Chapter two: 4:00 AM.

Until our second chance, just enjoy the dance, and find who we are.


Consegui olhar de relance para a aura púrpura. Ao perceber do que se tratava, não tive tempo de reação, apenas senti meu corpo sendo arremessado para trás, estatelando-me contra o chão. Sentei-me, tentando recuperar o ar já que tremendo fora o choque. Uma criatura como aquela, aparecendo naquelas condições não era uma das mais propícias; o pior é que teria de enfrentar aquele problema.

Tratava-se um Misdreavus, um Pokémon fantasma que, muito provavelmente, assombrava as madrugadas na Rota 30.

Jamais havia pensado que um Pokémon fantasma estaria ali. Caso eu soubesse, esperaria o fim do crepúsculo e partiria pela manhã. São poucos os que derrotam essa espécie e o tomam como um Pokémon; e eu deveria ser um desses poucos. Já estava ali, apenas me lamentar não adiantava de nada, era necessário que algo fosse feito. Logo, concluí de que iria arrostar Misdreavus.

Apenas com o olhar, pedi à Ann que retornasse ao meu ombro, e ela o fez; quanto a Joke, o mesmo tomou a posição de batalha já que o mesmo seria o único capaz de suplantar caso o fantasma quisesse digladiar comigo. Ele poderia possuir até mesmo uma vantagem em relação à espécie, entretanto, Mr Mime tinha alguns movimentos que pudessem surtir efeito em Misdreavus.

Levantei-me então, ali, jazendo parado. A única maneira de atraí-lo – ou atraí-la, ainda não tinha ideia de qual sexo se tratava – tentei urrar em desafio; aguardava que Misdreavus respondesse meu desafio.

— Ei, Misdreavus, eu percebi que está por aqui! Vamos, saia das sombras das copas das árvores e me enfrente em uma batalha!

Meu desafio ressoou pela floresta como uma trombeta. Tanto Joke quanto Ann ainda tinham um resquício do medo, mas apena corri os olhos para os mesmos com meus globos oculares queimando em determinação, os encorajando, passando a mensagem de que a situação estaria sob controle.

Until our second chance, just enjoy the dance, and find who we are.


O fantasma resolveu continuar com suas brincadeiras, desaparecendo em seguida. Era possível vislumbrar a aura roxa circundando o terreno ao nosso redor, quem sabe apenas para nos assustar. O desafio que eu fiz ao Pokémon parecera inútil, não estava tão interessado em batalhar, talvez essa fosse apenas uma de suas brincadeiras.

Corri os olhos para o lado, notando a presença de Misdreavus ante a face de Joke. O palhaço se embranqueceu e seu cabelo chegou a arrepiar por conta do pânico. Os passos então se cessam mais uma vez. Mr Mime começou a respirar mais expeditamente para recuperar o seu fôlego, pois devia ter medo de fantasmas – já que este pertencia ao tipo psíquico, tinha uma fraqueza natural por tais criaturas.

Misdreavus começou a circular ao meu redor e de meus pokémons de uma maneira muito aprazível; não conseguia sentir um ar aguerrido ou hostil nas ações do Pokémon selvagem. Desaparecera por um instante, ressurgindo em outro local. Senti uma força externa empurrando-me para frente, e sucumbi a esta, passando alguns centímetros, ao perceber que se tratava de Misdreavus novamente.

Foi naquele instante que consegui pensar que Misdreavus não queria algum embate, todavia, parecia que estava a fim de folgazar. São poucos os que passam por aquela rota durante a madrugada, então não há uma possibilidade do Pokémon brincar com algum treinador; provavelmente, vivia em profunda solidão.

Sorrindo, fui até Misdreavus que jazia onde outrora eu estava antes de me empurrar, afagando a sua cabeça, dizendo em um sorriso:

— Perdão por pensar que você queria apenas lutar. Agora que me toquei que deve viver sozinho. É ruim, não é? Você não ter alguém ao seu lado para nada; mas, se quiser, posso ficar aqui um tempo com você e, se topar vir comigo, podemos passar um bom tempo juntos, criando um elo de amizade entre mim, você e meus outros pokémons que são agora a minha família. O que acha disso?

