Ficha - Ivy Baudelleire

DESCRIÇÃO FÍSICA

Dizem que a vida pode ser vista com diferentes olhares. No caso de Ivy, esta sentença pode ser aplicada quase que literalmente. A primeira coisa que se nota ao observá-la é evidentemente seu par de olhos heterocromáticos — o esquerdo assumindo uma coloração esverdeada, enquanto o direito é marcado por um límpido azul. Seus macios cabelos caem-lhe sobre os ombros em cascatas de um belo e incomum tom de castanho olivado, conferindo-a ainda maior excentricidade e esdruxulidade.

Seu closet é bastante variado, possuindo itens das mais diversas variedades possíveis. Para alguém que preza muito para sua aparência física, este é certamente um ponto importante. Desde belos vestidos de gala até roupas simples e casuais, ou mesmo trajes tradicionais, a jovem é bastante eclética, moldando-se de acordo com suas necessidades. Uma verdadeira camaleão, camuflando-se perfeitamente em seus meios — a não ser, é claro, pelos exóticos orbes sempre em destaque.

PERSONALIDADE

"Educada, tímida, delicada e gentil". Estas poucas palavras provavelmente são capazes de definir um grupo majoritário de pessoas sem muita dificuldade. Contudo, Ivy não é uma delas. Educada, doce e gentil, talvez. Mas definitivamente, ela não é uma jovem inocente ou boba. De fato, ela conhece os padrões de comportamento, respeitando-os e adotando-os sem maiores problemas em grande parte do tempo. Pode até mesmo parecer supérflua ou ignorante, à primeira vista.

Todavia, a verdade é que Ivy é muito mais profunda. Ela conhece de muito perto os terrores de uma vida vazia e insignificante — talvez por isso tente aproveitar tudo o que pode ao máximo. Determinada, ela irá atrás do que quer, até que consiga; independentemente do preço. A jovem já enfrentara os contratempos que o inverno tinha a oferecer, e aprendera a sobreviver. Ivy não tem medo de fazer o que é necessário — seja lá o que isso signifique.

Provavelmente, ela está situada no lado extrovertido das personalidades. Conversa, sinaliza, exprime e ambienta com muita facilidade; visto que não teme o julgamento ou reações alheias. É o tipo de pessoa que ri espontaneamente e sempre, amável e única. Provavelmente, alguém que faria amigos em uma tarde às compras, sem dificuldades. Mas a presença de afabilidade não se traduz exatamente em ausência de contempto ou frieza. Muito pelo contrário.

Talvez Ivy, por obra do acaso — ou destino, se preferir —, tenha recebido o sobrenome adotado que a identificava perfeitamente. Baudelleire. Adaga. De fato, ela pode ser comparada a uma pequena lâmina ornamentada: bela, encantadora, exuberante.

Mas isso não significa que ela não saiba cortar.

BIOGRAFIA

O frio e a escuridão sempre foram presenças constantes no pequeno povoado de Dendemille. Notoriamente localizado no norte de Kalos, o inverno era sempre um fantasma à espreita em suas sombras. Pronto para congelar, destruir, tomar e dizimar tudo o que você tem nos momentos menos esperados. Uma bela força imponente, aparentemente inofensiva; mas que afia as garras pelas costas e o apunhala quando você desvia a atenção. Ainda assim, aqueles que conseguem sobreviver aos terrores invernais mudam.

Tornam-se mais fortes.

...

Ivy não se lembra dos pais. Até onde sabe, eles a abandonaram ainda bebê na cidade, fugindo logo em seguida para perseguir uma vida de sonhos. Desde pequena, tivera apenas uma única certeza: eram apenas ela e a escuridão. Assim como a planta que dera origem ao seu nome — Hera do Inverno —, a jovem crescera às margens dos muros, escondida sob as sombras do gélido povoado. Fome, frio, solidão. Quantas vezes a neve que caía dos céus não foram sua única provisão; acompanhadas de frutinhas murchas ou amassadas em dias de muita sorte?

