#004 - Seguindo a corrente.

Assim que identificaram a criaturinha e seu problema, Nick e Mísia aproximaram-se ainda mais cautelosos para poderem cuidar do Pokémon. Eles conversavam entre si sobre como tratar do Deerling, quando a Coordenadora sugeriu que dessa vez usasse a própria Potion, já que Nick havia cuidado da Electrike anteriormente... — Certo! Vamos tirar o graveto espetado e depois você aplica a poção... Eu posso segurá-lo se você for retirar e aplicar. Daí, a gente faz um curativo só por via das dúvidas, né? — Disse Nick, deixando a mochila momentaneamente no chão para ter maior mobilidade na hora de tentar segurar o Deerling.

O Pokémon selvagem, sentindo a aproximação, até pensou em correr mais uma vez, mas assim que apoiou a perna machucada no chão, acabou caindo de cara e gemendo de dor — Calma, calma, amigão... Vai ficar tudo bem, só deixa a gente cuidar de você, ok? — Comentou calmamente o Aprendiz, com suas mãos erguidas em sinal de "não-violência", conforme aproximava-se mais e mais do ferido. Quando achou uma abertura, o rapaz usou suas mãos para segurar com firmeza as quatro patas do Pokémon, impedindo que tentasse fugir e se machucasse mais ainda. Entretanto, ele ainda agitava-se e gemia, apenas de medo. Mísia passou a agir também, dessa vez acalmando a criaturinha, que lançava lágrimas de seus olhinhos como se fosse um rio, era notável a forte dor que sentia.

— Ótimo Mísia, você leva jeito com os Pokémon, ele tá bem mais calmo... Quando você puxar, vai doer de novo, então tente fazer isso de uma vez só, mas com cuidado para não quebrar o graveto dentro da ferida... Eu tenho certeza que você consegue! — Comentou Nick, agora sussurrando para não atiçar mais o Deerling ferido. Era a vez de Mísia dar o melhor de si para não machucar ainda mais a criaturinha. A tarefa era relativamente simples, mas muita coisa podia dar errado. Como a garota faria isso então? Sozinha? Com alguma ferramenta? Ajuda de algum Pokémon? O que a Coordenadora tentaria?

Mísia estava um tanto pressionada por tamanha responsabilidade. Usar apenas as mãos para esse procedimento poderia ser a melhor opção ou a pior, sem meio termo. Isso porque, por mais que Nick fosse forte, o que não era tanto, não conseguiria segurar tão firmemente o Pokémon Selvagem quando a dor apertasse. O resultado seria ruim, quase com certeza. Pensando nisso, Mísia liberou Bloom, sua recém evoluída Hattrem, para tentar aplacar a mistura de emoções e sensações ruins pelo qual o Deerling estava passando. Não é como se os poderes da Pokémon fossem impedir a dor, mas certamente ajudariam a criaturinha ferida a encarar melhor aquele pico de adrenalina sem acabar causando maiores ferimentos para si.

— Eu estou pronto Mísia, quando você quiser... — Disse Nick, reforçando a forma como segurava o Pokémon para que não escorregasse entre seus dedos. Ao mesmo tempo, a Pokémon usava seus poderes para tentar atingir o "interior" de Deerling. Neste instante, a jovem Coordenadora deixou o graveto o mais reto e segurou o mais firme possível, puxando-o totalmente na vertical. O Deerling sentiu imediatamente a dor e emitiu um grunhido de rasgar o coração. Entretanto, o "toque" emocional de Bloom lhe fez reagir menos agressivamente... O importante é que o graveto tinha saído e o sangue escorria tão rápido quanto as lágrimas que deixavam o rosto do Pokémon. Imediatamente a garota aplicou a Poção e viu o ferimento começar a cicatrizar de maneira quase mágica, mas ainda não perfeita...

