Ginásio de Mauville

Mauville era... Grande. Sim, evidentemente, como a capital da região tropical de Hoenn, não poderia ser diferente. Mas ali era tudo meio confuso. Enquanto andava pelas ruas da cidade, tudo o que Ren conseguia pensar era que Petalburg, quando comparada à capital, era uma mera fazenda. Sinceramente? O rapaz não tinha certeza se gostava tanto de lá. Certamente, parecia melhor que as feias Mu Island ou LaRousse, mas ele ainda preferia o confortável ar de familiaridade que encontrava em Lilycove, Sootopolis ou Slateport.

A cidade era um pouco intimidadora e bagunçada. Mas no fim das contas, acho que todos somos bagunçados, não? Assim como o próprio Ren. Ele não sabia explicar por que estava ali. Apenas... Estava, e pronto. Sabe, ao longo do decorrer, ele deparou-se com muitos traumas e dilemas. Criou conceitos, cultivou opiniões e posicionou-se acerca de assuntos específicos. O rapaz gostava de pensar que o conhecimento é algo simples, e que assim que uma mente é iluminada pela informação, ela pode mudar completamente, ver novos horizontes.

... Mas se é realmente assim, por que estava sendo tão difícil? Roxanne em pessoa havia apresentado um fato científico inegável — um que ele já deveria saber, aliás —, mas continuava hesitando perante aquela ideia. Em verdade, o coordenador já havia experienciado aquilo por si mesmo: de fato, as batalhas haviam melhorado muito seu laço com os Pokémon, mesmo que ele não costumasse colocá-los em embates com frequência. Contudo, independente de o que ele fizesse ou aprendesse, sempre havia aquela voz no fundo de sua mente, sussurrando coisas indesejadas. Aquilo deveria ser mais fácil, não é...? Por que ele estava tendo tanta dificuldade em aceitar a natureza das batalhas?

Enquanto caminhava pelas ruas da cidade, em busca de sabe-se lá o que, pensou em sua casa novamente. Não, não casa. Essa palavra supostamente deveria ser um sinônimo de lar, não? Ah, Petalburg estava longe de ser o lar do jovem Hughes. O coordenador considerava Lilycove muito mais querida e acolhedora, muito mais sua do que a cidade em que nascera. O lugar no qual morava também não era acolhedor, apesar do grande luxo e qualidade de vida que encontrava lá. O único lugar seguro que Ren teve em sua infância foi a antiga casa de sua avó.

... E mesmo essa ilha de paz no meio do mar de caos não tardou a afundar.

Ele suspirou. Não quero mais pensar naquilo. Logo, chegaria nos anos em que passara o tempo todo tentando cumprir as expectativas dos pais, reprimido e engaiolado. Todos os abusos e supressão de vontade. Uma distração viria a calhar.

E abençoados fossem os pés de Ren, eles haviam levado-o direto para uma distração. Quero dizer... Um tipo, pelo menos. Mauville tinha um líder de ginásio, não? Aparentemente, um senhor de idade, que cuidava da eletricidade municipal, e atendia batalhas da Liga em seu tempo livre. Bem, batalhas não seriam a primeira escolha do especialista, mas naquele momento, qualquer coisa era melhor que seus pensamentos. Além disso, talvez uma experiência de vida extra fosse bastante útil, também.

— É... Com licença? — diria, ao adentrar o estabelecimento no qual estava logo em frente, um pouco hesitante. — Vocês, hm, aceitam batalhas por aqui, não é? — perguntou enfim, depois de engolir em seco. É... Não poderia ir tão mal assim, né? Depois de Roxanne e Brawly, Ren estava notando que os líderes de ginásio não eram monstros sem coração que gostavam de ver Pokémon sofrer.

OFF escreveu:Desafiando o vovô.