Capítulo 16 - Em boa companhia

Diante da forma com que Blake reagiu ao dito pela senhora, seja pela interpretação do que lhe foi falado ou por sua ação após aquele momento, ficou mais do que nítido que o treinador da cidade de Slateport ainda não tinha entendido a razão para que tais palavras lhe fossem direcionadas. Assim, depois de uma espécie de conversa com seu pokémon voador, pelo menos a criatura o escutou com seus olhos vidrados, o jovem primogênito dos McBride voltou a caminhar por aquele ponto da rota 102, pois, além de procurar suas companheiras de viagem, o jovem poderia usar aquele momento de paz para, caso lhe interessasse, procurar entender o que foi lhe dito pela senhora de instantes atrás.

E, caso aproveitar este tempo sozinho fosse realmente algo válido, Blake, como já observado durante toda a sua estadia naquele ecossistema, não enfrentaria qualquer tipo de interpérie ou inconveniente, isso se excluir a possibilidade de qualquer novo pokémon aparecer. Afinal, pela calmaria que havia se instaurado ali a um tempo, nada poderia mudar o delicioso clima que tomava conta de todo aquele ponto do continente de Hoenn.

Com isso, enquanto seguia sem qualquer sinal de novidade a sua frente, restava esperar pelo próximo passo que seria dado por Blake em sua busca por sua namorada e sua amiga. Pois, como o ditado diz, pelo andar da carruagem o rapaz precisaria ser mais efetivo em suas decisões caso quisesse mesmo descobrir o que realmente acontecia ali.

Enquanto atravessa aquele calmo, arborizado, iluminado levemente e tranquilo ponto de floresta da rota 102, que curiosamente não parecia ter fim, Blake tentava entender a ligação entre o surgimento de todos aqueles pokémons psíquicos e o que ele estava vivendo. Afinal de contas, mesmo que não houvesse qualquer tipo de ligação entre ambas as situações, era completamente estranho estar sozinho em um lugar com aparições constantes de diferentes espécies de um tipo exclusivo de pokémon. Fato este que fazia com que o jovem herdeiro dos McBride começasse a elaborar uma teoria baseada em todos aqueles fatos.

Só que, antes que qualquer nova decisão fosse tomada, o futuro criador precisava encontrar um meio de provar o que ele havia suposto, pois, mesmo que isso não fosse verdade, ele eliminaria uma primeira hipótese a respeito daquele estranho e ainda inexplicado momento. O que certamente o ajudaria a dar o passo correto rumo a sua tão esperada caminhada "em boa companhia".

No entanto, sem que o rapaz pudesse estar esperando, pelo menos não naquele instante, ele acabou sendo pego de surpresa por uma voz que, mesmo que conhecida, era algo que poderia lhe causar sérios e inexplicáveis problemas;

-Blake!!! Finalmente te encontrei!! - Dizia Eva enquanto deixava um ponto denso de vegetação há alguns metros atrás da posição atual do treinador pokémon.

- Que perpicaz você Blake! - Falou Eva com um largo e estonteante sorriso que certamente desarmaria até o mais centrado dos indivíduos. - Mas você não está errado, com te disse, estava mesmo acertado que iria te encontrar na companhia de uma certa pessoa. Porém, ao esperar no lugar decidido, fui surpreendida pela aparição de uma Kirlia, que, sem qualquer cerimônia, me transportou do lugar onde estava para alguns metros de distância daqui. A partir daí, resolvi andar a procura de algo que me ajudasse a entender o que estava acontecendo. Por sorte, encontrei você.  - E sem que o McBride pudesse esperar, a moça, ao final de sua fala, saltou de braços abertos em direção ao futuro coordenador sem deixar que ele ao menos tentasse se esquivar de seu caloroso e animado abraço.

Deste modo, mesmo que por algum instante Blake tivesse se preocupado com a reação da jovem por suas perguntas, ficou nítido que ela estava completamente a vontade na companhia do rapaz. Fato que ficava ainda mais provado com as descompassadas batidas do coração que eram sentidas pelo McBride durante aquela demorada demonstração de carinho.

Com isso, enquanto tentava lidar com o que certamente surgiria dentro dele, restava esperar pela próxima ação que seria tomada pelo, agora, acompanhado rapaz. Afinal de contas, mesmo que ele sentisse algo diferente, a consciência dele certamente o julgaria por aproveitar daquele momento em uma situação como aquela.

