Interlúdio

A surpresa evidente no rosto rapaz me fez repensar. Talvez ele estivesse falando a verdade. Enfim! Tão logo Beheeyem estava em sua esfera, pedi a Mastermind que soltasse nosso convidado francês, e, dava um tempo para que ele se recuperasse enquanto ainda detinha a esfera de seu psíquico em minhas mãos. Uma vez que ele recuperasse o fôlego o ajudaria a levantar, e ofereceria a esfera de volta a ele.

- ...olha. Desculpe por te pressionar na parede dessa forma. Seu Pokémon invadiu minha cabeça, me prendeu numa dimensão psíquica e tentou matar a mim e a meus Pokémon. Não sei se ele realmente queria nos matar ou apenas se divertiu nos torturando, mas... não foi legal. Nem um pouco, se quer saber. - Suspirei. - Ele precisa de cuidados, inclusive. Eu estava indo levá-lo ao centro Pokémon. Acho que se sobrecarregou com o excesso de energia psíquica. - Pontuei. - Olha... eu posso te ajudar com ele. - Falei, meio relutante. - Quando tive problemas criando minha Skorupi, eu tive uma ajuda muito grande, acho que ta na hora de devolver o favor a alguém. - Falei enquanto ofertava o apoio.

- O que acha? - Perguntei com tom de voz otimista.

Olha, sendo bem honesto, eu não fiz nada de errado. Se a polícia chegasse e tentasse me prender, eu só precisaria mostrar o dano psíquico aos Rattatas que capturei e a mexida que aquele Pokémon deu na minha cabeça. Além do que, resquícios de controle mental são uma lesão comum e fácil de ser identificada, para sustentar minha história. No fim das contas, mesmo com a histeria comum e aquele povo todo fazendo um estardalhaço, eu não estava com medo. Ainda que eu fosse cancelado no PokéGram, não é como se essa fosse minha primeira exposição na mídia.

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É claro que se meu amigo gringo ia na direção do Centro Pokémon, eu o acompanhava, a sua esquerda, prestando atenção em tudo que ele dizia e ignorando completamente todas aquelas pessoas a minha volta. Como eu disse, não fiz nada de errado e minha consciência estava limpa, então apenas saia dali como se nada havia acontecido, ao lado do colega gringo, é claro.

Quando me explicou a situação de Beheeyem, dei uma olhada para Maru. Não era extremamente parecido, mas não era a primeira vez que um Pokémon rebelde tentava me matar, a própria venenosa detinha isso como hobbie antes. Antes de dizer qualquer coisa, reparei que o sol começava a baixar no céu. Felizmente, nós estávamos indo para o Centro Pokémon, isso me deixava em melhores condições de ajudá-lo, já que, caso precisasse, era só curar meus pequenos.

- Certo... bom, acho que Beheeyem tomou os sonhos de seu antigo mestre para si, isso é meio problemático. - Disse, meio pensativo. - Olha, se o cara queria manipular as memórias dos outros, e Beheeyem herdou essa vontade, ele teria algum objetivo? Ou só tentaria fazê-lo ao bel prazer? As coisas começam a ficar perigosas demais. - Disse, a aflição nítida nos olhos. - Olha, talvez, mostrar a Beheeyem uma nova maneira de enxergar as coisas a sua volta seja um bom começo. - Falei, enquanto colocava a mão direita no ombro esquerdo do jovem europeu. - Com Maru, ela precisou ficar doente para que eu cuidasse dela e ela, bom... realmente se permitisse ser cuidada, sabe? Mas não sei... podemos começar com coisas mais básicas. Sabe me dizer o nível de felicidade do Beheeyem? - Perguntava, puxando o Rotom Phone e mostrando Pandora no visor, exibindo para o homem o valor: 12. - Não é muito mas é o suficiente para que ela me escute. Tem uma noção de como está a felicidade do seu Pokémon? - Perguntava, inocentemente, na espera de uma resposta certeira.

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Senti que o homem ainda estava muito não defensiva, mas não o culpo. Eu mesmo não estava muito a vontade. Quer dizer, quero ajudá-lo sim, mas tudo o que fiz até agora era para garantir a minha segurança primeiro. Seja nocauteando o Beheeyem, seja restringindo os movimentos desse cara, ou até acompanhando o treinamento do Pokémon. Quero, sim, que a relação dele melhore, mas não quero passar o resto dos meus dias em Lilycove com medo desse capeta amarronzado me seguindo. Naninanão, terei férias dignas! Não preciso de ansiedade na minha coletânea de problemas psicológicos.

Diante as ponderações do homem eu fiquei reflexivo. "Nem todos os treinadores estão realmente preparados para ter uma relação treinador-pokémon com seu Pokémon"... para o azar deles! Hora essa! Se as pessoas querem ter um Pokémon, elas precisam zelar por eles também, é o mínimo a partir do momento que você o restringe a uma esfera. E quando não o fazem, os rangers estão aqui para resgatá-los e lhes dar dignidade.

E tem mais! A forma que o cara falava aquilo tudo, me chamava muita atenção. Quer dizer, ele parecia conhecer bem o ramo, né? Com Mastermind, Pandora e Maru próximos, pedi para que ficassem mais perto de mim e voltava a perguntar uma coisa ou outra ao nosso querido amigo sem nome. - Você parece familiarizado com isso tudo. - Levantava. - Você era próximo do antigo treinador dele? - Perguntei, curioso.

Sobre a última piada, bom... ele claramente estava sendo sarcástico. Acho que, inclusive, foi uma forma de debochar da situação de tão ruim que estava, tentei refletir alguns instantes e voltei a devolver mais perguntas para o homem. - Há quanto tempo você está com o Beheeyem? Já tentou alguns Colorful Shakes? Quer dizer, eles costumam ajudar bastante nisso, os Pokémon gostam bastante. - Arriscava mais uma sugestão, o semblante ainda reflexivo.

