom? — acariciei a cabeça do dragão — Seja bem-vinda... Ivy.

E assim permaneci por bons minutos, abraçada com Dratini e aproveitando o momento. Não era a primeira vez que conquistava algo que queria muito, mas... Não tem comparação. Minha mãe não estava mais presente para ver que realizei o seu sonho, mas tenho certeza que está me assistindo lá de cima. Tenho certeza.

— ... Vamos? — levei a mão direita à bolsa, buscando uma Friend Ball — Vou te mostrar todo um mundo cheio de coisas lindas... — encostei a mini-esfera central da Friend Ball, aguardando a captura de Dratini — Tudo que a pessoa que te nomeei em homenagem não teve oportunidade ver.

Day Care escreveu:

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Blackthorn City

Com meu coração coberto em ternura, o pequeno dragão sequer hesitou a captura, que aconteceu instantaneamente. Um sorriso de orelha à orelha tomou conta do meu rosto e, em meio às lágrimas, guardei sua Friend Ball de volta na bolsa. A mesma mão buscou a Pokéball de Starmie, liberando-a diante de mim: Dragon's Den não estava escura, mas o rubi iluminado da aquática ajudaria ainda mais na iluminação.

— Filha, vamos seguir o riacho. Talvez pegando o caminho da direita. — com um leve cry exausto, Gyoza tomou a frente, flutuando para iluminar bem o caminho — Sei que você tá cansada, pode deixar que assim que sairmos daqui você vai descansar bastante! — acariciei a aquática, que respondia com um outro cry, agora animado; se eu queria descansar, que dirá ela que participou de inúmeras batalhas — Vamos.

Não sabia muito bem se estava no caminho certo, mas, bom, tinha que arriscar, não é?

Day Care escreveu:

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E não é que todas aquelas pessoas falaram a verdade? Que diabos de caverna é essa que não tem fim? Caminhei, caminhei e caminhei mais um pouco e nada de encontrar a saída. O rio ficava cada vez mais largo, mas não me lembro de ter passado na nascente quando entrei junto com o pesquisador e o segurança dele lá. De qualquer maneira, acho que parar um pouco e recuperar Starmie seja a decisão correta.

— Filha, vem cá. — busquei dois fracos de Potion e borrifei nos arranhões da aquática, que suspirou de alívio — Prontinho, vamos continuar.

Seguimos por mais alguns minutos e, olha, que inferno. Parece que estou andando em círculos, a não ser por... Hm, o que é aquilo? Parece algo metálico preso em uma espécie de corda. Queria não ser curiosa e simplesmente deixar pra lá, mas vai que seja algum bicho precisando de ajuda, né? OU MELHOR: PODE SER ALGUM TESOURO.

— Gyoza, ilumina aquele ponto ali em específico. — fui me aproximando aos poucos, curiosa — O que você acha que é?

Day Care escreveu:

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Como se já não estivesse irritada por estar perdida dentro dessa caverna interminável... Sério? Uma rede camuflada? Pffff. Seja lá quem for que tenha feito isso que ao menos tivesse um pouco mais de criatividade na hora de tentar pegar algum viajante desavisado. São poucas as chances de pegar alguém com isso aqui, ainda mais caso a pessoa esteja com seu Pokémon, que pode não só liberar o treinador da rede como também atacar quem planejou tudo isso.

Aliás, não demorou muito para o dono dessa obra de arte contemporânea aparecer.

— ... Fugir? — comecei a gargalhar, tão intensamente que tinha certeza que deixaria o pobre do ladrão assustado — Meu filho, eu já matei três hoje. Mais um não vai fazer diferença. — suspirei, mordendo o lábio inferior; levei a mão direita até a bolsa e lancei três esferas ao lado de Starmie — Vai todo mundo aprender como acabar com um ladrãozinho safado. — os monstrinhos eram Aron, Ponyta e Beartic — Vamos lá, Gyoza use seu Psychic na Arbok! Polaris, Play Rough no Mightyena! Sashimi, acerte os dois com seu Rock Tomb! — acariciei a cabeça de Tempurá, abrindo um sorriso — Você fique bem aqui, filha. Observando suas irmãs batalharem para aprender como funciona.

Day Care escreveu:

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A parte engraçada de tudo isso, sinceramente, é me ofender tanto com um ladrãozinho de caverna. Tudo bem, eu também sou ladra, mas preciso pegar das pessoas sem que vejam, invadir cidades milenares perdidas pelo tempo, destruir tráficos em vales montanhosos... Não tem nem comparação. Eu tenho, hm, classe. Imagina ficar em um lugar úmido como esse por horas só esperando alguém passar.

E o melhor: apanhar desse alguém.

A vitória foi tão rápida que acho melhor nem comentar sobre ela. Patético ao ponto do homem sair correndo com medo pela sua vida. Dei uma risada e balancei a cabeça, pensando em como essas coisas só acontecem comigo. Só comigo. Acariciei todas as pequenas que batalharam, porém assim que parei para retornar um de cada vez, Sashimi começou a brilhar. Um brilho característico que já conheço e que encheu meus olhos de lágrimas de felicidade. Um sorriso bobo surgiu no meu rosto e, assim, assisti junto com as irmãs da metálica sua evolução. Aron agora era Lairon, uma cabeçudinha linda.

— Você tá tão linda, filha! — abracei a agora não-tão-pequena-assim enquanto suas irmãs faziam festa — Obrigada pela ajuda. Agora descansa um pouquinho que você deve estar exausta. — retornei Sashimi, deixando somente Ponyta e Starmie fora de suas esferas — Quem diria que você brilhava no escuro também, Tempurá? Obrigada por ajudar a mamãe. — apontei  ao fundo, que parecia ser o fim do túnel e a nascente do rio; finalmente estávamos perto de sair daqui — Vamos, preciso de um café.

Day Care escreveu:

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