Greensight

No fim, Reason não esboçava uma resposta clara ao convite de voltar para a esfera, mas também não retornava por vontade própria, o que podia significar indiferença, ou que não se importava em ficar ali apesar de tudo. Evoluiu longe das pessoas e certamente estava experimentando novas sensações nesse estágio, com seus poderes psíquicos potencializados. Isso incluía uma habilidade natural e peculiar de...

– Ai, gente, que dor de cabeça do nada! – ... provocar dores de cabeça – Roberto, vai buscar o aparelho da vó, acho que me caiu a pressão aqui.

– Ana, entra pra casa, Ana. Eu acho que o esgoto transbordou pela piscina. Vai inundar o quintal! – ... e causar ilusões para afastar os inconvenientes.

Ah, esses foram só diálogos aleatórios que Kath pode ouvir, vindo para além dos muros das casas pelas quais passava. De repente a Hatterene podia agora explorar novas formas de calar os barulhos ao seu redor. Também nem é certo que a treinadora associe as coisas de imediato, pois poderiam ser situações bastante corriqueiras na rotina das pessoas.

Voltando ao que interessa, Frosmoth era a aliada convocada para ajudar na busca pelo macaco perdido. Longe de criar incômodos, ao contrário, ela atraía suspiros e exclamações das pessoas que a viam passar voando pelas árvores em seus terrenos. Era uma mariposa muito bonita, afinal, e extremamente exótica para os padrões de Tohjo que contavam com uma mais tradicional Venomoth nos seus biomas.

Levou alguns minutos com o Pokémon voando acima e entre as árvores pelas casas da orla, seguindo Kath que caminhava por trás das cercas e muros dos respectivos terrenos. Para as árvores do caminho, fora daquelas propriedades, Faith e Dwebble até que poderiam oferecer ajuda se ela quisesse, emprestando seus sentidos para perceberem a presença de outras criaturas, ou chamarem atenção delas até que Kath as pudesse diferenciar.

Independente dessa possibilidade a mais de envolver seus parceiros, definitivamente era Frosmoth quem teria o sucesso na busca, principalmente por carregar consigo os objetos que atrairiam Panpour até ela. Assim, ficava até incerto dizer se foi a mariposa quem encontrou o macaco, ou o macaco que foi atraído pelos objetos da mariposa. Mas não é como se isso fosse um detalhe tão relevante afinal.

Em todo caso, o encontro aconteceu como Tumnus havia previsto, numa árvore alta bem próxima à costa, de onde com certeza a vastidão do mar podia ser vista. Frosmoth, então, seguiu atraindo Panpour até um muro baixo e próximo de onde Kath estava, para que o encontro final pudesse se desenrolar. O interesse do macaco na fruta era nítido, mas ele constantemente farejava o ar na direção do lenço, só confirmando o que dificilmente teria erro: era ele um dos Pokémon procurados pelo velho.

Rota 22 – Manhã | 28ºC – Kathryne

Com aquela parte da busca cumprida, Frosmoth voltava para a pokébola, deixando para a treinadora a tarefa de convencer Panpour a lhe acompanhar. Bem, como esta aqui é apenas uma sidequest, não vamos nos estender nem dificultar os processos, então...

Panpour chegava e olhava da moça para o lenço, agora segurado pela séria Reason, e sorria. Estendia uma pata fechada para Kath pegar o punhado de penas amassadas que ele tinha nas mãos - pegou em algum ninho de aves nas árvores - e para ficar com as duas livres e então se deliciar com a Nanab Berry. Uma vez que estivesse com a boca lambuzada, macaquinho aceitava o carinho sem receio, demonstrando que era tão dócil quanto Tumnus disse que seria. Por fim, acenava a cabeça levemente, concordando em seguir a loira em busca dos amigos.


Suponho que com essa resposta não seja mais necessário retornar pontualmente até a casa de Tumnus, mas que um pequeno desvio possa ser feito na direção que o velho Ranger tinha lhe indicado, então vamos para lá, subindo mais uma vez para norte, sentido a Goldenrod, reencontrando paisagens bem familiares daquelas casas chiques, de muros baixos e raramente ocupadas por pessoas. O chuvisco também dava uma trégua, mesmo que o céu permanecesse cinza e a brisa morna.

