[RPG OFF] Contos de uma treinadora...

Enquanto Cora preparava o lanchinho dos funcionários do museu, Sophia brincava com o pequeno Eevee, que parecia adora dedos. Era um gosto incomum, mas era justamente isso que deixava a menina mais animada: a peculiaridade de cada Pokémon! Eevee era um Pokémon maior que os seus irmãos que mamavam na Flareon no canto, mas era diferente. Era fofo como qualquer Eevee, mas suas características e até restrições fazia dele um Pokémon único.

Aquela casa parecia realmente parte de um livro de historinhas e tão cheia de Pokémons fazia a treinadora pensar na história de Coralina. A senhora de Pewter parecia serena e animada com a ideia de companhia e Eevee acostumava-se rápido com a presença da menina.

- Eu penso nisso desde nova! Cada Pokémon, mesmo da mesma espécie, possui sua singularidade. É muito interessante! Posso encher essa casa de Eevees que sei que mesmo sendo quase idênticos, nenhum será igual ao outro. Todos diferentes!

A mulher parecia viajar em seus pensamentos enquanto falava e pensava. Sua mente estava cheio de saudosismo. A senhora logo chegava com uma cesta cheia de biscoitos e vidros fechados de leite morno para o museu. Chansey fazia questão de levar.

- Atenção, eu irei sair e logo, logo volto. Romeu, você está no comando!

O Pokémon water logo parava em frente a sua dona com a bolinha na boca e acenava para ela confirmando que estava no comando, mas logo era “atacado” pelo seu próprio pai, que roubava a bola e estufava o peito de autoridade, como quem pegasse de volta volta o comando da casa. Na tentativa de sair, Eevee logo pulava no colo de Sophia, para brincar mais uma vez com os dedos dela, enquanto recebia carinho.

- Parece que ele gostou de você... Poderia dá para ele? – esticava a mamadeira do pequeno para que ele se nutrisse do leite de Miltank, já que não poderia tomar o leite de July, sua mãe.

- Claro que sim, querida. Qual problema poderia ter? – sorria a doce senhora diante do questionamento de Sophia.

O pequeno Eevee era de fato agitado e brincalhão, mas não seria do tipo hiperativo. Como a própria Coralina tinha dito, ele era tímido e naquele momento tinha sido uma das poucas vezes que ele se sentiu tão à vontade com alguém. Sophia então posicionava Eevee em seu colo e dava mamadeira a ele. Parecia um bebê sendo amamentado e o olhar atento de Eevee para o rosto de Sophia era doce e repleto de confiança, como de um filho é com sua mãe.

A dupla deixava a casa sobre os cuidados dos Eevolutions. Chansey levava a cesta cheia de coisas gostosas e Coralina pegava seu guarda-chuva rosado mais uma vez, sua bolsa e seu chapéu arrumado. Foi só atravessar a rua que a mamadeira de Eevee terminava, enquanto chegava no museu. A grande construção era maior de perto do que de longe. Mantinha pilastras grandes em sua frente e a grande porta era guardada por um guarde enorme, mais de 2 metros de altura e 1 metro de largura. Certamente estava também acima do peso. Sua cara fechada era de espantar qualquer um...

- Bom dia. – Coralina sorria para o grande homem como se fosse um dos seus netos. O homem, que outrora tinha uma pose ofensiva, derretia todo com o bom dia animado da senhora Cora. Chansey logo chegava com a cesta com cookies e café e leite para ele que se servia agradecendo a bondade. – O velho Chan está lá dentro ainda, não é?

Com um acenar positivo, as duas entravam no museu, dessa vez, sem pagar nada. Estar com Coralina certamente proporcionava certos privilégios.

- Querida, você pode seguir pelo caminho principal direto, subir as grandes escadas e no fim do corredor é o escritório daquele velho. Não o deixe te assustar, ele é bom homem... Enquanto isso, vou fazer minha ronda com os guardas. – dizia a senhora, acompanhando Chansey e, indiretamente, deixando Eevee sobre os cuidados da menina.

Era normal que Sophia ficasse receosa em ter que ser responsável pelo Pokémons de outros, ainda mais um tão novo e possivelmente cheio de energia como aquele Eevee. No entanto, eevee era um Pokémon que conseguia prender a atenção muito fácil. Era só deixar que ele desse mordidinha em sua mão, que o pequeno Pokémon ficava ali parado e quieto no colo da treinadora. Se ele ficasse assim até passar por obras caras e artefatos insubstituíveis, estaria de bom tamanho.

Subindo as escadas, Sophia reparava que o hall de entrada se dividia por um longo corredor, com quadros de arte na parede que levavam a salas mais externas no térreo. Dava para entender que poucas pessoas tinham o direito de subir aquelas escadas. Eram para exposições mais caras, que só abriam de tarde e para a área administrativa que era onde a treinadora queria entrar para encontrar o Sr. Chan.

Assim que conseguiu ir para o andar de cima, ela viu mais um longo corredor. Seguindo as orientações que dona Cora tinha passado, a menina caminhava de modo calmo e atencioso, o que era suficiente para ver um casal tentando abrir uma grande porta a força. Eles brigavam em sussurro para conseguir isso. Ao lado, um carrinho de bebê, que parecia ter sido deixado de lado. Os dois estavam bem vestidos, ela com um vestido alaranjado, chapéu, lenço envolto da cabeça, cobrindo os cabelos e óculos escuros. Ele, por sua vez, usava um blazer azul, sapatos sociais, calças de mesma cor, com óculos escuros e chapéu. Era difícil identificar eles, possivelmente Sophia não conseguiria vê-los de novo. Ao perceber que a menina estava ali, eles, de modo muito suspeito se afastavam da porta.

