~> Dinheiro, aaaa
~> Voar para Mauville City
Apesar de precisar adiantar as coisas para que pudesse chegar à tempo de Wallace Cup sem maiores problemas, acreditou que um pequeno descanso na cidade não faria mal nenhum, afinal, a inscrição já estava feita e só precisaria chegar no lugar, de fato, dali a uma semana, se bem lembrava - mesmo que não pretendesse chegar bem em cima da hora, afinal, nunca é bom sair correndo que nem maluca para não perder o prazo e acabar com uma derrota por desistência; Se fosse pra ser daquele jeito, era bem melhor que nem tentasse, para falar a verdade. De qualquer modo, um descanso não faria mal a ninguém, e poderia aproveitar para conhecer um pouco a cidade de Rustboro durante sua breve estadia.
Majoritariamente, as coisas que via - ou, pelo menos, assim teve a impressão - estavam sob o nome do Sr.Stone, e mesmo quando não, era quase impossível não se deparar com alguma referência ao homem, fosse por propaganda ou mera e somente por comentários que passavam pela boca dos moradores, isso quando não eram visitantes que, assim como ela própria, estavam atrás de um exemplar do PokéNav para praticidade em respeito à algumas tarefas que, de outro modo, seria bem mais exaustivas de completar.
Em uma das curvas que calhou de fazer pelas ruas, deu de frente com uma grande construção de tons claros e janelas retangulares. Poderia facilmente suspeitar ser mais um dos patrimônios de Devon e, em realidade, até onde sabia, nada impedia que fosse, mesmo com a placa indicando o colégio e, reparou em pouco tempo, os vários estudantes com seus cadernos, livros, mochilas e reclamações. Fachada não indica sempre proprietário, não é? A questão é que, por um breve momento, se permitiu divagar a respeito do passado na cidade natal, e em que pé estaria agora se não houvesse largado tudo para seguir uma carreira de treinadora. Estaria em condições melhores, tanto física quanto psicologicamente?
Não sabia, não tinha como saber.
Particularmente, não tinha vontade de descobrir, para não correr o risco de ter que acabar lidando com o amargo do arrependimento.
Não teria como mudar o passado.
Não sabia também quanto tempo ficou divagando sobre isso enquanto os orbes cinzentos passeavam pela estrutura, mas acreditou que havia sido o suficiente quando a voz masculina a arrastou para longe dos pensamentos e, com um apertar das pálpebras e o desvio vagaroso da atenção, o olhar então pousou no - descobriu - grisalho senhor que aparentemente esperava que a ruiva parasse para ouvir um pouco alguma de suas palavras. E, esta meta aparentemente concluída, esboçou um sorriso amigável, oferecendo uma mesura sutil de cabeça.
— Bom dia, madame. - Um leve arquear de sobrancelhas foi a resposta da moça, mas se limitou em responder ao cumprimento em baixa voz
— Considerando que não parece apressada para entrar, eu imagino que não seja uma estudante. Posso ajudar de alguma maneira?— ...Não acho que possa com o que eu preciso, infelizmente. - A ruiva encolheu os ombros com suavidade, e a sombra de um sorriso de canto se desenhou em seus lábios
— Sinto muito se estou atrapalhando. Não se preocupe, já estou de saída. - Com um último vislumbre do prédio, ajeitou a alça da bolsa no ombro e se preparou para partir, porém, foi interrompida com uma curta chamada de atenção por parte do homem, ato que, se não a manteve ali para sempre, pelo menos a segurou no lugar por mais alguns momentos.
— ...Isso é um infortúnio. Mas não precisa ter pressa. Não estou expulsando você, acredite. - Não respondeu, mas manteve o olhar na figura. Parou para prestar atenção no conjunto claro que o idoso trajava, e de como sua aparência seria fantasmagórica caso fosse uma visão noturna.