Já o clima da rota 102 tomava tons ainda mais calmos e agradáveis, como se, de alguma forma, quisesse tornar aquele momento ainda mais propício para o que estava sendo vivido por Blake.

Com o final do discurso de Eva, Blake acabou se dando conta de uma situação que tinha a chance de fazer sentido, afinal, assim como Margo e Miranda, a especialista em pokémons aquáticos também foi teletransportada, o que, simplesmente, poderia ter sido uma brincadeira de Kirlia ocasionando apenas a troca de lugares entre as jovens. Assim, movido por tal conclusão, o herdeiro dos McBride tratou logo de questionar Eva sobre o lugar onde que ele disse que estava esperando seu contato, já que, por sorte, lá poderia ser o atual paradeiro de Miranda, ou até mesmo de Margo.

As palavras proferidas por Blake, que seguiram a ação dele de afastar educadamente a bela jovem, acabaram por, de alguma forma, destruir todo o encantamento que aquele reencontro proporcionava a garota Lancaster, pois, depois de escutar o quo o rapaz disse, o belo sorriso na face de Eva desapareceu de uma forma que abalaria as estruturas até do mais decidido dos indivíduos. E, isso, foi seguido de uma rápida por parte da garota:

- Huummm... Então... deste lugar que estamos agora não sei bem como podemos chegar lá. Mas, se isso ajudar, estava esperando há alguns metros da entrada que liga a cidade de Petalburg a esta rota. - E com um olhar de desdenho que certamente aguçaria ainda mais a imaginação de Blake, Eva prosseguiu: - Enfim, se for mesmo necessário, posso tentar te guiar até lá. Não gosto de ver ninguém sofrendo, principalmente quando o motivo de tal sofrimento não parece estar muito preocupado com a situação em si. Afinal, querendo ou não, desde que estou por aqui, não vi sinal algum de alguém a procura de outro. Mas isso é só minha opinião... - Concluiu a Eva enquanto ajeitava a trança que naquele dia compunha seu visual.

Com isso, enquanto observava o comportamento nenhum um pouco amigável da jovem, que tinha naquele momento os raios do sol cobrindo seu corpo como se, por algum motivo, eles quisessem destacar as curvas torneadas da garota, restava esperar por qual seria a próxima decisão de Blake, pois, no fim, ele precisava mesmo se decidir sobre o que fazer. Uma vez que o tempo, certamente não estava a seu favor.

Por alguma razão, Blake acabou sendo pego por uma espécie de tontura ou algo do tipo, já que, depois de tudo o que foi dito pela bela especialistas em pokémons aquáticos, seguido daquele inesperado fenômeno natural, o herdeiro dos McBride sucumbiu a algum mal estar provavelmente provocado por toda aquela sequência de palavras e acontecimentos. E, isso, no fim, fez com que o rapaz tivesse que parar a caminhada iniciada a pouco. Tem que certamente seria usado por ele para recobrar suas melhores condições.

No entanto, para a surpresa de Blake, Eva, com uma atitude que poderia muito bem ser considerada como algo até muito tranquilo, uma vez que ela, pelo menos por enquanto, ainda estava na posição de amiga do McBride, demonstrou toda a sua preocupação com o que estava sendo vivido por seu amigo, uma vez que, sem pensar duas vezes, a garota, tentando ajudar da forma que ela achava mais conveniente, iniciou uma especie de massagem relaxante nos ombros do treinador enquanto pronunciava algumas palavras:

- Blake, se acalme, você não precisa deixar que este tipo de coisa comprometa sua saúde. - E saindo da massagem para uma sequência constante de passagens de mãos nas costas do futuro criador. - Apenas relaxe. Usufrua da minha companhia, estou dispostas a te ajudar no que precisar. - Concluiu Eva com uma voz em um tom adocicado que o rapaz sabia muito bem o que queria dizer.

Com isso, enquanto que, pela primeira vez, uma refrescante brisa o envolvia, fato que certamente evidenciava mais um estranho comportamento da natureza, restava saber como Blake se comportaria perante a uma inusitada situação como aquele. Pois, querendo ou não, Eva parecia muito bem saber o que estava fazendo, agora, restava saber o que o McBride faria com tudo aquilo que lhe estava sendo proposto.