- hahahaha. Olha só querido, essa porta tá trancada, não deve ser o banheiro. – dizia a mulher.
- Banheiro, não queremos banheiro, queremos...- antes que o homem terminasse sua fala, a mulher pisava no pé dele, fazendo-o levar as mãos em sua boca para abafar o seu grito e assim perceber que tinha alguém olhando. – OOOh, é verdade, banheiro deve ficar mais para baixo... Bom dia, moça...

Os dois acenavam positivamente para Sophia e passavam. Depois de alguns passos, olhando curiosamente para trás, percebiam que deixavam o carrinho de bebê para trás. Eles voltavam e pegavam o carrinho, onde Sophia poderia jurar ter visto uma corda ou uma cauda (sim, uma cauda!) do lado de fora do carrinho de bebê.

Sophia parava de frente da sala de portas enormes que estava trancada. A marçaneta revelava uma fechadura antiga e bem resistente. A madeira era da mais alta qualidade. Apenas a força bruta abriria aquilo sem a chave. A suspeita da menina crescia. Não era comum a forma como aqueles dois agiam, primeiro porque naquele andar não tinha exposições abertas e ficava perto do administrativo, segundo porque ninguém, nenhum pai, esquece do bebê nem por um tempo. Eevee permanecia no colo da menina, entretido em dá leves mordidas na mão dela e brincar com a mamadeira vazia.

A menina dava a volta em seu caminha e começava a descer as escadas para seguir o casal estranho que tentava abrir a porta, mas antes que avançasse muito uma voz fina e agoniante parecia ecoar pelo corredor.

- Ai aaaaaiii

O susto de Sophia foi tamanho, primeiro porque fora muito repentino, segundo porque parecia um pedido de ajuda, mas na verdade era um som de acusação. Um velho de cabelos cinzentos, muito magro e com pequenos óculos saia da sala que parecia ser a sala em que Sophia originalmente procurava. Era até que alto, embora já era possível ver sua coluna encurvada. Em sua mão, uma pedra normal e comum de um lado, mas metade dela estava lapidada e mostrava um brilho azul com bolhas dentro: era uma Water Stone.

- O que você tá fazendo aqui? Não é lugar para criança, é lugar de trabalho. Mais uma coisa: tome conta para que este pestinha ai não destrua meu museu. Dá muito trabalho cuidar de um museu. Você quer que o tio aqui perca o trabalho de sua vida, quer? Então mantenha o Eevee longe de tudo!!! – velho, rabugento... Talvez Cora estivesse certo sobre ele!

O susto que Sophia tinha recebido parecia passar aos poucos em que sua história era relatava para o senhor de idade que tinha um singular cheiro de alho. O mesmo arqueava uma sombrancelha na medida em que ouvia o relato, mas ao ver o remédio na mão da menina, o mesmo não soube decidir se ficava aliviado ao receber o remédio ou preocupado com outras pessoas cheretando o lugar.

- Aiaaaai. Por que não disse logo? Temos que chamar os seguranças.... – a voz do sr. Chan era de pânico e terror, talvez um pouco exagerado para o tamanho do problema.
- Vejo que já conheceu o velho Chan... – Coralina surgia com Chansey do lado, ambas caminhando bem devagar. A preocupação no rosto do velho curador do museu era notória: - Aconteceu alguma coisa?
- Bisbilhoteiros!!! Há pessoas em meu museu que não deveriam estar aqui... A menina disse!! – o homem mais velho pegava o remédio nas mãos de Sophia e saia andando, Cora seguia andando logo atrás, seguida de Chansey, não dando escolha para Sophia a não ser seguir o casal de idosos.
- Se Sophia disse que são suspeitos, acho que vale a pena verificar... – Coralina entrava em defesa da menina, virando-se para trás e piscando o olho para ela.

Na sala do Sr. Chan, era de se esperar algo do tipo: uma sala escura, com grandes cortinas cobrinda a janela, o cheiro de alho era mais forte. Era uma sala grande, com uma escrivaninha no meio com uma poltrona bem vistosa e que parecia ser bem confortável. Naquela sala, parecia que tudo tinha saído do túnel do tempo. Eram moveis vistosos e antigos, dignos de realeza, vários vazos de origem oriental e uma mistura de vários marcos do tempo. As paredes eram cobertas de estantes com livros (muitos livros!). Talvez aquilo fosse a maior quantidade de livros que Sophia havia visto persoalmente. Havia ainda um porta que dava para um espaço mais reservado, Sophia olhou rapidamente e via que era um lugar mais cheio de pedras, sujo, como se fosse ali que ele lapidava e limpava algumas pedras, como a Water Stone que estava nas mãos. Ele poderia ser um especialista em rochas antigas...

No canto atrás da escrivaninha que Sr. Chan se aproximava para pegar o telefone, havia um Pokémon majestoso. Sua juba velha não perdia o poder que emanava. Sua cor alaranjada coberta por diversos fios brancos deixava o Pokémon com ar de mais sábio. No entanto, aquele Arcanine não tinha muito poder como era em seu estágio jovem: ele tossia muito e parecia engasgado com sua própria fumaça. Hora ou outra Sophia avistava um pouco de fumaça saindo de seu focinho. Em algum passado, ele foi um Pokémon bem poderoso, com certeza.