Reason permanecia quieta, porém não mais liderava o caminho como antes. Ocasionalmente Kath seguia ouvindo uma ou outra pessoa por perto se queixar de dor de cabeça ou relatar alguma situação esdrúxula e atípica, como um sanitário transbordando merda, talheres voando na cozinha, "fantasmas" arrancando cortinas das paredes. Nada grave. Tudo ignorável.

Depois de uns minutinhos de caminhada, o Panpour que vinha andando ao lado da garota foi quem acelerou o passo. Ia se embrenhando por arbustos e entre troncos de uma área onde as árvores se adensavam, onde não haviam casas. Se Kath não se apressasse em seguir o rastro do Pokémon, corria o risco de perdê-lo novamente. Mas ao menos aquilo podia significar que ele tinha encontrado algo importante. Quem sabe era Skiddo, o que tinha se perdido pela campina... Ou era só um cacho suculento de outras Nanab. Enfim, talvez fosse uma boa oportunidade para outros Pokémon da garota "brincarem" de pique-esconde nos arbustos.

Rota 22 – Manhã | 28ºC – Kathryne

Desde que Panpour mergulhou nos arbustos, mal e mal podia-se ver as folhas agitadas por onde ele passava. Só que, é claro, ele não era a única criatura por lá e, por isso, a passagem do macaco agitava outros Pokémon também, que se moviam ao se afastar, gerando um efeito dominó de muitas folhas e arbustos se movendo ao mesmo tempo.

Para os olhos humanos de Kath aquilo poderia ser um sinal de que ela realmente tinha perdido Panpour de vista. Porém, por ter sido rápida o suficiente para pedir ajuda aos seus próprios companheiros, conseguiu com êxito evitar perder o macaquinho de novo, pois seus Pokémon puderam também se embrenhar no mato em tempo, antes que o efeito dominó acontecesse para deixá-los perdidos também.

Faith era alta o suficiente para ser vista acima dos arbustos e até ajudava a remover parte deles, por cima. Já Dwebble vinha logo atrás, picotando partes mais grossas dos troncos dos arbustos já amassados e quebrados, de modo que Kath e Reason, logo atrás, conseguissem passar sem muita dificuldade e risco por lá.

Uma nova e improvisada trilha acabava de ser aberta pelo time, atravessando uma área de arbustos bem densos que funcionavam como uma barreira natural naquela parte, cercada também por árvores. A trilha, enfim, formava um atalho novo entre os arredores da estrada principal da rota e uma zona campina aberta que o grupo encontrou no final da "perseguição".

Era uma clareira criada pela própria natureza quando uma árvore de imenso porte caiu por lá. Hoje, apenas uma parte do tronco ainda restava na área, sendo absorvido pelo tempo e, por isso, coberto de musgos e outras plantinhas intrusas. Não era plenamente uma campina pois ainda haviam árvores em alguns pontos, mas sem dúvidas era uma área natural bem mais aberta que o restante, onde o sol - quando ele estivesse no céu - poderia tocar a terra sem obstáculos.

Panpour estava lá, conversando diante de um buraco amplo aberto na árvore caída. Seria preciso que Kath se aproximasse um pouco mais para que pudesse ver, à sombra do tronco velho, o Skiddo um pouco apreensivo de sair, botando timidamente o focinho para fora às vezes, como se medisse o ar. Pra quem veio atrás de sol, ter encontrado chuva no caminho deve ter sido um contratempo.

Rota 22 – Manhã | 28ºC – Kathryne

Com um Pokémon menos intimidador na área e o lenço com o cheiro do dono, certamente Skiddo se sentiu mais confortável de dar uns passinhos para fora do esconderijo que adotou quando a chuva chegou. Ele tinha o ar mais tímido, evitando contato visual, mas esticou várias vezes o focinho na direção do lenço para ter certeza de ter sentido o aroma familiar. Claro, ter o companheiro Panpour do lado com certeza também ajudava no processo.

Numa das aproximações, saindo do esconderijo, Skiddo acabou chutando para fora de lá um pequeno cogumelo que rolou até os pés de Kathryne que poderia pegá-lo, se quisesse. Pelo visto não eram só musgos e ervas aleatórias que cresciam na madeira em decomposição por ali.