— Pelo que estou vendo, você é uma aventureira, hmm? - Incerta, a jovem concordou com um movimento vago de cabeça, que acompanhou outro sorriso do rapaz
— Veja bem: Muitas pessoas nesse colégio são incrivelmente apaixonadas pela ideia de se tornarem treinadores, coordenadores, seja o que for. Mas, como você deve saber, não são poucos os que ficam inseguros de sair da cidade e ter todo o trabalho de ir atrás de um inicial, de sair de perto da família... E é extremamente compreensível. Mas, aqui, eu particularmente gosto de tentar incentivá-los a sair dessa bolha, e constantemente ofereço para os que já estão dentro dessa realidade que deem à esses estudantes uma pequena prova, ou talvez até dica pessoal, para que criem coragem de dar esse passo. - O idoso tomou fôlego, devagar, e analisou a expressão da ruiva por alguns segundos, se certificando se ela estava acompanhando o pensamento até então
— Normalmente, se for algo correto e proveitoso, eu também os recompenso com uma quantia de dinheiro. É meio simbólico, mas se tiver interesse, seria de bom grado recebê-la para que compartilhasse alguma experiência conosco.— ...Bem, eu não sei se teria algo realmente proveitoso para vocês...— De onde você é? - A moça não teve problemas em conceder resposta para a questão, e a mesma fez as sobrancelhas do homem dançarem pela testa
— Tenho certeza que alguém que já viajou tudo isso tem pelo menos um aprendizado para oferecer, seja a respeito de itens, dos pokémons... Não é necessário algo estritamente complexo, afinal, a ideia é mais para servir como inspiração. Por que não tenta?Natalie suspirou. Não tinha certeza se deveria mas, considerando que até o presente momento não tinha tanta pressa de sair da cidade, poderia ser uma boa válvula de escape para afastar os pensamentos ruins ou mesmo para arranjar um pequeno lucro se tivesse boa desenvoltura. Embora com certa hesitação, e alguma insistência e incentivo extras vindos do senhor, decidiu por fim que não faria mal nenhum uma curta apresentação antes de partir daquela cidade. Bem, não pretendia voltar tão cedo, então podia apenas torcer para que a esquecessem até lá, caso tudo acabasse dando errado. De fato, não custava nada arriscar, certo?
Então, aceitou. Com o mesmo sorriso gentil que perdurou durante quase toda a conversa, o mais velho a convidou para entrar e seguiu seu caminho como um projeto de guia turístico para dentro da estrutura, comentando sobre uma ou outra parte da arquitetura, o trabalho que ali faziam, enfim, sobre o colégio em geral. A informou de que seria necessário esperar algum tempo antes que pudesse permitir que a garota se apresentasse aos alunos que a receberiam, mas o tempo passou mais rápido do que poderia pensar enquanto jogava conversa fora com o diretor; Mais cedo do que imaginaria, foi guiada até uma das salas do lugar e, com um breve cumprimento do homem aos alunos, foi praticamente jogada no meio da sala. Sob os olhares curiosos e quase julgadores - ou, ao menos, era o que considerava -, se sentiu quase inferior naquele lugar.
Talvez fosse por conta da sombra que, agora que estava no chão, subia ameaçadoramente por suas costas e sussurrava-lhe possibilidades que rapidamente viravam temores.
A garota respirou, fundo.
Naquele exato momento, se lembrou da falta de desejo de lecionar que sempre sentira.
— ...Olá... - Arriscou, incerta. Encurralada na vigilância dos inúmeros pares de olhos espalhados pelo cômodo e voltados unicamente para si - ou, pelo menos, grande parte deles -, quase cogitou dar as costas e ir embora. Mas, oh, já estava ali, certo? Engoliu a seco.
— ...Meu nome é Natalie Chase. Um pouco mais cedo, o diretor Frederic me abordou e sugeriu se eu não poderia dar algumas palavras com alguns de vocês, hoje. - Devagar, os quadris se encostaram na mesa, e as palmas das mãos se apoiaram em sua superfície.
— Bem, eu não sou nenhuma professora, e nem algum tipo de profissional para vir aqui e dar o melhor discurso motivacional pra vocês, e talvez nem possa dizer qual é o melhor caminho que podem tomar. - Pausou, e respirou profundamente. Bem... Ele havia dito palestra, certo? Não precisava realmente dar uma aula... Talvez?
— Mas, se eu posso dizer alguma coisa com certeza, é que não existe uma fórmula certa para tudo se resolver e que faça vocês, ao menos os que tem vontade, brilharem.Por curtos segundos, o olhar passeou pelos jovens agrupados nas cadeiras e, mais uma vez, recordou do passado.
Não era ela que, uma vez, prestava atenção àqueles que com tanta garra se lançavam num futuro incerto?
