EVERLASTING GROVE DUNGEON #2 - Ran & Shianny

Ah, já acordou. Ah, então tá tudo bem.

O despertar dos pokémons em campo serviu como um calmante para elefante - que nem aquele meme do cachorrinho rosnando, de repente parou de lutar contra o agarro de Balthazar e assistiu a queda do coitado do cogumelo que ameaçava pra se permitir um sorriso curto de canto, satisfeito. Não era como se realmente esperasse que o Monferno fosse quebrar o bicho no pau daquele jeito, mas aquilo em realidade acabava sendo uma boa notícia, pois significava que talvez a força de seus pokémons não havia se esvaído, mesmo com a involução de cada um deles.

De fato, era um bom sinal.

— ...TÁ!!!... ...tá, já parei. Foi mal. Me solta? — Choramingou para a máquina de lavar, que ainda jogou um pouco de água na sua cara pela mangueirinha antes de desenlaçar-se de sua treinadora, ainda que atento para caso precisasse agarrá-la de uma vez, mais uma vez. — OLHA, eu não tenho culpa, OK??? Você sabe que eu tô de saco cheio com essa putaria aí! — Reclamou, gesticulando de maneira exagerada na direção do bípede caído, morto, queimado. — Sério, nocauteia de vez, mas não fica colocando mais pra dormir. Eu vou surtar se passar mais um par de horas tendo que lidar com batalhas de dorme e acorda! — Ranzinzou, cruzando os braços com força em frente ao peito e batendo o pé contra o chão, impaciente. — Que saco! Vai, Eel, dá outra mastigada nesse macaco chato aí, se precisar, né. Acaba com ele! — Deixou escapar um suspiro pesado, tentando acalmar os nervos que a dominaram em um impulso violento. Não acreditava que aquele bicho, no estado em que estava, ia sobreviver à qualquer avanço de Robb, mas... Na dúvida, sempre é bom deixar um golpe precavido.

— Ai, sei lá, aliás... Vai ver foi na sorte, eu acho. Deles terem voltado ou não. — Comentou com Nicholas, FINALMENTE reconhecendo a ponderação do coitado. — Ou... — Pausa. Ia falar algo a respeito de que "bichos da floresta" talvez tivessem sido poupados, mas... Olhando para Roselia, ficava claro que aquele não era o caso. — ... ... ...Eu já falei que odeio sleep? Eu ODEIO sleep. — Outro sussurro nervoso, estreitando o olhar na direção da orangotango, quase como se a desafiasse a OUSAR tentar botar alguém pra dormir. Não tô zoando, vou dar um soco nela eu mesma, viu? GRRRRRR

.....ai, tô bem

— ...Ah, então o bonito tá achando engraçado, é? — Foi a questão que cortou a brisa quando percebeu as gracinhas de Nicholas. Não vou mentir pra você: Aquela tinha sido uma ótima sacada pra aliviar um pouco a tensão, sim, e isso sem contar com o fato de que tinham conseguido lidar com os "seguranças" sem muitos problemas. — 'Cê acha que é brincadeira? — "Reclamou", dando um empurrãozinho no braço do ruivo. — Cê vai ver. Cê vai ver só! — Continuou, cruzando os braços de maneira emburrada em frente ao peito. — Cê vai ver, eu vou fazer um time TODINHO só com Espeons. Vou quebrar a cara de TODO MUNDO e ficar rindo quando tentarem me botar pra dormir, cê vai ver só. — Fez bico, inflando uma das bochechas e resolvendo tomar a dianteira, pisando firme na direção do portal... Mas, claro, acabou recuando uns dois passinhos e agarrando os dedos nas roupas do rapaz, o puxando junto consigo - só por precaução.

Inclusive, nem notou os coitados dos pokémons "liberando" o caminho, porque o caminho já estava liberado. Também nem se deu conta dos doces; Felizmente, Riolu o fez, agarrando-os com os bracinhos pequenos e os espiando bem de pertinho, curioso por aquelas bizonhas boas-vindas circunstanciais.

... ...o que viu além não foi muito agradável ao próprio coração.

A metamorfose da paisagem para um ambiente gentil e glamuroso para um anômalo e hostil foi, acima de tudo, algo que acertou seu coração e espinha com um golpe inquietante, um arrepio trêmulo e desconfortável pulsando por cada uma das células nervosas que se espalhavam por sua carcaça. A mudança abrupta foi a responsável por não perceber o vestido encolhendo, a borda já batendo pouco acima do meio das coxas, momento em que qualquer movimento mais brusco poderia ser perigoso (mas não estamos lidando com isso agora, estamos?). Não só isso, porém; a atmosfera sombria fê-la abandonar quase que instantaneamente o posto de liderança, os pés recuando para que pudesse se aproximar mais do ruivo e os dedos apertando com delicadeza sobre o tecido de suas mangas.

Entenda: Não era uma situação que estava esperando se meter daquela maneira.
... ... ...e parecia tanto, tanto com os inúmeros pesadelos sombrios e amaldiçoados que já havia tido de enfrentar ao longo de toda uma jornada.

Óbvio que o grito não a fez se sentir muito melhor, aliás.

Não se engane: Não era como se não soubesse se virar naquele tipo de situação. MAS, porém, entretanto, contudo e todavia... Também precisava de alguns segundos para que conseguisse absorver a situação e agir de maneira apropriada - ao contrário das tantas outras vezes, não era como se estivesse esperando aquela mudança brusca de paisagem, mesmo que já estivesse ponderando sobre a possibilidade de terem que "conter" outro guardião.

...tinha medo dos tipos de espíritos que poderiam tentar acorrentá-los por ali.

...
Mas não podiam voltar atrás, huh?

A proximidade momentânea com alguém familiar foi, naquele momento, praticamente essencial. Ela se manteve perto, os orbes acinzentados vagando sem muita compreensão pelo ambiente no qual estavam - um lugar que parecia morto, mórbido, sórdido: Uma combinação deveras anômala para um lugar que devia estar diretamente relacionado com o guardião protetor de Ilex, se quiser a minha opinião.

... ... ...isso poderia querer dizer que, assim como Lugia, ele também estaria corrompido?

EEEEENfim.... Apesar dos pesares e da estranha situação, digo que, por mais incrível (ou estúpida) que essa ideia possa parecer, não foi por muito tempo que se viu enlaçada pela ideia temerosa de que teria de lidar com uma versão apodrecida de uma floresta magnífica que há pouco haviam abandonado. Não por se acostumar, oh, não - claro, era capaz de se adaptar com certa facilidade, mas o tempo não havia dado tempo ao tempo.

... ...na verdade, o que a fez parar de prestar atenção foi a imagem esquisita de um magricela sendo sequestrado por um bando de Yanmas.

...quer dizer...

Qual era a probabilidade?

— ... ...que merda é essa? — Foi a questão que simplesmente pulou da garganta, natural, os dedos se afrouxando na manga do ruivo enquanto o cenho se franzia em resposta à simples existência daquele grupo por ali. — ... ... ...ele tem perna de barata. — Murmurou, sentindo um arrepio meio asqueroso escorregar pela coluna, balançando a cabeça e tentando espantar bem rapidinho a ideia que tinha enfiado na cabeça.

E, se por um lado não tinha ideia de se devia ou não se meter...
Por outro, Balthazar sabia muito bem: E foi exatamente por isso que simplesmente mirou sua mangueirinha e deu um belo de um banho naquela cambada de libélula bonita e... bem, e no Senhor-Perna-de-Barata, é claro!