001 - {Evento} -Lies are like Sour Candy

Lies are like Sour Candy

Começamos a caminhar novamente. À passos curtos e lentos, justificados pela pequena investigação que Rosemary fez com a pequena Anna. O ritmo precisava ser mantido daquele jeito para que a criança conseguisse escrever para responder às perguntas feitas pela loira mais velha.
Sendo sincero: eu não faria essas perguntas. Existem coisas que é melhor você não saber para evitar pesar mais a sua vida. Ignorância é uma benção, pelo menos nesse caso.

Em questão de breves minutos, a pequenina estendia o seu bloquinho com novas frases escritas. Puxei o ar – já me arrependendo por causa do cheiro – antes de ler o que a nossa mais nova companheira de inferno tinha escrito.

Senti o meu estomago revirar e a minha cabeça pesar. Todas as informações descritas por Anna batiam com o que eu vi na cela. Só agora me dei conta de que não contei o que encontrei para Rosemary.

- Isso bate com o que eu vi... – Faltava pouco para a minha voz não sair. – Quando eu estava vasculhando uma das celas, haviam marcações na parede... A mesma quantidade de risco para os dias antes deles serem... você sabe.

Não consegui finalizar a frase. Tudo aquilo era pesado demais pra mim, imagina pra Anna. Fiquei em silêncio até a garotinha finalizar o seu desenho. Era impressionante o quão bem ela conseguia reproduzir a silhueta da assombração. Óbvio que isso me fez ficar preocupado... Será que a menina tinha presenciado a aparição de Gilatina? E... ainda pior... um sacrifício?

Só tive forças para agradecer Anna pelas informações e para reconforta-la com um abraço. Dali pra frente, fiquei calado. Nem mesmo as novas camadas de sujeira e coisas nojentas estavam me fazendo esboçar reações muito vívidas. O desgosto era crescente e era difícil digerir tudo. Voltei a falar quando encontramos o alçapão e a escada: a única opção para prosseguir.

- Cuidado, vocês duas. Estou sentindo que estamos chegando cada vez mais perto... – Anunciei, antes de dar prosseguimento à situação. – Eu desço primeiro. Depois, quando eu avisar que está seguro, a Anna desce pra não ficar sozinha e aí é a sua vez Rose. Combinado?

Lies are like Sour Candy

Okay. A pequena dose de silêncio movida à exaustão sensorial foi incapaz de se calar diante de tamanha atrocidade. O CHEIRO ESTAVA FICANDO PIOR!!! Cada degrau descido poderia ser comparado a um passo adentro do inferno. Cadê a piedade divina? Quando eu voltasse para Floaroma passaria por cada flor e cada Combee para agradecer e me purificar desse dia tenebroso.

[...]

Essas escadas não acabam não? Caralho.

[...]

Meus pés já estavam implorando por misericórdia. Após finalmente sair daquela escada de metal, tomei um tempo para me recuperar e apoia-los em uma superfície menos agressiva. Um dia de spa poderia fazer bastante por mim em um futuro próximo.

- Shaymin do céu. – Exclamei. O esgoto era imenso. A pouca iluminação vinha de algumas lamparinas, mas apesar disso dava para perceber muito bem a gigantesca área que o sistema de escoamento cobria. – Plataformas!!

Não escondi o meu alívio ao percebe-las. Daria finalmente para sair do contato com o ambiente molhado. Subi, sem hesitar. Oferecendo ajuda para a pequena Anna subir, bem como para Rosemary. [...] Com mais calma, e levemente recuperado de alguns surtos anteriores, consegui observar melhor os detalhes do lugar onde havíamos parado.

- O coisa ruim quer que a gente siga por aqui. – Apontei para o óbvio caminho iluminado. – Não temos ideias melhores, né? – A pergunta era retórica.

Segui pelo único caminho viável.

Lies are like Sour Candy

Nada. E eu repito. NADA. Nadica de nada. Era capaz de livrar o sentimento de aflição que estava alugando um triplex na minha cabeça. Tentei cantar internamente, cantarolar, contemplar o abismo, contar confeitos em um corpo de uma Alcremie gigante e todo tipo de baboseira que deveria aliviar o nervosismo.

Não dá para enganar a intuição, nem se o seu bem-estar dependesse disso. Qualquer profissional de saúde – e eu sei que existem muitos aqui – saberia identificar a agitação psicomotora desse pobre fudido. Mais algumas horas ali e eu estaria idolatrando... sei lá, um sabonete?

Pois é meu querido narrador. A única lavada nesse cenário desgraçado são os miolos dos cultistas.

Tentei acalmar Anna da forma que consegui. Considerando que a minha sanidade não estava apenas tomando shots de chás feitos de (e por, para deixar mais bizarro) Shiinotics, como também estava virando de vez. Quando ela resolvia pegar em minha mão, a envolvia de forma suave enquanto lançava um sorriso encorajador para ela seguir em frente. Pela criança eu adio a, possivelmente, inevitável internação.

[...]

Nem fudendo. Restringi a expressão aos limites da minha mente para não dar mau exemplo à Anna. Imagina se ela conseguisse entender isso depois de tanta coisa legal que eu falei, a primeira impressão iria pro lixo. Enfim, o motivo de tal revolta era simples: dois caminhos distintos.

- Okay. Hora de fazer escolhas. – Lamentei, observando com cuidado as opções. – Voto em ir ver o que é essa luz no final do corredor. – Claro, parecia ser a escolha mais arriscada, mas eu tinha uma justificativa. – Eu sou fofoqueiro. Não posso ir embora sem saber o que tava acontecendo aqui. – Brinquei... parcialmente, com a situação. – Qualquer coisa a gente só volta e sobe, vai que deixamos algo importante passar batido.