— Já faz um tempo que eu comecei realmente no mundo pokémon, como uma treinadora. Antes mesmo disso, eu sempre tive muito interesse em tudo que envolvia esses seres que vivem tão perto da gente e, ao mesmo tempo, tanta gente não sabe quase nada a respeito. Quando era mais nova, gostava de ficar várias e várias horas observando os pokémons que casualmente apareciam na superfície das águas perto da minha cidade natal. O oceano sempre foi um mistério enorme, e tenho certeza que acabou despertando muito mais interesse depois do incidente com Kyogre. - O olhar passeou pela plateia, vagaroso. Tivera sorte de não estar no continente quando tudo aconteceu e, embora houvesse demorado um pouco para descobrir a situação, não foi uma das coisas mais difíceis de chegar ao seu conhecimento
— Tem muita gente que pensa que, no que diz respeito aos pokémons, tudo vai ser uma maravilha. - Pausa.
— Não é bem assim; E não digo isso para assustar vocês, nem nada do tipo. Sabe, eles são animais que convivem com a gente, muitos selvagens, claro, mas tem pessoas que olham de uma perspectiva e acreditam que tudo é mágico e passível de controle na palma da mão. - Engoliu saliva. Deixou que as palavras se assentassem um momento, e só então se permitiu prosseguir
— Eu concordo, porém, com a questão da magia. E ela não envolve tudo feito com um estalar de dedos, mas um longo processo que envolve o pessoal, seu próprio crescimento, o desenvolvimento da relação que tem com seus pokémons e com aqueles que você pode conquistar, a capacidade de saber lidar com problemas que aparecem, enfim, uma infinidade de coisas a serem aprendidas e, sinceramente, tá tudo bem; É algo que, particularmente, eu acredito que vale a pena.Tomou fôlego por alguns momentos. Não tinha tido tanto tempo para preparar alguma coisa, sequer planejava falar com aspirantes no seu cronograma mas, surpresa!, ali estava.
— Talvez, uma das coisas mais úteis que eu possa falar pra vocês, é o cuidado a respeito de alguns iniciantes acharem que podem peitar tudo e todos e sair zombando com uma vitória, ou podendo dar a volta por cima. Eu mesma tinha essa confiança, na verdade, mas já quebrei muito a cara e fiquei na beira de muito desespero pra ter chance de mudar de opinião. - Deu um riso sem graça, ocultando por trás dele o pânico que muitas vezes a corroeu durante a jornada.
Eles não precisavam saber, certo?
Tinha sido sua... Pequena, grande, maré de azar e tormenta.
Podia morrer com ela.
— Bem, muitas coisas podem ajudar vocês a contornar essas situações complicadas que podem enfrentar. Desde só estratégia, até itens ou mesmo sorte, dependendo do caso. Vocês já devem conhecer, ou pelo menos ter ouvido falar, da mais básica das soluções que podem dar certo em muitos casos: As poções. Recentemente, inclusive, eu pude me livrar de uma furada bem grande por causa delas, e aconselho a qualquer um que é sempre bom ter ao menos uma ao alcance, porque nunca se sabe quando pode precisar. - Os ombros se movimentaram, inquietos, e os olhos correram pela classe
— Posso dar uma explicação básica a respeito: Vocês devem saber mas, a partir do momento que se entra em uma luta, é muito provável que seu pokémon se machuque. Se você permite que os danos que sofridos passem do limite que ele aguente, e isso varia entre cada espécie, vai acontecer um nocaute e você pode ou não ter algum problema por causa disso. Bem, eu acredito que a maior parte dos confrontos seja amistosa, mas é sempre bom manter o aviso. - Comentou, casual.
— Falando das poções que tratam especificamente os machucados que podem ocorrer em batalha, sem considerar questão de status e tudo o mais, são cinco: Potion, Super Potion, Hyper Potion, Max Potion e Full Restore. Todas elas são, pelo menos normalmente, vendidas nos Centros Pokémons, e provavelmente vocês já viram alguma vez pelo menos uma delas. É bem difícil de confundir uma com a outra, já que até os frascos são diferentes: A Potion vem num recipiente roxo com branco, a Super num vermelho com laranja, a Hyper num rosa com branco, a Max é azul com branco e o Full Restore vem numa embalagem toda esverdeada. Os preços são tabelados, e se eu não me engano podem variar de 50PK$ até 1000PK$, dependendo da força e qualidade do efeito que você quer garantir quando for usar alguma, mas nem por isso as mais comuns são inúteis. - Deu uma pausa, e parou por alguns segundos para organizar os pensamentos
— O funcionamento delas é simples. Considerem, por exemplo, que um pokémon tem uma barra de vida e, se por algum acaso essa barra zerar, é aí que ele sofre um nocaute até que seus machucados sejam tratados. Supondo que essa barra tem cem pontos de vida... - Outra pausa. Limpou a garganta.
