Cold Shield - O campeão, a sacerdotisa e o patrulheiro

A medida que Ayzen se aproximava, fazendo seu primeiro contato, as moças se colocaram enfileiradas, lado a lado, ombro a ombro, como se formassem uma barreira à passagem do rapaz. Elas eram muito diferentes entre si, desde a altura e a idade aparente, até os traços étnicos de suas descendências. A única coisa em comum era o padrão de cores e materiais em suas vestes e acessórios.

– Se anuncia como Ranger mas não se veste como um. Não seria algo ruim? – questionava a menor das mulheres, na verdade uma garota de aproximadamente dezesseis anos; se dirigia às outras, é claro, ainda que Ayzen pudesse ouvir sua desconfiança dita em voz alta.

– Boas vindas à Luminária. – a que se posicionou no meio, nitidamente a mais velha pelos longos grisalhos presos em uma pesada trança, se manifestava sem dar resposta à mais jovem – Em que exatamente precisa deles, senhor? As pessoas que procura se encontram aqui, sim. Mas, desculpe-nos, o senhor Stone dispensou os serviços dos Rangers há pouco tempo e Luara está... Ocupada. – os olhos da anciã não desviaram da esfera azul mostrada por Kitshomo, como se ela estivesse realmente se esforçando para identificar o objeto à certa distância, enquanto ganhava algum tempo com o diálogo, porém: – Não reconhecemos este artefato. É sobre ele que procura respostas? – o vento frio vinha brindar a recepção do visitante, arranhando suas rosadas bochechas como se carregasse partículas de cristais de gelo a cada lufada.

Ice Path – Tarde | -15ºC – Ayzen

– Sabia. – concluía a mais nova, como se sempre tivesse óbvio para ela que Ayzen não tinha nada de Ranger em seus propósitos ali.

– Ah, perdão. Por um instante pensei que tivesse vindo como Ranger procurá-los. – a senhorinha agitava a cabeça e dava de ombros, se eximindo da culpa de não compreendido as intenções do visitante – Venha comigo, por favor. Acho que conseguirá falar com o senhor Steven mais cedo do que com Luara.

O "paredão" de sacerdotisas se rompeu quando a mais velha girou nos calcanhares, gesticulando para Ayzen segui-la. O Ranger não teria visto antes, mas na montanha atrás delas havia a entrada de uma outra caverna, o que era muito pertinente já que, se consultasse seu mapa, veria que ainda não tinha atingido o local demarcado, de fato, pois o "X" era exatamente lá dentro da montanha seguinte.

Não vou me demorar em descrever o novo espetáculo visual que era aquela caverna de gelo. Só preciso dizer que, dessa vez, dava pra apreciar muito mais tanta beleza, graças aos artifícios que as mulheres usavam para iluminar o lugar - um enjambre de lamparinas e "cristais" refletores. Logo de cara, Ayzen encontrava uma complexa galeria ali dentro, cuja grande maioria das passagens nem estavam registrados em seu mapa de bolso [imagem ilustrativa]. Ao contrário da caverna anterior, aquela não era tão silenciosa, mas também não tão barulhenta. Digamos que tinham ruídos suficientes para mostrar que eles não estavam sozinhos.

A mulher anciã não hesitava em se direcionar para uma das passagens à direita. Ela nem mesmo olhava para trás para ver se Ayzen a acompanhava. Também, nem precisava de tal garantia, já que a criança desconfiada seguia o Ranger por trás. Uma pequena Smoochum vinha correndo até a menina, que pegava a Pokémon no colo.

Em determinado ponto do corredor, depois de algumas curvas naquele labirinto gelado e escorregadio, a iluminação arranjada sumia, dando lugar mais uma vez à luz natural do lado de fora. O corredor então se abria num espaço bastante amplo que trazia, mais ou menos no centro, uma área mais elevada, como se a própria natureza tivesse se encarregado de fazer um altar para o que se encontrava lá sobre ele, iluminado pela luz do sol que penetrava pelo teto aberto e alto. Ali, bem naquele ponto, havia uma rocha muitíssimo alta, acinzentada e com um espesso acúmulo de neve do topo ao meio [imagem ilustrativa].

No pé do "altar", as mulheres haviam improvisado um curto lance de escada, esculpida na própria rocha elevada do solo. Foi ali que a anciã parou, finalmente voltando a olhar para nosso protagonista. – Senhor Steven?! –, a sacerdotisa chamou, recebendo um sonoro "Eu?!" como resposta.

– Tens visita. – ela sorria com certa gentileza quando fez um gesto com a cabeça para Ayzen, indicando a rocha – Dê a volta, o senhor Steven está lá do outro lado. – dali ela deu meia volta, pegando a outra garota pelo ombro, como se quisesse dar mais privacidade aos pesquisadores; mas, não iriam longe, ficando bem ali na saída.

