Unprepared

O frescor das constantes correntes fracas de ventos acalmava o meu ser, atingindo lentamente a pele pálida e arrepiada do meu rosto e dos meus braços à mostra. Era uma manhã calma e agradável, como se nada pudesse interromper um ótimo início de jornada. Ziguezagueando entre as minhas pernas em velocidade, Aron divertia-se a todo vapor, aproveitando cada segundo daquele “passeio” para gastar todas as suas energias brincando.

Compenetrado em todos os treinadores que passavam pela entrada de Rustboro, adentrei rapidamente a uma das inúmeras ruas pertencentes à cidade. Curioso com os itens recebidos pelo assistente do professor Birch, sentei-me na calçada junto a Aron e fucei dentro de minha mochila. -O que é isso? Um perfume? – Disse inocentemente ao pegar um borrifador roxo. -E essas bolas coloridas... Cápsulas? - Dei uma breve pausa em minha busca, tentando organizar os meus pensamentos.  -Eu não entendo... Tudo parece muito complicado para um iniciante como eu...

Fora no instante em que suspirei por causa da minha incompetência em que meu companheiro tentou remover uma esfera bicolor de meu bolso, a tal “capturadora” que fazia do Aron meu Pokémon. -Ah, lembrei... Essas cinco bolas são iguais a essa daí, certo? O que quer dizer que eu posso ter mais de um Pokémon? – Falei, colocando os itens de volta em minha mochila.

-Falando sério, essas coisas deviam vir com um manual de instruções para novatos como eu. – Olhando para os limpos céus azulados, tive a brilhante ideia de usar a máquina “identificadora” de Pokémon que eu havia recebido. Apontando a câmera da parte traseira do aparelho para o quadrúpede cinzento, logo informações sobre a espécie do mesmo surgiram na tela da máquina. -Então você come ferro? Que inesperado...

Assim que foram registrados os dados, guardei a Pokédex num dos compartimentos da minha mochila e me levantei, logo colocando a minha mão direita sobre minhas sobrancelhas, “protegendo” do sol e focando a minha visão no que estava mais distante. -Então... Onde estão os treinadores desse lugar?

Diante das oportunidades de enfrentar outros treinadores, aproveitando a chance, dirigi-me até um garoto que saía duma loja de conveniências para dar-lhe a ideia de iniciarmos um combate Pokémon. Aron, igualmente interessado, via-se curioso perante as várias Pokébolas que o jovem treinador possuía presas em seu cinto de utilidades.

Assim que me aproximei o bastante para fazer com que o rapaz me ouvisse, velozmente iniciei a pronúncia de minha proposta. -Ei, você por acaso não estaria interessado em uma batalha contra o meu Aron? – Disse um pouco empolgado por ser como uma primeira experiência.

-Sabe, acabei de começar a minha jornada, então isto poderia servir como um aquecimento para o desafio fora da cidade, com vários Pokémon selvagem e tal... Então, o que me diz? – Assim falado, encarei meu companheiro, Aron, que parecia sério sobre tal situação, mas ainda assim com uma expressão engraçada estampada em sua face.

Após perceber a minha presença à sua frente, o garoto imediatamente se desculpou e, envergonhado, mostrou-se atencioso com as minhas seguintes palavras. -Queria saber se você está interessado em batalhar contra mim... – Disse, rapidamente pensando numa maneira de fazê-lo lutar. -Eu só tenho o Aron, e ele é bem importante para mim, mas como ele precisa ser treinado, gostaria de saber se você não pode me ajudar, usando seu Pokémon para lutar contra ele... O que me diz?

Assim dito, olhei novamente para meu companheiro, que, saltitando, demonstrava sua personalidade brincalhona e divertida e juntamente se alegrava por ter a chance de enfrentar um oponente de mesmo nível.

-Vamos logo então, acho que não tenho escolha. – Disse, seguindo o garoto até o local que ele julgava ser ideal. Parecia ser uma praça como qualquer outra, então não me atentei aos detalhes, indo direto ao ponto assim que o moleque parecia estar pronto. Por mais que tentasse ser amigável com estranhos desconhecidos, fingir não era o meu ponto forte. Brevemente poderia remover esta máscara e mostrar as minhas verdadeiras cores caso o quatro-olhos insistisse em ficar admirando o meu Pokémon.

Rapidamente ordenei a Aron que se posicionasse, em seguida voltando a minha visão para o tal Ainstain e pedindo para que ele liberasse o seu Pokémon.

Assim que o duelo se deu por iniciado, ambos os Pokémon posicionaram-se dentro do amplo campo de batalha levemente desnivelado, cada um visando golpear o outro a serviço de seu respectivo treinador. O tilintar das patas revestidas por aço de Aron ao contato com o chão de terra batida de certa forma me distraíam, mas nada que fosse preocupante.

Assim que nosso oponente nos fora revelado, o garoto rapidamente iniciou as suas ordens, recitando nomes de golpes que se encontravam no leque de habilidades do seu parceiro. Eu estava em uma clara desvantagem por não possuir experiência em batalhas Pokémon.

-Certo Aron, primeiro ataque com um “pow” e depois o acerte com um “bam”! – Disse, levando ao pé da letra as onomatopeias que via em quadrinhos de batalhas. Meu companheiro virou o rosto, encarando a minha face lúcida com seus vívidos olhos, apresentando uma expressão de dúvida.

-Não sabe fazer essas coisas? – “Que inútil, não sabe nem executar um pow”. -Bem, então invista em uma cabeçada ou algo assim, sem perder tempo! – Assim que este tomou um impulso sobre a arena, saquei a Pokédex e “tirei uma foto” da bola metálica ambulante.

E como havia visto o quatro-olhos comandar seu Pokémon a desferir uma dupla de ataques, não tardei ao berrar outra ordem. -Varie um pouco e use algo que julgue ser efetivo, ok? – Gritei, olhando meu companheiro raciocinar até decidir dar duas batidas na terra e então transformá-la em lama, lançando-a de imediato para contra o inimigo eletrizante.