Era difícil de se imaginar que mais alguma coisa naquele salão seria capaz de capturar sua atenção a ponto de surpreendê-la e, mesmo assim, ali estavam. Mais especificamente, foi quando os orbes cinzentos passaram pelos papéis amarelados nas mãos de Karinna que um novo arrepio inquieto roçou por sua coluna, um selar cálido das tantas informações que eram vagarosamente processadas à medida que prolongavam mais e mais sua estadia naquele peculiar local assombrado, perigosamente arriscando não só as próprias sanidades como também, ao que tudo indicava, suas seguranças. Arriscava dizer que era patética a maneira como o universo parecia tentar conspirar a todo instante para assaltar-lhes os espíritos rachados; Inevitavelmente, sempre há um ponto de ruptura em que poucas coisas são capazes de afetar, realmente, uma alma fragmentada.
Se pensasse a respeito, provavelmente se questionaria qual exatamente teria sido o seu.
— ...História? — Perguntou, em baixo tom, enquanto as mãos se estendiam para tomar entre os dedos os documentos que lhe eram estendidos. — Você diz… Como se fosse um eco do passado, ou algo assim? — Quis saber. Foi com mais atenção, então, que examinou os papéis amarelados, analisando mais profundamente as informações neles inseridas, tal como se certificando das datas expostas neles e, principalmente, dos nomes estampados na lista de arqueologistas. — ...Mas, não faria sentido. Faria? — Perguntou, devagar, olhando de um lado para o outro no tapete de cadáveres sobre seus pés. — Para isso, precisaria que o Professor fosse da época da Suzan… — Murmurou, relendo a lista da equipe que envolvia a mulher, em busca do nome de Mintcupper. — ...O que também significaria que esse lugar tem influência até com o lado de fora, considerando os Camerupts. — Concluiu, mordendo com delicadeza o lábio inferior, apertando as pálpebras por um instante. Ainda com os documentos em mãos, liberou uma para que pudesse esfregar o rosto, inquieta. — ...Em compensação, os papéis do lado de fora eram mais novos, não eram? — Quis confirmar, encarando os amarelados que agora tinham consigo. — O que talvez sabotasse essa teoria. Então… Também poderia ser que esse lugar aprisionou aqui toda essa gente, ao longo de vários e vários anos? — Sugeriu, dobrando os papéis e cruzando os braços em frente ao peito, respirando devagar, fundo - e o odor metálico que invadiu-lhe os pulmões foi suficiente para que uma onda nauseante lhe abatesse os sentidos. Nesse momento, as pálpebras se apertaram, e a ruiva balançou a cabeça com delicadeza, firmando os pés no chão para que pudesse se recuperar daquele repentino mal-estar. — Do tipo, ninguém conseguiu abrir esse portão, e esse lugar acabou… Prendendo todo mundo, sei lá. Não acho que pareciam ter muita percepção de tempo, também. — Comentou, empurrando um osso com a lateral do calçado, devagar. — E, por algum motivo, tudo estourou de uma vez e virou caos. Talvez por causa da gente, talvez pelas estatuetas. É difícil dizer. Quem sabe até se o lugar não sentiu nossas intenções, que tem até a chance de ter sido bem diferente das dessas pessoas? — Comentou, com um sorriso sem jeito, erguendo o rosto por um instante para observar a estátua que adorava o topo dos portões. — ...Mas, se esse lugar prender realmente as pessoas, não vamos conseguir só dar meia volta e sair, de qualquer jeito. Acho que pode ter sobrado pra gente ir até o fim da história, quem sabe? — Sugeriu, deixando escapar um riso desajeitado. — O que seria uma bela ironia. Dentre tantos pesquisadores… — Murmurou, balançando a cabeça em negativa.
Sim, era uma bela ironia, no fim das contas - e existiam muitas, infinitas teorias que explicavam verdadeiramente tudo o que acontecia naquele lugar. Em realidade, não botava muita fé de que descobririam qual delas era a correta e, particularmente, tinha consciência de que teriam muito menos chance de fazê-lo caso ficassem paradas ali, olhando para o nada. Exatamente por isso que ponderou a necessidade de atravessar aquela passagem épica, e se embrenhar nas entranhas de Oirar't parecia um privilégio o qual seriam obrigadas a usufruir, tanto para desvendar o mistério, quanto para sobreviver e escapar. Felizmente, a monotreinadora também parecia ter uma consciência parecida ou, no mínimo, o desejo de encontrar os tesouros ainda pulsava latente em suas veias e coração - independente de qual opção fosse verdadeira, porém, o importante era que a loira não arrumou confusão quando a opção de usarem o próprio sangue acabou se tornando, aparentemente, a única escolha que restava se quisessem prosseguir naquela aventura amaldiçoada.