Ah! Sim, Sneasel. Bem, presumo que a essa altura você já deve imaginar/notar que ele simplesmente sumiu. No caso, voltou para junto do outro Ranger lá atrás. Ora, o pequeno já tinha cumprido a missão para a qual foi invocado: lhe entregou são e salvo no covil das sacerdotisas. Agora, você que lute!

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– Uh, eu sinto muito. Deu preguiça só de ouvir, e olha que eu sou metade dessas coisas também... – Steven tinha um tom levemente sarcástico na voz quando comentou a lista de títulos que Ayzen apresentou. Apesar da intenção de ter feito daquilo uma piada, o albino não chegava a sorrir; seu cumprimento se resumiu a um aperto de mãos geladas, ligeiro.

Ayzen teria encontrado Steven de cócoras, encostado numa das superfícies da grande rocha. Ao redor do pesquisador, havia uma série de instrumentos espalhados pelo chão, revelando em parte sua falta de organização - ou a famosa "bagunça organizada". Ficava óbvio que Stone estava investigando algo na rocha, porque entre seus apetrechos era possível ver uma pequena picareta, um martelinho e vidrinhos com amostras de pedras diversas. Claro que quando o Ranger se aproximasse, o Hoenniano pararia o que estava fazendo para ficar de pé e recebê-lo, limpando as mãos nas laterais da calça.

– Não consigo imaginar o que pode ser tão urgente que te fez vir até aqui... Você não disse "Representante da Liga Pokémon" também, não?! – parecia genuinamente em dúvida sobre as possibilidades do que Ayzen também poderia ser e que justificasse aquele encontro num lugar tão incomum.

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Uh, eu sinto muito. Tô só seguindo o roteiro na ficha oficial do seu herói -q

Brincadeiras à parte, Steven já roía a parte interna da boca, apreensivo por Ayzen ser o portador de qualquer tipo de má notícia que ele não gostaria de receber, principalmente se fosse uma nova responsabilidade ou programa de TV para gravar. No fim, nosso protagonista lhe trazia trabalho. Não era de todo algo ruim, ainda mais se tratando de algo em que Stone era perito.

– Ah, menos mal. – lançava um suspiro de alívio – Erh... Eu provavelmente posso te ajudar. Está com as pedras aí? Só preciso terminar de coletar umas amostras aqui e... E aí vemos. Pode ser, ou está com muita pressa?

Não era como se uma resposta de Ayzen fosse mudar drasticamente alguma coisa, já que o outro pesquisador voltava a se agachar próximo a rocha e alisar a superfície irregular dela. Claro, Steven não continuou coletando mais nada, enquanto a resposta não veio. Ele só se pôs a alisar a rocha mesmo.

– É a primeira vez em dias que as sacerdotisas me deixam vir aqui ver esse artefato. Parece que tem algo de sagrado pra elas. Algo mágico. Elas dizem até que alguns Pokémon chegam a evoluir quando entram em contato com essa pedra... Imagine só. Quase uma Ice Stone ambulante?! Não sei... – comentava com casualidade, quase como se estivesse fazendo uma reflexão consigo, chegando até a roer a unha (quase inexistente) do polegar, mesmo sujo de terra.

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Nossa, mas quanto drama! Então é assim que um fã fica ao se decepcionar com seu ídolo?! Sorte que - de acordo com a ficha - Steven sabe se portar melhor em frente às câmeras, mesmo. Se não ele estaria ferrado nessa vida de fama... Se é que ele realmente se importava com ela.

Enfim, se a melhor opção de um frustradíssissímo Ayzen era se manter em silêncio, assim o seria. Steven voltaria a perder o foco nas outras coisas e voltar a se concentrar na sua coleta de amostras e exploração. A quietude só não era plena porque o pesquisador precisava martelar a rocha em alguns pontos para retirar as lasquinhas, examinar brevemente com uma lupa de bolso, fazer suas anotações num bloco de notas e guardar o fragmento num potinho reservado e numerado.

Aquilo levaria um tempinho até que, na terceira vez que o ciclo se repetisse, Stone finalmente relembraria que Kitshomo estava ali, no aguardo. Quando Steven fosse guardar um dos frascos, chegaria a tomar um breve susto ao ver o Ranger parado e quieto ali.

– Uh, desculpe, eu quase esqueci de você, quieto aí. Se deixar, eu passo o dia fazendo essas minhas coisas... Bem, vamos lá. – com agilidade o pesquisador guardou seus apetrechos numa maleta de metal, antes de se dirigir para a saída daquele "salão", chamando Ayzen para acompanhá-lo – Olá. Será que poderia me mostrar o caminho até minha mochila, por favor? – pedia com certa gentileza à jovem sacerdotisa que tinha ficado ali a observá-los – Então, senhor... Ayzen?! Ayzen, isso. Se importa de eu dar uma olhadinha nas suas pedras? – pediria agora ao Ranger, para que pudesse aproveitar a "viagem" pelos corredores frios já em atividade.

Ice Path – Tarde | -15ºC – Ayzen