Greensight

Natu's Gate

A minha Hatterene também estava intrigada com aquele Natu, um poder psíquico bem forte para um pokémon pequeno, ela via isso como uma competição e eu a instigava, era o meu melhor jeito de encontrá-lo, mas como eu disse, o problema vai ser quando eu encontrar o Natu, teria que fazer questão de que Reason se mantenha calma. Mas enquanto isso eu continuaria a procura, também observando o cenário ao meu redor.

Com o que eu vi nas paredes acho que já é possível presumir que uma civilização já povoou essa área e que esse lugar era mesmo um tipo de templo como Tate havia descrito. Eu via o que parecia ser uma ave inscrita nessas paredes, talvez o ser que eles veneram, baseado em alguma coisa que eles já tinham visto. E andando mais um pouco eu via uma bacia de pedra, ou o que sobrou, aquilo parecia ser algum tipo de altar, pelas estruturas perto das bacias, provavelmente eram estátuas, acho que do mesmo "deus ave".

Mas antes que eu me distraísse, o objetivo era ir atrás de Natu e Reason já me apontava a direção, atrás dos restos de uma parede, um dos altares ainda estava de pé, e em cima dele a criaturinha que eu procurava. Mas antes que eu pudesse sequer olhar para ele, mais uma visão percorria pela minha mente, era como um sonho, só que vívido demais. Agora eu estava diante de uma terra devastada, seca e sem vida, as consequências do incêndio que Natu me mostrara antes. Se isso é realmente uma visão do futuro e Natu tema que esses eventos ocorram, será que ele procura alguém para desafiar esse destino?

A visão do futuro as vezes me parece uma maldição, você vê um desastre iminente, mas não pode fazer nada. E eu também não, não sei o quando, o onde e o porquê desse desastre. O onde faria sentido ser nessa exata rota, o que é um lugar grande, mas ainda assim filtra bastante as possibilidades, mas pode não ser. O quando? Pode ser a qualquer momento e agora que eu penso, eu demorei um pouco para começar essa missão e pelo menos devo agradecer que não cheguei tarde demais. O porquê? Criminosos, algum desastre natural ou melhor imposto por um ser lendário? Honestamente, os lendários que eu conheci, não vou com a cara deles, é capaz de um deles fazer isso mesmo. É a vez do Groudon atacar Johto.

Eu encarava o Natu, milagrosamente ele não foi embora depois de me mostrar sua visão, porém o meu objetivo era capturá-lo, mas tirar uma Pokébola do meu bolso provavelmente só o faria zarpar. Preciso confortá-lo. Mas como? Como vou fazer isso? Não posso prometer que o que ele viu não vai acontecer, nem da pra lançar um "vai ficar tudo bem", ele é um psíquico, ele sabe o que vai acontecer e sabe as minhas intenções.

- Eu queria dizer que posso te ajudar, mas a verdade é que não posso. Quer dizer, se eu souber um pouco mais sobre esse destino que você viu, talvez eu possa tentar. Mas eu não entendo seus poderes, nem sei se você pode me mostrar mais. - Fazia um sinal com a mão para que Reason ficasse para trás, ela já era intimidadora em aparência, sua personalidade então acabaria com o mental daquele Natu que está sendo afligido por visões de um desastre.

- Eu posso te oferecer um lugar seguro... - Lentamente tirava uma das minhas Pokébolas vazias de minha bolsa, mas a deixava de lado: - Mas não é isso que você quer, você ainda sabe que algo ruim vai acontecer e que não há nada que possa ser feito né? - Me sentava no chão, sem nem me importar do quão sujo ele poderia ser e encarava o pássaro de um ângulo mais baixo. Esse Pokémon só vai se acalmar se a crise que ele prevê for prevenida, mas o máximo que posso fazer é esperar que tenha pelo menos o mínimo de esperança e que ele possa me mostrar mais detalhes.

Se eu capturá-lo aqui e agora e ele não resistir a minha Pokébola, os pesadelos de Tate não acabariam. Tá, eu sei que a missão que eles me deram foi apenas capturar o Natu, mas eu queria ver se tinha algo que eu possa fazer. No mínimo, queria que ele se sentisse confortável comigo.

Natu's Gate

Reason não gostava de ter sido deixada de lado, mas era o que tinha que ser feito, quer queira quer não, ela era assustadora, mas talvez ela poderia resolver essa situação mesmo pois eu estava meio que em um ímpasse. O lado bom era que eu consegui conquistar a confiança do Natu, pelo menos ele não fugia de mim e até conseguia ignorar Reason e focar só em mim.