Until our second chance, just enjoy the dance, and find who we are.


Senti alguma aflição em Misdreavus. O fantasma resolveu tentar me empurrar para trás na altura do peito, tentando me levar para aquela direção que outrora fizera o mesmo. Resolveu desaparecer, retornando outra vez puxando pela gola de minha camisa com toda sua força, como se quisesse que eu o seguisse para alguma localização específica; aquele Pokémon ainda não era forte o suficiente a ponto de ser um assombro.

Todos acharam esquisita a tentativa de Misdreavus me puxar utilizando sua pouca força bruta. Fiz uma força relativa, libertando-me do Pokémon selvagem com intenções incógnitas. Fiquei o encarando por um bom tempo, tentando raciocinar se queria alguma ajuda ou apenas tomar o meu tempo. Em ambos os casos, seria paciente.

A luz da alvorada começara a se tornar cada vez mais intensa, indicando que o amanhecer estava cada vez mais próximo. A caminhada para Violet ainda era longa e eu queria chegar lá ao menos antes do pôr do sol, para quem sabe enfrentar Falkner ainda no mesmo dia. Aspirei fundo, olhando para o fundo dos olhos de Misdreavus.

— Misdreavus, você tem que me falar o que está acontecendo. Eu não entendo a linguagem dos pokémons. — exprimi, voltando a falar em seguida. — Vamos, me diga, o que ocorre?

Ao término de tal perquisição, todos mantiveram seus olhares fixos em Misdreavus, esperando alguma resposta nada agradável – da maneira que o fantasma nos perseguia, deveria ser algo intenso.

Until our second chance, just enjoy the dance, and find who we are.


Misdreavus parecia desesperada. Era como se alguém hostil a estivesse seguindo para fins nada agradáveis ao fantasma, que começava a urrar, desaparecendo em seguida. Logo, o Pokémon reapareceu olhando para os meus olhos, me dando um pouco de medo, gritando desesperadamente. Sua cabeça encontrou-se com minha testa, empurrando-me serenamente para trás, como se quisesse que eu seguisse por aquela direção.

Infelizmente, eu não consegui entender as palavras aflitas de Misdreavus, apenas entendia-se que deveria seguir correndo para trás. Olhei para Joke ao meu lado, com o rosto travado de medo – já que o mesmo entendia o que o fantasma dizia – e Ann relutava. Engoli em seco, começando a suar frio. Senti minha camiseta branca colar com meu tronco devido ao suor.

Permanecendo parado por alguns segundos, consegui ligar as coisas. Os passos não eram de Misdreavus, contudo, poderia ser de alguém com fins rixosos para o fantasma; o Pokémon, entretanto entendia que por eu estar ali, era o único ser que seria capaz de derrotar quem quer que fosse que fazia aquilo.

Acordei, voltando à realidade, apenas encarando a face receosa de Misdreavus, assentindo com o pedido que mesmo não entendendo tudo, consegui decodificar. Com passos tardios e largos, comecei a andar na direção que o fantasma me empurrara em outro instante, buscando encontrar quem estava dando aquelas passadas.



OFF.:

Until our second chance, just enjoy the dance, and find who we are.


O pânico era evidente no fantasma. Andamos por alguns minutos apressadamente até chegar a uma pausa na trilha, notada pelo final das árvores que margeavam a trilha. Uma clareira estava ali naquela pequena pausa da trilha. Misdreavus checou o local apenas com os olhos e notou que por enquanto, tudo estava seguro. Ouvimos passos novamente.

Completamente em pânico, voltou seu corpo para mim balbuciando coisas como se quisesse que eu e meus pokémons a seguissem. Misdreavus partiu em direção retilínea para a trilha flanqueada de árvores em suas margens, pronunciando mais coisas temendo  àqueles passos que ouvimos a tempos atrás.

Eu e meus pokémons nos entreolhamos, vendo que não havia mais alternativa. Sem muitas opções, seguimos a Misdreavus na velocidade proporcional à fantasma, esperando chegar a algum lugar onde ela mostraria algo; ou quem sabe, aquela pessoas que dava suas passadas  nos surpreendesse antes.