Pokémon Mythology RPG
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Capítulo 23 - Desbravando a Tormenta [Luch]

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descriptionCapítulo 23 - Desbravando a Tormenta [Luch] - Página 5 EmptyRe: Capítulo 23 - Desbravando a Tormenta [Luch]

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— Carvanha, Bite e Assurance. — Ordenou o maquiado. Pelo menos por uma única rodada, fosse pro falta de criatividade ou por mera vontade repentina de quietude, o rapaz se reservou ao direito do silêncio, o olhar se desviando para o pokémon do unoviano sendo substituído e, diante do fato, um breve sorriso de canto foi sua grande reação. A velocidade superior do peixe era mais que suficiente para que ele agisse antes que a quadrúpede e, em saltos engraçados, o tricolor investiu contra a gramínea e aplicou-lhe uma forte dentada que, felizmente, não a impediu de agir. Concentrando todas as suas energias, Ume envolveu seu adversário com uma forte lluz esverdeada que sugou toda a sua vitalidade de uma vez só, e fê-lo cair em nocaute.

Status:
Nocauteado
Hold Item:
---
Trait:
Speed Boost

Lv.19 Carvanha


00/46
Capítulo 23 - Desbravando a Tormenta [Luch] - Página 5 Carvanha
Capítulo 23 - Desbravando a Tormenta [Luch] - Página 5 Ivysaur
Lv.23 Ume


60/60
Trait:
Overgrow
Hold Item:
Miracle Seed
Status:
Normal

Campo: Um pequeno corredor que desemboca em uma ampla sala iluminada por tochas. Há uma pequena fonte em seu centro.

— Ah. Acho que piranhas não duram muito mesmo, afinal. — Murmurou, recolhendo o nocauteado para dentro de uma esfera bicolor. Naquele instante, o olhar se desviou brevemente na direção para onde o grandalhão havia saído mas felizmente para Valassa, não parecia que voltaria tão cedo.

Hora da Experiência! escreveu:
Roserade recebeu 2040 de experiência por vitória contra Golbat e derrota contra Carvanha e ganhou 2 pontos de felicidade, subindo para o nível 27.

Dwebble recebeu 1470 de experiência por vitória contra Golbat e ganhou 4 pontos de felicidade, subindo para o nível 20.

Ivysaur recebeu 1140 de experiência por vitória contra Carvanha e ganhou 2 pontos de felicidade.


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O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?
Capítulo 23 - Desbravando a Tormenta [Luch] - Página 5 Zeu0QEE
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Já estava farto daquela batalha e não aguentava ouvir sequer a voz do rapaz que enfrentava. A ansiedade, o nervosismo, o ódio, tudo transpassava meu corpo como um relâmpago e a única forma de dissipá-los era um tique com os dedos que fazia com a mão direita, terminando de abrir e fechá-los, além de estalar e ajeitar me próprio ombro. Deixei que o adversário falasse à vontade e quando o vi trazendo seu Pokémon para a cápsula e olhando para trás em busca de reforços, não resisti a deixar um sorrisinho formar-se em meu rosto, enquanto caminhava já na direção do garoto, silenciosamente. Dei uns bons passos e retirei a mochila das costas, tocando alguns objetos que haviam dentro dela, conforme me aproximava da fonte e do oponente. Ao meu lado, Meo-Mey - que fiz questão de chamar para meu ombro com um gesto rápido de mãos que ela já conhecia muito bem - quando já mais próximo do rapaz, dei um comando à felina

— Mey... É a sua vez... Vamos começar de Fake Out nesse imbecil? — Questionei a felina, retirando uma lâmpada já sem óleo, que havia usado no Evento da Wallace Cup. A segurei com apenas uma das mãos, ao lado do corpo, enquanto jogava a mochila de volta em meu ombro. Era provável que o homem fosse fugir, mas confiava em Mey e na prioridade de seu ataque, sempre certeiro. Em seguida, recolhi cada um dos Pokémon ainda fora da suas cápsulas, incluindo a Meowth, imediatamente agitando no ar a lâmpada logo depois, tentando acertar diretamente sobre a lateral da face do - provavelmente hesitante oponente. Se tivesse sorte, acertaria não apenas o rosto, mas também sua orelha e junto do golpe anterior lançado pela Pokémon, era provável que o deixasse sem reação o bastante para empurrá-lo para trás na direção da fonte — Que tal você conversar comigo um pouco mais sobre essa tal de Natalie... Talvez tenha algo para dizer sobre o "Kyogre" também, não? Vamos passar o tempo até seu amigo voltar. Que tal?

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Àquela altura, talvez fosse possível considerar que a pesadíssima e sombria atmosfera que rondava pelos túneis escuros do Monte Pyre também fosse uma influência mórbida ao comportamento de Valassa além, é claro, das constantes provocações feitas por Jean. Se parassem para prestar muita atenção e cedessem ao silêncio absoluto, arrisco dizer que os trovões que anteriormente se ouviam eram aos poucos substituídos pelos sussurros distantes e quase inaudíveis dos fantasmas que ali habitavam, que sopravam encantos viscerais e ódios sem sentido àqueles que se dispusessem à escutá-los - e quem sabe se, em seu íntimo inconsciente, o moreno não se entregava de braços abertos às perdições amaldiçoadas daquele cemitério?

