Finalmente havíamos chegado em um acordo: Sophia e as crianças iriam comer alguma coisa e eu iria dar uma voltinha pelas barracas de jogos. Além disso, a Ranger também comentou que conseguiria comida para mim enquanto eu dava esse pequeno tour pelo evento, assim eu não sofreria muito com as filas quando voltasse. Tudo estava perfeito desse jeito, só não sabia mesmo era se o lanche ainda estaria quente quando eu voltasse. Dei uma observada na fila dos quitutes e calculei por alto o tempo que deveria demorar, seria a minha meta para finalmente voltar — Ok... Qualquer coisa pegue dinheiro com as crianças para comprar para mim. Dou o dinheiro na volta para elas, sem falta. Se for possível, queria um cachorro-quente, com linguiça e não salsicha e completão! Obrigado por isso pessoal... — Comentei e agradeci, afastando-me do grupo com um aceno e um sorriso no rosto e me aproximei das barracas que me interessavam no momento.

Os prêmios dessas barracas de jogos eram diversos e até que não eram maus, mas antes eu precisava saber o preço da tentativa para não quebrar a cara e os bolsos, saindo de mãos e carteira vazias. Aproximei-me do balcão então, apoiando as mãos nele e sorrindo para o homem que deveria ser o dono... — Olá! Boa Tarde! Gostaria de saber... Quanto é para participar e tentar alguma dessas brincadeiras? — Questionei em um tom simpático, recebendo rapidamente uma resposta. Nessa barraca em específico o valor da jogada era Pk$ 50,00 e para mim, era um preço justo. Agradeci a ajuda e entrei na fila, que demoraria um pouco. Enquanto isso, observava todas as tentativas das pessoas na minha frente. O jogo consistia em jogar uma Pokébola numa pilha de latinhas organizadas em forma de pirâmide. Se conseguisse derrubar tudo com uma tacada só ganhava o prêmio. Não tive pressa em estudar os movimentos dos transeuntes e com pouco tempo ali já conseguia pescar uns padrões. Em breve seria a minha vez...

Enquanto esperava minha vez, além de analisar o comportamento e o tipo de jogadas que as outras pessoas faziam, também ficava lembrando o que havia dito para Sophia antes de sair. Ela me perguntou sobre o que eu iria querer caso não tivesse linguiça e minha resposta havia sido um pastel como substituto... Mas agora, pensando bem, talvez pudesse ser um cachorro-quente com salsicha mesmo, afinal eu estava salivando com a ideia de provar o molho meio picante dessas barraquinhas, algo que não como desde Nimbasa. Durante o meu devaneio, não me toquei de que havia acontecido uma pequena confusão há algumas pessoas na minha frente... Ao que parecia, um dos clientes havia tentado burlar o jogo usando uma bola própria, um pouco maior do que a normal e foi pego no flagra. Um princípio de tumulto foi formado por conta disso, mas não parecia ser algo que necessitasse de envolvimento das autoridades, apenas me atrasaria um pouco.

— Paz pessoal! Vamos todos jogar limpo e seguimos adiante! — Disse de forma tímida, não sabendo se seria ouvido. Felizmente o problema não se agravou e tudo voltou a correr bem, para minha própria segurança é claro. Mantive então as mãos nos bolsos e fiquei quieto para não atrair qualquer atenção sobre mim e poder terminar isso logo. Nesse low profile, minha vez chegou em alguns minutos. O dono da barraca me deu a bolinha para que segurasse e tirei o primeiro momento para sentir o peso dela, entender o seu movimento e depois analisar a posição dos objetos que precisava derrubar — Ok! Prepare o prêmio porque estou me sentindo vitorioso hoje! — Falei para o atendente, assumindo uma posição de lançador, erguendo a bola na altura do rosto, atrás da orelha e finalmente lançando-a com toda a força na direção central da base de latinhas. Acreditava que derrubando o máximo delas na base, faria com que todo o resto desmoronasse certamente. Só esperava que tudo desse certo...

Eu tinha todo um ritual para jogar nesse tipo de barraquinha. Primeiro foi a observação analítica (ou quase isso), das outras tentativas. Em seguida, uma preparação física antes de qualquer esforço mecânico, por isso aqueci os braços e dei até alguns saltos no mesmo lugar para me preparar fisicamente, sempre mexendo os ombros em movimentos circulares e rítmicos para desestressar os músculos. Eu via na cara do dono daquele mini-empreendimento de entretenimento que o tal não botava muita fé em mim, mas isso certamente não seria problema, afinal eu tenho muitos anos de experiência no Parque de Nimbasa e esse tipo de coisa não era tão novidade assim para meus reflexos evoluídos (ou talvez nem tanto assim...). De qualquer modo, depois de um tempo, o próprio atendente começou uma contagem para me incentivar a ir logo e lançar. Resolvi obedecer, afinal a fila não parava de crescer e em breve acabariam me linchando se não fosse rápido...

