C1 - Meeting Treecko

OFF - postei pelo celular por que sim.

Antes mesmo de sair do laboratório do professor Birch, fiz a entrega a qual eu fora empregado para fazer, deixei o envelope nas mãos do remetente e fui aproveitar daquela cidade quase rural que eu estava. O Sol estava forte naquela manhã, o que era bem estranho, talvez já estivesse perto do meio dia. O que significava somente uma coisa: Almoço. Nunca fui do tipo comilão, esganado, guloso, exagerado, mas também nunca fui desleixado com comida. Muito pelo contrário, as vezes eu era bastante sistemático, e almoçar meio dia era algo que eu deveria fazer, por honra ou por qualquer outro motivo, que provavelmente pareceria bobo. A Pokéball de Treecko estava em minha bolsa, e lá eu deixaria, não queria expô-lo em qualquer lugar, e também poderia me atrasar no pior dos casos.

- Entrega feita... - olhei um papel escrito com a ordem das cidades que eu deveria visitar. O Sol forte deixava a letra negra impressa bastante legível. - Já que o trabalho foi feito, por que não aproveitar um pouco da cidade?

Com essa ideia caminhei para um local qualquer, procurando alguma aventura ou um ponto turístico que pudesse me atrair.

Off - Oi Sckar, sempre quis ser narrado por ti basbsbjsahbs vamo lá então.

Com as passadas tranquilas naquela cidade do interior, escondia o leve incômodo que era aquele Sol pesado. Nunca torci tanto para que o frio chegasse e quebrasse com todo aquele clima cansativo e desgastante. Meu cabelo grande, apesar de fino, era volumoso e esquentava bastante a minha cabeça, sendo fácil suar numa situação como a que eu estava vivendo. Passei o dorso da mão na testa oleosa a fim de ver se estava pingando de suor, mas graças a Deus, ainda estava normal. Quando passava por alguma árvore, um pequeno desejo de ficar lá para sempre surgia, mas era combatido com a fome que me atormentava, até mais que o calor.

Ajeitei a mochila lateral e continuei a caminhada nas ruas de terra batida. Olhava seus rastros uniformes e abstratos tentando imaginar quantas pegadas já foram deixadas lá, quantas pessoas já reviraram aquela terra, e tudo o que poderia ter deixado marca naquilo. Era um devaneio muito esquisito, eu havia me desligado um pouco do mundo imaginando histórias do passado, uma mais fantasiosa que a outra. Mas se havia uma coisa que era real e eu tinha noção, era a minha fome, e outra coisa real chegava aos meus olhos, tirando um pequeno suspiro. Não longe de mim estava uma fila de pessoas com diversos Pokémon ao lado, algumas estavam sem, mas supus que eram treinadores graças à placa.

- Restaurante de Batalhas Gourmet - li já imaginando do que se tratava -, já vi algo parecido em Unova.

A Pokéball de tamanho reduzido cabia entre meu dedo indicador e médio que se levantavam na frente de minha face. Treecko estava descansando naquela esfera tão minúscula com uma tecnologia extraordinária. Deixei que a esfera escorregasse para a palma de minha mão e a abracei com os dedos, respirei fundo e pisei firme na direção da fila onde as pessoas se encontravam. Iria perguntar para quem estivesse na minha frente e checar se as minhas suposições eram verdadeiras.

- Do que se trata isso aqui? É tipo um "ganhe a batalha e receba um PF"?

Se fosse o caso, esperaria lá. Mas se fosse apenas um restaurante comum, ficaria na fila para garantir meu almoço.

Escondi a Pokéball de Treecko no bolso da calça a medida que me aproximava de uma garota muito bonita. Seu cabelo de cor exótica lembrava o meu quando estava na luz, mas seu corpo bem desenvolvido se assemelhava em nada com o meu. Sua pele bronzeada também era algo que a diferia de mim. Se eu fosse uma menina, eu iria parecer com ela, porém com um corpo de tábua de passar roupa. Após realizar a minha pergunta, ouvi atentamente sua resposta olhando para seus olhos, nariz e lábios. As vezes escorregando um pouco, mas não encaixa no contexto. Apesar de estar levemente distraído, consegui assimilar alguma coisa.

- Eu tenho que cozinhar? - murmurei comigo mesmo lamentando minha falta de habilidade.

Ok, eu não era o maior cozinheiro do mundo, mas bem que eu poderia tentar não é? Qual é a dificuldade de colocar óleo numa panela, uma carne, esperar alguns minutos, jogar umas folhas encima como tempero e colocar num prato? Isso não ia me impedir! Nem mesmo as batalhas, que provavelmente não seriam muito positivas para mim e Treecko, que eu mal conhecia, mas a fome... Ah a fome... Ela move treinadores.

Continuei olhando para a menina, enquanto eu pensava em alguma coisa para falar, um homem mais velho entrava na conversa. Ele estava na frente da garota, e parecia ter ouvido o assunto. Meu lado mal educado e delinquente mirim me indagava por que esse velho tá se metendo no assunto?, mas minha educação primordial apenas me obrigava a assentir com a cabeça e rir socialmente como se o comentário daquele enrugado fosse muito carismático e útil. Não poderia fazer outra coisa se não respirar fundo com um sorriso falso no rosto e decidir entrar naquela aventura.

- Vou tentar né. - tirei a Pokéball do bolso e olhei para ela - Nossa hora tá chegando, Treecko.

Eu queria muito deixar Treecko fora da Pokéball, mas eu tinha medo dela fugir de mim, não gostar de mim ou qualquer outra coisa, então decidi deixá-la dentro da esfera e esperar uma batalha acontecer. Sem muito o que fazer, apenas preferi esperar a minha vez de participar da tal gincana onde teria que cozinhar e batalhar.

