01 - A Primeira Aventura!

Estávamos prontos afinal, tinha em mãos minha primeira missão de resgate e minha primeira equipe! Kinney agilmente alcançou o topo de uma árvore e o pequeno Growlithe saiu em disparada para dentro da mata assim que detectou o primeiro traço do cheiro de sei colega vegetal. Em meu rosto estava estampada a empolgação. Lá vamos nós!

Kinney passeava pelas árvores como se aquilo fosse totalmente natural para ela. Já Growlithe, apesar de jovem, era bem esperto e concentrado. A floresta não era muito densa, talvez não passasse de um pequeno bosque. Certifiquei-me de calcular brevemente nosso posicionamento com a bússola antes de ir mais profundamente em meio as árvores. Leste, era o sentido da estrada, e estávamos caminhando rumo a norte-noroeste. A caminhada era tranquila, e o sol era nítido, tornando nossa missão um pouco mais fácil. Se perder em uma floresta densa não era a ideia de uma primeira aventura perfeita, diria. Por sorte, não era o caro. Bem, ao menos não por enquanto.

Meu pai sempre me ensinou que coragem era a virtude mais importante de uma resgatista. Porém a coragem e a sabedoria para se tomar a decisão correta era o que de fato salvava pessoas. Não demorou muito para Kinney chamar minha atenção em uma direção específica. De certo ela já tinha avistado o pequeno Pokémon alado do Sr. Mushi. Mas antes que pudesse direcionar minha atenção para aquele momento, algo parecido com um choro invadiu meus ouvidos, e o pior, de um sentido completamente diferente do que minha Pokémon apontava. Growlithe me olhava com certa ansiedade, não sabendo o que fazer, e Kinney também aguardava minhas ordens. Eis a primeira decisão, do primeiro resgate, da primeira aventura. Logicamente, o primeiro frio na barriga.

Dei um rápido assobio para chamar a atenção de Kinney e gesticulei para que ela retornasse. – Growlithe, aqui garoto! – chamei o pequeno canino para perto, agora falando mais baixo. Quando os dois estavam próximos, me abaixei. – Certo, temos dois cenários aqui. Queria muito encontrar Fletchinder primeiro para ter olhos no céu, mas esse choro me preocupa. – olhei para o pequeno canino que parecia um tanto aflito – Growlithe, você e Kinney vão na frente, tentem não fazer barulho. Garota, você sabe ser mais silenciosa, guie os passos de Growlithe, sim? Aguardem meu sinal. – fiz uma carícia nos dois e saquei um canivete do meu bolso, fazendo uma seta no tronco da árvore que Kinney estava, com uma seta indicando o sentido que ela apontava. Voltando para a posição que estávamos, juntei algumas pedras e as empilhei, era a melhor forma de manter uma localização que tinha imaginado, com os recursos que tinha naquele momento.  – Certo, vamos seguir esse som! Fiquem atentos e tomem cuidado! – comandei os dois Pokémon, e começamos a seguir aquele choro misterioso.

Dentro de um pelotão de resgate existem especialistas e generalistas. No nosso pequeno grupo havia um especialista em rastreamento e uma generalista, boa em observação, furtividade, agilidade e ação rápida. Kinney com certeza era minha melhor peça naquela missão, mesmo porque Growlithe estava ali somente “emprestado”. Mesmo assim ainda nos faltava muita experiência, tanto minha quanto de minha companheira. Teria que lidar com esse mau humor de Kinney mais tarde, de fato ela merecia uma explicação. No entanto era reconfortante saber que ambos os Pokémon confiavam na minha decisão, que ainda não tinha como saber se fora a melhor. Só o tempo tem a resposta, afinal.