Fosse como fosse, tudo aconteceu muito rápido assim que a batalha travada encontrou seu forçado fim. A felina, já posicionada no ombro de seu treinador e parceiro, só precisou que o rapaz desse as ordens - e era difícil saber se sua reação imediata foi por conta de lealdade, amargor diante de todas as palavras do desconhecido ou simplesmente tudo junto - antes que usasse sua clavícula de apoio para o impulso do salto. Veloz como uma verdadeira felina (e talvez até um pouco mais, com determinação), Meo-Mey aterrissou com as patas dianteiras num forte impacto contra o peito do Aqua, e o utilizou de base para um rápido reposicionamento, que utilizou para apoiar as patas traseiras em seu peito e empurrá-lo para trás - e para baixo - antes de pousar no chão ladrilhado outra vez.

A força e agilidade do movimento foram suficientes para subjugar o rapaz e o atirar em direção à fonte; Uma queda de mal jeito e o baque da coluna contra as pedras baixas arrancaram-lhe um gemido de dor sufocado na garganta - e foi nesse momento que os pokémons de Luch foram recolhidos, um por um. O moreno não se demorou, então, à arriscar uma abordagem mais agressiva, arremessando a pesada lamparina metálica na direção do caído: Porém, um rápido movimento para o lado - talvez pela adrenalina do momento, mas que rendeu outro som sofrido entalado na garganta e fê-lo apertar as pálpebras por um instante, talvez por algum efeito da pancada da queda - fez com que o objeto atingisse a parte central da fonte com um sonoro "PLÉM!", antes de virar para o outro lado e cair nas águas da fonte, espalhando uma razoável quantidade de água no processo.

Ao contrário das tantas coisas que poderia ter feito naquele instante - fosse uma tentativa de fuga, ou até mesmo de implorar pelo próprio bem-estar -, optou pela mais frustrante: Riu. Gargalhou, aliás, como se ouvisse a melhor piada do mundo! O rapaz balançou a cabeça de um lado para o outro em negativa, e foi com uma expressão de desafio que encarou seu possível carrasco, um sorriso torto despontando do canto dos lábios.

— Ou o quê? — Intimou, estreitando brevemente o olhar. — Vai arrancar de mim? Você, e toda essa sua pose patética? — Emendou, ácido. — Ou é só pra ter certeza se sua namoradinha escapou ou não? Porque eu posso ter más notícias pra você... — Acrescentou, o sorriso aumentando vagarosamente, com um "quê" de sadismo explícito no olhar. Era certo que aparentemente não tinha vantagem naquela situação mas, ao mesmo tempo, não parecia querer simplesmente "dar pra trás"...

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Talvez fossem realmente os sussurros que ecoavam por cada centímetro de terra, cimento e ar do Mt. Pyre que estivessem me fazendo agir de modo tão estranho e agressivo, mas provavelmente era muito mais do que uma simples sugestão fantasmagórica que me movia na direção do debochado rapaz com sede de sangue. Talvez, eu sentisse dentro de mim desde sempre a vontade de descontar muita coisa em terceiros e apenas não tivesse coragem de suplantar minhas noções de moral para pôr em prática o desejo. Entretanto, o encontro da vontade reprimida com desvio moral de outrem, pareciam ingredientes perfeitos para uma atitude dita imoral. Ele merecia? Quem sabe... A vontade de agredir fluía por mim como um rio de águas fortes e me movia como a uma roda d'água incansável em seu trabalho. Meo-Mey havia sido perfeita em sua função, atacando o homem e o jogando para a fonte, mas o excesso de movimentação dele na queda, fez com que minha segunda investida fosse completamente furada. A lâmpada pesada que eu segurava foi parar na fonte, levantanto água para todos os lados e indo direto ao fundo. Além do mais, o canalha ainda tinha a ousadia de gargalhar. De nervoso, quem sabe? Ou realmente acreditava que eu nada podia fazer contra ele, que agora estava "desarmado".

— Você ainda não está respondendo o que eu quero... Talvez precise de um incentivo a mais... — Comentei, fazendo uma expressão de desapontamento, como um pai que vê o filho seguir por um caminho completamente oposto ao dos seus ensinamentos — Assim vai deixar meus Pokémon cansados de ir e virem tantas vezes... — Complementei, retirando mais uma vez a esfera de Mey da bolsa e segurando-a em mãos. Observei a posição do rapaz, recostado na fonte e só tive um pensamento em mente. Para tal, Mey seria a ideal em me auxiliar como deveria. Se funcionasse talvez conseguisse a informação que eu queria ou quem sabe, me deixaria sem informação alguma se perdesse a mão — Mey, perdão por incomodá-la de novo. Mas o colega aqui não quer nos ajudar a achar a Naty... Será que com um Thunderbolt ele abre a boca? Vamos ver... Use o golpe nesse retardado para ele dizer algo mais interessante, nem que seja gritar de dor... — Ordenava à Meowth, assim que a deixasse sair da cápsula. Não gostava de saber que meus Pokémon participariam desse meu lado, mas eu tinha a confiança de que de todos os meus companheiros, ela era a que mais pensaria igual a mim. Não é à toa que sentiu o tom de voz depravado do homem ao falar de Natalie e logo me olhou, indignada.  

