EVERLASTING GROVE DUNGEON #2 - Ran & Shianny

Mesmo que quisesse, não poderia dizer como havia parado ali.

Eram poucas, eram muitas coisas acontecendo uma após a outra. Era a informação do tal Dispositivo que, por algum motivo, lhe parecia familiar; Era a flauta, que a embalou em uma melodia tão doce que simplesmente furtou-lhe cada um dos sentidos, permitindo que o coração e a consciência flutuassem para um outro nível de torpor que simplesmente não parecia querer permitir que tomasse decisões por conta própria.

Lembrava do claro.
Lembrava de um ser faérico rodopiando ao seu redor como uma minúscula bailarina encantada...
E lembrava, principalmente, do escuro.

— ...Nh... — Foi o primeiro sussurro de denúncia de consciência. As pálpebras apertaram, trêmulas, e os dedos se pressionaram contra a grama espetadinha que acolhia o corpo em seu ninho esverdeado. Com certa moleza, a cabeça pendeu para o lado, as madeixas ruivas acompanhando o movimento e se jogando um pouco para trás, suaves. — ...Ah...? — Outro questionamento soprado ao vento que, tão fácil como o outro, se perdeu no assovio da brisa.

É difícil dizer se percebeu, logo de imediato, a situação em que estava intrometida. Ouso dizer que muito provavelmente não, ainda que os bracinhos magricelas lutassem para erguer o corpinho pequeno que, não obstante, tinha nas costas a belíssima mochila que uma criança não-fisiculturista certamente não seria capaz de carregar. A parte irônica da situação foi que o próprio Lucario, agora Riolu, tomou o partido de fazê-lo, enfiando as alças nos ombros com a sua forcinha bruta e, consequentemente, chamando a atenção da... garota... não só pra sua presença, mas como também pra de Roselia e do afortunado Rotom.

— V-... Balt? — Foi o primeiro que reconheceu, estreitando o olhar confuso na direção dos outros e... Aí, só aí, que percebeu o desconforto das roupas enormes. E eu não vou mentir pra você: A calça foi embora e sobrou apenas o moletom que, no corpinho miúdo, deu um belo de um vestido beeeem simples. — ...mas o que é que... — Murmurou, tentando tomar impulso para levantar e pateticamente perdendo o equilíbrio no processo, bambeando de um lado para o outro e sendo quase que instantaneamente socorrida pelo venenoso não-mascarado.

— ...Sério isso? Era só o que faltava, mesmo. — Choramingou, encarando os próprios bracinhos e a manga folgada do moletom. Se não estivesse tão ocupada tentando compreender tudo que se passava, provavelmente teria prestado um pouco mais de atenção na beleza puríssima que agora os rodeava... Mas, como não, então restou se lamuriar enquanto a máquina de lavar jogava suas calças de qualquer jeito dentro da mochila e, felizmente, pelo menos Rosera-...lia... estava atento para dar-lhe um cutucão espinhudo e apontar na direção do...

— ...Ai! Que isso, pra que is-.. Nicholas?! — Exclamou, franzindo o cenho e estreitando o olhar na direção do pivetinho que... De repente, não era mais tão grandão assim. O que podia ser tanto um alívio quanto maldição, pois podia significar que tudo no lugar seguia as mesmas regras... Ou ia querer dizer que quem fosse de fora estava totalmente lascado.

Mas que caramba!

A parte boa era que... Pelo menos não estava sozinha com seus pokémons, à própria sorte e à própria cabeça.

— Ai, você não sumiu! — Foi o sussurro de alívio exclamado que veio pela garganta. Se estaria metida em uma situação problemática, que não fosse sozinha e sem saber se a qualquer momento poderia encontrar algum... Hã... Sei lá, adulto que pudesse estragar sua experiência na disputa de força física (?). Quase, mas POR MUITO POUCO, que a criatura não se arremessou no companheiro para esmagá-lo todinho em um abraço, então foi bem sorte que deu pra se conter antes de passar por doida.

Apesar de que... Passar por doida provavelmente seria o menor dos problemas por ali.