— Boa! Acho que saiu por inteiro... — Disse Nick, esticando o pescoço para olhar o ferimento e também o graveto sujo de sangue e com uns pedaços de tecido arrancado, aderido. Deerling choramingava, tentava mover-se, mas resolveu apenas deitar-se e esperar a dor ir passando, já não tinha mais energia para "lutar" ou talvez nem quisesse. Curiosamente, Bloom continuava a acompanhar o Pokémon, fazendo carinho em sua cabeça. Ao que parecia, a Hattrem tinha realmente um espírito de "cuidadora" em si... — É, Mísia... Eu acho que não vai ser tão simples curar completamente esse Deerling por aqui. Talvez fosse melhor capturá-lo para manter estável dentro da Ball... Não querendo ser insensível, mas assim podemos ver a Revoada e ao mesmo tempo deixá-lo tranquilo e bem até voltarmos à Cidade. O que me diz?

Deerling estava obviamente assustado e com o ferimento dolorido, por isso não conseguia expressar tanta coisa além de dor. Entretanto, era seguro dizer que ele sentia-se mais abrigado na companhia de todos ali do que sozinho no bosque, seja pela forma carinhosa que Bloom se conectava às pessoas e Pokémon, quanto pelo jeito gentil com que Mísia o tratava. Sendo assim, não foi um baque para o Pokémon quando a Treinadora retirou uma de suas Balls de dentro dos seus pertences para capturá-lo. O Pokémon podia até mesmo reagir e tentar fugir, mas escolheu ficar. Ele observou com certa dúvida a esfera bicolor, mas aceitou seu "destino", repousando a cabeça na grama e fechando os olhos, apenas esperando o frio toque da cápsula para absorvê-lo. A confiança do Deerling era evidente pela forma rápida com que a captura foi realizada.

— É isso! Parece que ele confiou em você, geralmente Pokémon selvagens tem maiores dificuldades, mas Bloom e você ajudaram bastante... Hoje parece mesmo estar sendo um dia atípico com tantos Pokémon nos surpreendendo assim, geralmente venho por aqui e não acho nenhum! Hahaha!  — Comentou o aprendiz, observando a captura, enquanto Bloom olhava de perto a esfera nas mãos de sua treinadora. Como havia cinco Pokémon consigo, o sexto não foi enviado diretamente ao Storage. Contudo, por estar altamente debilitada, não parecia que Mísia iria utilizar a Pokémon tão cedo...

— Ok, agora sim vamos! Atrás daquele conjunto de árvores é o Vale, prepare-se! — Comentou o jovem aprendiz, levando a Coordenadora por um caminho denso, mas que finalmente a levava até uma espécie de mirante no penhasco. Era uma guarda-corpo de rochas com alguns banquinhos de concreto, mas sem binóculos que são comuns nesses lugares. Por sorte Mísia tinha trazido os seus... Diante de si quase uma pintura! O verde do Vale contrastava com o marrom das encostas e com o azul e branco dos céus. Haviam nuvens bem espalhadas como pequenos gomos de algodão e elas se moviam de maneira até engraçada pelo céu, deixando apenas poucos espacinhos azul-celeste. Uma visão maravilhosa!

Apesar de Mísia ainda estar com o ferimento do Deerling na cabeça, ela finalmente podia relaxar e apreciar a vista do Forina Valley. Certaente a beleza do lugar faria todos os problemas ficarem em Stand-By, pois o contato com a natureza era incrível, capaz de recuperar todas as energias de uma Treinadora Pokémon. Afinal, era Magé. Enquanto apreciava a vista e tentava localizar tudo que estava no seu campo de visão, a Coordenadora agradeceu Nick, que sorriu sem jeito — Ah, que isso! Não foi nada! Eu também adoro vir até aqui! Em condições normais eu voo por todo esse espaço com meus Pokémon, mas hoje tenho a Missão da Winona, que me deixa focado! Hahaha! Aliás, os binóculos! Que tal você usar eles e apontar para essas nuvens? Talvez veja algo interessante! — Explicou Nick, dando uma sugestão para que Mísia observasse o céu com seu aparelho emprestado.

