[Akai Ito] – Doll Fanfest –

Chame destino, coincidência ou simplesmente acaso - por mais incrível que pudesse parecer, seus dois primeiro achados naquela bendita atração haviam sido justamente aqueles apresentados para si por Andrew, logo antes de que ela própria tomasse a decisão de vir ao festival de bonecas: E, querendo ou não, esse fato fazia com que a moça se questionasse a respeito de quão comuns seriam aqueles fósseis. Quer dizer, seria possível que tão raros fossem, e ainda assim ambos os treinadores os houvessem encontrado daquela maneira quase displicente?

Era um pouco difícil de acreditar, tal como também o era ouvir a respeito de estar em "boas mãos" com Karinna - e, ainda que fosse um comentário um pouco ingênuo, foi o suficiente para arrancar um sorriso um tanto quanto mais sincero da ruiva, que divertiu-se com a ideia de se o moreno permaneceria com aquele ponto de vista imutável se soubesse que a loira nada mais fez além de arrastá-la por aí para que pudessem saquear coisas, pessoas, lugares. Não que isso a incomodasse naquele momento; Particularmente, estava feliz meramente por tê-la mais uma vez próxima ao próprio coração, e não pretendia distanciá-los novamente.

— ...Eu não tenho nada a reclamar sobre o lance de ficar colada com você, viu? — Respondeu, enfim, inclinando-se com suavidade para depositar um beijo tímido no maxilar do mais alto, ainda sentindo o dorso da mão formigar em resposta ao que havia recebido momentos mais cedo. Entretanto, era necessária uma continuidade à narrativa que já estava tomando há algum tempo, então, respirou fundo mais uma vez antes de balançar a cabeça com discrição em resposta ao comentário do unoviano. — Talvez eu não necessariamente tenha feito algo errado, ou talvez seja justamente porque eu saio "invadindo" esses "universos" que não devia. — Comentou, meio sem graça. — Ou pode ser só o lance de que ele só não foi com a minha cara. Sabe, aquelas birras que não se explica, e tal... — Emendou, num dar de ombros singelo. — Não sei dizer a respeito de criador, ou destruidor... Mas eu sei que parece loucura quando falo assim, então não te culpo se não acreditar, ou algo do tipo... — Sussurrou, descansando por um instante da escavação ao apoiar o corpo contra o do pálido companheiro, as costas dos dedos roçando por seus braços desnudos num carinho gentil, discreto. — Se parar pra pensar, é até melhor que eu tenha surtado, do que realmente passado por isso tudo, né? — Riu, um pouco sem jeito, enquanto observava o trabalho tido por Valassa na escavação.

Bem... Ainda precisaria tentar a sorte uma terceira vez, não?

— Mas, então... — Continuou, respirando fundo por mais uma vez. — Independente, a gente acabou saindo de lá, embora eu não saiba te dizer ao certo como. Acordamos na casa de um  cara que morava na beira do deserto, e ele deu uma forcinha e acabou ajudando a gente, comida, curativos e tal. — Explicou, ajeitando com sutileza uma das madeixas rubras por detrás da orelha. — Ele acabou mencionando a existência de umas ruínas no deserto e, bem... A gente não tinha nada melhor pra fazer, sabe? — Um riso discreto. — Então, eu e Karinna acabamos atravessando o deserto atrás delas. E demorou, sabe? Foi uma viagem meio exaustiva, e não podíamos contar com nenhuma bússola, porque elas ficavam doidas quando chegava por lá... — E, mais uma vez, voltou a trabalhar na terra batida - embora, com um breve receio ao se desencostar de Drac. — Não sei se por sorte, mas acabamos chegando lá e, tipo... Era enorme, sabe? — Comentou. — E tinha... Muita gente. Muita algazarra. E inscrições por todo o lado. — Continuou, um calafrio mórbido escorregando por sua espinha ao relembrar da cena sanguinolenta que se seguiu naquele lugar amaldiçoado. — A gente acabou conseguindo uma tenda, e dormimos por sei lá quanto tempo... — Pausa.

...

— E acordamos com um cara surtado tentando invadir e arrastar a gente pra fora. E ele simplesmente destruiu a barraca, quando o Kaleo impediu. — Respirou. Respirou. — Você já teve que enfrentar um completo cento e oitenta em alguma situação? — Quis saber. — Sabe, lá tinha um portão enorme. O pessoal tava todo trabalhando junto, tentando descobrir como abrir e tudo o mais... Mas, quando a gente acordou, aquele lugar parecia ter virado cenário de guerra. — Disse, em baixo tom, mordendo mais uma vez o lábio inferior em uma reação involuntária ao próprio relato. — Tinha gente se matando, uns aos outros, a si mesmas, de verdade. Se atacando, se jogando no portão, pintando ele de sangue. Tinham olhos. Olhos por todas as partes. Em todo lugar, Luch. — Sussurrou, apressada, balançando a cabeça e deixando escapar um riso engasgado. — ...Meu céu, eu realmente pareço uma doida falando assim. — Murmurou, escondendo os olhos por detrás do antebraço para tomar fôlego e controle das próprias rédeas antes que simplesmente explodisse - e, mesmo assim, foi incapaz de evitar quando o olhar marejou. Felizmente, oculto; Infelizmente, as gotas salitres que escorreram pelas bochechas, bem, não estavam. — ...Foi horrível. Horrível, Luch. —Sussurrou, engolindo saliva e um soluço agoniado.

