[Evento] I do believe in Fairies.

Antes de pousar em Sootopolis eu tratei de me disfarçar fechando o casaco até a gola e usando também um boné para esconder o cabelo, bem como óculos escuros. Tropius já me deixava na lateral do teatro para não ter a necessidade de andar mais que alguns passos até a entrada do edifício. Lá, me apresentava como Thito, informando que desejava participar do evento na companhia dos meus três Pokémon Fadas, sendo eles, Eros, o Sylveon, Sakura, a Clefable e Hamtaro, o Dedenne.

— Preciso escolher contra qual reino atuar? - questionava o responsável pelas inscrições, já tendo minha escolha feita, caso a resposta fosse afirmativa.

Me sentia exposto parado ali sem alguma fantasia, mas as que tinha chamariam muita atenção e isso era algo que estava tentando evitar, pois alguns conhecidos estariam provavelmente estavam pelos arredores do teatro sootopolitano.

Nem esperaram que eu tirasse todas as minhas dúvidas e já me arrastavam para o interior dos bastidores, me deixando em um camarim à mercê dos figurinista e maquiador. Como eu faria um personagem do reino das fadas, queria algo que combinasse com as cores deles, que em geral eram em tons rosados. O responsável pela vestimenta me apresentou alguns modelos de quimono, mas nenhum de meu agradado, até que um belíssimo me lembrava meu Sylveon pelos detalhes azuis e a grande parte rosa, e também uma parte amarela, que faria par com Dedenne. O conjunto faria por consequência jus à Clefable também. Já estava com a roupa quase toda completa, e ainda no processo de maquiagem, quando uma assistente veio me entregar o roteiro, dando as maiores informações, como, por exemplo, que eu ser um dos comandantes, tendo certo destaque na peça e tendo que decorar aqueles papéis em dentro de 30 minutos.

Eu me assustava com a grande massa de conteúdo que acabava de receber. Parecia muito e ao mesmo tempo eu sentia a necessidade de saber mais. Começava a ficar nervoso, tendo somente agora a consciência de no que estava me metendo. Eu devo ter começado a tremer, pois Eros entrelaçou uma de suas fitas no meu braço direito e sorriu como só ele sabia fazer. Meu coração se aquietou por um instante e entendi que estávamos juntos até o fim. Sakura e Hamtaro se aproximavam também e me contagiavam com alegria, passando sua confiança em mim.

— Pode fazer um penteado samurai meio desleixado atrás e deixar uma franja cobrindo o lado esquerdo? - disse ao estilista, estando eu mais tranquilo.


Aparentemente pronto - assim como meus Pokémon-, eu caminhava de um lado ao outro no camarim relendo as falas e tentando decorar as palavras chaves e os momentos principais para não passar vergonha como Thito. Era engraçado encenar com um personagem que existia somente em ambientes artísticos. Talvez engraçado não fosse a melhor palavra, mas naquele momento parecia ser.

E então soou o sinal que a assistente de palco tinha falado. Houve uma movimentação no setor dos camarins que me obrigou a seguir o fluxo, mesmo não sabendo para onde estava sendo levado. Tive que deixar o roteiro para trás, assim como a Clefable e o Dedenne, pois só me permitiram aparecer com uma das três fadas nesse primeiro momento. Ouvi a voz do narrador e relacionei com o texto que li. As cortinas se abriam aos poucos e as luzes acendiam, revelando a peça que já tinha iniciado.

Mantive uma expressão séria no rosto, assim como todo comandante deveria ser. Dei-me o luxo de vislumbrar o magnífico trabalho dos cenografistas para representar o reino das fadas com sua luz e esplendor na convivência com a natureza. Meu coração sentiu-se patriarcal ao vale feérico.

Pois bem, a cena se dava na praça central do reino, onde a warlord faria um anúncio público muito importante. Meu personagem estava junto dos outros soldados da linha de frente aguardando até que a atriz que representava a figura máxima do reino apareceu, subindo no palanque montado especialmente para aquele momento. Ela olhou para todos e começou seu discurso, revelando o que notoriamente todos já sabiam, entretanto, revelava o que Avia havia feito e que nossas tropas revidariam qualquer ataque. Até mesmo que isso significasse mortes sobre o solo sagrado de Senkyo.

Após a ovação do discurso feito pela warlord, tanto dos atores como da plateia emocionada, um holofote jogou sua luz sob meu personagem. Eu deveria expor o medo em relação ao que estava por vir e orgulho por estar me doando para a proteção daquela terra, visto que quando um homem ou mulher se torna parte da força militar, lutar por seu reino é uma honra e morrer defendendo este é uma maior ainda. Sendo assim, fiz um momento de silêncio, encarando o público que me assistia com a expressão de maior preocupação que podia, pensando num comandante que lideraria guerreiros e guerreiras para sua glória ou perdição. Minha concentração estava toda no braço que mantinha contato com meu fiel Sylveon, que não permitia que eu perdesse o controle. Suspirei e olhei para a Fada e comecei minha fala fitando Eros.