Esgueirando por entre as folhagens, logo avistamos uma espécie de pequena clareira, visto que somente uma grande árvore de tronco grosso habitava uma generosa porção de mata. Ali, recostado no tronco e disposto sobre um punhado de folhas, se encontrava um pequeno Budew, choroso e perdido. Sinalizei para que ambos Growlithe e Kinney parassem. – Ei, Growlithe. Aquele pequenino é um dos seus companheiros? – indiquei para o canino, que reagiu com felicidade e um rápido balançar de rabo quando reconheceu o bebê. – Parece que aquele pequenino precisa de ajuda, não acha Kinney? – sorri para minha Sneasel e afaguei sua cabeça, esperando que ela entendesse a urgência daquela mudança de planos, afinal um Pokémon como Budew sozinho teria menos chances em um ambiente selvagem que qualquer outro Pokémon.

E minhas suspeitas se confirmaram assim que avistei nas proximidades um par de Pokémon espreitando nosso pequenino em apuros. Eles pareciam estar prontos para atacá-lo, havia pouco tempo para pensar. – Você dois, rápido! Saltem para frente do Budew e o protejam! – comandei meus dois companheiros de resgate e me coloquei de pé, lançando mão da Pokedex e apontando para os Pokémon selvagens. Eram dois Electrike, Pokémon do tipo elétrico. – Kinney, use Leer! Growlithe, use Leer também! – comandei rapidamente ambos para o ataque, talvez assim conseguisse afugentar os atacantes. – Kinney, use Scrath no da esquerda! Growlithe, ataque com Ember o da direita! – era melhor tomar a iniciativa neste combate e terminar com ele rapidamente. Abaixei-me próximo do Budew e estendi as mãos para pegá-lo no colo – Ei, tudo bem pequenino! Eu vim te salvar! Não se preocupe! – sorri para o bebê a fim de acalmá-lo, mas não poderia desviar a atenção daquele combate – Força, vocês dois!

A adrenalina de uma batalha Pokémon conseguia subir para a cabeça de uma forma bem rápida, então todo o esforço para se manter concentrado era necessário e muito válido. Os dois Pokémon elétrico eram ferozes e não se intimidavam, mas peloa visto Growlithe era duro na queda, e mesmo com a pouco experiência Kinney não ficava atrás. – Mantenham o ritmo! – bradava aos meus valentes companheiros, fazendo o possível para manter o espírito deles elevado. Kinney pareceu sentir mais o golpe que levou, mas ela não se deixaria abater. Growlithe, no entanto, sentia o contragolpe de combater um tipo elétrico, ficando paralisado logo de cara. Um fato chamou minha atenção, um fato tanto quanto óbvio: não é nada sábio usar golpes de fogo em uma mata. – Kinney, avance em zigue-zague e ataque com Scracth! Growlithe, espere o Electrike se aproximar, então use Bite! – comandei os Pokémon para continuarem pra cima dos selvagens, já que o adversário de Kinney parecia cansado.

Também percebi que o pequeno Budew já estava bem mais calmo no meu colo. Possivelmente a presença do amigo canino o acalmou, e agora estava apenas soluçando baixinho e me olhando curioso. – Fique tranquilo, pequenino. Isso já vai passar e logo vamos ver o seu dono! – sorri tentando passar confiança, sem claro perder a concentração na batalha. – Kinney, mantenha a movimentação e siga atacando com Scratch! Growlithe, aguente firme! Contra-ataque com outro Bite! – comandei uma segunda vez, já imaginando que prolongar essa batalha não seria nada bom.

Era até algo poético de se ver. À minha frente quatro Pokémon se digladiando sobre o manto de folhas secas, enquanto em meu colo um pequeno broto parecia cada vez mais em paz, até parando de soluçar, usufruindo de uma paz quase invejável. Os Pokémon elétricos ofereciam uma boa resistência, mas a combinação improvisada de Growlithe e Kinney se mostrou muito eficaz. Kinney se mostrou uma exímia combatente, como se tivesse nascido dentro da batalha em si. Já Growlithe era durão, pois estava de pé mesmo sentindo a voltagem correndo por seu corpo. Os Electrike já estavam cansados e quase derrotados, mais um golpe e aquilo estaria acabado.

