Cold Shield - O campeão, a sacerdotisa e o patrulheiro

– O-oi. – cumprimentou o jovem Cadete, pigarreando para limpar a garganta que arranhava, tirando as mãos dos bolsos e as esfregando uma na outra para aquecê-las – Deixa eu ver... Ah sim, o caminho delas. – deu seu próprio suspiro quando fez referência às sacerdotisas – Cara, o caminho é meio escroto... Você vai ter que descer por aqui, e ir contornando o rio, o mais próximo possível da parede porque existia aqui uma parte de pedra; o resto é água congelada, mas muito fina, nem tente pisar lá.

O rapaz apontava para uma parte estreita, entre a superfície lisa do lago e a parede rochosa da caverna; um caminho bastante pedregoso, irregular e meio inclinado, até onde dava para ver com a pouca luz que alcançava aquela parte. Duas pessoas não conseguiriam atravessar aquilo, juntas. Se as sacerdotisas andavam por lá, provavelmente o faziam em fila indiana ou algo do tipo.

– Antes do fim do caminho vai ter uma passagem. Não dá pra ver daqui, mas como você é mais treinado, não deve ser difícil de achar. – uma nova olhada dos pés à cabeça do Capitão. O Cadete coçou de leve atrás da orelha, antes de seguir – É... Espero que não se importe, mas não posso deixar você ir até lá sozinho. Se acontece alguma coisa contigo, vão me tirar o couro. Sabe como é... Segurança em primeiro lugar. – deu uma risadinha e deixou caírem os ombros, desconcertado e antecipando os preparativos que precisaria tomar para fazer aquela travessia, se Ayzen concordasse, é claro.

Ice Path – Tarde | -2ºC – Ayzen

Um... Drone...??? Confesso que isso foi bastante inusitado até pra mim, ainda mais pelo uso dado ao equipamento. Não confia nas palavras e instruções dos seus colegas? Bem, em todo caso, as hélices do "trocinho" se ativavam e ele começava a flutuar por aí, sumindo temporariamente no escuro, deixando só o rastro do seu som para trás. As imagens enviadas pelo dispositivo revelavam exatamente o que o Cadete havia dito: um caminho estreito e complicado; após alguns metros de parede sólida, uma abertura se apresentava, alta e larga o suficiente para uma pessoa passar, escondida sobretudo pelas pedras que se projetavam ao redor dessa entrada, o interior dela era ainda mais escuro.

– Hm... – desconcertado o garoto estava e assim mesmo ele continuou, observando, perdido nas próprias ações. O Ranger só voltaria a si quando Ayzen fizesse a menor menção de notá-lo, aí ele despertaria do "transe" e, num suspiro, recuperaria a consciência do que precisava fazer – Ah, sim, claro. Erh... Vamos lá. – uma Ranger Ball era lançada, revelando um Sneasel hiperativo que começava a olhar para tudo a sua volta – Hey, garoto. Conhece o caminho das moças, né?! Acompanhe esse senhor por lá, pra fora da caverna. – fazia uma saudação militar [dedos na testa] que era respondida igual pelo Pokémon – Pode confiar, amigo. Sneasel aqui é muito espero e bem preparado. Ainda assim, se algo acontecer, tem um sinalizador aqui; acione e eu vou chegar o mais depressa que puder. – finalizava com Ayzen, entregando a ele uma lanterna de bolso e repetindo o cumprimento de modo mais informal – Acha que consegue chegar lá, assim?

A confirmação saía de modo mais retórico dessa vez, como se o aparato tecnológico de Kitshomo tivesse lhe dado um ponto a favor na segurança para seguir aquele caminho. Não à toa, já que ter visualizado o trajeto dava mesmo uma noção melhorada de como ele era. Agora, restaria fazer os últimos preparativos, se tiver, e seguir o Sneasel patrulheirinho, que já fazia seu papel de guia passando por baixo da faixa de isolamento e descendo a curta e escorregadia ladeira até o caminho que margeava o lago.

Ice Path – Tarde | -2ºC – Ayzen

Quer por confiança, quer por empolgação, a decisão foi clara de seguir a aventura. Mas aquele caminho estava longe de ser fácil de percorrer, definitivamente. Com ajuda do Cadete, que ergueu o obstáculo que barrava a passagem, Ayzen pode descer aquela curta ladeira até encontrar Sneasel lá embaixo, já no nível do lago. À luz da lanterna, foi possível ver melhor a amplitude da superfície congelada que, pelo próprio efeito do frio, não revelava praticamente nada de seu interior escuro. Em outras palavras, não dava para ver o que havia lá dentro do lago, apenas sua superfície lisa, azulada e embaçada, com algumas rachaduras pontuais.

Para o bem adaptado e pequeno Sneasel, não havia dificuldade alguma em se aventurar pelo caminho estreito e rochoso; talvez Lucario, bem treinado, também não tivesse problemas ali. Porém, não dá para dizer o mesmo de nosso protagonista. O chão era muito escorregadio para uma bota genérica como aquela, e o fato de ser muitíssimo irregular, com pedras de muitos tamanhos e pouca área "lisa" para pisar com firmeza, atravessar o caminho foi realmente um desafio. Torço para que, por efeito de uma mágica narrativa, Ayzen tenha levado um par de luvas em sua bolsa de Gato Félix, porque a parede (do seu lado esquerdo) seria sua melhor amiga para fornecer apoio; tanto que Lucario tomava a iniciativa de segurar a lanterna para seu treinador, e de se posicionar atrás dele, por segurança.