— Guerra nunca é a solução! Não há vitória honrosa vinda da destruição e derramamento de sangue... - fiz uma breve pausa e olhei para o alto desta vez, indicando minha preocupação com o que vinha de cima - Em breve nosso inimigo descerá dos céus causando pânico e desordem. É o nosso dever manter todos os cidadãos seguros e impedir que essa ameaça avance. Por Senkyo vamos lutar e fazer eles recuarem num passe de mágica! Eu, Matito Samonji, juro por Ransei com minha vida que vamos!

Ao final, desembainhava a espada da bainha com a mão que estava ocupada segurando-a, e a brandia para o alto. Esperava que tinha desempenhado bem essa primeira parte, apesar de ter saído um pouco do script.

A alma de Senkyo permaneceria viva enquanto seus cidadãos acreditassem na tropa e na Warlord. Assim como por muito tempo as criaturas que rodeavam das vilas, Fadas, morriam por falta de fé dos descrentes. Contudo, no tempo atual da peça, elas eram nossos maiores amigos, sendo uma convivência bem pacífica e de mútuo respeito com a natureza e o outro. E meu laço com Eros permitia passar muito disso, visto que as pokébolas não existiam na história. Era escolha do Sylveon viver com Samonji. Assim como os companheiros dos outros soldados.

Enfim a warlord dispersava os civis e convocava as tropas para seus respectivos postos. Eu já estava quase dando o primeiro passo para o portão principal, quando Sylveon interrompeu meu movimento e apontou para cima com um dos laços, seguindo com o roteiro, me fazendo ser o único oficial parado ali, olhando para o que parecia ser nada, quando um outro chegou até mim e me questionou o que olhava, após me lembrar onde eu deveria estar. Meu olhar permanecia fixo no holofote quando disse:

— Acho que o inimigo não vai entrar pela porta da frente, comandante. - segurei firme na espada, querendo estar errado, mas era o que provavelmente aconteceria. - Por Xerneas, como não vimos isso antes? Avise a Warlord! Avia está vindo com seus aliados pelos céus.

Era realmente provável, mas também podia ser uma distração... Não sabia bem se devia me mover ou seguir para o posto indicado, mas como era para onde meu personagem deveria ir, comecei a caminhar na direção do portão principal, mas visivelmente ainda preocupado com o que se aproximava de cima.

Por mais que rezasse, minhas orações não foram ouvidas. Contudo, não fazia uma expressão de surpresa, apenas de tristeza. O massacre começou de forma desonrosa. Segurei forte em minha espada e ao invés de seguir para o portão principal, voltei a seguir para as vilas das casa, afins de acudir aos civis.

Antes que eu pudesse chegar a algum lugar, um guerreiro montado num Pokémon alado se pôs diante de mim, impedindo que eu prosseguisse, apontando uma das flechas na minha direção. Seu erro foi me dar tempo para reagir.

— Só voltarei a sonhar quando meu povo estiver em segurança. Parceiro, cegue-o com Dazzling Gleam! - dito isso, abaixaria para que, mesmo ofuscado pela luz mágica da Fada, ele não tivesse a chance de disparar contra mim.

Eu poderia ter investido contra ele e atacado o ator, mas pensei em algo melhor. Por isso, saí por um dos lado e ajoelhei diante do cenário fazendo uma prece.

— Fadas que vivem conosco em comunidade neste bosque, peço com toda humildade que emprestem seus poderes ao valente comandante Samonji, que aceitou a missão de defender o reino até o último suspiro.

Nesse momento, duas criaturas se revelaram. Eram elas uma Clefable e um Dedenne. Estavam ambos visivelmente assustados com os ataques, mas concordavam em ajudar. A Clefable se aproximava com as mãos juntas, como em oratória, e o Dedenne subia no uniforme e parava no ombro esquerdo. O Sylveon não se importava com a presença de seus semelhantes, olhava apenas para o caos que se instalava em Senkyo.

— Vamos proteger nossos cidadãos. Clefable, use seu Protect sempre que puder. Dedenne, encontre crianças e idosos que precisem de auxílio. Parceiro, temos que continuar detendo nossos inimigos.

Pelo visto, Thito estava se saindo bem como ator, apesar do roteiro não estar sendo seguido de forma severa. Pensava assim porque não ouvia barulhos que não fossem pelos sons do caos que acontecia ao fundo pela invasão de Avia à Senkyo.

Eros e Sakura já eram conhecidos nos Contest, mas poderia ser uma surpresa para os fãs de plantão por aparecer um Dedenne como a terceira Fada. Contudo, logo após que eles surgiam para lutar ao lado do comandante Matito Samonji, eu era empurrado pelo Sylveon que levava uma investida em meu lugar. Revoltado, olhava para a causa disso tudo e me recompunha, indo acudir meu parceiro, dizendo:

— Estúpidos são vocês por subestimarem as Fadas. Eu acredito no poder delas e vou te mostrar. - nesse instante olhei para Elétrico e fiz um sinal com a cabeça - Dedenne, por favor, nos empreste sua luz! Charge e Parabolic Charge!

Talvez Matito não soubesse, mas eu sabia que Staravia era fraco contra os tipo Elétrico e, mesmo meu Hamtaro sendo bobinho, sua velocidade fazia ele o mais veloz dos quatro ali, e isso incluía o Voador. Só torcia para que ele acabasse com o oponente em um só turno, pois meu personagem estava na posição perfeita para avançar sobre o guerreiro de Avia com um golpe certeiro da espada que portava.