Apesar da minha preocupação de levar uma bronca do capitão caso minha abordagem diferenciada não desse certo, ele responde com um inesperado bom humor; na verdade, foi o momento mais bem humorado dele que eu havia visto até ali.
"Parece que acertei em algumas coisas, mas... realmente, minha análise foi muito superficial; fui inocente em achar que conseguia entender o taillow. Uma coisa é conseguir compreender o Wolf, que tenho um vínculos de vários anos; Já tentar compreender um pokémon selvagem, é algo completamente diferente."
Após um gesto do capitão, o grupo todo de pássaros saiu voando. Não havia mais nenhuma migalha ou taillow ali. O senhor, então, continua seu discurso. Algumas das constatações dele estavam de acordo com meus palpites; outras, como em relação ao tamanho e peso, me faltavam parâmetros de comparação já que era a primeira vez que via a espécie; mas alguns dos raciocínios apresentados por ele nem haviam se passado pela minha cabeça, demonstrando que as relações entre pokémons poderiam ser tão ou mais complexas do que as entre humanos. De toda aquela conversa e tentativa falha, eu com certeza havia tirado uma lição: era difícil e necessitava de muita experiência, conhecimento e análise, mas era possível, sim, conquistar a confiança de um pokémon sem uma batalha.
— O terreno, o clima, a hora, as ameaças... Entendi. Eu tenho que levar absolutamente todos os fatores em consideração. Talvez eu ainda não seja capaz de fazer isso, mas não irei esquecer. — Respondia ao senhor após ele terminar.
E quando eu achei que aquele capítulo da minha história havia terminado, o capitão aponta para algo atrás de mim. Eu viro minha cabeça e vejo o pequeno taillow de volta às lixeiras. Depois, me viro novamente para o capitão com um olhar de dúvida que começa como um "você acha que eu deveria ir lá?", mas termina com uma expressão determinada mais para um "estou indo lá."
"Ele está me encarando... eu acho que perdeu o medo, pode ser que agora me veja como uma "fonte de alimento". É agora ou nunca."
Munido da análise muito mais profunda — e eu imagino precisa — do capitão, eu vou em direção ao taillow mais confiante e mais consciente do que fazer. Ao me aproximar, eu pego a última bolacha do pacote, guardando a embalagem vazia de volta na mochila para descartá-la no lixo depois. Quebrando a bolacha em pedaços menores, estenderia minha mão na frente da ave a uma distância "corpo a corpo" da mesma.
— Eles pegaram toda a sua comida... Eles sempre pegam, não é?
— Sabe, eu sou um treinador inexperiente... aliás, por que não dizer fraco? E o Wolf, o meu growlithe, ele ainda é fraco também... Mas nós pretendemos, e vamos, nos tornar fortes. Se você quer parar de ser oprimido, se quer poder encarar os outros de igual pra igual, por que não vêm se tornar forte com a gente?
— Se você não quiser, tudo bem, pode comer essa última bolacha e partimos caminhos. MAS... se você já tá cansado dessa vida, está mais do que convidado pra fazer parte da equipe. — Falava a segunda parte enquanto sacava, com a mão livre, uma pokébola vazia do bolso e a estendia em direção a ele.
Eu tava falando com um pokémon e sabe-se lá se ele realmente entendia algo do que eu tava falando, mas eu esperava que pelo menos a entonação das minhas palavras pudesse passar a mensagem.