SHIMMER RUINS DUNGEON #1 - KB & SHIANNY

Não deve ser muito surpreendente pontuar que, bem, mesmo quando os Guardiões se reduziram a pó (como todos os outros) e uma chuva de itens brilhantes "molharam" o chão, pesados, de onde anteriormente as imponentes estátuas flutuavam, a ruiva levou algum tempo a mais para compreender que, sim, aquele embate enfim havia chegado ao fim, após inúmeros e repetitivos nocautes de pokémons, um após e outro, e alguns mais vezes que outros (oh, pobre Vileplume). Em realidade, arrisco dizer que seu cérebro só processou a informação quando, num baque quase violento, a jovem ao lado simplesmente se jogou contra seu corpo, e as pernas cambalearam, recuando em passos tortos enquanto tentavam manter o equilíbrio e evitavam uma queda que, de outro modo, poderia ter sido imediata - e até poderia ter sido bem sucedida naquela tarefa, não fosse o pequeno detalhe de que aquela elefanta resolvera a empurrar que nem louca pra ir atrás dos trequinhos dropados pelo trio pedrada (uh, quase) dura. Sem capacidade alguma de encontrar apoio após o impulso que a monotreinadora fizera questão de tomar contra si, Chase bambeou mais uma vez e, dessa vez, os joelhos se dobraram quando a retaguarda marcou território sobre a não tão fina camada de areia que recobria o piso daquela propriedade abandonada.

— Aw! — Deixou escapar, em onomatopeia involuntária ao sentir a dor - embora aquela parecesse mais uma carícia, se comparada aos fragmentos da explosão de Claydol, anteriormente sentidos -. — Karinna Bley! — Reclamou, em alta voz, ainda que soubesse que seria inevitavelmente abafada tanto pela máscara, quanto pela tempestade de areia que rugia pelas entranhas daquela cidade perdida. Sabia, porém, que a loira não daria muita bola, considerando que estava ocupada o suficiente com seus tresourinhos - então, com um revirar de olhos, a moça se permitiu levantar, sem sequer se dar ao trabalho de bater nas roupas, afinal, que diferença faria, considerando que poeira e areia estavam simplesmente por toda a parte?

Ao contrário da criminosa, porém, não se encaminhou imediatamente para os prêmios deixados pelos vigilantes daquele lugar. Pelo contrário: Em passo agora relaxado, Natalie aproximou-se de seu pobre venenoso, abaixando-se ao seu lado e retirando alguns frascos de Potion da mochila, utilizando quatro sobre a pele anil do bípede antes de decidir que era suficiente. Um sorriso manso pintou em seus lábios, e a moça afagou com delicadeza as pétalas do companheiro, movendo a cabeça em um balanço suave.

— Acho que eles não foram com a sua cara, hein? — Brincou, apertando as pálpebras por detrás dos óculos protetores. — Descanse um pouquinho, você merece. — Disse, retornando-o após tocar com delicadeza o centro da esfera bicolor sobre o pequenino, retirando-o daquele caos tempestuoso. Outra vez, se ergueu, e dessa foi para recolher o cinto negro que desafivelou e abandonou o corpo de sua besta aquática após uma investida violenta de Banette; Paciente, Chase mais uma vez equipou o item ao redor da "cintura" de seu companheiro, afagando com gentileza as escamas de seu "torso". — Você foi ótimo, Ariel. Obrigada pela ajuda. — Sorriu, serena, volvendo brevemente a atenção na direção do fantasma ao lado. — E você também, Rotom! — Acrescentou, observando a maneira como o espécime agitou a mangueira de um lado para o outro, esguichando alguns jatos d'água - e a treinadora riu, antes de enfim se voltar na direção de onde os objetos haviam caído, espiando e os recolhendo para analisar de perto. Estranhou, mas também se interessou com a bola dourada e, bem, o osso caído dos corpos dos pokémons; Questionou-se em silêncio se aqueles defensores seriam, de alguma maneira, criados com esqueletos de espécimes mais antigas, mas não perdurou muito por tal hipótese, afinal, não valeria de nada pensar muito sobre e ficar parada no lugar, quando poderia explorar e talvez descobrir uma e outra coisa a respeito de todo aquele mecanismo não só dos adversários, como do próprio ambiente que os envolvia.