Bem, com todos os prós favoráveis anteriormente citados e o convite de retornar para casa, de preferência antes da próxima chuva, Skiddo também não oferecia nenhuma resistência e aceitava acompanhar Kath de volta até a propriedade de Tumnus que, por sinal, não estaria à vista quando eles pudessem enxergar a casa, à certa distância. Arcan, o Arcanine, ainda estava lá na varanda, estirado no chão no mesmo lugar, agora de barriga peluda para cima. Pela fumaça sutil e aromática que saía de uma das janelas, Tumnus certamente estava na cozinha, tratando do almoço.

É, com tanta coisa acontecendo as horas tinham passado aos saltos e, na verdade, o relógio marcaria próximo ao meio dia já. Em todo caso, no trajeto até a propriedade do velho Ranger, Skiddo e Panpour acabaram se enturmando mais com Patience, de tal forma que estavam bem propensos a seguir caminho na busca por Mareep, podendo até ser um bom apoio nisso, de novo.

Rota 22 – Manhã | 28ºC – Kathryne

Se estivéssemos brincando de bingo, Kath teria saído na frente com palpites quase que igualmente certeiros sobre o paradeiro de Mareep. Mas isso ela viria a descobrir só quando chegasse lá.

Não vamos nos ater aqui ao percurso feito pela jovem com seus Pokémon e os de Tumnus, pois não havia nada que ainda não tinha sido visto. A fauna, é claro, voltava a ser mais de Pokémon dos bosques quando ela se afastou do rio, rumando para leste. As casas também se tornariam bem mais raras, até o ponto de que casa nenhuma era visível em toda uma extensão de mata, provando que apesar de o metro quadrado aqui ser caro, os ricos são bem criteriosos com seus locais de preferência.

A chuva não vinha perturbar mais, mas ainda deixava o ar úmido e morno, além da grama molhada. Desta vez também não houve alguém para liderar o caminho do grupo, então todos praticamente apenas se mantinham ao redor de Kath que inevitavelmente acabava seguindo por uma estreita trilha de grama amassada que havia lá, a partir da casa de Tumnus e na direção que pretendiam ir. Decerto que o próprio velho podia usar aquele caminho com frequência, ou mesmo sua querida Mareep.

Ocasionalmente Patience se adiantava para arrastar uma pedra do caminho de Kath, ou Reason discretamente empurrava a treinadora de volta para a trilha que era segura. Assim, depois de muito andarem, por mais uns longos e cansativos minutos, avistavam. Era mesmo uma campina, no mínimo tão ampla quanto onde encontraram Skiddo. Dali até dava para ver parcialmente os cumes das montanhas que ao leste guardavam a Union Cave. Sim, estavam mesmo quase no fim da zona da Rota 22.

Skiddo correu alegre e saltitante pela campina, seguido por Panpour que, por sua vez, se encaminhou para um ponto muito específico do caminho, apanhou algo do chão e se virou para Kath com o olhar preocupado. Na mãozinha do macaco estava uma coleirinha com um sininho pendurado. O sininho da Mareep de Tumnus?!

Mais lá adiante, então, o segundo palpite de Kath se cumpria parcialmente. Em uma área da campina um dia houve uma cerca, que agora estava quebrada em vários pontos. Também um dia houve uma casa, mas atualmente tinha apenas uma placa indicando o nome de uma empresa responsável por obras que ainda estavam por vir lá. Tinha sido um pasto e por isso era muito convidativo para as Mareep nativas da região. Os "béééé" delas ecoavam, trazidos pelo vento. Contudo...

Seria preciso se aproximar um pouco mais para discernir toda a situação, mas em resumo: havia quase uma dúzia de fofinhas Mareep ali, todas amontoadas num canto da campina, próximo às árvores. Ao redor delas, como cães de guarda e pastoreio, uma matilha de Snubbull, com um grande Granbull logo atrás dele, os liderando. Uma cena incomum e intimidadora, pois as ovelhinhas não estavam gostando do tratamento e... Bem, o que quer que fosse, talvez uma daquelas Mareep até mesmo tivesse um dono a esperando.

Rota 22 – Manhã | 25ºC – Kathryne