Só que, por mais que o Natu pareça bem ao meu lado, só parecia. Senti que ele não ouviu o que eu tinha a dizer, ele continuava lá, parado como uma estátua, provavelmente ainda repetindo aquelas visões em sua mente eu imagino. Tem algo faltando, Tate e Liza disseram que o Natu os despistou completamente, mas ele não fugia de mim. Parece que eu consegui a confiança dele. Mas então qual seria o próximo passo? Se eu lançar uma Pokébola sem mais nem menos é capaz dele fugir antes que eu complete o meu arremesso, ou só simplesmente resista a esféra.

Eu fiquei por alguns momentos também parada apenas observando o pássaro. O que ele quer? Bem, eu sei o que ele quer, mas infelizmente não posso dar isso a ele. Ele não quis me mostrar mais detalhes ou não pôde, o que significa que não posso fazer nada. Mas não creio que não conseguiria fazer nada de qualquer jeito, sinto que ele está predizendo um desastre de proporções imagináveis, nível inundação de Tohjo. Pensar nisso me enche de terror, imagino o Natu que tem essas imagens vividas se repetindo como uma playlist de músicas ruins.

No fim eu não fazia nada, continuava no mesmo lugar em que estava. Apenas procurei me acalmar e tentar esvaziar a minha cabeça, o que seria um pouco difícil de parar de pensar nas imagens que supostamente são presságios. Mas o que eu queria fazer é simplesmente pensar no porquê do Natu não ter fugido. Mas também, ficar calma o suficiente, quem sabe o Natu não volta a se comunicar comigo, nem mesmo que seja para mandar mais uma imagem de destruição, mas eu queria que ele se comunicasse comigo de qualquer forma.

Então eu permanecia ali, em silêncio, o único som que saiu de minha boca foi um suspiro, mas depois me esforcei ao máximo para manter o silêncio. Era como se fosse meditação, na verdade era uma meditação. Tentaria não pensar em nada, não sentir nada e talvez algo aconteceria.

Natu's Gate

A minha expectativa era que se eu conseguisse esvaziar minha mente, não pensar em nada, não sentir nada, o Natu se abriria um pouco para mim. Mas eu não sei se o que eu estava fazendo esvaziava a minha mente, eu tentava o máximo não me incomodar com os arredores, sendo sincera, eu estava sentada no chão de ruínas, nada limpo e nem confortável, mas eu tentava não me incomodar com aquilo. Não falava uma única palavra, e tentava também esquecer que Natu era o objetivo de minha missão.

Eu não sei os perigos de comunicação telepática, supondo que Natu tenha nutrido más intenções contra mim e queira se livrar de mim de algum jeito. Isso parecia perigoso, mas eu não sei esse perigo, não compreendo. O máximo que posso esperar é que Reason me salve se for necessário, mas agora era a hora de esquecer de tudo, se iria funcionar, se eu sequer conseguisse esquecer de tudo, nem imagino o que é o próximo passo.

Inspirava e expirava, repetia o processo, mas então fechava os meus olhos, eu precisava não sentir nada e a visão era um sentido, bem, não fechei meus olhos voluntariamente, mas isso pouco importa, o que importava era o que vinha a seguir. Eu "abri meus olhos", mas só via escuridão, infinita, como se eu estivesse no espaço, mas eu continuava sentada. Parava para observar os meus arredores, encontrar uma fonte de luz e lá estava, na direção onde Natu deveria estar. Eu diria que não estou "vendo", não estou sentindo nada, é algo que transcende os sentidos. Se eu não tivesse experimentado uma situação parecida, eu estaria assustada.

Me levantei ao notar a fonte de luz. Um pensamento que eu poderia ter nesse momento é se os movimentos que eu estou fazendo aqui têm a sua equivalência no "mundo material", isso é, se eu conseguisse me mover, pois isso seria importante, mas eu estava muito fora de si para pensar nesse tipo de coisa. Caminharia na direção do orbe reluzente, caso eu conseguisse me mover obviamente. E como a única coisa que havia por perto era o orbe reluzente, eu o tocaria, não havia mais nada que eu podia fazer ali.

Estava num transe profundo para me questionar o que acontecia por ali, apenas a minha intuição me guiava, eu tinha uma ideia do que viria a acontecer, mas não questionaria. Basicamente, teria eu entrado na mente do Natu? O que eu tentaria fazer era olhar por aquele orbe como se ele fosse uma lente...

O que eu encontraria lá eu não sei, só espero que me ajude.

Natu's Gate

Eu estava em uma situação muito estranha, em um lugar completamente desconhecido e até mesmo potencialmente perigoso, mas eu não podia pensar em nada, precisava manter minha mente o mais calma o possível, se não tudo isso seria desfeito. Como eu penso no que eu farei a seguir se eu não posso pensar em nada? Mas, o melhor era tentar me manter calma, Reason me ensinou a controlar minhas emoções, se não eu tomaria algumas bofetadas que devem doer bastante.