— Sabe… — Começou, ao guardar os documentos no bolso da mochila e estender as mãos para o amarelado psíquico quando Bley sugeriu que o animal se responsabilizasse pelos cortes para que alimentassem o sedento portão de pedra. — Considerando todo o nosso histórico, eu tenho que admitir que é surpreendente que essa seja a primeira vez que eu tenha que fazer uma coisa assim. — Comentou, e os orbes se desviaram brevemente na direção da loira quando, consciente, as mãos se arrastaram contra as garras de Sushi, tornando um tanto mais profundos os cortes que, inicialmente, não deveriam ser - como reação automática, as pálpebras se apertaram, e a expressão se torceu pela ardência inevitável, os braços recuando automaticamente enquanto as pupilas eram libertas, devagar, de sua prisão da carne, observando as linhas rubras que começavam a escorrer pela derme alva. Um sorriso torto se formou nos lábios diante do sobressalto da dupla companheira, e a ruiva se permitiu um dar de ombros suave - ora, não acreditava que uma gota boba daria solução à situação que se encontrava e, veja bem, as palavras de Karinna haviam sido suficientes para que compreendesse que a loira não permitiria que "exagerasse", a menos que fosse a única opção que lhe restasse, conclusão que talvez demorasse um pouco para surgir e que Chase não estava disposta a esperar. — Não podemos perder muito mais tempo aqui. Se não der certo dessa vez, temos que encontrar outra solução. — Pontuou, observando enquanto o líquido que escorria era aprisionado pela energia rósea de Kaleo, ignorando qualquer protesto que pudesse escapar da garganta de Bley. Aguardou enquanto a moça eventualmente fez o mesmo; Ela não era boba para chorar muito no leite derramado, e já era tarde para voltar atrás. — ...Eu sei que disse que não deveríamos, mas talvez a gente precise acabar esfregando as mãos no portão. — Acrescentou, dispersa, assistindo as esferas carmim se formando no interior dos poderes rosáceos de seus pokémons.
Esperava que aquilo fosse o suficiente mas, dessa vez, não hesitaria em pôr as mãos na passagem e manchá-la ela própria, caso atirar o líquido vital não "valesse" para o colorir exponencial que parecia ter ocorrido naqueles portões - e sabia que, se o fizesse, a Shuckle também a imitaria sem sequer hesitar. A parte boa de tudo aquilo era que, certo ou errado, pelo menos não estavam tendo que enfrentar sozinhas aquela experiência esquizofrênica.
— ...Estamos parecendo fanáticas, não estamos? — Disse, para amenizar a tensão, numa brincadeira que bem beirava a realidade. — Só faltam os cânticos entoados no fundo para virar uma cena maravilhosa de seita e filme de terror. — Comentou, voltando a atenção ao olho central engravado na superfície de rocha à frente, agora com uma fenda partindo sua imagem. — Tipo… "DOMINAT TUT!" — Exclamou, alto, em sua melhor interpretação de líder de deitar secreta, enquanto aguardava o resultado de suas novas tentativas.
Bobo, não é?
...Talvez não fosse, mas não ousou vocalizar.
Se pensasse a respeito, provavelmente se questionaria qual exatamente teria sido o seu.
— ...História? — Perguntou, em baixo tom, enquanto as mãos se estendiam para tomar entre os dedos os documentos que lhe eram estendidos. — Você diz… Como se fosse um eco do passado, ou algo assim? — Quis saber. Foi com mais atenção, então, que examinou os papéis amarelados, analisando mais profundamente as informações neles inseridas, tal como se certificando das datas expostas neles e, principalmente, dos nomes estampados na lista de arqueologistas. — ...Mas, não faria sentido. Faria? — Perguntou, devagar, olhando de um lado para o outro no tapete de cadáveres sobre seus pés. — Para isso, precisaria que o Professor fosse da época da Suzan… — Murmurou, relendo a lista da equipe que envolvia a mulher, em busca do nome de Mintcupper. — ...O que também significaria que esse lugar tem influência até com o lado de fora, considerando os Camerupts. — Concluiu, mordendo com delicadeza o lábio inferior, apertando as pálpebras por um instante. Ainda com os documentos em mãos, liberou uma para que pudesse esfregar o rosto, inquieta. — ...Em compensação, os papéis do lado de fora eram mais novos, não eram? — Quis confirmar, encarando os amarelados que agora tinham consigo. — O que talvez sabotasse essa teoria. Então… Também poderia ser que esse lugar aprisionou aqui toda essa gente, ao longo de vários e vários anos? — Sugeriu, dobrando os papéis e cruzando os braços em frente ao peito, respirando devagar, fundo - e o odor metálico que invadiu-lhe os pulmões foi suficiente para que uma onda nauseante lhe abatesse os sentidos. Nesse momento, as pálpebras se apertaram, e a ruiva balançou a cabeça com delicadeza, firmando os pés no chão para que pudesse se recuperar daquele repentino mal-estar. — Do tipo, ninguém conseguiu abrir esse portão, e esse lugar acabou… Prendendo todo mundo, sei lá. Não acho que pareciam ter muita percepção de tempo, também. — Comentou, empurrando um osso com a lateral do calçado, devagar. — E, por algum motivo, tudo estourou de uma vez e virou caos. Talvez por causa da gente, talvez pelas estatuetas. É difícil dizer. Quem sabe até se o lugar não sentiu nossas intenções, que tem até a chance de ter sido bem diferente das dessas pessoas? — Comentou, com um sorriso sem jeito, erguendo o rosto por um instante para observar a estátua que adorava o topo dos portões. — ...Mas, se esse lugar prender realmente as pessoas, não vamos conseguir só dar meia volta e sair, de qualquer jeito. Acho que pode ter sobrado pra gente ir até o fim da história, quem sabe? — Sugeriu, deixando escapar um riso desajeitado. — O que seria uma bela ironia. Dentre tantos pesquisadores… — Murmurou, balançando a cabeça em negativa.