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Independente do nível de autocontrole que possa residir na consciência de uma pessoa, sempre existe um ponto de ruptura. Para alguns, existem a força de resistir à praticamente qualquer nível de provocação; Para outros, o mais breve dos comentários é suficiente para que ele seja alcançado. Por fim, existem aqueles cuja pressão sobre determinado assunto pode ser necessária, mas basta para que os limites de uma moralidade ilusória sejam dispersos com a mesma suavidade e a delicadeza que possuem pétalas de dente-de-leão ao vento. Neste exato instante, é seguro afirmar que o unoviano pertencia à esta última categoria e, infeliz ou até mesmo felizmente, a descoberta do fato era... Recente. Tudo, desde companhia até ambiente e mesmo situação - tudo corroborava para que seu apego à ética se desfizesse em cinzas, como um esqueleto secular que se transforma em pó diante do toque mais sutil.

Nas estranhas do Monte Pyre, sua atitude começava, passo após passo, a se tornar visceral.

No início, o sorriso cínico se mantinha pintado no rosto, por mais leve que fosse e, diante da tosca abordagem inicial do moreno, ele apenas cresceu. Jean balançou a cabeça em negativa, suave, e também movimentou os ombros, desconfortável, e deixou escapar um baixo pigarro divertido enquanto processava as palavras de seu - mal sabia ele - breve carrasco. Talvez, de fato, não acreditasse que Valassa teria a pachorra de fazer promessa de suas palavras - ou talvez fosse simplesmente insano ao ponto de reconhecer, mas ignorar tal possibilidade.

— Quem você acha que é, pra tentar exigir ou não respostas de quem nem conhece? — Foi sua primeira pergunta - e a única que teve permissão de fazer antes que a felina se materializasse outra vez no ambiente. Ao encontrar a liberdade da esfera que a aprisionava, a postura da espécime de pelagens claras era naturalmente ofensiva, principalmente levando em consideração a situação na qual seu treinador a havia recolhido e ao delinear Jean ainda em seu campo de visão. Ao ouvir as ordens de Luch, suas orelhas se movimentaram com suavidade; Por um instante único, sua cabeça se virou um pouco para o lado para que pudesse encarar a imagem do moreno de rabo-de-olho e, em silêncio, seus olhos questionaram a atitude do rapaz.

...Porém, não contestou. Não teria tempo para fazê-lo nem se quisesse, considerando a rapidez com a qual a atenção se voltou outra vez para o outro largado contra a fonte, quase na mesma posição em que o havia deixado. Uma contra a outra, suas patas se esfregaram; Naquele milésimo de instante, o jovem de trajes listrados chegou a abrir a boca - para mais um de seus venenos ou até mesmo uma contestação, quem sabe? -, mas nada saiu. Como já bem pontuado, faltaram-lhe segundos: A corrente elétrica foi disparada na direção do rapaz e, num estalar de dedos, recobriu e envolveu-lhe.

O Aqua sentiu; E não teria como não. A reação natural de seu corpo foi instantaneamente contorcer-se - seus músculos enrijeceram, e a mandíbula trincou ao passo que as pálpebras se apertaram. Apesar de teoricamente Meo-Mey não fosse um dos melhores companheiros ofensivos, seu uso contra seres humanos trazia uma força completamente desproporcional ao estrago que normalmente faria. O efeito visual instantâneo se desenhou quando os cabelos cederam ao frizz, mas isso não impediu que a gatuna mantivesse sua energia à pico. O calor causado pela voltagem também foi o responsável por fazer com que a maquiagem dos seus olhos derretessem de maneira parcial, escorrendo em linhas escuras pelas laterais de seu rosto.

A Meowth persistiu, e foi quando arrancou seu primeiro grito, fato que pareceu satisfazê-la - ou apenas seguia as ordens de treinador, pois foi pouco após isso que suas patas se baixaram e o raio se dissipou. Como se fosse uma marionete abandonada pelo titereiro, o corpo do rapaz "afundou" ainda mais na direção do chão, torto, a respiração ofegante e pesada diante da ofensiva da inicial. Por todas as áreas desnudas, era possível enxergar a cor vívida das veias que saltavam sob a pele, tal como as manchas avermelhadas que se espalhavam por seu corpo. As pálpebras caídas, os braços sem força aparente - o silêncio.

E então, um riso fraquíssimo que ousou emitir entre os ofegos pesados, pausado. O tronco pendeu para frente, e os cabelos tombaram junto, antes que arriscasse erguer parcamente o olhar na direção do unoviano, nublado; A mesma sombra do irritante sorriso que tanto o tirava do sério, e já era difícil de saber se ele brincava com a própria vida ou se tinha uma confiança inabalável, independente das circunstâncias.

— ...É... — Outro ofego. As palavras pausadas, frágeis, seguiram mesmo assim: — ...É tudo que você tem? — Atiçou, movimentando a cabeça de maneira a ocultar parte do rosto por detrás da franja bagunçada, mas que ainda pudesse encarar o rapaz. — ...Patético, como eu dizia. — A voz era rouca, por justa causa. — ...Você é absolutamente inútil sem seus pokémons. — E sorriu, como há muito já insistia. — Foi por isso que não conseguiu chegar à tempo pra salvar sua namorada? — Acrescentou, o sorriso pedante desenhado no rosto. — Infelizmente pra você, e eu te garanto... — Outro riso baixo, tão afetado quanto seu próprio dono. — ...Ela já morreu há muito tempo, à essa altura. — Finalmente, palavras sem deboche... Ou quase?