— ...Cem pontos de vida. Se você tem uma Potion, você pode curar uns 20 pontos do total, por aí, e essa é a mais básica. Talvez não pareça muito, dependendo do estado que um combate pode estar mas, acreditem, mesmo um segundo a mais que um pokémon aguente pode fazer toda a diferença no resultado final. - Respirou fundo
— A partir daí, já tem um salto de eficácia, que vem com a Super Potion. Ela pode curar até 60 pontos na vida do pokémon, e eu acredito que seja uma das melhores para te colocar numa posição segura na batalha sem que seja necessário ficar gastando o tempo todo seus recursos e tudo o mais. A Hyper Potion já seria uma garantia para encher toda a vida do pokémon se ele só tiver 100 pontos, porque ela garante 120 pontos de cura, então até esse caso que eu citei, seria suficiente. - Devagar, ajeitou uma das madeixas ruivas atrás da orelha, e se apoiou na ponta dos pés por alguns segundos
— Mas, caso seja necessário ir além desses pontos ou se você não tiver uma Hyper, uma Max Potion vai restaurar e eliminar todos os machucados do seu pokémon, curando a vida no máximo. Já o Full Restore é bem situacional, porque ele não só vai maximizar os pontos de vida do seu pokémon, como também eliminar qualquer status ruim, desde que não-volátil, que esteja o afligindo, por exemplo, paralisia.Não sabia ao certo se seria interessante o suficiente para falar a respeito, mas pelo menos estava tentando.
Afinal, não tinha se programado para ir até ali, certo?
— Claro que, se você for curar seu pokémon, não vai poder forçá-lo imediatamente para atacar consecutivas vezes, pois ele vai precisar de um momento para que as poções façam efeito e para que possa se recuperar. - Lembrou, e os dedos se remexeram uns nos outros, inquietos
— Também existem outros itens de cura que não envolvem as poções, por exemplo, uma Oran Berry, uma Fresh Water, ou uma Soda Pop. Mas, como eu disse, as poções são encontradas normalmente nos Centros, e acabam sendo mais acessíveis e fáceis de encontrar. Do contrário, você pode acabar perdendo um pouco de tempo para poder procurar e tudo o mais.Talvez estivesse se prolongando demais.
E nem estava planejando, céus!
— ...Enfim! Eu vim aqui hoje porque o diretor me sugeriu que talvez vocês precisassem de inspiração, ou de algum empurrãozinho. Eu queria dizer que, acima de tudo, se qualquer um de vocês realmente tem vontade de seguir carreira sendo treinador ou qualquer outra coisa, bem, vão! - Suspirou, e cruzou vagamente os braços em frente ao peito
— Quer dizer, uma ou outra dificuldade vocês vão acabar passando, se forem por esse caminho ou não. É a vida. Mas o melhor é poder lidar fazendo algo que você goste e, talvez pareça um pouco clichê, mas sempre é melhor tentar e talvez descobrir que não seja a coisa certa pra você do que ficar se lamentando por algo que deixou de fazer por medo de arriscar. - Então, devagar, os braços relaxaram outra vez nas laterais do corpo
— ...É isso. Espero que vocês lembrem que ser ou não um treinador não é nem uma condenação, nem algum tipo esquisito de prisão. Se não der pra você, tá tudo bem procurar outra coisa em que se encaixe melhor. Mas é como eu disse: Não tem como saber se não tentar. - Então, com uma respiração profunda, o olhar passeou pelos rostos dos estudantes. Analisou cada um, silenciosamente, e se questionou se haveria ao menos um que seria capaz de alcançar com meras palavras.
— Espero que consigam decidir o que acham que é bom, e o que querem pra suas vidas, cada um de vocês. E quem sabe se não nos encontramos por aí de novo? - Permitiu que um sorriso pequeno pintasse pelos lábios, discreto. Guardou para si o pensamento de que isso poderia ser um temor, como os tantos encontros que já tivera de suportar ao longo das últimas semanas
— Enfim. Obrigada pelo seu tempo. E boa sorte, para todos.Então, isto feito, se retirou.
Trocou algumas palavras com o diretor quando se foi, e o homem também falou a respeito do pagamento, mas assim que a conversa se findou, saiu da escola.
Bem, já tinha passado mais do que deveria por ali.
Então, quando pôde, retirou Fearow novamente de sua pokéball, subiu no animal...
E, junto com os pensamentos, ganhou o céu.