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Bom, o relato do homem me deixava reflexivo. Se ele mesmo não acreditava em suas próprias capacidades como mestre da mente, e seu antigo empregador sendo alguém que parecia tão confiante em suas habilidades, a ponto de fazê-lo só pela sensação de poder, não acredito que Beheeyem o obedeceria mesmo se tivesse uma boa relação com o homem. Ouvia toda sua história, reflexivo, e assentindo afirmativamente ocasionalmente.

Quando o homem entregou seu Pokémon para ser curado, eu também retornava meus monstrinhos e pedia para que fossem cuidados pela enfermeira. - Por favor, eles também precisam de uma atenção. Tiveram uma luta difícil. - Pedia respeitosamente pelos serviços do estabelecimento antes de efetivamente me voltar para o homem novamente.

Escutava seu pedido de desculpas e ouvia sua última... pergunta? Acho que foi uma pergunta indireta. Bom, enfim! Eu parei reflexivo e finalmente ponderei alguma coisa. - Sabe, eu aprendi uma coisa nessa vida, desculpas não adiantam muito. Elas não servem de nada a não ser que mude. - Em seguida, me virei para olhá-lo no rosto. - E sabe, não posso só ignorar o que aconteceu lá atrás dessa forma. Pode não parecer, mas sou um Ranger. Tenho o dever social de apoiar a relação entre Pokémon e Humanos. - E suspirei. - Vai ser um saco, mas eu preciso te ajudar com o Beheeyem... ou vou ter de ligar para meus colegas levarem ele para uma reabilitação. - A última frase com pesar evidente.

De alguma forma, a sensação me era... familiar? Em minha jornada, eu nunca havia perdido um Pokémon. Quer dizer, eu dei meu Electrike para Gary começar sua jornada, e não sei bem o que aconteceu com ele, mas o sentimento parecia mais... distante? Uma perda de um Pokémon do qual eu não lembrava?


Aquela sensação me deixou triste, eu tentava resgatar alguma memória, mas não conseguia dizer a causa daquilo. Aquele homem... podia me ajudar? Bom, talvez, mas não atualmente. Não do jeito que ele se mostrou pra mim. Ele mesmo não confiava nele, como eu poderia confiar que ele não iria me quebrar completamente no processo? Suspirei. - Eu sei como é doloroso perder um Pokémon, apesar de não saber o porquê. - Ri, meio sem jeito. - Mas não quero que isso aconteça contigo. Então, por favor, me deixe ajudar vocês dois a se reaproximarem. - Falava, com confiança. - Sei que tem algo que eu possa fazer. Se a situação é complexa, talvez seus outros monstrinhos possam te ajudar! - Ponderava. - Poxa, você tem seis Pokémon com você. Beheeyem nunca se conectou nem a eles?

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Ah ótimo, o homem borrou as calças. É claro, talvez minha tentativa de ser enfático tenha descido pelo ralo, mas porra! O Pokémon desse cara fez parecer que eu fui teleportado pra outra dimensão! Mesmo depois do evento, ainda parece bem real e se quer saber, não me pareceu ilusão... Quer dizer, só sei que foi porque Maru estava conosco, mas se não fosse por ela ali eu tenho quase certeza que ficaria perdido pra sempre nas mãos daquele maldito projeto de ET.

Suspirei. É claro, eu estava tentando parecer amigável e joguei tudo pelo ralo. O nervosismo do homem denotava o quanto ele queria me evitar, posso jurar que ele sairia correndo a qualquer momento se estivesse com a esfera do seu Beheeyem. Pelo menos, ele era leal, mas eu não sabia dizer o quanto daquilo ali era verdadeiro, mas tentei manter a calma apesar de que... bom, eu explodi num primeiro momento. - Um esforço bem sem vergonha, diga-se de passagem. - Opa, fui bem ríspido.

Quando percebi o que disse, eu suspirei. Tava claro que eu ainda estava irritado e incomodado com o que havia acontecido. Quanto a seu questionamento, apenas mantive meus olhos fixos no homem para respondê-lo. - É claro que tem. - Falei, me lembrando da vez que eu e Karinna nos separamos em Fortree e ela foi sequestrada, e quase devorada, por alguns canibais. - Mas é por isso que eu quero te ajudar. - Dizia, em quase tom de súplica. - Olha, você não parece ter ideia do que o seu Pokémon fez. Cara, eu tava do lado de um Pokémon Noturno, e só soube que o que tava a minha volta era uma ilusão porque a Drapion não pareceu ver metade das coisas que a gente via. E tudo parecia muito real. Muito mesmo! É poder demais pra deixar descontrolado. - E aqui, de novo, eu quis colocar o dedão na cara do sujeito mais uma vez. Mas me contive.

Respirei fundo e tentei um tom mais ameno. - Olha, eu não sei seu nome. Não sei de onde você veio. Mas sendo bem honesto? Eu não ligo. Eu só não quero que o que aquele Beheeyem fez comigo aconteça com mais alguém. Então, meu amigo, me desculpa a honestidade, mas eu não confio que você consiga pará-lo. Quer dizer, você não conseguiu pará-lo quando ele ME atacou. - Novamente, minhas palavras tomavam tom mais severo. É, eu tava dando esporro no gringo. - E sendo bem franco comigo, acha que conseguiria? Acha que eu ficaria bem quando você chegasse? Ou acha que seu Pokémon teria alterado todas as minhas lembranças? - Olhar ríspido tomava minha face. Eu tinha CERTEZA que aquele homem não conseguiria. Para mim, era evidente que ele não era tão forte. Mas e ai? Ele tinha ciência disso?

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