— Se você me empurrar desse jeito de novo, — Comentou, distraidamente enfiando os objetos na mochila. — vou enfiar sua cara na areia. Tá ouvindo, Cabeça de Shuckle? — Disse, encarando a aspirante à especialista com o canto dos olhos, empurrando sua cara com uma das mãos, sem força. Aceitou, contudo, os medicamentos oferecidos pela Rocket como uma oferta de paz, recuperando-os do chão (após um resmungo que ela bem que podia ter só entregado na sua mão) e utilizando-os sobre o corpo de seus pokémons restantes, metade em Ariel, metade em Rotom. Assim, também se deu ao luxo de retornar o monstro marinho, após agradecê-lo mais uma vez pelo auxílio durante o demorado e complicado combate. — A parte boa de tudo isso é que, huh, pelo menos nós finalmente exploramos algo que ninguém nunca botou o pé, né? — Riu, esfregando o braço com uma das mãos enquanto assistia a preguiça psíquica desenterrar a pobre Luana do monte de areia. — Sorte a sua que não brotou um bando de saqueador antes da gente. — Provocou, balançando a cabeça e deixando um suspiro escapar, apoiando com suavidade uma das mãos sobre o corpo vibrante da máquina de lavar, em carícia gentil. — Vamos andando. Quem sabe se a gente não encontra algum morador que não queira matar a gente? — Sugeriu, embora duvidasse bastante da possibilidade e, sinceramente, podia até dizer que tal afirmação era mais ironia que esperança propriamente dita.

Então, junto de Rotom, seguiu os passos de Bley ao exterior, logo após dar uma última olhada pela janela do segundo andar, na esperança de encontrar alguma coisa que o astro celeste anteriormente poderia tê-la impedido de visualizar. Não sabia quanto tempo mais ficariam por ali, mas... Independente de, a melhor opção seria de aproveitar a estadia ao máximo, considerando que tinham uma chance ínfima de acabar saindo no lucro e com vida.

Vejamos.

Uma das paranoias mais antigas do ser humano, e talvez a mais vantajosa de se possuir (em certos casos, pelo menos), sem dúvida alguma se trata justamente daquela responsável por fazer com que a sensação de ser perseguida se infiltre e agarre em cada uma das células nervosas que pulsam pelo corpo, circunstância inerente especialmente num ambiente deserto como aquele em que estavam, onde as únicas existências se resumiam ao seu próprio grupo e aos guardiões anteriormente encontrados (quer dizer, forçadamente enfrentados talvez fosse uma melhor descrição para as estátuas barrosas que haviam enfrentado). Levando isso em consideração, é plausível a maneira como a inquietação pouco a pouco se apossou e agarrou preguiçosamente em seus ombros, os orbes acinzentados e a cabeça volvendo de um lado para o outro, ocasionalmente, para que pudessem passear pelos arredores em busca de uma justificativa para o desconforto

— ...Você também tá sentindo isso? — Perguntou após alguns segundos, em baixo tom, os dedos se apertando contra as palmas em atitude nervosa; Admitia que, de certa forma, não enxergar sabe-se lá o quê as perseguia (ou será que só teria enlouquecido de vez e não existia mais nenhuma forma de vida por ali?) era bem pior que ser pressionada pelo poder titânico dos vigilantes das ruínas de Oirar't: Que tipo de coisa teriam que esperar, se sequer eram capazes de encontrar aqueles que, pouco a pouco, as emboscavam? — Ou eu só tô meio surtada? — Emendou, deixando escapar um riso nervoso, inquieto. Quem lhe acalmou - ou pelo menos tentou - foi o dócil elétrico que a acompanhava, esguichando algumas linhas d'água em sua direção, o que fez com que a moça acabasse dando uma risada e, por um instante que fosse, deixasse de lado aquela infeliz preocupação, apoiando a mão sobre a superfície vibrante do fantasma e seguindo o caminho que o brilho escarlate no horizonte traçava, inconsciente.

Arrisco dizer que a moça só apercebeu-se da chegada no templo quando, em realidade, pisou sobre suas primeiras rochas maciças - e também quando a força da tempestade freou diante das paredes douradas, tomando um desvio para se afastar do interior daquela arquitetura antiga, dando um tempo para que pudessem respirar e enxergar ao redor com um pouco mais de liberdade; Finalmente, então, percebeu o movimento de três formas próximas, e o instinto imediato foi de se pôr em postura de bicho arisco, pronto para revidar qualquer ataque que viesse pela frente - qual não foi sua surpresa, então, ao se dar conta de um dos primeiros encontros que não tentavam, instantaneamente, arrancar-lhes a jugular?

