09 - Arrumando a casa!

Ótimo! Edgar daria um jeito de convencer meu pai a vir também, o que completava o cenário de forma ideal! Era como se tudo estivesse planejado a dar certo naquela noite. Isso me alegrava, e muito, mas também me despertava um certo receio, um medo de tudo começar a dar errado do nada, e noite terminar sendo um desastre. Bem, talvez eu esteja já desenvolvendo uma espécie de paranóia traumática? Não sei,  e era melhor não alimentar essas sensações e pensamentos. Era bom ser cauteloso, mas não a ponto de impedir experiências.

A noite começava a despontar no horizonte com o astro-rei se escondendo por detrás das montanhas ao longe. Segundo Edgar, era noite de lua cheia, então não precisávamos nos preocupar tanto assim com iluminação. Tinha minhas lanternas e uma lamparina de acampamento para ajudar a iluminar, mas talvez Edgar e meu pai precisassem de mais referências. Saquei meu canivete e fui até uma árvore extrair um pouco de seiva. Enquanto a ferida era inundada pela substância orgânica, peguei um pouco de palha seca e pequenos galhos e fiz um pequeno nicho, como  um ninho de pássaros. Depois procurei por um galho de bom tamanho, talvez um metro e meio, e coloquei o nicho em uma das pontas. Prendi tudo muito bem com um pedaço de corda, para ajudar a fixar a seiva e depois um pouco de querosene da lamparina. Voilá! Uma bela tocha improvisada. Coloquei em um ponto próximo da trilha que utilizamos para chegar até o lago e fui atrás de Amália e sua trupe de artistas fabulosos! - Perdoe-me a intromissão, oh bela contadora de histórias, mas trago uma notícia de grande importância. Conde Edgar das Montanhas Flamejantes está chegando, juntamente do Visconde Frederik, o Grande! - é claro que não iria perder a oportunidade de entrar na brincadeira, não é? Fiz toda uma voz pomposa e uma longa reverência enquanto falava com Amália, a Barda dos Mil Contos!                                                                          

Hehe! Confesso, era bem divertido fazer parte daquele mundo por um instante. Cindy com certeza iria adorar participar da brincadeira junto com Amália, ela adora essas histórias de contos fantásticos, princesas e heróis. - Nossas visitas demandam uma audiência com vossa senhoria, afoitas por ouvir os relatos que ocorreram no reino nos últimos dias! A propósito, o banquete real já está pronto, aguardando apenas vossa vinda! - repeti a pompa e os gestos teatrais, e pelo visto todos os meus Pokémon aderiram bem à brincadeira! Ora, Groen não se incomodou nada em ser uma montaria especial para a heroína!

- Pela minha honra, darei o meu melhor para resgatar a joia do dragão, milady! - me ajoelhei e fiz um digno juramento de cavaleiro - Chefe da Guarda Real Kinney, conto com sua ajuda para proteger a comitiva! - dei uma piscada na direção de minha fiel parceira, que de tão integrada no personagem silencioso que estava, apenas balançou as garras, como se dissesse que seria muito fácil para ela!

Saindo do reino encantado de Amália, de volta ao acampamento, era hora de apenas sentar e esperar a chegada dos adultos. Mas uma coisa ainda despertava minha atenção. Aquela voz durante a meditação. Não seria prudente tentar resgatar aquele momento por agora, visto que deveria vigiar o acampamento. Mas… em algum momento dessa noite, tentaria fazê-lo.                                                                            

Todos se alimentaram muito bem no banquete real, e Amália estava bem à vontade com toda aquela situação. De fato, fazia um bom tempo que não tirava um tempo de qualidade e recreação como aquele, atualmente minha vida tem tomado rumos muito sérios. Mas afinal, esse era o fluxo da vida, certo? Por mais que as pessoas digam que certos ciclos não devem ser atrasados nem adiantados, em algum momento as coisas começam a simplesmente acontecer, e nós apenas reagimos e resistimos a esses movimentos, tentando não se perder ou até mesmo não deixar que esse rio flua e nós sejamos apenas uma tora de madeira à deriva em suas margens. Filosofei demais? Talvez. É, tô ficando meio “tio” mesmo!

Pouco tempo depois, a “comitiva dos lordes” havia chegado ao reino de Amália! Meu pai estava muito sorridente, feliz por ter lembrado daquele local. Na verdade, esse lago trás sim ótimas lembranças. Nós dois acampamos aqui algumas vezes, principalmente na minha infância, quando recém chegamos a Lavaridge. - Bom te ter por aqui, pai! - fui direto dar um abraço no meu velho, um abraço bem apertado e demorado. Era bom apreciar esses pequenos momentos.

Amália logo correu para encontrar seu pai, toda empolgada. Era muito engraçado ver como ela oscilava entre uma jovem treinadora com ótima afinidade para uma criança adorável e alegre. Bem acho acho que as duas personalidades podem conviver em harmonia, na verdade. - Olha, adoraria contar essa história, mas acho que temos uma menestrel muito melhor do que eu por aqui! Então por favor, milady Amália e sua trupe teatral Pokémon, conte-nos as aventuras que vivenciamos hoje! - foi uma saída pela tangente? Talvez. Mas aquele momento deveria ser todo de Amália. Me sentiria roubando toda a magia do momento com minha forma objetiva e técnica de relatar as coisas. Aquilo pedia uma forma lúdica, um olhar puro e magicamente encantado de uma jovem promissora.                                                                                

Amália contava tudo nos mínimos detalhes com ajuda de seu jeito lúdico de narrar. Era digno de um roteiro de peça teatral, de fato! Restava agora a grande quest: retirar a joia do dragão do fundo do lago! Meu pai estava todo reluzente, sentia falta de um tempo pai e filho para fazer esse tipo de atividade. E eu também sentia falta, na verdade. E agora com essa ideia de bobo da corte, eu tinha uma motivação a mais. - Ah, mas eu pago todo o dinheiro do mundo pra ver o palhaço Frederico em ação, hahaha! - se tinha uma coisa que meu pai não gostava era ser chamado de Frederico, mas ele entendia como brincadeira a chateação, tanto minha quanto do pessoal da corporação. Enfim, vamos iniciar nossa pesca noturna… digo, a busca pela joia do dragão!