Enfim, talvez não fossem as que o treinador quisesse ouvir - mas ali estavam, independente do fato.
E restava que ele lidasse com elas.

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Mantinha-me sério e compenetrado, até tentava evitar sorrisinhos sarcásticos, porque querendo ou não esse tipo de comportamento não me pertencia, não é mesmo? Não.. é.... mesmo...? Deixar a felina sair de sua Poké Bola foi uma atitude bem fácil reverberando o que meu coração mandava para os meus braços e mãos em forma de desejos sombrios, estalos de músculos, que só eu podia ver, sentir... É. Eu sentia que estava no controle de alguma forma, não acontecia sempre e eu não tinha a mínima vontade de abandonar essa posição. Ele podia fazer-se até de durão, mas todos nós sabíamos que sem Pokémon em condições de combate ele não era mais do que uma marionete diante das vontades daqueles que tinham. Quem poderia me julgar? Quem poderia me acusar?. Um lugar perigoso como esse, com chuva constante e raios tão de repente que podem só te matar e pronto, acabou. Era um cemitério MALDIÇÃO! CE-MI-TÉ-RIO! As pessoas vem aqui porque já estão  mortas, mortas por dentro ou por fora, que diferença faz. Se aquele parceiro demorar um pouco mais, estúpido como era certamente nem se lembrará de mim, ou pensará que fui mesmo uma assombração talvez?. Por que então não ir até o fim? Se uma árvore cai na floresta e ninguém está por perto para ouvir, ela fez barulho ou não? Se um ser humano inescrupuloso é torturado e morre no Mt. Pyre sem ninguém por perto para ouvir ou ver, ele foi assassinado ou só deixou de existir?

Enquanto meus pensamentos brincavam comigo e faziam questionamentos éticos que jamais imaginei fazer, o tal rapaz simplesmente mantinha seu comportamento de sempre, desafiador e cheio de frases tóxicas que deixavam a situação ainda mais deleitante para mim. Sorte minha que por fora eu era apenas uma estátua de mármore, observando a figura chiar e retorcer-se, como uma criatura que foi pega pela perna em uma armadilha de laço. Caso contrário, se Mey pudesse ler-me por inteiro, talvez corresse do Luch que ali existia ou largaria-se de vez nesse véu de morte e sangue que me cobria de dentro para fora, quem sabe? A única coisa de que tinha certeza era que a Meowth não recuaria diante de uma ordem dada. Apesar dos riscos e danos que pudesse causar ela foi em frente e adianta e adiante... E adiante... Um grito! Um grito soltou-se dos lábios do homem, ainda comedido, ingênuo, tímido, parecia brincar comigo e com minha vontade de ouvir mais. Fechei os olhos e agitei minha cabeça como uma onda, de um lado para o outro, como se ouvisse uma música pelos meus fones de ouvido, que na verdade não existiam. Pedia, aguardava, ansiava, mas nada veio. Abri os olhos então e o encarei com as pálpebras pesadas... Ele havia dito algo antes sobre não saber quem eu era para tentar exigir algo de alguém. Mas... Quem eu era mesmo, afinal? Levei então a mão até o pescoço e toquei minha própria tatuagem, mas nada senti. Estranho...

Com um olhar perdido, observando o nada distante a alguns metros de mim, para o lado contrário do rapaz, fiquei um pouco pensativo. Deixei que ele se expressasse, era sua vez de falar, de me dar alguma sugestão, dica. Parei por um tempo para averiguar. Seu corpo parecia emanar um calor pelo efeito do golpe recebido, não estava bonito, mas qualquer tratamento médico básico conseguiria deixá-lo novinho em folha, quem sabe para mais um dia perturbar um transeunte ou assediar uma menina, seja aqui ou onde é que quisesse estar. Enquanto isso, bravatas e mais bravatas saiam de suas bocas retensas. Ele dizia que eu era inútil sem meus Pokémon e por um instante, quase não aguentei segurar o sorriso. Era o tipo de coisa que alguém em desespero diria para tentar atrair atenção de uma pobre alma apegada aos conceitos de pena e perdão, de honra? Que seja. Afinal, a melhor parte ainda estava por chegar. Mais uma vez ele tentou falar sobre Natalie, mas nada do que eu realmente queria ouvir. Primeiro nas entrelinhas, depois escancaradamente, ele dizia que Natalie devia estar morta. Já estaria morta. Morta. Muitos Poréns contudo. Nem mesmo o "Garanto" podia trazer um voto de confiança para aquela pessoa que encontrava-se a um passo do seu destino final — Acho que... — Comentei, dando uns passos adiante, mas não ficando muito perto, apenas abaixando-me para ficar na mesma altura de seus olhos — Que precisa refrescar mais a sua memória... Faltam tantos detalhes... Está tudo tão confuuuso! Mey, nosso amiguinho quer mais um Thunderbolt! Vamos ajudá-lo? Vamos refrescá-lo?  — Comentei falando baixo, quase sussurrando e depois aumentando a voz, até dar a ordem de forma firme e em alto e bom som, terminando por um sorriso plástico em meu rosto, como se os músculos da face tivessem se contraído involuntariamente. Meus olhos estavam secos, bem abertos, mas não os tirava do homem. Da primeira vez havia me perdido. Será que não quis olhar? Ou só esqueci? Dessa vez seria diferente, queria ver tudo!