O lançamento havia sido perfeito e bem rápido, como o de uma jogada de Baseball, acertando o alvo com precisão e impressionando até o próprio dono, que encarava boquiaberto o cair de cada latinha, até a última. Sorri para ele, abrindo os braços e esperando alguma reação do homem, afinal ele precisava anunciar a vitória. Este aviso tão aguardado veio de forma até gaga, mas confirmou o inevitável. O prêmio era meu! Nesse instante o orgulho me subiu a cabeça e fiz até alguma reverência para o público que esperava sua vez, afinal não era sempre que tinha a oportunidade de me mostrar um pouquinho... Dias de Glória afinal! — Ah, antes que eu esqueça... O que posso conseguir com isso? — Questionei o homem atrás do balcão, recebendo como resposta que poderia escolher qualquer um dos muitos brindes existentes nas prateleiras ao fundo — Nossa, difícil... Eu estou de olho em uma Pelúcia de Rayquaza bem grande se houver... Mas se só tiver uma estátua dele, que deve ser pesada, eu me contento com uma Pelúcia do Torchic!— Disse com bastante clareza para o atendente, finalmente pegando a recompensa em seguida. Agarrei a pelúcia e pude sair dali com bastante alegria estampada no rosto, indo na direção das barracas de comida e sempre procurando Sophia e as crianças enquanto me aproximava. Estava tão empolgado que mal me preocupei em ver se o esforço do braço havia causado alguma consequência para os ferimentos do braço enfaixado. Isso teria que ficar para depois...

Apesar do Evento estar bastante cheio de gente passando para todos lados, parando o tempo todo na minha frente e conversando no meio do caminho, como se fossem donos de toda a caverna, eu havia conseguido deixar o local dos jogos e me aproximei das barracas de quitutes. Felizmente havia avistado Sophia, Luci e Yuri, um trio inconfundível logo a frente de uma barraca muito bela e bem decorada, de onde emanava um cheirinho todo especial de queijo gratinado e bacon, além de expor uma infinidade de alimentos dourados como a cor do pecado, um pecado da gula certamente. Não precisei de muito esforço para aproximar-me, pois fui praticamente guiado pela fragância alimentar, arrastando-me pelas narinas como num desenho animado caricato qualquer. Enquanto aproximava-me, mantinha sempre a Pelúcia Gigante do Rayquaza nas minhas costas, como um cachecol, um verdadeiro símbolo da minha superioridade na antiga arte de lançar bolinhas.

— Cheguei! Parece que até vim a tempo para escolher realmente o que comer... Mas antes, olhem só o que ganhei! Vejam! Vejam! — Mostrava meu "troféu" para todos, até mesmo a senhorinha das tortas a quem interrompi de forma grosseira pelo visto — Desculpe-me... Não quis atrapalhar... Do que estavam falando? — Comentei, esperando Sophia e a mulher terminarem sua interação sobre o tal "quiche-lorraine". Enquanto isso, Yuri e Luci já saíram colocando a mão no boneco gigante, puxando para os lados para ver como era. Estavam encantados, assim como eu imaginava! — Calma, vai rasgar. Segurem eles vocês dois...  — Disse, tirando a pelúcia dos ombros e entregando para os Macchiato. — Ele é demais! É quase do tamanho real!  — Dizia inocentemente a garota, sendo interrompida por uma aula de Yuri — Na realidade é estimado que um Rayquaza tenha mais ou menos sete metros e sua forma Mega, mais de 10 metros! — Comentou o garoto, ajeitando seus óculos, como sempre fazia ao explicar algo... É óbvio que Luci simplesmente puxou-lhe a orelha para deixar de ser sabichão e isso me fez rir, mesmo não sendo o certo.

— Ok, ok, parem com isso! Parece que essa senhora quer oferecer um pouco de quiche para provarmos, não é mesmo? — Comentei em um tom mais alto, deixando a dúvida no ar e fazendo com que as crianças se interessassem também, assim ela não teria muita opção além de nos dar uma prova, para todos — Queijo e Bacon é MA-RA-VI-LHO-SO!  — Disse Luci, largando o Rayquaza e focando-se em apoiar as mãos no balcão para ver melhor a comida. Já Yuri apenas assentiu com a cabeça que também queria, mas manteve-se distante do balcão, diferente da irmã. — Se for realmente bom, eu vou levar uma torta inteira para comermos, o que acham? — Questionei as crianças, que responderam afirmativamente e de forma muito animada. Em seguida, aproximei-me também da barraquinha para ficar ao lado de Sophia e ver com calma a comida. Estava realmente linda e um pedaço não cairia nada mal agora. Se a dona da vendinha me oferecesse algo, eu comeria sem nem pensar duas vezes!