April Fools... Ou quase isso.

Explosão ocorrida, danos realizados. Para a sorte de Lysander, pouco sofrera com o impacto, mas Cora não parecera ter a mesma sorte, já que estava inconsciente, apesar de não parecer ter sofrido danos físicos. Ainda assim, o simples estado de inconsciência da senhora parecia afetá-lo de uma maneira que nem mesmo ele esperara ser afetado. Isto por que, principalmente, Cora não fora a única que sofrera danos com a explosão. O misterioso fã que fora quem lhe apresentara a toda aquela situação para início de conversa, surgira repentinamente no pior momento possível, sendo atingido em cheio pela explosão e tendo seu braço cortado. O Zumbido em seu ouvido a dificultar ainda mais a situação, suas pernas a tremer e sua face pálida.

Lysander ficara sem reação por um momento, seus olhos a percorrer de uma figura a outra, em conflito consigo mesmo. Teddiursa fora o responsável por buscar o bilhete caído, após apontar para o local e ver que seu mestre não parecia em sua plena consciência naquele momento. O ursinho parecia confuso, mas decidira que tinha de fazê-lo para bem ajudar seu treinador.

De certa maneira, era irônico... Cortara algumas gargantas para chegar até ali, mas agora, diante de pessoas que apesar de desconhecidas, também feridas, perdera seu chão.

Teddiursa, retornando, puxara a barra de sua calça, com o bilhete-versículo em sua outra patinha. Seus olhos, no entanto, refletiam grande preocupação, e buscava trazer seu treinador de volta à realidade, o que não fora o caso, já que pouco notara. Teddiursa então saltara para a frente do rapaz, e com um grito mais agudo que o esperado por parte do ursinho, Lysander enfim desviara o olhar dos dois, voltando-se ao pequenino, como se a interromper seu transe. Chacoalhara a cabeça por um instante, e finalmente esboçara alguma fala:

- Temos de sair daqui... Agora. - Suas mãos rapidamente seguiam para sua mochila, em busca de uma camisa ou tecido qualquer, rasgara o tecido e envolvera o ferimento principal do homem, usando-o como torniquete junto de seu cinto, de maneira a aumentar a pressão aplicada para melhor conter uma provável hemorragia. - Isso deve bastar... Eu acho... Até chegarmos a um hospital. - Continuara ele, apesar de notável sua voz ligeiramente esganiçada, como se ainda não estivesse 100%. Ao fim, abaixara-se ao chão ao nível de Cora para checar seu pulso, a certificar-se de que estava de fato apenas desacordada. - Ela está bem... Ela está bem... - Liberara um suspiro profundo a desviar um rápido olhar para o homem e Teddiursa. - Ela está bem... - Repetia apenas para consolar a si mesmo, já que não era tão experiente naquele tipo de socorro quanto fizera parecer. Na verdade, pouco sabia se ela estava com pulso mesmo, mas aquelas palavras já pareciam suficientes para ajudar a acalmá-lo.

Sua mão buscara mais uma vez a esfera de Bacchus, e com um rápido lampejo surgira a figura do urso. - Bacchus, a Cora... - Optara o rapaz por pedir auxílio a Pangoro uma vez mais, já que ele mesmo pouco conseguiria lidar com o peso de Cora. O grande urso, com um rápido olhar parecia entender a seriedade da situação, a colocar a senhora em seu ombro e segurá-la com a mão esquerda, já que provavelmente precisaria da mão direita para subir ou mais algumas escadas até sair daquele inferninho. - Vamos embora deste lugar.

Poderia até parecer controlado após ter sua consciência retornando a si, mas na verdade, era tudo bem desconexo, como se estivesse agindo no piloto automático para tudo aquilo, e seus olhos vidrados e ouvido ainda a zumbir consistentemente eram provas disso. Mas ainda assim, mesmo ligeramente fora de si, sabia que tinham de sair dali e procurar ajuda. Não para si, mas para os demais. E faria o possível para alcançar a este objetivo.

O caminho levava o grupo a mais um cômodo peculiar. Lugar este que desencadeava novos e inusitados eventos... Eventos até mesmo esquecidos pelo rapaz no calor da emoção, evento este que fora o motivo de ter aceitado a infiltrar-se naquela base: O desaparecimento da irmã do rapaz.

Sua mente não estava no lugar, e isto era um tanto óbvio, mas ainda assim, pelo pouco que pudera compreender, aqueles eram vestígios deixados pela sua irmã, o que em um primeiro momento confirmavam sua morte, o que até fazia sentido, já que a única pessoa que fora encontrada nas celas ou na instituição em si, fora Cora. O rapaz entrava em choque, ao confirmar que uma daquelas mochilas empilhadas de fato pertencera a sua irmã, tão em choque que jurava vingança em resposta ao que fizeram a sua irmãzinha... E o mais complicado, parecia pedir pela ajuda de Lysander. Talvez fosse apenas o desespero? Talvez aquilo demonstrasse realmente uma grande mudança de caráter por sua parte? Não podia saber até que ponto o rapaz iria para satisfazer seu desejo de vingança.