- Kinney , finalize com mais um Scratch! Growlithe, Bite! – comandei os últimos movimentos, e observei os Electrike sendo nocauteados. Sem fazer movimentos muito bruscos para não assustar o pequeno ser em meu colo, saquei uma Pokébola vazia do meu cinto e arremessei em um dos Electrike. Na mosca! Um resgate bem sucedido e mais um companheiro de viagem!

- Vocês foram ótimos! Excelente trabalho! Venham aqui – parabenizei os dois grandes protagonistas dessa história. – Kinney garota, você foi incrível! – afaguei calorosamente minha parceira – Growlithe, você não ficou pra trás! Você é bem durão! – acariciei a cabeça do canino, verificando suas condições. Ambos estavam sujos, mas os ferimentos eram leves – Aqui, garoto. Seu amigo está bem! – deixei o Budew descer do meu colo e ir ao encontro do Growlithe – Nossa missão ainda não acabou Kinney. Ei, garota... – chamei a atenção da Sneasel para que ela me olhasse nos olhos – Olha bem para aquele bebê... – apontei para o Budew – mais um pouco e ele poderia ter se machucado bastante. Sei que você viu algo ali atrás, mas um pedido de socorro é mais importante que qualquer plano. Certo? – afaguei a cabeça da minha parceira cabeça dura, mesmo imaginando que a batalha tenha a acalmado, ainda era necessário aquele momento. Afinal, temos que ser sinceros com os membros do nosso pelotão.

- Bem, conseguem seguir adiante? Ainda temos outros para resgatar. – olhei para os dois, ambos pareciam dispostos e animados, porém Growlithe ainda apresentava sinais de paralisia – Vamos seguir em um ritmo mais devagar. Não se preocupe Growlithe, vamos averiguar o que Kinney encontrou ali atrás e depois continuamos a buscar o Oddish. Apenas não se esforce, você foi muito bem! – sorri para o pequeno valente canino – Kinney, vá na frente e nos mostre o que achou! – comandei minha parceira, que logo tomou a dianteira – Enquanto a você, pequenino – pequei o Budew no colo – Quer descansar na sua Pokébola ou ficar no meu colo? – olhei nos pequeninos olhos, já imaginando qual seria a resposta.

Obviamente Budew escolheu meu colo à Pokébola, e de certo modo a presença daquele pequenino nos meus braços não iria incomodar tanto. Em passos moderados, avançamos até o ponto em que estávamos, antes do desvio. Reconheci os sinais deixados para trás ao mesmo tempo que minha Sneasel indicava o que havia visto. Havia algumas penas vermelhas na proximidade. Mordi o lábio inferior. – Não se preocupe, Kinney. Vamos achá-lo, assim como os outros. Bom trabalho, garota! – reconheci o feito de minha parceira, afinal ela realmente encontrou o Pokémon pássaro, mas não me arrependo da decisão que tomei. Não depois de imaginar o que poderia ter acontecido com Budew se não chegássemos à tempo.

Em tese, voltamos ao ponto inicial. Começo a me arrepender de não ter me preparado devidamente na cidade para certas ocasionalidades. Uma cura para paralisia viria a calhar, mesmo que Growlithe não demonstre estar incomodado. Para muito além de sua função nesse grupo, o seu bem estar era crucial, ainda mais pelo fato de Sr. Mushi tê-lo confiado sob meus cuidados. – Vamos atrás desse Fletchling. Talvez essas penas no chão possam indicar problemas. Kinney, siga pelas árvores novamente. Growlithe, me acompanhe. – comandei os Pokémon que estavam no chão enquanto mantinha Budew aconchegado em meu colo. Busquei novamente a bússola enquanto dava os primeiros passos – Sudoeste... – suspirei, estávamos indo para outro sentido dentro da mata. Espero que nossa busca não se estenda, ou os Pokémon ficarão cansados.