[EVENTO] Música do Pardal da Noite ~ Pássaro Noturno

— Se você quer continuar indo comigo, só cala essa boca e para de ficar contando esse monte de lorota — exprimiu, seco, com resquícios de impaciência. Ora, Nicholas nunca foi alguém de muitas palavras, e toda aquela conversa realmente lhe era monótona; para alguém que é cético até mesmo quanto à existência de Arceus, conduzir um diálogo em relação à espíritos, lendas urbanas, e inúmeras coisas que, corriqueiramente, o louro trata como piada.

Não delongou até que com o auxílio de seus respectivos monstros alados, a dupla chegou na fonte de toda aquela energia e aura excêntrica. Iluminados apenas pela lua e à mercê de forças que não compreendiam, intrépidos. À sua frente, um simples fosso recheado de trevas cujas origens eram desconhecidas; pareciam, sombras. Diante de toda aquela energia, o louro supôs que aquilo era a fonte do iminente clima ruim que passou a tecer o manto azul celeste em que o satélite reinava, soberano. Ademais, o que estava por vir, era pior do que imaginava.

Todas as sombras começavam a tomar uma forma excêntrica. Conforme as trevas se personificavam, os orbes de Nicholas quase saltaram da prisão de carne, abrindo a sua boca. Sentiu cada célula do seu corpo se estremecer, relembrando-se das histórias e lendas acerca da figura que tomava forma. Assim que as primeiras pernas eram mostradas, Nicholas estava praticamente paralisado. Nunca pensara que aquilo se mostraria logo à sua frente.

— I-impossível... — balbuciou, quando a forma enfim tomou toda a sua altura e, por fim, bramiu, fazendo os postes tremeluzirem e um apagão repentino se instaurara, iluminando aquelas duas pobres almas diante daquela criatura... era o próprio pokémon banido para uma dimensão distorcida, Giratina?

Entretanto, a reviravolta era que apesar de toda aquela veemência, seu rosto ostentava uma face serena de um Ditto. Seria possível um híbrido, ou então a tecnologia fora longe demais a ponto de recriarem o poder do monstro banido? Nicholas era um combatente nato, contudo, quando se tratava de divindades, não estava no nível o suficiente para desafiá-los — tratava como uma ambição distante.

De qualquer maneira, a luta já era iminente.

— Eu sei, fedelha... E vê se leva isso a sério... Como esses vermes recriaram uma força próxima do próprio Giratina, não faço a menor ideia — balbuciou, quase como um sopro, sinalizando para que Balerdroch tomasse a frente e, logo em seguida, materializou seu Nuzleaf agora recuperado do último combate. — Vocês dois, tomem cuidado com esse monstro. Balerdroch, Air Slash e Flamethrower; Nuzleaf, Sunny Day e Dark Pulse.

Outrora parecia espavorido com a figura divinal que emergira das sombras esparsas sobre o terraço de um alto prédio em Lilycove; pouco a pouco, volvia à calma rotineira. Sim, era uma criatura demasiadamente poderosa, e quiçá não teria chances de combatê-lo, mas se sentiu com um conforto por não estar diante do guardião do Mundo Distorcido. Respirou fundo, vendo que os planos de Lariel iam pelo ralo no momento em que a barreira celestial era erguida, impedindo os trovões lançados pelo besouro.

Ainda assim, Nuzleaf conseguiu erguer as condições perfeitas para que a sua habilidade não apenas fosse ativada, como os ataques do réptil alado sofressem um aumento substancial. As luzes de um astro artificial agora banhavam aquela luta, na vã tentativa de afastar aquela materialização das trevas — ainda que criada de maneira não espontânea.

Em um movimento lépido, o louro arqueou sua última poção, e rapidamente borrifou o líquido violáceo sobre o corpo do debilitado Vikavolt, volvendo à sua posição que assumira outrora; ainda que inquieto com a força daquele monstro, recorreu para o seu estado mais calmo possível; seria possível vencer uma luta daquela magnitude caso se rendesse ao desespero que bramia nos confins de seu âmago, não é?

— Ei, vê se me cobre — inferia, semicerrando as pálpebras e estreitando sua visão na figura daquele Giratina artificial. — Balerdroch, avance com Air Slash e Overheat; Nuzleaf, Energy Ball.

Ao fazer os seus comandos, manter-se-ia taciturno, apenas fitando os movimentos não apenas dos monstrinhos aos seu lado, quanto à aberração sombria erguida em sua frente. Sorte é uma habilidade também, não é? Contar com ela em uma situação melindrosa como tal não era um crime.