— Sei não. — Respondeu, depois de correr rapidinho pra perto, as mangas do moletom balançando - frouxas, ocultavam as mãos, o tecido vazio servindo como uma ponta de mangueira esquisita. — ...mas se for culpa da flauta, pelo menos você 100% me incentivou, então a culpa é toda..... nossa! — Lembrou, apertando uma das pálpebras em uma expressão meio desajeitada, um sorriso envergonhado de... bem, de criança que fez besteira. — Mas olha só, você nem é tão alto, no fim das contas... — Brincou, dando um riso que escondeu por detrás da manga ao se dar conta do vestidão frouxo que a blusa do companheiro havia virado e que, sem dúvidas, colocava a própria no pé do chinelo.

E foi só aí que resolveu olhar ao redor, para tentar se localizar. Não precisou muito para descobrir que não estavam, de maneira alguma, na mesma floresta de antes, e os lábios entreabriram de leve em uma expressão de surpresa, deixando o ar escapar enquanto as pupilas eram inundadas pela beleza natural da paisagem que praticamente cintilava. Sem conseguir conter a própria vontade, os pés rodopiaram pela grama, enquanto analisava brevemente os arredores que os aprisionavam.

— ....wooooooow! — Exclamou, piscando algumas vezes e perdendo o equilíbrio por um segundo por conta dos giros, sendo amparada pelo corpo do eletrodoméstico que se empurrou contra sua belíssima pessoa, os olhinhos vítreos a espiando com o eterno sorriso malandro. — ... ...ei, é verdade, né! Você tá normal!!!! — Disse de repente, encarando o alaranjado e cutucando sua superfície com delicadeza... E, no fim das contas, acabou foi rindo. — Você é mesmo um bombril, né? Incrível! — Balançou a cabeça, os cachinhos longos indo de lá pra cá ao acompanhar o movimento.

— Olha, então, não tem nada tentando matar a gente ainda... — Voltou a atenção para Nicholas, balançando os braços com suavidade para dar um ÊEEEEENFASE na afirmação, as mangas longas doidinhas como um boneco de posto. — Então talvez não seja tão ruim. Quer dizer... NÃO É pra ser ruim, né, a gente deve tar, sei lá, dentro do santuário do guardião? Talvez a casinha não fosse tão pequena, no fim das contas, e a gente meio que tocou na campainha? — Teorizou, cruzando os braços e apoiando uma das mãongas contra o queixo, batendo-a de levinho contra a boca enquanto pensava sobre o que deviam fazer. — E........ Se for isso, talvez a gente tenha que encontrar o Celebi agora! Eu acho? Então a gente pode ir andando pra ver se encontra alguma coisa! — Decidiu, apontando para a trilha única que os guiava mata adentro. — A parte boa é que a gente tem uma direçãozinha e... — Pausa. Depois de tanto, tanto tempo... O olhar finalmente parou no bonito do macaquinho ao lado do criminoso. — .. ... ......e mEU DEUS QUE FOFO — Outra escapatória, e teve que segurar a vontade de agarrar o macaquinho e esmagar ele todinho.

INICIAIS ERAM TÃO BONITINHOS, NÃO ERA JUSTO

...

— ...c-caham!!! — Limpou a garganta, e a sua mãonga agarrou na mãonga do senhor Dietricher, sem nem pensar duas vezes. — Vem, a gente tem que ir embora, vamo aproveitar enquanto o mundo não tá caindo!!! — Decidiu, indo em direção à trilha e caminhando em passinhos rápidos, arrastando o coitado do jovem pubertário junto consigo enquanto seus pobres pokémons lidavam com a bagunça das mochilas e das roupas.

Sobre a bifurcação...
Sinceramente, se não tiver nada de interessante ou que chame a atenção em nenhuma delas, vamos no mamãe mandou, que provavelmente vai ser... ... ...
...ora, a quem que eu quero enganar?
Direita é sucesso, né?

— Você acha que a gente vai ter que enfrentar? — Foi a reação imediata diante da hipótese levantada pelo rapaz. Com um franzir de cenho, o olhar acinzentado passeou em silêncio pela imagem de seus pokémons que, de alguma maneira, haviam involuído. Não é como se não confiasse no poder de cada um deles individualmente, mas... Será que seriam capazes, naquela forma, de lidar com a força de um possível lendário? — Quer dizer... As coisas tão bem calmas por aqui e não parece que teve nenhuma confusão, mas acho que é uma possibilidade... — Murmurou, os dedinhos se apertando com delicadeza no interior das mangas escuras.

