11@ O Hóspede Maldito

Talvez a maior aventura na vida de Vincent, até aqui, tenha sido aquele bizarro dia em que ele foi parar em uma floresta estranha e mágica. Nunca foi muito de se aventurar; na infância, preferia ficar trancado no conforto do seu lar que sair por ai e encarar o mundo de frente. Esse provavelmente foi a principal causa que motivou o mesmo a iniciar uma jornada, o desejo de sair do casulo.

Enquanto corria por aquele estreito túnel sendo perseguido por pokémons perigosos e puxado por uma bela mulher, Vincent sentiu algo estranho, como se o medo fosse embora e restasse apenas a adrenalina. De repente, todos aqueles relatos de esportistas que arriscavam suas vidas em práticas perigosas pareceram fazer sentido para ele. Porém eram sensações confusas e conflitantes, assim que um magnemite liberava uma violenta carga elétrica, todo o pavor voltava a tomar conta do monotreinador.

Após alguns minutos de correria, Vincent se viu preso em uma estreita fenda na parede, onde lutava por um espaço com a morena, tendo seus corpos pressionados um contra o outro. O jovem tentou se acalmar, diminuindo o ritmo de sua respiração ofegante. Sempre que seus olhos se cruzavam com o de Victoria, o mesmo se constrangia. O contato, porém, era rápido já que ambos não tiravam os olhos do lado em que os pokémon elétricos passavam direto.

– Acho que sim. – Sussurrou Vincent em resposta a pergunta da morena. Já havia se passado alguns segundos sem que nenhum mangmeite passasse por eles, fazendo com que o mesmo chegasse àquela conclusão.

Vincent pensou em chamar seu Gastly para conferir a situação lá fora para eles, mas diante daquele aperto, dificilmente ele conseguiria ter acesso a pokéball do fantasma. Assim, só restava ver com os seus próprios olhos.

– Vamos dar uma olhada. – Sugeriu, espremendo-se para sair da brecha em que estava enfiado.

O som do bater frenético daquelas asas fez com que Vincent pensasse estar diante de zubats, mas sua teoria foi interrompida quando um remanescente surgiu em meio a escuridão. Tratava-se de um chiroptera diferente, peludo com um focinho em forma de coração. O mesmo voava de um canto a outro, ora sumindo no meio da escuridão e dando a impressão de que fora embora, mas reaparecendo logo em seguida. Victoria falou algo, fazendo o rapaz direcionar seus olhos para a direção que ela olhava. Era possível enxergar uma estranha silhueta luminosa bem ao longe, em uma área onde a escuridão não permitia identificar.

– O que será que é... – Vincent se questionou. Pensou em sacar a pokédex e tentar um registro, mas o pokémon voador logo interrompeu seu passamento com um voo rasante sobre sua cabeça.

Victoria então se despediu, partindo rumo ao caminho escuro. Foi possível ver que aquela coisa estranha chamou sua atenção ao ponto dela nem pensar duas vezes e ir a seu encontro. Vincent respondeu seu anuncio com um tímido “Ok”, lançando sua atenção para o seu adversário.

– Então você quer mesmo lutar? – Questionou enquanto vasculhava sua bolsa. – Que seja, então. Saia.

O treinador lançou sua pokéball para cima, liberando um sujeito peludo de cor roxa. O mesmo logo ergueu seu rabo felpudo, em sinal de alerta. Seus pelos escuros quase o faziam se camuflar naquele ambiente. Enquanto os dois pokémon se encaravam, Vincent colhia os dados do selvagem com sua pokédex.

– Hmm.. Um psíquico. Vejo que acertei em escolhê-lo. – Concluiu, guardando seu aparelho no bolso. – Olá, Stunky. Chamo-me Vincent e serei seu treinador a partir de agora. – Apresentou-se. – Pronto para nossa primeira batalha juntos?

Stunky emitiu um grunhido tímido que o treinador entendeu como sinal positivo. Estalando os dedos, o mesmo se preparava para uma nova batalha, agora ao lado de um pokémon capturado há pouco tempo.

– Pois bem, comece com dois Focus Energy!

As asas daquele estranho pokémon eram curtas, mas fortes o suficiente para criar ventanias perigosas. O monotreinador teve que tapar o rosto com o braço para não ter seus olhos cheios de poeira com o ataque de Woobat. Stunky, coitado, sofreu os dois ataques diretos do adversário enquanto aumentava sua precisão. O segundo movimento, porém, não parece ter surtido o mesmo efeito que o primeiro, deixando o treinador confuso. Este sacou novamente sua pokédex, onde descobriu que o Focus Energy não era uma técnica acumulativa.

– Droga... – murmurou enquanto guardava novamente o aparelho, chamando a atenção do marsupial de pelo roxo. – Stunky, você é bom com saltos? Pode usar a cauda como impulsor, mas preciso que você calcule bem o momento exato em que poderá saltar. Quando perceber que o adversário está vulnerável, salte sobre ele e o derrube no chão, atingindo-o com o Fury Swipes! Sem permitir que ele se levante, use o Poison Gas para envenená-lo.

Como ainda não conhecia muito bem o seu pokémon, restava a Vincent a confiança no mesmo. Após dar a ordem ao seu parceiro, lançou um olhar para a direção em que Victoria se dirigiu há pouco, tentando enxergar alguma coisa, mas vendo apenas o breu. Será que ela estaria bem? Pensou. “Melhor que eu com certeza” Concluiu logo em seguida.