Tinha achado uma coisa, até, naquele bendito projeto de escavação que fizera.
Naquele momento, porém, não olhou para ver o que era.

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Sabe, em momento algum de sua jornada havia parado para pensar a respeito de quão profundos os sentimentos a respeito de suas experiências drásticas estavam engarrafados em seu coração. Eles ardiam, sangravam e, agora que tinham sido devidamente reconhecidos, urravam. As palavras mencionadas por Luch, em um primeiro momento, se tornavam vãs; A periculosidade da situação era indiferente, o terror suprimido pela empolgação de exploração era fútil - e as lágrimas desciam, corriam, livres como um rio à mercê da própria correnteza.

Revelar aquelas emoções para Drac não eram, em momento algum, uma prova de que confiava mais nele que em Karinna. A realidade é que ali, longe do caos, se sentia segura para extravasar a dor e o pânico que a situação, em tempo real, não havia lhe permitido - principalmente levando em consideração que a necessidade de proteger a amiga de infância, mais que qualquer coisa, urgia. Talvez tenha sido exatamente por isso que se permitira repentinamente desaguar: Ora, agora não era mais preciso servir de muralha e forte protetor para a moça de cabelos dourados, e tampouco era necessário agir em prol da própria sobrevivência. Juntando ambos os fatores, nada mais justo que desabar por um único instante que fosse, não?

...Chase estava consciente de que não havia terminado o seu relato. Parte de si não desejou fazê-lo, porém, quando o corpo repentinamente foi raptado pelos braços do companheiro - o susto que veio como consequência, bem, este não foi tão difícil de superar -; O abraço foi muito bem aceito pelo consciente e, sem ousar discutir uma única sílaba, a moça se aconchegou no ninho tão gentilmente criado pelo unoviano. O rosto mergulhou em seu peito, os dedos cerraram-se na borda da camisa e, trêmula, não temeu umedecer o tecido das roupas do companheiro. As pálpebras se apertaram, a garganta apertada, e um soluçar inquieto escapou enquanto as palavras gentis do rapaz escorregavam para seu subconsciente, numa tentativa amena - e efetiva - de dispersar as preocupações e tormentos que sufocavam-lhe de tão drástica maneira.

Ela também sabia que não teriam o direito de por tanto tempo permanecer nas entranhas daquela atração - então, quando o moreno a afastou com brevidade, apenas para que o olhar fosse capaz de mergulhar no seu, não o julgou. Nesse breve instante de abrir (e semicerrar, de novo) de pálpebras, a ruiva se permitiu respirar devagar, tentando tomar o controle das próprias emoções e afugentar o choro torto e dispensável. Ouso dizer, inclusive, que talvez tenha sido exatamente por isso que a moça não se deu conta ao certo da confusão que acontecia nas proximidades, ou mesmo dos olhares descontentes lançados para a dupla por terem tão tranquilamente demarcado suas áreas desejadas de escavação.

— ...Eu... — Deixou escapar, num sussurro lânguido. — ...Tudo bem. — Concordou, num baixíssimo tom. Poderia agradecê-lo - mas, oh, não achava que seria necessário; Tinha certeza que os orbes acinzentados davam conta de fazê-lo, principalmente numa situação como aquela. O corpo estremeceu quando o rapaz se afastou mais uma vez, e ela respirou fundo antes de esfregar vagamente o antebraço sobre o rosto, limpando-o de maneira desajeitada, a respiração indo e vindo em uma tentativa de autocontrole que não poderia ser dispensada.

Os orbes, desajeitados, passearam pela terra remexida próxima, e os ombros se encolheram quando o toque gélido de correntes roçaram repentinamente por sua fronte - piscou uma, duas vezes, e a moça ergueu o olhar na direção do fractal que tranquilamente flutuava, observando-a em calmaria singela, num aguardo paciente para que pudesse intervir no melhor momento. A treinadora limitou-se a um sorriso parco, quase sem emoções, quando os dígitos se ergueram para afagar com delicadeza o projeto de "braço" do monstrinho, num agradecimento mudo pelo apoio demonstrado - e foi aí, e só aí, que se dispôs a recolher do solo a pequena pérola brilhante que haviam desenterrado.

...Bem, é justo dizer que não foi despercebido que passou por si a imagem periférica de uma mancha borrada voando da terra pro ar, caindo no chão como uma jaca podre, atirada pelo forte Togepi que haviam encontrado na atração anterior.

A moça piscou uma, duas vezes. Os olhos passearam pela imagem da mulher desenterrada (espere, será que aquilo contava como prêmio?), o cenho se franzindo com discrição ao notar em sua imagem uma certa familiaridade que, de início, descartou como uma tola impressão que não poderia ser verdadeiramente levada em consideração mas, hah, não era como se pudesse ignorá-la quando a... Treinadora (?) passou por si e, então, resolveu encarar-lhe e mandar a tal pergunta a respeito do pokézap.

...

Então, a moça a observou um pouco melhor, após limpar o rosto mais uma vez.

— ...Eu não acho que- Espera. — Disse, de repente, num franzir de cenho inquieto. — ...Flora? — Exclamou, erguendo as sobrancelhas numa expressão mansa de surpresa. — O que você... Espera, por que você ainda tava aqui dentro? — Perguntou, olhando de um lado para o outro em confusão - quer dizer, a atração não devia estar vazia, considerando que mais pessoas tinham entrado? — E cadê a Lisanna? — Quis saber. Elas não tinham vindo juntas???

Oh, céus.

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