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Perguntas, perguntas e mais perguntas - tantas, tontas, margeando e abandonando o senso de ética que pacientemente se aconchegava nos braços do moreno há pouco tempo atrás. Àquela altura, já era difícil afirmar com veemência se o combustível de suas ações era o ódio pelas palavras do homem, a vingança por sua amante ou mera e somente o prazer de ter a condenação de uma vida dançando deliciosamente por entre seus dedos, à mercê de sua própria vontade. As questões que o assaltavam chegavam ao ponto de pôr sua moralidade à prova, porém, como todas as outras que passara e tentara desde sua chegada naquela maldita ala, não foi capaz de conquistar nenhuma das respostas que tanto almejava. A retoricidade de toa a situação chegava a ser doentia, acolhendo preocupações e desejos íntimos de Valassa em seu abraço pútrido, concedendo-lhe embasamento e liberdade para simples continuidade às duvidosas atitudes que tomava em relação ao rapaz largado contra a fonte de água.

Neste ponto, enquanto o olhar do unoviano se perdia ao redor do ambiente, é importante acrescentar alguns detalhes que antes não estavam ao alcance da vista, ao fundo do corredor. Em realidade, não existiam muitas coisas interessantes na arquitetura do cômodo mas, sim, existiam saídas: Duas escadas, cada uma em lados opostos do lugar. À esquerda, os degraus entalhados em mármore seguiam caminho em direção aos níveis superiores e, tal como a área em que estavam, sua subida era acompanhada por tochas alternadas nas paredes e, curiosamente, todas acesas. Já à direita, a descida era clara, um pouco menos iluminada que sua antagonista - e muito menos atraente, considerando que o cume parecia ser o objetivo inicial do treinador. Além disso, é claro, havia a entrada pela qual tinham acabado de chegar, mas que provavelmente estava fora de cogitação no momento.

De todo modo, certamente não era o ambiente que chamava a atenção de Luch, e tampouco o jovem se perdeu nele por muito tempo, visto que tinha algo - alguém - mais interessante bem à sua frente naquele exato instante. Com um grau invejável de sadismo, o criador se deleitava diante da imagem do Aqua contorcendo-se por conta da energia ofensiva liberada por Meo-Mey, contudo, reservou aquele prazer apenas para si, recusando-se à exibi-lo para sua companheira inicial... Pelo menos, em um primeiro momento que logo seria desmascarado por conta das próximas atitudes do moreno.

Isso nos leva ao ponto em que Drac se abaixava na altura de sua presa, como um predador que brinca com o alimento antes de devorá-lo. Ao ouvir suas palavras que também lhe serviam de sentença, Jean não teve muitas reações - mas a única que juntou forças para arriscar certamente sobrepujou qualquer outra que pudesse tentar. Com um fôlego só, o Aqua fez questão de cuspir na cara de Valassa: E, bem, infelizmente (para ele, apenas) não tinha condições de tentar revidar com nada mais; Além disso, sua atitude também foi aquela que desencadeou a obediência da felina ao lado que, ao testemunhar a "agressão" contra o moreno, não parou para pensar se era certo ou errado - e outra descarga elétrica fortíssima foi invocada de suas patas para sufocar o corpo já fragilizado do jovem de sidecut.

A corrente em seu corpo, para dizer o mínimo, com toda a certeza havia sido mais forte que a primeira. Ele gritou, e não foi capaz de conter o próprio som dessa vez; O corpo se contorceu diante da energia imposta por Meo-Mey, para seu próprio desespero e também para deleite de seu torturador, debatendo-se contra as pedras do baixo muro da fonte. Mais linhas negras deslizavam por seu rosto, estragando definitivamente o resto de maquiagem que decorava a área em torno de seus olhos e, em velocidade impressionante, a coloração de sua pele - as partes que faltavam, pelo menos - tingiram-se com um invejável e forte vermelho, como se exposto à horas e horas de sol, e pior: A área inicialmente atingida pelo raio da felina simplesmente foi altamente danificada, e o pedaço de carne viva em que se transformou foi a maior denúncia sobre a queimadura de terceiro grau sofrida - e provavelmente não era a única.

Não é aí que acaba, porém. De perto, também se era possível ver como alguns pedaços das roupas do treinador simplesmente chamuscaram e queimaram ao contato, praticamente carbonizando-se - a própria bandana amarrada no pescoço se soltou e caiu sobre o colo do rapaz, quase que totalmente preta e incinerada. A situação perdurou-se por alguns segundos antes que Meowth optasse por interromper seu "trabalho sujo", e o corpo de Jean se largou quase que instantaneamente contra a parede da fonte, o pescoço pendendo por completo para frente, exaurido. O ritmo respiratório havia sumido quase que por completo - e apenas um olhar afiado seria capaz de reparar a respiração fraquíssima e afetada do rapaz, coisa que certamente não faltava ao criador.

