Cold Shield - O campeão, a sacerdotisa e o patrulheiro

– Claro, claro. – a mulher concordava, dando um aceno positivo com a cabeça e começando a caminhar – Vamos dar uma volta então. – chamou, ao passo que também acenou para as outras pessoas ali da vila, sinalizando que estava tudo bem e que podiam voltar aos seus afazeres – Ah, Cinnabar... Imagino que esteja sentindo falta do calor de lá. Principalmente vestido deste jeito, se me permite dizer: é algo que usaríamos para uma caminhada na praia numa manhã mais fresca em Cinnabar. Porém, aqui... Precisa de um agasalho? – oferecia com gentileza seu próprio manto felpudo e pesado.

Luara conduziria Ayzen por uma caminhada em ritmo leve, fácil de acompanhar, arrastando seu vestido e longo manto brancos pela neve. No começo, só seguiriam se afastando da pequena aldeia, sem nenhuma trilha específica a seguir. Lucario, obviamente, seguiria de perto, empático com aquele mix de emoções dos humanos: apreensão, empolgação, receios, nervosismo, frio, ou qualquer coisa similar a isso.

– A propósito, se não for incomodo, seria agradável, pra mim, saber com quem estou falando.

Ice Path – Tarde | -15ºC – Ayzen

Ela pegou a orbe, girou na mão, analisando, e suspirou com o olhar distante, mas vidrados no objeto azul, até sussurrar um sutil – Ela se lembra... – num tom indecifrável. Ficava difícil dizer se aquilo tinha um efeito positivo ou negativo na mulher, e o longo minuto de silêncio que pairou no ar não ajudou a amenizar a tensão.

– Juro que tentei negar que esse objeto tivesse me encontrado, depois de tantos anos. Um sinal que eu não quis admitir, mas preciso. – a caminhada seguia, Luara aproximava o orbe do peito e olhava fixo para a cordilheira gelada a sua frente – É difícil admitir. Eu tentei por tanto tempo negar esse destino, e agora Luna tendendo a segui-lo também. Não era o que eu desejava pra ela, mas... – sua voz morria temporariamente, até que olhasse para o lado e relembrasse que Ayzen ainda estava ali, ouvindo um desabafo quase sem sentido vindo dela – Luna disse isso: que você é um Guardião do Sol? Ela o viu batalhar, então? – eram perguntas objetivas que, de certo modo, a ajudavam a se distanciar um pouco do fluxo de reflexões maternas que inundavam sua cabeça, o que ficava visível pela forma como segurava a esfera ainda junta ao peito, sem relaxar.

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– Digamos que signifique o suficiente. – um suspiro razoavelmente pesado pontuou a resposta da dama – Não o culpo por não fazer tanto caso ao que Luna lhe disse. Principalmente por ela ser quem é: uma criança, especial. – como ela chegou àquela conclusão? Talvez isso permanecesse no mistério inerente à mulher – Este mundo está, há muito tempo, tomado pela descrença e pela desconfiança. Eu mesma cedi a isso por um tempo, mas... Parece que o destino sempre me encontra. Sempre... – seus olhos pousaram brevemente na esfera azul em sua mão, depois viajaram até o azul do céu, em direção ao sol.

Se havia alguma coisa da objetividade científica em Luara, isso tinha sido domado em parte pela subjetividade do esotérico. Suas palavras podiam fazer total sentido, ou sentido nenhum, e só a interpretação de Ayzen é que dirá até onde ele as compreende. Em todo caso, o papo aqui precisa ir um pouco mais além disso...

– Agora você faz parte disso, de certo modo. Então, agradeço por ter trazido a mensagem até mim, aqui tão distante; por me dizer que minha família está bem, também sou grata. Mas, não posso simplesmente lhe entregar o segredo que Luna lhe prometeu. O julgamento dela ainda não é experiente o suficiente pra selecionar os dignos. – Luara parou e, enfim, se posicionou de frente para Ayzen – Não peço que acredite ou tenha fé em nossas crenças. Elas são muitas em uma e estou longe de querer converter alguém do dia pra noite. Não, isso requer tempo e, sobretudo, abnegação de outras coisas. Eu posso mesmo lhe ajudar a encontrar um parceiro tão à altura e digno quanto o seu destino. Ah, Henrique sabe quão longe ele foi, como Ranger, por conta de tal encontro... Enfim, posso lhe dar uma direção, mas você vai precisar provar para mim que é digno, assim como Luna acredita que provou a ela. Isso não requer crença, apenas confiança. Não em mim. Mas em si próprio e em seus Pokémon. – pontuou, com seus olhos profundos e negros fixamente direcionados aos de Ayzen, como Lucario fazia às vezes. "Os olhos são as janelas da alma", já dizia o ditado.