— Eu tô indo pra quarta! — Comentou quando o ruivo mencionou da mega, apertando os olhinhos e deixando escapar um sorriso travesso. Ora, parece que havia alcançado o dito cujo, no fim das contas! — Mas eu não aconselho não, viu, tô é cansada de ter um bando de bicho gigante tentando me matar. — Balançou a cabeça rapidinho, — O Law... Eu não cheguei a aproveitar muito ele assim, não. Ele evoluiu rápido, até... — Murmurou, espiando o bebê que, por incrível que pareça, estava tranquilíssimo levando aquela mochila pesada pra desgraça até para si. Bom, pelo menos forte ele era, né... — 'Cê acha que a gente vai conseguir virar com todo mundo desse jeito? — Quis saber. Pelo menos Balthazar estava normal, até então, mas... Será que se manteria assim?

......mas, sim, voltamos ao ponto inicial que estava pensando inicialmente lá no comecinho do começo do início dessa Dungeon: Ou, pelo menos, naquilo que deveria estar pensando.

Como diabos Dietricher sabia a respeito do dispositivo de ocultação?
Veja: Já tinha ouvido falar. Até chegou a dar uma espiada, mas acabou que não prestou muita atenção a respeito e, quando o ruivo mencionou, as coisas fizeram certo sentido. Aquele pedaço de "pele" fina era bem parecido com o que se lembrava da descrição daquele tipo de equipamento, mas também não era como se qualquer um soubesse do que se tratava...

Era o tipo de informação sigilosa, entende?

— Hm... Ei... — Disse, devagar, após alguns segundos de caminhada rápida e silenciosa. — Por que que cê tem tanta certeza que ela era Rocket, hein? — Perguntou, os dedinhos apertando com delicadeza contra a mão do ruivo. Sabe quando você tem certeza, ou pelo menos quase 100% de uma resposta, e mesmo assim ainda arrisca perguntar só pra ver o que a criatura vai dizer? Então... Era basicamente isso. — ... ...será que o outro lá entrou amarrado aqui? — Ponderou, um sussurro baixinho escapando dos lábios. Seria meio trágico se ele estivesse zanzando por aí sem pokémons e com as mãos presas e acabasse encontrando o que não devia, mas... Vida de rocket, né?

Não tinha muito tempo pra pensar a respeito, de qualquer jeito.

Se o tapete de entrada causava a belíssima sensação de boas vindas, digamos que a sala de estar não seguia exatamente o mesmo naipe. Admito inclusive que a ruiva até receou ao se dar conta de que a flora ao redor secava e morria, dando lugar à um terreno árido que há muito tempo parecia não ser agraciado com uma chuvinha sequer.

— ... ...mas que giratinas... — Murmurou, os dedos apertando um pouco mais a mão de Nicholas por conta de um temor inquieto que roçou pela espinha e se instaurou na consciência. Não era um terreno amigável, e disso podia ter certeza - era bem, bem difícil que um bioma mudasse com tanta brusquidão daquele jeito, quase como se... — ... ...quase como se tivesse tido um incêndio. — Outro murmúrio que completou a linha de raciocínio, a ponte do nariz se franzindo com certa inquietação. Rotom, talvez para animar um pouco o ambiente, virou a mangueirinha pra cima e a girou, esguichando água para os lados como se fosse um daqueles regadores automáticos extremamente eficientes.

E foi só quando chegaram bem, beeeem pertinho do altar, que os dedos largaram a mãonga de Dietricher e se aproximaram da ampulheta, batendo no vidrinho do objeto com a ponta do indicador, como se tentasse incentivar a areiazinha de cair de uma vez - o que talvez não fosse uma boa ideia, mas admito que suas pecinhas da cabeça não estavam lá todas no lugar.

— Será que é isso aqui que fez nossos pokémons voltarem pro "passado"? — Teorizou, estreitando o olhar e dando mais algumas batidinhas no vidro, parando só pra poder tentar descobrir se tinha alguma coisa ali com a qual podia interagir. Fazia certo sentido, levando em conta que era uma ampulheta, mas... Não dava pra resolver tudo de uma só vez.