— ... ... ...Ela... — Um fio de voz, então. Exausto, descompassado, rouco. — ...Morreu. — Insistiu. Sem deboche, dessa vez - pois sequer o olhava, talvez sem forças para tal. O corpo tremulava, em ritmo fraco e muito provavelmente involuntário, considerando a maneira como o rapaz parecia evitar demonstrar fraqueza até o momento, independente de sua péssima posição. — ...Você pode... Não querer aceitar, mas... É isso. — Murmurou. Pelo menos de uma coisa o moreno podia clamar vitória: E era sobre como havia arrancado o sorriso do rosto de Jean, por meio da dor ou simplesmente por drenar suas energias. Os músculos tesos eram carimbados pelas veias coloridíssimas de seu corpo, assim como acontecia com algumas marcas sobre sua pele que muito lembravam uma corrente elétrica - as tais Marcas de Lichtenberg. — ...O Kyogre... — E então, admitia ele próprio a existência do lendário, pela primeira vez. — ...Pegou ela, pra ele. — Uma tosse fraca, seca, que cortou-lhe as palavras e, por um instante, sua consciência vacilou - embora, felizmente, não houvesse cedido; Fosse por insistência, ou pelo temor inconsciente de que, caso se entregasse diante do unoviano, muito provavelmente seria a última vez que fecharia os olhos.

Oh, jovem Valassa.
Não te ensinaram que é preciso dosar a força, quando seu objetivo é extrair informações?

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Com o sorriso plástico em meu rosto e o descontrole do restante da musculatura facial, já não tinha mais certeza se Meo-Mey não tinha noção do estado em que eu estava diante dessa seção de tortura qualificada a que me propunha a fazer, ou melhor, que me propunha a ordenar que ela fizesse. Eu sabia que não era a coisa mais correta do mundo, se me é permitido esse ultra-eufemismo, mas sinceramente... Não estava mais ao ponto de me importar! Quem se importaria com esse crápula além de seus parceiros, talvez? Como eu havia dito, ele seria apenas mais uma vítima dos trovões estranhamente "vivos" que assolavam o Mt. Pyre... Isso e apenas isso. Mas enfim, dessa vez, como prometido a mim mesmo, não tiraria os olhos de seu corpo enquanto os raios que deixavam Mey, achavam inúmeras passagens por entre a pele do rapaz, deixando marcas nada agradáveis em seu corpo.

Agora mais abaixado, na altura do corpo que jazia recostado sobre a mureta da fonte, tirava um tempo para observar com mais cautela o restante do ambiente. Haviam duas passagens com destinos distintos e bem, considerando o objetivo dessa exploração ao Mt. Pyre, não seria difícil escolher quais dos caminhos seguir. Provavelmente aquele que subia, se não fosse alguma pegadinha do destino e me levasse a um penhasco ou uma posterior descida única. Mas enfim... Não podia esquecer do jovem diante de mim. Aliás, ficar abaixado ali naquela posição sendo tão alto como eu era realmente incômodo, para não dizer doloroso. Pensei em levantar,  mas antes de tomar forças para tal, fui surpreendido por uma cusparada vindo do tal indivíduo. Fechei os olhos e fiz uma expressão de irritabilidade, enquanto usava minhas próprias mãos para limpar o rosto e afastar sua saliva de meus olhos, nariz e boca. Não precisei dizer nada depois disso entretanto, porque agora a própria felina decidira aplicar o golpe de uma vez, como castigo pela ousadia.

Droga! Um descuido e olha o que acontece... Eu quase perdia a seção de eletrochoque. Que adiantaria todo esse show se não pudesse assistir as expressões de dor daquele homem tão de perto. Felizmente, abri os olhos a tempo de vê-lo se debater contra a mureta e deixar a voz fluir em um grito desesperado de dor. Ele não tinha mais auto-controle e só esperava que isso não significasse um completo descontrole de suas necessidades básicas, não gostaria de estar presente diante de um indivíduo que "não se segurava mais". Entretanto, era delicadamente prazeroso saber que ele havia deixado para trás aquela expressão carrancuda, aquele orgulho que nem o permitia gritar livremente pelo que sentia. Era evidente que tudo isso faria até bem para ele e sua capacidade de exprimir seus verdadeiros sentimentos, se não ficasse com muita sequelas, é óbvio. Ele não tinha muita capacidade respiratória mais, sua bandana havia caído quase carbonizada e eu tinha certeza que quando voltasse, o estúpido do seu amigo iria perguntar se não havia feito um bronzeamento artificial enquanto ele esteve fora. Diante desse último pensamento eu até me permiti sorrir de canto, mordendo o próprio lábio para segurar-me em seguida.

Claramente derrotado e lutando para manter-se vivo e desperto, aquele rapaz - com a pausa na tortura - falava palavra por palavra, em um ritmo tão lento, que ficava até difícil uni-las com sentido se não estivesse ligado. Eu o deixei falar, ouvindo-o atentamente, mas tratei de me levantar antes e concordar com a cabeça para tudo o que ele dizia. Era engraçado a sua tentativa de reunir ar para emitir som e havia coisas tão interessantes em seu estado, que quase não dava mais atenção ao que ele dizia. Bem, será que alguma vez me foi importante? Ao que tudo indicava, ele queria dizer que Natalie havia subido o monte e ido ao encontro do suposto Kyogre, provavelmente morrendo lá. Algo que já havia ficado um tanto evidente pela sua última frase, previamente ao longo choque, mas o importante aqui era mais do que ouvi-lo falar, é ouvi-lo não conseguir falar — Olha, eu devo te dizer que fiquei decepcionado, sabe?  — Comentava, com uma expressão séria, realmente com um tom decepcionado — Eu ouvi dizer que as pessoas espumavam quando chegava a esse nível de dor, mas não sei se era mentira ou se você que resistiu bravamente. Se for o segundo caso, parabéns! — Completei, esboçando um tímido sorriso para ele em seguida.