O que podia ter sido um trajeto de cinco minutos, estava prestes a virar uma aventura que já durava mais que dez. Sneasel, ligeiro, estava há metros de distância da dupla, parado, observando alguma coisa lá adiante, sobre o lago, onde a lanterna ainda não alcançava. Por acaso, foi a própria lanterna que fez se afastar um pesado Golbat que, resmungando, saiu de algum espaço não visível da parede e sumiu de vista lá no alto. Para onde Sneasel olhava, um ruído arrastado, meio que "arranhando" o gelo...

Ice Path – Tarde | -2ºC – Ayzen

Sim, Lucario seria esperto. Quer dizer, não era exatamente uma questão de esperteza. Estava mais para reação a instintos. Ele já tinha percebido a presença de outra criatura ali antes, mas seus sentidos não revelavam perigo iminente, então por isso simplesmente ignorou o bicho. Porém, a reação apreensiva de Ayzen o fez reagir e apontar a lanterna na direção do som revelando...

... Um Swinub. Tão "ceguinho" que mal se importou com a luz na cara e só continuou seu caminho por sobre a superfície lisa do lago. Ele podia, né?! Com seus 5 quilinhos, corpo felpudo e deslizante, instintos de quem sabe bem onde pisar. Sneasel, observando ali perto, só esperou e deixou o bichinho passar para dentro do espaço onde eles mesmos queriam entrar.

Assim que se recuperasse do encontro que, entre outras coisas, deixava claro que a vida selvagem estava mais confortável por ali, presumo que Ayzen tenha seguido seu caminho também. Apesar das dificuldades, teria uma "folga" merecida por tanto esforço, assim que entrasse no corredor indicado por Sneasel, por Swinub e pelo seu mapa.

Era um corredor estreito, mas de uma beleza curiosa. Ao mesmo tempo que era óbvio que aquele espaço era natural, um caminho escondido na própria caverna, também dava para ver o toque humano lá, pelos detalhes na "perfeição" e "manutenção" do espaço. Isso é, se aquele era um dos caminhos principais usados pelas sacerdotisas e não acessado por outras pessoas, deve ser normal que elas cuidem para que ele esteja sempre disponível; vai saber. [imagem ilustrativa]

Ainda era escuro, o que tornava a lanterna um item essencial. Mas, pelo menos por lá o Ranger poderia caminhar com maior tranquilidade e menor risco, aparentemente. Se bem que um escorregão no piso ainda úmido e gelado pode ser perigoso.

Ice Path – Tarde | -2ºC – Ayzen

Se me permite a observação, seu Ranger Tools conta com uma quantidade "etc." de itens e acessórios interpretativos para segurança própria e outros serviços de campo. Isso inclui kit de primeiros socorros e um capacete; tá lá no guia! Okay que o capacete da imagem não protegeria 100% de um traumatismo, mas já é alguma coisa se você se sentir inseguro.

Enfim, voltando para o trajeto. Não havendo maiores dificuldades além do chão escorregadio e do frio cada vez mais intenso, o caminho seria percorrido com tranquilidade. Mesmo nos pontos em que o caminho se dividia, Sneasel estava ali para saber qual direção seguir sem precisar pensar demais, então ele só ia.

Só um relógio permitiria a percepção do tempo, revelando que cerca de vinte minutos tinham se passado desde que Ayzen entrou naquele longo corredor. Anuncio o tempo agora porque, afinal, naquele instante o Ranger notava que a luz da lanterna começava a enfraquecer, sem necessariamente deixá-lo num ambiente completamente escuro. Em outras palavras, a luz natural voltava a entrar na caverna, até o ponto em que a própria saída se mostrou, metros adiante dos aventureiros.

Quando Kitshomo finalmente saísse do longo corredor de gelo, se encontraria novamente a céu aberto. Ali havia outra beleza peculiar, com o chão amplo, coberto de neve, e montanhas congeladas por todos os lados [imagem ilustrativa]. Uma imensidão de azul e branco, com céu limpo e sol se encaminhando para o poente. Nada se movia ou se ouvia senão o vento frio e cortante a uivar quando contornava as montanhas, levantando partículas de neve no caminho.

Sneasel respirou fundo antes de dar o passo seguinte. O Noturno poderia ter mergulhado quase metade de seu corpo na neve, mas não precisou graças à uma trilha feita, claramente, pela passagem recente de pessoas. Nosso trio nem andaria muito, até que Lucario desse uma parada abrupta, hesitante. No segundo seguinte, o grito de aves cortou o silêncio e as mesmas deixaram partes altas da montanha que Ayzen deixou para trás. Dois Delibirds anunciavam os intrusos e voavam até a outra extremidade da trilha na neve.

Não fosse pela indicação das aves, talvez Ayzen não tivesse notado a movimentação ali naquele ponto sombreado da montanha vizinha. Havia pessoas lá. Só quando estivesse próximo é que ele teria uma noção melhor de quantidade: enxergaria cinco pessoas. Uma aproximação maior e discerniria o contorno de suas roupas volumosas e facilmente camufláveis naquele ambiente [imagem ilustrativa]. Todas as mulheres observavam o rapaz, sem darem um passo ou um pio até que ele fizesse isso primeiro.

Ice Path – Tarde | -7ºC – Ayzen