A combinação tarda, mas não falha. Mesmo bloqueando todos os trovões evocados por Vikavolt com o máximo de seu poder, a torrente ofensiva posterior causou danos o suficiente para que o fantasma bramisse, invocando sombras dos confins do mundo distorcido para contornarem seu longo corpo gelatinoso. Ademais, a situação não era tão boa assim, apesar da clara melhora; utilizando de dotes psíquicos, trouxe um pouco de suas dimensões para o terraço em Lilycove, invertendo por completo a ordem natural de velocidade e desvencilhando um segundo sol sobre o corpo do réptil alado. Não houve um ferimento grave, único e apenas graças à sua resistência.

Envolto em trevas evocadas por não apenas à sua força corriqueira, como também à forma Dynamax que ampliava e muito suas capacidades, a cópia da entidade jazia sobre sua cobertura, por onde lançaria as suas ofensivas. Nada bom...

Nicholas percebeu levemente as coisas indo ao seu favor naquela ocasião tão melindrosa. Fitou aquela barreira, e gradualmente, um sorriso com tons mais maquiavélicos tingia os lábios; os orbes quase saltavam das pálpebras em excitação, e o sangue pulsava mais rápido por todo o seu corpo, levando carga de adrenalina ímpar. A mudança da atmosfera fez sua confiança se elevar tal o sol evocado por seu Nuzleaf. Baixinho, era como se gargalhasse, vil — seria possível que a real entidade estava a tocar-lhe com suas sórdidas energias.

Mesmo que por ínfimos segundos, ergueu a voz em riso atroz; seus guardiões reagiriam à mesma, sentindo certo receio — ora, não era o mestre que conheciam, e em poucas ocasiões viram aquele pico de emoções em alguém que sempre prezou tanto pela cautela como Nicholas.

— Qual o problema, sua cópiazinha de merda? Sai logo dessa barreira pra que eu possa acabar com você, verme — ensaiou mais uma risada e, bruscamente, grunhiu como se sentisse uma dor, contudo, psíquica; em um lapso, lembrou-se da ocasião em que a Jigglypuff de Emma lamuriou por vê-lo daquele jeito enquanto desferia inúmeros golpes a um bandido já imobilizado. Arfou, sentindo os ares confusos e preocupados de Balerdroch e Nuzleaf direcionados a ele. Chacoalhou a cabeça, retesando a postura. — Parem de se preocupar comigo, vocês dois, e foquem nesse monstro na frente de vocês. Nuzleaf, Dark Pulse e Energy Ball; Balerdroch, Flamethrower e Overheat de novo.

Era, com certeza, uma péssima hora para ceder aos fantasmas que agouravam o seu âmago. Sabe-se lá se era por sorte ou por segurar seus instintos mais primitivos, pôde volver à plena consciência.

Cômico, não é, a maneira com que a mais ínfima coisa pode bagunçar toda a nossa mente?

Arfou. Fora necessário um demasiado esforço psíquico para conter os lampejos de uma personalidade atroz, vislumbres de eventos que não queria volver a vivê-los, e seu esforço sempre fora em vão para enterrá-lo; quiçá, era a principal causa de sua confusão mental e jamais entendia de fato quem era — a eterna dúvida entre um mocinho ou um vilão?

Deu um último suspiro, até que volveu à realidade, dessa vez saltando os orbes em espanto do estado em que seu gramíneo se encontrara. Rangeu os dentes em contrição; os ferimentos eram muitos no corpo do ainda inexperiente Nuzleaf. O noturno exercera função essencial para vencer os combates, no entanto, custou tudo aquilo naquela jornada? Cerrou os punhos, levando os olhos na direção da besta de excêntrica forma.

Lentamente, buscou a cápsula bicolor conforme a luz se cessara, retornando as trevas de uma noite sobrenatural na cidade de Lilycove. Balbuciando algumas palavras arrependidas — quiçá, autodepreciativas —, nem mesmo o seu lagarto que estivera tão atento naquilo que Nicholas falava conseguiu compreender. Recolheu Nuzleaf de volta para a esfera metálica, guardando em seguida. Erguera o rosto, e sua confiança se esvaíra por completo após os ditos enigmáticos do louro.

Até mesmo Balerdroch parecera melancólico; mesmo não entendendo o conflito interno de Nicholas ou ao mesmo sentir alguma esperança de que o louro turrão algum dia lhe contaria, era como se suas dores fossem transportadas para as suas costas. Ademais, Charizard não podia desviar tanto o foco assim; mesmo desvencilhando labaredas poderosas contra a aberração, a besta ainda se mantinha de pé, mesmo que por muito pouco.

— Acabe com isso logo, Balerdroch — murmurou, em uma brusca mudança; agora, parecia em melancolia quase palpável ao seu guardião alado. Charizard apenas grunhira como se indagasse se estava tudo bem, e, infelizmente, Nicholas preferiu não o responder, em vã tentativa de esconde de fato seu real estado. — Flamethrower e Air Slash.