Coloquei as mãos na cintura e fiquei olhando para o vazio da caverna, pensando no que deveria fazer com ele em seguida. Respirei fundo e tentei desanuviar minha mente para esclarecer as ideias, mas realmente era difícil. De alguma forma, eu estava realmente farto daquilo. Não me dava mais prazer os seus gritos e nem a sua imagem. Na verdade, era grotesco e repulsivo, apesar de já achá-lo assim anteriormente. Evitei encará-lo então e refleti sobre minhas opções. Independente do que ele havia dito, deveria continuar subindo o monte. Era bem provável que Naty estivesse lá, viva ou morta. Eu contava que estivesse viva, mas se estivesse morta, era bastante provável que eu também estaria em breve, talvez até mesmo antes do seu derradeiro local de descanso. Mas... Não havia mais nada a ser feito, já que fugir não estava em meus planos — Bem rapaz, eu estou indo. Foi um prazer passar um tempo contigo, mas não posso dizer que você tenha sido útil. Que dificuldade em se expressar, precisa se soltar mais. E não estou dizendo dos pedaços de carne que estão se soltando, isso aí vai precisar de uma pomadinha. Enfim, adeus! — Comentei, esfregando as mãos e esticando os braços para que Mey subisse nele. Em seguida, fui até a fonte e retirei a lâmpada de lá, afinal... Não precisava de provas me incriminando. Depois disso, trataria de continuar subindo o monte pela passagem que me dava condições para isso, em busca do tal "Kyogre".

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Como já bem pontuado, era difícil dizer ao certo a razão por trás de toda aquela pose do unoviano - se por influência dos fantasmas do cemitério, por vingança ou, no pior dos casos, até mesmo por simples e puro prazer. Quase impossível então era saber ao certo o que a felina que o acompanhava achava de tudo aquilo, considerando a expressão inflexível e o jeito silencioso da monstrinha, que se limitava a seguir ordens (e até adiantá-las, de certa forma) sem sequer olhar uma única vez as reações estampadas nas feições de seu treinador e, mais importante, sem ousar interrompê-lo durante todo o procedimento aplicado ao homem de cabeça raspada. O único real movimento que fizera havia sido o dos braços, ao preparar o lançamento do poderoso raio que praticamente fritou o Aqua vivo mas, além disso, os manteve caídos ao lado do corpo, os olhos vigilantes passeando por toda a cena que se desenrolava à sua frente sem exibir sequer um único tremular de boca.

Suaves, suas pupilas escuras se voltaram na direção de Valassa, com a singela menção de decepção. A gatuna também não protestou diante das palavras embebidas de sadismo daquele que, até o momento, só havia conhecido o lado parceiro, pacífico e brincalhão - e nem mesmo ao ver o sorriso quase dócil se esboçando em seu rosto, em contraste violento diante de cada sílaba pronunciada. O olhar profundo acompanhou cada ínfima movimentação realizada por seu mentor, desde mãos na cintura até o ar quase tedioso que aos poucos dominou seu rosto, à medida que pensamentos disformes dominavam-lhe a mente. A vigília silenciosa se manteve sobre Luch, enquanto se despedia de Jean e, enfim, quando o braço do rapaz foi estendido para si.

Em um primeiro instante, não se moveu.

Vítreo, o olhar se manteve fincado no - até então - genérico moreno. Sem emoção alguma, se manteve nele por alguns segundos antes que volvesse na direção da figura à frente, largada contra a estrutura da fonte. Só nesse momento os membros criaram vida outra vez, e a felina ergueu as patas na altura do peito, encarando os resquícios das faíscas elétricas que ainda fluíam por entre seus dedos - e, como que em avaliação, os moveu vagarosamente e, quando os fechou, o olhar se perdeu no piso de mármore. Por um singelo instante que pareceu infinito, o foco dos orbes (bem abertos, por sinal) se manteve sobre os azulejos antes que enfim retornasse ao (ex) maquiado.

Uma sensação estranha, era aquela. Vê-lo caído, sem forças para reagir e, ao mesmo tempo, com a consciência de que era a responsável por aquilo por conta das ordens de seu treinador. Encarar o estado deplorável do Aqua de cima para baixo era, para dizer o mínimo, algo que agitava seu coração de maneira inquieta e incerta. A cabeça pendeu alguns milímetros para o lado, enquanto estudava toda a situação que, querendo ou não, se impusera no meio de seu caminho e trazia para si o título não só de parceira de jornada mas, sobretudo, de cúmplice de um crime.

...

A cabeça se endireitou, quase ao mesmo tempo que os braços tombaram ao lado do corpo outra vez. As pálpebras relaxaram, e o semblante vítreo se desfez pacientemente de sua expressão.
Observando de cima para baixo, sentiu o poder de estar no topo do mundo.
E então, o mais singelo dos sorrisos se desenhou em seu rosto.

Moveu-se, então; Sem mais tempo a perder, saltou para o braço de Luch, e escalou até se acomodar tranquilamente em seu ombro, esfregando a cabeça contra a do rapaz num carinho silencioso de inúmeros significados. Aguardou com paciência enquanto o criador recuperava a lanterna encharcada da pequena fonte central mas, foi quando o jovem voltou-se para a escada e começou a ir em sua direção, que suas orelhas se moveram suavemente - e, como reação, uma das patas se pressionou contra a bochecha do unoviano como um pedido mudo de "Espera". A cabeça se voltou na direção do Aqua caído e, por um instante, o olhar se estreitou com sutileza.