Sim, era uma bela ironia, no fim das contas - e existiam muitas, infinitas teorias que explicavam verdadeiramente tudo o que acontecia naquele lugar. Em realidade, não botava muita fé de que descobririam qual delas era a correta e, particularmente, tinha consciência de que teriam muito menos chance de fazê-lo caso ficassem paradas ali, olhando para o nada. Exatamente por isso que ponderou a necessidade de atravessar aquela passagem épica, e se embrenhar nas entranhas de Oirar't parecia um privilégio o qual seriam obrigadas a usufruir, tanto para desvendar o mistério, quanto para sobreviver e escapar. Felizmente, a monotreinadora também parecia ter uma consciência parecida ou, no mínimo, o desejo de encontrar os tesouros ainda pulsava latente em suas veias e coração - independente de qual opção fosse verdadeira, porém, o importante era que a loira não arrumou confusão quando a opção de usarem o próprio sangue acabou se tornando, aparentemente, a única escolha que restava se quisessem prosseguir naquela aventura amaldiçoada.
— Sabe… — Começou, ao guardar os documentos no bolso da mochila e estender as mãos para o amarelado psíquico quando Bley sugeriu que o animal se responsabilizasse pelos cortes para que alimentassem o sedento portão de pedra. — Considerando todo o nosso histórico, eu tenho que admitir que é surpreendente que essa seja a primeira vez que eu tenha que fazer uma coisa assim. — Comentou, e os orbes se desviaram brevemente na direção da loira quando, consciente, as mãos se arrastaram contra as garras de Sushi, tornando um tanto mais profundos os cortes que, inicialmente, não deveriam ser - como reação automática, as pálpebras se apertaram, e a expressão se torceu pela ardência inevitável, os braços recuando automaticamente enquanto as pupilas eram libertas, devagar, de sua prisão da carne, observando as linhas rubras que começavam a escorrer pela derme alva. Um sorriso torto se formou nos lábios diante do sobressalto da dupla companheira, e a ruiva se permitiu um dar de ombros suave - ora, não acreditava que uma gota boba daria solução à situação que se encontrava e, veja bem, as palavras de Karinna haviam sido suficientes para que compreendesse que a loira não permitiria que "exagerasse", a menos que fosse a única opção que lhe restasse, conclusão que talvez demorasse um pouco para surgir e que Chase não estava disposta a esperar. — Não podemos perder muito mais tempo aqui. Se não der certo dessa vez, temos que encontrar outra solução. — Pontuou, observando enquanto o líquido que escorria era aprisionado pela energia rósea de Kaleo, ignorando qualquer protesto que pudesse escapar da garganta de Bley. Aguardou enquanto a moça eventualmente fez o mesmo; Ela não era boba para chorar muito no leite derramado, e já era tarde para voltar atrás. — ...Eu sei que disse que não deveríamos, mas talvez a gente precise acabar esfregando as mãos no portão. — Acrescentou, dispersa, assistindo as esferas carmim se formando no interior dos poderes rosáceos de seus pokémons.
Esperava que aquilo fosse o suficiente mas, dessa vez, não hesitaria em pôr as mãos na passagem e manchá-la ela própria, caso atirar o líquido vital não "valesse" para o colorir exponencial que parecia ter ocorrido naqueles portões - e sabia que, se o fizesse, a Shuckle também a imitaria sem sequer hesitar. A parte boa de tudo aquilo era que, certo ou errado, pelo menos não estavam tendo que enfrentar sozinhas aquela experiência esquizofrênica.
— ...Estamos parecendo fanáticas, não estamos? — Disse, para amenizar a tensão, numa brincadeira que bem beirava a realidade. — Só faltam os cânticos entoados no fundo para virar uma cena maravilhosa de seita e filme de terror. — Comentou, voltando a atenção ao olho central engravado na superfície de rocha à frente, agora com uma fenda partindo sua imagem. — Tipo… "DOMINAT TUT!" — Exclamou, alto, em sua melhor interpretação de líder de deitar secreta, enquanto aguardava o resultado de suas novas tentativas.
Bobo, não é?
...Talvez não fosse, mas não ousou vocalizar.