Mas ela resistiu, de alguma forma inimaginável. Aguentou firme, o máximo que pôde, mesmo que isso significasse arrastar-se pelas ruas quietas do lugar, há dias sem ver comida. Tremendo, à beira da hipotermia. Desolada, perdida em pensamentos: como poderiam, as pessoas serem mais frias que o próprio inverno? Uma garota invisível, um problema que nenhum coração congelado queria enxergar.

Ao menos, não por longo tempo.

Quando a menina tinha seis anos de idade, uma jovem senhora — acompanhada de seu marido — saiu da capital Lumiose para levar uma vida mais tranquila no interior. Uma moça saudável, de gestos comportados, mas mente e olhos inquietos. Ao chegar na pacata Dendemille, seus orbes logo desviaram sua atenção para uma peculiar figura amuada na rebarba da rua em que passava. Uma criança, de cabelos longos e mal-cuidados, quase que irreconhecível como humana; dadas as proporções magérrimas de seu pequeno corpo. Bastou uma breve troca de olhares — o encontro de duas almas sós, vastas na pequenez de seus corpos — para que a vida de ambas mudasse para sempre.

Annette — como era chamada a moçoila — resolveu adotar aquele jovem ser que estava caído nas sombras. Levou-no para dentro de sua recém-comprada casa, mesmo que o marido não gostasse nem um pouco da ideia; e cuidou de Ivy. Aos poucos, a criança retomou uma forma saudável e digna de se existir no mundo. Por mais que ela fosse proibida pelo dono da casa de deixar a mesma, a menina encontrou fartura nunca antes imaginada; os frutos do grande poder aquisitivo. E apesar de ter contato com estresse, rancor e gritaria alheios, encontrava lapsos de amor dentro de sua salvadora.

Por parte de sua suposta "mãe" (palavra esta proibida, assim como sua variante masculina) e suas amas, aprendeu sobre a vaidade, cuidados básicos; obteve seu conhecimento geral e sua personalidade afável. Por sua vez, proveniente do patriarca da família, adquiriu sentimentos e lições mais... duras. Impaciência. Frustração. Danação. O direito de permanecer calada. A todo momento em que passavam juntos, Ivy desprezava mais e mais aquele homem. Ele despertava memórias dentro de si; sentimentos.

Ele era o inverno dentro de uma rica casa quente e aconchegante, ainda assim, a menina lutava contra a frigidez que novamente facetava; mesmo que esta fosse fisicamente muito mais amena.

Ivy cresceu.

Junto dela, cresceram também a ira do patriarca e o fardo de Annette. Um matrimônio juvenil e infeliz, feito à base de rochas desconstruídas pelos próprios arquitetos. Apesar de agora viver sob condições físicas mais que satisfatórias e ter amadurecido em uma jovem esbelta e doce, ela ainda enfrentava o frio dos sentimentos. E não apenas os seus; mas principalmente os de sua guardiã: Ivy não suportava ver aquele seu a vislumbre de esperança sofrer, embalar-se em um estado crescente de dor e angústia.

Mais uma vez, ela resistiu. Aguentou firme. Lutou o máximo que conseguiu. Mas na noite de seu vigésimo primeiro aniversário — depois de uma briga feia entre ambos os donos da casa, em que Annette acabou levando um tapa na face e um soco em seu ventre, além de ter tido várias mechas de cabelo puxadas —, ela tomou sua decisão. Ela acendeu sua vela, em tentativa de eliminar o frio e a escuridão.

...

Quem diria que o inverno tornaria-na tão... destemida. Sem medos. Ivy já não temia a noite ou a neve ou a fome. Ela não temia ninguém. E não hesitaria em agir para mudar as coisas. Ela não teve medo, por exemplo, quando discretamente adicionou algumas gotas de veneno de Croagunk no vinho do patriarca. Ela também não temeu o momento em que finalmente deixara os portões da casa, voltando a ver o mundo exterior. Ivy não teve medo de deixar sua guardiã viúva descansar no pequeno povoado de Dendemille, enquanto saía para explorar. Enquanto viajava para longe, liberta das gélidas paredes luxuosas daquele lugar.

E ela certamente não teria medo de agir novamente, se assim fosse preciso. Caso o inverno voltasse, trazendo a escuridão novamente. Ela daria um jeito.

Ela sempre dava um jeito.