Um pouco de atenção seria necessária, claro - e, caso não obtida pelos gestos suaves de Meo-Mey, a felina provavelmente daria seu jeito para... Forçá-la um pouco mais, por assim dizer, pelo menos naquele momento -, mas era possível perceber alguns murmúrios ininteligíveis emitidos pelo há pouco alvo de Meowth que, de maneira teimosa e até meio inacreditável, permanecia consciente. Apesar de ser inviável a compreensão das palavras ditas pelo eletrocutado, três fragmentos se destacaram, claros como a própria neve, perdidos entre os tantos já proferidos:

"...Olhos púrpura...", "...também..." e "...cabelos azuis.".

Trechos possivelmente sem significado, valia ressaltar, mas que infelizmente não poderiam ser investigados muito à fundo. Não pelo estado de Jean - apesar de também ser por conta disso, de certa forma -, mas por barulhos que surgiram ao fundo, contínuos, e que pareciam chegar cada vez mais perto. À primeiro momento, não era possível deduzir o que seriam mas, aos poucos, ficou óbvio: Passos. Inúmeros, provavelmente mais que dois pares, que ecoavam da passagem além das escadas que conduziam ao nível inferior e, como bem dito, que aumentavam e ficavam mais próximos a cada segundo que passava.

...
Talvez fosse hora de, realmente, ir.
Ou não, claro! É por sua conta, meu rapaz.

_________________
O amanhã é efeito de seus atos. Se você se arrepender de tudo que fez hoje, como viverá o amanhã?
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Me :

Virtuum :

Awards :

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Não havia tido tempo de analisar tão meticulosamente as reações de Mey ao ocorrido com o rapaz. Talvez tivesse um pouco de medo, e vergonha, também de saber quais seriam as consequências de colocá-la em tal situação, mas se havia um companheiro Pokémon em quem eu confiasse para esse "serviço" de tanta cumplicidade, era Meo-Mey. Enfim... Com tudo encerrado, restava partir e foi por isso que estiquei meu braço para que a Pokémon subisse em meu ombro como sempre fazia. Sendo assim, é compreensível que depois de alguns passos em que ela não havia vindo ainda, um estalo houvesse soado em minha mente que me fez virar e observar o que havia de errado. Para a minha surpresa, ela já vinha animada em minha direção e depois desta sensação a única que sobrou era felizmente o alívio. Fiz um carinho na cabeça da Meowth então, logo atrás de sua orelha esquerda, e sorri. Dei meia volta evitando olhar a "vítima" abandonada na Fonte e já comecei a ganhar terreno, quando fui interceptado pelos toques constantes das "almofadinhas" que a felina chamava de pata, como se pedisse que eu esperasse.

— Hm? — Emiti a interjeição de dúvida e surpresa, enquanto virava a cabeça para trás. Nesse instante, com um silêncio obtido no ambiente, conseguíamos ouvir os murmúrios de dor do homem, comentando algo bastante peculiar sobre características físicas que não eram de Natalie. Meus ossos pareciam congelar ao ouvir tudo aquilo e "fazer as contas". A soma batia e só podia bater numa direção: Brooklyn. — Era só isso que me faltava... Eu havia esquecido dela. Como eu pude? Aposto que ela que arrastou Naty para a confusão... — Comentei em um quase monólogo, se não estivesse na companhia de Mey, que apesar de ser muito nova quando conheceu Brooklyn, certamente ainda lembraria dela, por isso reagiu. Depois de eu ter fugido com a Meowth daquele beco e nunca mais olhado para trás, Brooklyn veio me visitar algumas vezes na minha casa. Primeiro, bastante exaltada e ameaçadora, mas depois com mais ternura e paciência, talvez realmente por confiar na nossa amizade ou simplesmente porque queria uma abordagem mais tranquila para não me afastar. Infelizmente, não confiei nela como deveria. Ou como achava que deveria... O resultado é que fugi para Hoenn e agora ela está atrás de mim. Provavelmente sem querer dar um abraço e pegar leve comigo, é claro...

De todo modo, não poderia ficar ali refletindo sobre isso por muito tempo. Até tinha pensado em recuperar minha equipe de uma vez por todas antes de seguir, mas alguns sons de muitos passos subindo as escadas me fizeram acordar para a realidade. Eu iria em breve encontrar a fúria de todo um grupo de "parceiros" horrorizados e irritados com o que ocorreu com o amigo deles. Então, nada mais justo e inteligente do que seguir adiante e ganhar uma boa vantagem. Se eu tivesse sorte, ficariam horas remoendo o ocorrido, perguntando ao tal babaca e não compreendendo uma só palavra, até decidirem investigar e pronto. Era isso, era o tempo que eu precisava para chegar até onde queria. O TOPO! — Vamos Mey! Se chegarmos ao topo e encontrarmos Naty, tudo isso vai ter valido a pena... Eu tenho certeza... — Comentei com a Meowth, dando uma frase que de certa não tinha nada. Era mais uma grande esperança do que certeza absoluta. Eu só não gostava mesmo é de deixar isso muito claro, porque se eu declarasse em alto e bom som, tornaria-se realidade. Sendo assim, silenciando-me e conformando-me momentaneamente, parti.

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