(003) - Delicate

Oldale Town, finalmente. Após uma conturbada e extasiante primeira rota, chegávamos na próxima cidade depois de Littleroot, onde iniciei minha tão esperada jornada Pokémon. O caminho até ali ficaria para sempre em minha memória, bem como as marcas no meu pulso aberto e o restante dos machucados pelo corpo. Apesar de tudo, ao menos eu havia conseguido salvar Ralts do incêndio e isso por si só já me deixava incrivelmente feliz.

De roupa trocada e com um longo banho tomado no Centro Pokémon, me sentia como nova. Meus longos cabelos loiros estavam soltos, agora sem qualquer acessório na cabeça, o que deixava minha franja mal cortada mais em evidência e caindo sobre meus olhos. Minhas roupas rasgadas foram para o lixo, dando lugar a outra muda que carregava na mochila: uma blusa social com uma gravata bicolor e um moletom cor-de-rosa por cima, uma saia plissada xadrez e meias seis oitavos que acompanhavam um pequeno salto preto.

Decidi liberar Sushi da Pokéball, que diferentemente dos demais da sua espécie, é um psíquico muito ativo. Sempre que Abra fica preso por muito tempo em sua esfera metálica, acaba ficando agoniado e um tanto aborrecido comigo. Para evitar descontentamentos, busquei sua Pokéball e a joguei levemente para o alto, aguardando a materialização do pequeno Pokémon.



— Bom, podemos parar um pouco pela cidade para treinar nossos pequenos. — voltei meu olhar para a jovem que me acompanhava — Vai que encontramos algum Pokémon por aqui também.

Tábata não parecia muito feliz comigo. Sei que isso tinha total relação com o que eu havia feito mais cedo contra o Zangoose, onde, em um surto de raiva, espalhei sangue das minhas mãos por todo o rosto do mangusto incapacitado. Alguma coisa tomou conta de mim, algo inexplicável, como um sentimento de ódio e uma raiva que eu nunca havia sentido em minha vida, mas que me parecia extremamente intrínseco. Torci para que ela não trouxesse o assunto à tona, já que não tenho muita paciência e sou péssima em discutir relações humanas, principalmente com uma menina que eu acabei de conhecer; para afastá-la de mim devido meu terrível gênio seria muito fácil.

Encostei na parede ao lado do Centro Pokémon e parei por um segundo, pensando no que poderíamos fazer pela cidade. O que será que nos espera por aqui?

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O clima estava ótimo e minha roupa nova era com certeza bem mais confortável que a anterior. Me perguntei internamente o porquê de não ter trocado antes, dando de ombros logo em seguida para essa pergunta trivial. Comecei a observar Abra brincando com Sandygast, daquela maneira boba que ambos gostam: o fantasma engole o psíquico, que por sua vez se teletransporta para fora e todo o ciclo se repete duzentas vezes até cansarem de vez.

— Vocês dois não cansam disso, não? — dei uma leve risada olhando para Abra, que me fitava de volta — Qualquer hora você vai se teletransportar e dar de cara com algo ou alguém, me fazendo passar vergonha.

Continuávamos paradas nas redondezas do Centro Pokémon quando acabei ouvindo um pouco a conversa de dois treinadores que passavam pelo local, chamando minha atenção. Deixei de encostar na parede do edifício para tentar escutar melhor mas logo os rapazes foram embora, me deixando um pouco curiosa sobre o que haviam acabado de falar.

— Tábata, parece que tem um treinador criando um torneio pelas ruas da cidade... — me virei para a garota — O que acha de darmos uma procurada? Acho que será ótimo para nossos Pokémons.

Sugeri, então, de andarmos na direção da entrada da cidade a procura do tal rapaz antes mencionado. Sabia que éramos iniciantes e um tanto novatas nesse quesito, mas após a rota que passamos, acredito que poderíamos encarar qualquer coisa depois daquela experiência de quase-morte. Caminhava lentamente ao lado de Tábata, observando cada ponto daquela pacata pequena cidade: Oldale Town era maior que Littleroot, mas não chegava a ser um cidade tão grande quanto as minhas de origem em Johto.

— Falta pouco para chegarmos na entrada daqui. — olhei diretamente para Abra, que flutuava ao meu lado — Preparado para mais uma batalha, Sushi?

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Apesar da curta distância do Centro Pokémon até a entrada da cidade, caminhávamos em passos lentos contemplando um pouco da pacata cidade de Oldale. Sushi levitava ao meu lado, cada vez mais animado para batalhar. Pensei por um momento que seria uma ótima oportunidade para estrear Ralts em batalha, já que o pequeno psíquico ainda não havia tido oportunidade para tal.

Ao chegar em nosso destino, olhei para Tábata em dúvida, já que não havia qualquer sinal do tal torneio rumorado anteriormente. Tentei procurar por alguma pessoa à vista que pudesse nos ajudar com algum tipo de informação. Ao olhar para minha direita, observei uma pequena senhorinha que pairava sobre sua varanda, aproveitando um pouco do tempo e clima maravilhosos que a cidade proporcionava.

Como em um estalar de dedos, parecia que a senhora lia nossas mentes e logo indagou se precisávamos de alguma ajuda. Como não sou uma pessoa muito social, deixei para que Tábata respondesse a mulher, já que a garota treinadora de fantasmas parecia ser muito mais social do que eu. Esperava de coração que a velha senhora nos ajudasse, já que queríamos muito participar do tal torneio.

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Os dois idosos pareciam não se entender muito, porém me identifiquei um pouco com o homem, já que também detesto interagir com humanos. A relação deles era cômica, me lembrando até mesmo de uma "amizade" que tinha há um tempo atrás. Esbocei um sorriso com a lembrança, mas logo balancei a cabeça para esquecê-la.

Aparentemente havíamos perdido minutos da nossa vida que jamais recuperaríamos: como não pensei que a cidade pudesse ter diversas entradas e saídas? Que erro amador.

— Ah, não acredito... — reclamei talvez um pouco alto de mais — E o pobre do Sandygast acabou de nos alcançar. Coitado.

Sushi riu do meu comentário e logo passou a flutuar do lado do fantasma, tentando dar apoio moral ao montinho de areia. Olhei para Tábata e fiz um sinal com as mãos de seguirmos logo viagem, afinal, não queria chegar atrasada no torneio e perder minha vaga. Abra estava ansioso para batalha, assim como sei que Ralts adoraria participar também. Pensando nisso, achei melhor incluir o pequenino psíquico de uma vez, que por ser leve, eu poderia carregá-lo no colo.

— Mochi, vamos, quero que você aproveite esse clima ansioso e maravilhoso junto de todos nós. — procurei em minha bolsa e empunhei a Pokéball do mesmo, jogando-a para o alto segundos depois.

Após o grande feixe de luz proporcionado pela esfera metálica, Ralts se materializava no chão, sem entender muito bem o que estava acontecendo. O Pokémon tirava sua pequena "franja" esverdeada da frente do rosto e me fitava com seus olhinhos cor-de-rosa. Meu coração se enchia de ternura mais uma vez; tenho absoluta certeza que não haverá uma vez na vida que eu não ficarei encantada com o olhar dele. É simplesmente muito fofo.

— Mochi, esse é seu nome daqui pra frente, tá? — peguei-o no colo enquanto o mesmo sinalizava que sim com a cabeça — Agora vamos, já estamos mais do que atrasadas.

Comecei a caminhar rapidamente na direção que o velho senhor apontou, acompanhada de Tábata e nossos Pokémons que pareciam tão animados quanto eu. Sabe-se lá se poderíamos ao menos nos inscrever no torneio, mas esperava que sim.