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O olhar analítico da sacerdotisa esboçava confusão agora. Não num mal sentido, ela só também não entendia o que Ayzen queria dizer com "mente aberta" e "últimos acontecimentos". Mas isso não era um impasse para que as coisas pudessem seguir.

– O que quero dizer, de modo resumido, é que existem duas formas de você conseguir a informação que deseja: na primeira, você senta conosco e estuda toda nossa crença, até que enxergue para além do óbvio do mundo e, enfim, encontre seu caminho; na segunda, você encontra uma pessoa que já passou por esse processo, no caso eu, e a convence de seu mérito. – aí um sutil sorriso se desenhou no canto do lábio da mulher, mas ela tentou ocultá-lo virando rapidamente o corpo e retomando a caminhada – Se Luna estiver certa, você é um filho do sol, por isso imagino que tenda à segunda opção.

A essa altura de caminhada + papo, já estavam praticamente entrando num trecho estreito entre duas montanhas altas. A aldeia tinha ficado para trás e não havia sinal nem de gente nem de Pokémon ali por onde estavam indo. Se era um caminho proposital, não dá pra dizer. Mas verdade é que nem trilha tem pra se guiar.

– Veja, Luna deve ter lhe contado sobre a lenda dos filhos do sol e da lua. Se sim, ela deve ter lhe dito que os filhos do sol tendem a ser grandes guerreiros, que se provam muito fisicamente, em batalhas ou tarefas mais árduas, físicas. Disse que ela chegou a conclusão de que você era assim após lhe ver batalhar, não foi?! Então, naquele momento você a convenceu de que era alguém digno de tal honra. Agora, estou pedindo que faça o mesmo para mim: me convença de que é digno de encontrar tal Pokémon especial pra você. Eu só preciso que você aceite. Seu teste será, obviamente, uma batalha. Compreende?

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É como dizem, né: quem vê cara não vê cérebro. Mas, longe de mim reforçar estereótipos sobre o intelecto dos loirinhos. Nam! Vamos pro que interessa. Ayzen compreendeu o que Luara queria dizer, em tempo de terminarem de cruzar aquele trecho entre montanhas e se depararem num novo cenário. Uma área muito ampla e limpa, cercada pela própria cordilheira.

Ali podia ter sido um imenso lago, julgando pela forma mais ou menos uniforme que o chão congelado tinha, agora coberto por uma fina camada de neve. Soma-se a isso a imagem bela e peculiar lá na outra extremidade, que se parecia em muito com uma cachoeira também congelada. Pelo menos, ao que parecia dava para caminhar por aqui. [imagem ilustrativa]

Enfim, Luara teve seus segundos ponderando o pedido de envolver Larvesta naquilo. Veja bem, a mulher não lhe deu um convite para um passeio com crossfit gelado. Ela lhe fez um desafio de batalha! Então, a questão era no mínimo ousada. Mas, no fim, a sacerdotisa mirou bem aqueles olhinhos saltados da larva e concluiu, dando de ombros:

– Tudo bem. Não vejo porque não exigir que dê tudo de si. Desde que não morra de frio quando Larvesta sair do seu peito... – dando passos mais largos, Luara caminhou pela imensidão congelada e deu um assovio monocórdico e longo – Preparem-se. Seu desafio começa agora. Eis um adversário a altura.

De algum lugar numa das montanhas próximas, um par de aves voou. Novamente, dois Delibirds. Um deles passou reto acima da cabeça de Ayzen. O outro, pousou ao lado da sacerdotisa. Ele batalharia, aparentemente.

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