(003) - Delicate

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A sorte parecia estar do meu lado dessa vez. Depois de uma sofrida disputa contra Kyle, derrubei dois Pokémon de Tábata somente utilizando Kadabra, que parecia extremamente feliz com as duas vitórias seguidas. Agradeci o psíquico recém-evoluído por todo seu esforço, retornando-o imediatamente antes que a treinadora de fantasma jogasse Sandygast em campo. Empunhei a esfera bicolor de Mochi, apostando todas minhas fichas que o pequeno conseguiria, mesmo que dificilmente, derrubar o montinho de areia adversário.

— Mochi, é sua hora de brilhar! — joguei a Pokéball para frente, de onde após um feixe reluzente, se materializou Ralts — Comece com dois Confusion! Não tente controlá-lo, apenas envie ondas psíquicas!

A estratégia de partir pro ofensivo aqui não funcionaria muito bem já que o fantasma de Tábata era sempre muito resistente em batalhas. A ideia era ver o quanto ele sofreria com os ataques de Ralts e como se comportaria em campo, esperando que desse tempo de bolar alguma outra coisa para derrubar o tanque de guerra de areia.

Tábata me cumprimentava do outro lado do campo e parecia me deixar ainda mais dividida sobre toda a batalha. Estava feliz por Kadabra, é óbvio, mas minha conexão com a treinadora de fantasma aumentava a cada minuto que passávamos juntas. Quem diria que aquela garota cantando no início da jornada hoje eu consideraria minha melhor amiga? Claro, eu queria vencer. Não só isso, eu PRECISAVA vencer, minha ida até Sootopolis para participar do Contest amanhã dependia exclusivamente disso. Balancei a cabeça na intenção de esquecer esses pensamentos e voltei a focar no embate, Mochi claramente tinha um enorme desafio pela frente.

A desvantagem em tipagem parecia parecer mais clara agora. Mochi era supreendido pelo primeiro ataque de Khaki, que lhe causava um enorme dano. Sabia que estaria em uma situação complicada, mas dos três Pokémon que possuo, Ralts era o único que poderia tentar lidar com Sandygast de maneira mais efetiva. Kadabra já estava cansado e Zangoose sequer conseguiria encostar no fantasma de areia, além do fato de não nos darmos bem: não sabia nem se ele me obedeceria em batalha. Não sabia o que fazer e foi quando minha cabeça começou a ficar confusa. O nervosismo começava a tomar conta, meu semblante mudava por completo e minhas pernas começavam a tremer como dois hashis: não tinha como eu ganhar de Tábata. Era impossível.

— Mochi, sei que é difícil, mas repita os dois últimos movimentos. — disse com uma voz chorosa, já sabendo o que o destino reservava para meu time.

Kyle me assistia e eu olhava para o jovem com os olhos tristes, prestes a lacrimejar. Não queria decepcioná-lo já que o venci dizendo que ganharia esse torneio inteiro, mostrando para ele que a jovem moradora de rua que ele conhecera anos atrás havia se tornado uma exímia treinadora de Pokémon psíquico.

Voltei meu olhar para a treinadora de fantasmas; Tábata, tanto quanto eu, parecia estar em dúvidas sobre a batalha que se desenvolvia ali. Minha amizade com ela jamais ficaria abalada por conta de um embate honesto como esse, mas não poderia esconder a tristeza de não só perder, como a de não ter dinheiro para participar do Contest que aconteceria, literalmente, do outro lado do mapa.

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Acho que nunca havia sido tão pega de surpresa assim na minha vida. Tábata desistia e eu sentia dentro de mim que fora por causa da nossa amizade. Mochi olhou para ela e logo em seguida para mim, orgulhoso da relação que eu e a menina construímos em pouquíssimo tempo, algo que realmente valeu a pena ter sido cultivado. Se eu não tivesse deixado de lado por um momento meu orgulho algumas horas atrás, sequer seríamos amigas agora. Incrível.

— Tábata... Obrigada. — meus olhos encheram de água assim como a da treinadora de fantasmas e a abracei mais uma vez — Ninguém nunca fez isso por mim e serei eternamente grata.

E realmente seria. Vivendo nas ruas, poderia contar nos dedos quantas foram as pessoas que me ajudaram desde a morte dos meus pais até eu encontrar Arnold, o senhor que me acolheu e me deu o Sushi. Foram árduos anos, mas hoje eu prevalecia sobre todo obstáculo que havia passado por mim, criando laços com uma pessoa incrível e de coração enorme como a Tábata. Sei que não deve ter sido fácil para ela, mas uma atitude assim realmente deve ser vista como uma das coisas mais altruístas que eu já presenciei na vida.

Kyle agora me cumprimentava com um sorriso maldoso e eu o surpreendia com um abraço apertado. Envolvi meus braços em suas largas costas e deitei minha cabeça no seu peito. Corei imediatamente, claro, mas não poderia deixar passar esse surto de felicidade que corria pelas minhas veias; se não o abraçasse agora, talvez não o faria nunca mais. Eu havia sido muito estúpida com ele e por mais que o rapaz fosse difícil de lidar, não merecia essa frieza toda.

— Sousuke... — dizia para quebrar o gelo e talvez deixa-lo irritado — Você e seu Vulpix cresceram muito, estou muito orgulhosa.

Nossos caminhos talvez seguiriam a parte daqui pra frente, mas tinha certeza que ainda o veria futuramente. Virei-me e o organizador se aproximou de mim com o prêmio do torneio, dando um valor em dinheiro e dois outros prêmios interessantes, que sem dúvidas seria de bom uso para meus psíquicos. Tábata e Kyle receberam seus prêmios também. Eu tinha um sorriso de orelha a orelha estampado pelo meu rosto, não me sentia contente assim há muito, muito tempo.

Abracei Mochi que me pedia colo e olhei para cima, respirando o ar puro que Oldale Town me providenciava e fechei os olhos pensando imediatamente no orgulho que minhas falecidas mãe e avó sentiriam se me vissem agora. Claro, não era como se eu tivesse ganhado a Elite dos Quatro mas conquistar algo assim não estaria nem nos sonhos da garotinha que vivia em uma palafita em Cianwood. Uma lágrima escorreu dos meus olhos até meu queixo, onde Ralts a secou com sua pequena mãozinha esquerda.  

Era hora de decidir o que fazer e minha intenção era correr para Sootopolis e participar do incrível Contest que aconteceria por lá. Não poderia achar que chegaria lá arrasando depois de ganhar um torneio tão pequeno como esse, mas claramente me deu a coragem de tentar.

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