Lysander, por sua vez, mantinha seu olhar ligeiramente baixo o tempo todo, ainda meio desconexo, meio presente.

- Sinto muito... - Dizia Lys em um tom melancólico e trêmulo, não apenas pela irmã em si, mas por tudo até então. - Rotom... Uma ambulância. - Prosseguira ele, adiantando-se e dando seu comando ao Rotom-Phone para que pedisse socorro enquanto continuassem ali.O elétrico prontamente saia de sua mochila e dava início ao procedimento, chocando-se com o que via e evitando qualquer desperdício de tempo com qualquer comentário.

- Não consigo sequer imaginar a dor que está sentindo... - Continuara ele, sua cabeça a realizar um breve e sutil gesto negativo com a cabeça. - Você está com raiva. Eu te entendo. Eu sei. Mas veja... - Girava em seus calcanhares, se voltando para a porta que dava saída de volta à cidade. Suas costas se apoiando no batente da porta. - Sim. Você está triste, em fúria. E isso é normal. Seria como pedir para que saísse nessa chuva e esperar que não fosse se molhar. Essa garoa está aí por algum tempo já... Mas uma hora ela vai parar. - Continuara ele, a voltar seu olhar ao homem uma vez mais.

- O que estou tentando dizer é que esse ódio e raiva é pelo que aconteceu a sua irmã. Deixe que tudo ocorra no seu próprio tempo. O que você pede é algo sério... Algo que você poderá se arrepender quando toda a raiva tiver desaparecido. Não saia por aí na chuva sem rumo, respire e espera até ela acalmar. Sei que talvez possa parecer um tanto como um falso moralismo, e talvez de fato você entenda assim. Só não quero que mais mãos cubram-se de sangue... - Prosseguira, em um tom melancólico, desviando seu olhar de Cora para o rapaz de cabelos prateados.

- Não sei seu nome... Mas sei que você é uma boa pessoa. Pude ver isso desde o início, caso contrário não teria aceitado seu pedido de ajuda. Vai por mim... Você não vai querer se sujar com isso. - Finalizava ele, a encarar suas próprias mãos, ainda ligeiramente tomadas por um tom rubro de sangue. - Só o que digo é que espere. Se nada puder mesmo acalmar a seu coração, ótimo, tente a vingança. Mas antes, procure por outras alternativas.

Enfim. O contato com o socorro já fora realizado por Rotom. Bastava agora chegarem ali.

Bem... Ao menos o rapaz parecera lhe dar ouvidos. Por enquanto...

- Se mesmo com o tempo, esta ainda for sua decisão, eu é que não serei um obstáculo para sua vingança. - Informava Lysander ao ver a figura de Mio a se afastar rumando a saída. Deixava claro que não o apoiava completamente naquela tomada de decisões, mas também não o atrapalharia, vez que também não tinha muita moral para fazê-lo. - Até mais, Mio. - Despedia-se, de maneira a deixar ainda uma brecha aberta para futuras interações, afinal, quem sabe o que o destino lhes reservaria.

Deste ponto, as coisas pareciam acontecer em maior agilidade, ou talvez a percepção de tempo para Lysander é que parecera distorcida. Ambulâncias chegavam e isto lhe tirara um peso dos ombros, já que agora sim a senhora estaria em boas mãos. A força policial também não tardava a chegar no local e interditá-lo, bem como encaminhar Lysander para interrogatório sobre os eventos que ali aconteceram. E querendo ou não, cometera dois homicídios naquela situação toda. Não era nenhum gênio do crime para ocultar provas ou criar um discurso sem falhas que o inocentassem.

MAS! Sempre haverá a Legítima Defesa, não é?

Afinal de contas, ele era a vítima ali, não era? Uma inocente vítima que fizera tudo o que pudera para escapar daquela situação com vida. E bem, tinha Cora para dar suporte a ele também em seu futuro depoimento. Simplesmente não tinha nada a temer, portanto, após seu relato, era liberado pelos agentes.

Finalizada essa etapa, restava ainda decidir quanto a visita a Cora... A qual optara por não realizar. A senhora, neste momento, precisava mais do que nunca, descansar. A presença de Lysander a fazer com que revivesse os momentos de medo e apreensão vividos naquele cativeiro era a última coisa que desejava.

- Droga... Cora... Mio... Não fui capaz de protegê-los no fim das contas... É a mesma história de sempre, seja com meus amigos, ou mesmo com estranhos, nunca sou capaz de evitar esse tipo de tragedias. - Resmungava o rapaz consigo mesmo a enxugar uma única lágrima a escorrer por sua face. - Ainda me falta mais poder... Ainda falta... - Completara ele, com o que logo anunciava um estranho e sinistro sorriso em sua face. - Mas um dia chegamos lá... Não é, mamãe?