Eu "andava", mas não saía do lugar, não sei se eu que não saía do lugar ou o orbe reluzente fugia de mim no mesmo ritmo, o que importa era que eu não conseguia alcançar a única coisa que estava no meio daquele vazio. O que eu faço agora? Preciso ficar calma, mas situações desse tipo não facilitam, me sentir impotente e incapaz não é algo que evoca serenidade. Quando essa fachada de serenidade estava prestes a se romper em minha mente, algo começava a se aproximar.

Aquele ponto no meio do vazio ganhava forma e eu rapidamente entendi do que se tratava, era Natu, o próprio, ok, não o corpo físico dele, pois eu não estava em um plano físico, mas estávamos cara a cara e o Natu ficava com suas asas abertas na borda do buraco negro, como se desafiasse a gravidade, ou melhor, como se a gravidade não existisse. Não estávamos em um plano físico, logo não existia física. Mas ele estava na minha frente. Agora qual era o próximo passo? Ainda não sei como esse negócio de telepatia e comunicação além dos cinco sentidos funcionava, mas eu tentaria verbalizar algo.

"Eu só quero te ajudar, não sei como posso fazer isso. Mas se eu souber mais sobre o que você passa, talvez eu consiga, talvez não, mas não posso desistir antes de saber" - Repeti o que eu havia falado no "Mundo físico", agora eu não sei onde eu estava. Na mente de Natu? Algo me dizia que eu conseguiria me comunicar com o psíquico agora, que ele me ouviria. -

Voltei a me sentar para observar Natu de um ângulo baixo e também para ficar mais calma. Apenas esperava para descobrir se Natu "ouvisse" o que eu tinha para dizer, no fim era a única coisa que eu podia fazer.

Natu's Gate

Aquilo tudo era como um sonho, meu corpo fisicamente não sentia e não fazia nada, tanto que quando eu falava, meus lábios até se mexiam, mas o som não saía de minha boca, ele ecoava por todo aquele espaço, era a minha voz, só que mais importante: não eram minhas palavras. Aquilo era sinceramente assustador, mas precisava manter a disciplina e continuar meditando, se não esse espaço será desfeito, ou eu serei expulsa dele, ainda não sei como funciona. O que me importa, é que minha comunicação com Natu deixou de ser unilateral. Aquelas palavras, eu não as disse, mas minha intuição me levava a uma conclusão.

O espaço vazio se tornou na terra devastada que foi me mostrada nas visões de Natu, tentei me levantar e caminhar pelo cenário. Talvez eu encontraria algo, parecia até mais vívido, tentaria caminhar pela terra incinerada. "Caos, passado e tempo", não consigo conectar um sentido nessas três palavras. Quer dizer, até consigo. Seria como eu imaginei, e essa são visões não do futuro, mas do passado?

"Isso já aconteceu? Por isso te assusta tanto? Você viu essa tragédia acontecendo com os seus próprios olhos?" - Bem se eu não sabia se era um trauma ou realmente uma visão do futuro, essa era a minha oportunidade de saber. Claro, se o Natu quiser se abrir para mim, mas a menção de passado me fazia pensar nessa hipótese. Acho que a primeira coisa que farei de volta no mundo físico é pesquisar sobre notícias de grandes incêndios florestais em Johto, mas isso é pra depois, preciso me concentrar no agora.

A visão em si não durava muito e o espaço misterioso estava de volta, mas dessa vez no meu colo, estava Natu, aninhado entre meus braços. Seria isso um sinal de confiança? Ele estava bem perto de mim. Ou estava mesmo? Ainda não tinha ideia se o que acontecia aqui tinha equivalência no "mundo físico", mas eu olhava para ele e continuaria a verbalizar meus pensamentos.

"Se você já sofreu, eu não posso fazer o trauma passar, mas posso fazer com que você não sofra nada desse tipo, jamais." - Por mais que possa parecer uma promessa apenas para conquistá-lo, eu devo dizer que eu estou me dando bem com meus Pokémon, o único que chegou a passar por um evento levemente traumático foi Zen, lá no meu segundo dia, aquele evento é marcante, mas doeu muito mais em mim do que ele... eu acho. Também houve a Shimmer Ruins, é um nevoeiro para mim, mas não sei quanto aos meus queridos.

Ouvia uma outra voz, ficava óbvio de quem se tratava, pois a única outra alma viva aqui era Reason. "Espere um pouco" - Espero que isso tenha chegado a Hatterene, não queria voltar ainda, mas eu pude notar que ela procura por mim, então o mínimo que devo fazer é dar um sinal de vida. Talvez pareça que eu simplesmente tenha desmaiado na mesma posição. Enfim, tornei meu olhar ao Natu.

"Não posso consertar o passado, mas posso te dar um futuro."