— ...Huh. Será que esses vão surtar que nem aqueles outros, que tentaram amassar a gente do nada? — Perguntou, observando com curiosidade o exótico trio próximo. Quer dizer, não era como se aquele conjunto de pokémons fosse o mais comum de se ver andando por aí, mas também não havia tido muitas experiências simplórias durante sua estadia nas entranhas daquele império esquecido. — Vile, Sunny Day e Toxic no Dusclops! Kal, Protect... — Foi o que pediu ao novamente arremessar seus companheiros em campo. Entretanto, logo se deu conta do estado horrível que o pobre gelatinoso se encontrava e, céus, não se demorou ao retorná-lo e arremessar Ariel em campo no lugar do psíquico. — Ugh, assuma você, Ariel! — Instruiu, apertando a esfera do gelatinoso entre os dedos.

Erros acontecem, né?
Fazer o quê.

— Desculpa, eu tenho que te contar a verdade. — Disse, então, volvendo a atenção para a loira mais uma vez. — A real é que aquele turista é meu doppelganger. Eu nunca te falei, mas a gente brincava de se vestir diferente e usar umas perucas pra não dar muito na cara e... — Então, uma gargalhada diante do projeto de soco que recebeu em resposta, erguendo um dos braços para se proteger da irritadiça menina. — Ah, qual é, você sabe que eu não posso evitar! Não é todo dia que a gente encontra uns bichos desses, né?

Foi com certa alegria que a ruiva pôde concluir, sem demora, que o trio que cruzava seu caminho, pelo menos daquela vez, não eram guardiões colossais prontos para destruir todo e qualquer intruso que ousasse atravessar os portões sanguinários que separavam as ruínas Contrário (espere, não, está errado!) do universo desértico que as envolviam. Em realidade, talvez por conta de um curtíssimo receio que perdurava desde o combate anterior, o sobressalto a atingiu rápido, inevitável, assim que os monstrinhos adversários quase que instantaneamente cederam diante das poderosíssimas ofensivas de Sushi e, naquele instante, a ruiva ponderou se a preguiça amarelada teria sido capaz de destruir com as estátuas de barro anteriores tão veloz quanto era capaz de fazê-lo em relação aos selvagens que inocentemente cruzavam seus caminhos.

— Não fala assim do bichinho, Karinna! — Natalie censurou, balançando a cabeça em negativa e empurrando com delicadeza o ombro da monotreinadora. — Ele é fofo, até, você não acha? — Perguntou, admirando silenciosamente o ciclope que resistia às potentes investidas de seus pokémons. — Eu... Eu pretendia treinar um desses, na verdade, sabia? — Comentou, cruzando os braços com delicadeza em frente ao peito enquanto analisava a situação que se desenrolava no campo de batalha. Não acreditava que a múmia resistiria por mais que uma única rodada, independente do quão altas fossem suas defesas naturais. — Mas aconteceu tanta coisa, em tão pouco tempo, que... Acabou que não tive muitas oportunidades. Admito que isso também é uma mão na roda... — Disse, com um sorriso sem graça. Não tinha certeza se conseguiria levar o espécime consigo, mas certamente não evitaria tentar.

— Vile, Giga Drain e Solar Beam. Ariel, Crunch e Ice Fang. — Ordenou aos seus pokémons, enquanto retirava algumas esferas da mochila. Karinna já havia dito que não pretendia levar nenhum dos animais consigo, então tinha plena liberdade para tentar fazer suas capturas. Não tinha muitas esferas restantes, porém, o que trazia à tona a necessidade de organizar uma ordem de prioridade: Dusclops, Vibrava e, por fim, Sandslash. Tentaria um por um, mas não passaria ao próximo sem que o anterior houvesse sido capturado: E, para começar, a pretensão era utilizar uma Great Ball no fantasma, Premier Ball na libélula e, então, uma Pokéball no pangolim. Esperava que seus recursos fossem suficientes para dar conta daquele recado, mas... Enfim.

E, acabando suas tentativas, queria seguir em frente com Bley - o coração da cidade estava mais próximo do que nunca e, bem, não tinham motivo algum para recuar agora, não é?