Decidindo enfim ingressar neste concurso, permaneci na fila aguentando o calor e ouvindo os dois outros treinadores falarem. Fiquei colado à parede com as mãos no bolso da calça, e o dedo indicador e médio da mão direita acariciavam a Pokéball de Treecko. Ouvi a garota puxar assunto com o velhote enrugado, e acabei por descobrir que, assim como eu, ele era um iniciante. O homem havia pego o seu Pokémon com Birtch somente para participar desse evento, o que me dava a impressão de que era um evento bastante aclamado e legal, nada poderia dar errado no seu decorrer. Isso me deixou mais tranquilo, a chance de vencer — pelo menos nas batalhas — era maior.

A garota de cabelos verdes começou a falar e puxou minha atenção novamente. Ela também era uma iniciante! Parece que seria uma chuva de aprendizado para mim e para eles também! Mais relaxado graças à sensação de estar num grupo que eu pertencia, me livrei do encosto da parede enquanto a garota dizia seu nome: Sarah; e o velho chamava-se Clark Houldson. O nome do velho me lembrava de algum personagem de série que eu já havia assistido na televisão, mas preferi deixar quieto, comentários assim normalmente criam o famoso silêncio mortal.

Por fim a garota perguntava meu nome, sorrindo. Da mesma forma respondi:

- Meu nome é Leo Sullivan. - respondi tirando a Pokéball do bolso. Eles me fizeram mudar de ideia em relação a quando liberar Treecko - Aqui eu tenho um Pokémon que peguei com Birtch também. É uma linda Treecko, mas ainda não nos conhecemos muito bem. - dei de ombros expandindo o volume da esfera - Existe momento melhor? Treecko, saia.

Com o abrir da Pokéball, o raio luminoso criou uma lagartixa que ficou na minha cabeleira. Treecko ainda não tinha muita afinidade comigo, mas se sentiu muito feliz em ser escolhida. Olhou para mim de ponta cabeça e eu sorri olhando para a fêmea de grama. Olhei para os dois treinadores que estavam comigo e sem dizer uma palavra, apresentei meu Pokémon. A fila andava um pouco, o que era normal, lotando cada vez mais o restaurante. E o pior — ou melhor, depende do ponto de vista — era que ninguém saía de dentro do estabelecimento.

- Ninguém sai de lá. A comida deve ser muito gostosa aí dentro. - constatei - Será que vai demorar para a nossa vez?

OFF - fiquei na casa da vovó, e agora só tenho o celular pra postar até que eu volte pra casa. Desculpa a demora sz

As patinhas grudentas de Treecko se enlaçavam no meu cabelo rebelde, talvez ele fosse mais pegajoso até que as patas da lagartixa. Ficou deitado na minha cabeça enquanto percebia olhares de Sarah e Clark, que admiravam o inicial do tipo grama que eu havia escolhido. Após meu comentário sobre ninguém estar saindo daquele estabelecimento, percebi que realmente aquele restaurante era dos bons. Clark somente o elogiava, e vindo de um senhor daqueles, coisa ruim não deveria ser. Respirei fundo sabendo que em minha primeira aventura estava me metendo em lugares legais, o que somente me animava.

Avançamos na fila até que uma moça com idade entre os "inta" e "enta" controlava a entrada e saída. Esperamos alguns instantes até que nossa entrada foi liberada, e sem pensar duas vezes, entramos. Estava havendo um round daquela competição, onde três cozinheiros sabotavam a receita do outro, cozinhavam com ajuda de seus monstrinhos e ao fim eram julgados. O fim daquele round terminou com vitória de Beautifly e sua treinadora. Os três cozinheiros entraram numa sala sem acesso de visão dos espectadores, o que eu achei muito estranho. Meu senso de desconfiança dizia que alguma coisa legal — ou nem tanto — estava por lá.

Tendo vaga para uma nova competição, eu, Sarah e Sr.Clark pudemos entrar naquela cozinha competitiva. Recebemos aventais, coloquei ao redor do pescoço e amarrei uma parte na minha lombar. Treecko continuava na minha cabeça. Sarah e Clark tinham agora seus Pokémon fora da Pokéball, e para minha surpresa, eram iniciais de Hoenn. Sarah estava junto de um simpático Mudkip, e Clark, de um misterioso Torchic. O homem careca e barbudo anunciava nossa receita, e era uma famosa e suculenta torta de Oran Berry. A fruta era famosa por ser amarga, mas nada que o açúcar não pudesse resolver.

Com a receita e o modo de preparo disponíveis, além de um carrinho que Treecko tinha em posse, a competição iria começar. Sarah e Clark comentaram alguma coisa amistosa, e o máximo que consegui falar foi:

- Ta tudo de boa. Vamos começar. - e dito isso, tudo poderia se iniciar.

Para começar, meu plano era simples: me aproximaria ao máximo permitido e deixaria todo o trabalho para Treecko. Os Pokémon eram inteligentes e sabiam o que fazer, mas não custava nada falar o que deveriam pegar.

- Você vai conseguir pegar todo os ingredientes, o máximo que pode pesar são dois quilos. Use o Pound para bater no saco de farinha para atrasar seus adversários. Tente ficar grudada em alguma coisa fixa para não ser arremessada. Use toda a sua agilidade, e se alguém se aproximar, bata com a sua cauda o mais forte que conseguir! Chegue aqui o mais rápido possível para que possamos cozinhar! Conto contigo, garota!

E esperaria Treecko fazer o seu papel, torcendo para que Mudkip e Torchic não tivessem poder o suficiente contra o meu Pokémon. Tudo estava esquematizado em minha cabeça, bastava esperar Treecko trazer os ingredientes e então seguir a receita.