Se a jovem seguisse a orientação, poderia ver com muito mais calma e tranquilidade do que se tratava aquele "tapete de nuvens". Não eram simples formações de nuvem em um céu azul, na verdade eram milhares, se não milhões de Swablu voando lentamente, sendo arrastados pela brisa fresca de verão. Eles pareciam praticamente imóveis e eram arrastados, como se estivessem em um grande rio caudaloso... — E aí está Mísia, esta é a Revoada das Nuvens! Os Swablu cobrem todo o céu quando vem para o Vale! Eles conseguem deixar ele ainda mais lindo do que já é normalmente, não acha? — Disse o aprendiz, encostando no guarda-corpo para apreciar melhor a vista...

Mísia, que ainda estava com os binóculos, poderia ver muito mais do que apenas a Revoada... Ela também via um Swablu no meio de tantos e ele parecia perder altitude e desprender-se da Revoada, caindo... caindo... caindo, cada vez mais rápido até que... Desapareceu no meio das árvores e galhos. Isso certamente não parecia algo normal. Será que ele estaria bem? Nick com certeza não enxergaria isso sem os binóculos, então caberia à garota falar para ele se achasse necessário. O que Mísia faria?

Definitivamente, o cenário e momento faziam Mísia esquecer quaisquer problemas e voltar a ser criança. Swablu eram de fato sua paixão e ver tantos assim de uma vez só era certamente incrível! Com o binóculo ela acompanhava a movimentação daquela Revoada e até mesmo conseguiu ver o momento em que um deles caía como uma folha de papel em direção à floresta. Inclusive, Mísia desesperava-se em narrar isso para Nick em tempo real, enquanto o aprendiz, surpreso, pedia o binóculos para ver onde ele havia caído... — É, isso é um problema... Swablu andam sempre em bando para se proteger de alguns predadores... Eles procuram ficar no alto, pousando só na copa das árvores também, o mais alto possível! Esse Swablu certamente está em perigo e os demais não vão conseguir dar meia volta para buscar ele... — Comentou Nick, apreensivo, sem saber exatamente como fazer o que tem que ser feito.

O jovem começou a olhar para todos os lados e então tomou uma decisão — Temos que ir lá ajudá-lo! A gente pode descer por aqui, ó... São muitos lances de escada, mas a gente consegue! Poderíamos voar, mas os ventos estão muito instáveis no Vale... É, vamos andando! — Decidiu-se Nick, já começando a descer a escada, solicitando que Mísia o seguisse. Eram realmente muitos degraus, então demoraram alguns minutos para chegar até o bosque. O interior do Vale era fresco, mas menos do que lá em cima. O ambiente mais fechado formava bolsões de calor onde o Verão era mais forte do que nunca. O caminho que deveriam seguir passava por alguns riachos cheios de pedras bem redondas e também bosques curtos, mas em momento algum avistavam algum Pokémon.

Na verdade, só encontraram alguma criatura ao chegar nas proximidades do local da queda do Swablu... Havia pelo menos três criaturas e elas pareciam vasculhar os arbustos em busca de algo... Será que estavam procurando o Swablu? Era um Vigoroth e dois Nuzleaf! Nick, ao avistá-los, escondeu-se atrás da árvore e solicitou que a garota fizesse o mesmo, quando começou a sussurrar — Está vendo? Aquele ali, o Vigoroth é um dos predadores de Swablu. Os outros são, provavelmente, oportunistas, capangas, sei lá... Mas tenho certeza que estão caçando o Swablu que caiu. Acho que devemos fazer algo para impedir que achem ele. Não sei se vai querer batalhar com eles, mas... Estou aberto a opções! — Disse Nick, esperando uma ideia de Mísia ou a concordância em batalhar.