[This is NOT a drill] – Mossdeep City –

Você tem que entender uma coisa: Se já não estava muito feliz da vida quando enxergou uma pançuda laranja fazer o maior auê enquanto desfilava com protetor e óculos de sol, seu humor não entrou em uma escala muito melhor quando uma loira vagabunda de biquíni montou na dragoa como se fosse um corcel e simplesmente deu no pé (essa parte era um pouco melhor, considerando que não precisaria IR ATÉ LÁ).

De qualquer jeito, é preciso sinceridade ao mencionar que muito provavelmente estava com uma cara de bicho quando Ivy freou e a princesa de Taubaté veio capotando o corsa pra cima de sua pessoa com um monte de desculpas ESFARRAPADÍSSIMAS. Como se QUALQUER COISA QUE ELA DISSESSE NAQUELE MOMENTO MELHORASSE, DE ALGUM JEITO, AQUELA BENDITA DAQUELA SITUAÇÃO!!!

— ...você simplesmente IGNOROU minhas mensagens, a gente tá em cima da hora, eu e a Winnie criando calo na bunda de esperar... — Ok, talvez essa parte fosse exagero, mas ela não precisava saber disso. Tanto não precisava, que não teve vergonha alguma de AFUNDAR A MÃOZONA em cima da cabeça desmiolada da loura, empurrando-a para baixo e dando uma apertadinha com os dedos, tentando descobrir se REALMENTE era tão vazia quanto pensava. — ...E VOCÊ QUEBRANDO COISA POR AÍ E TOMANDO SOL??? — Essa foi a explosão que não achou que precisaria fazer, mas que simplesmente escapou.

...mas então, pensou melhor.

Veja: Eu tenho certeza que você já ouviu na vida aquele lance de "calmaria antes da tempestade". Há um motivo para essa citação existir - principalmente quando a tranquilidade aparece repentina, a expressão irritada desaparecendo em uma fachada neutra e a mão recuando devagar das madeixas bagunçadas de seu projetinho cleptomaníaco favorito. A respiração veio e foi, serena, e um sorriso simples brincou nos lábios sem muita explicação momentânea.

— ...Quer saber? Não, tudo bem. Tudo ótimo. — Famosas palavras finais de quem sabe que não tá nada bem. Enfim, eu devo te dizer que foi nesse momento que, com toda a tranquilidade do mundo, mexeu nas coisas da companheira para que pudesse retirar a esfera bicolor da Dragonite e retorná-la após um simples carinho na pancinha (ora, não era culpa dela, mas era preciso que tirassem a bonita de vista por um momento, sabe?). O pescoço se moveu pro lado, pro outro... Tranquilo, enquanto as engrenagens maquinavam e os dedos reviravam a esfera encolhida da pseudolendária entre si. — ...Vamos voltar. Não quero ter que ficar explicando palhaçada pra essa tal de Miss B. — Essa frase, porém, foi direcionada para Winnie.

Tranquila.
Calma.
Gentil.

Essa atitude ocorreu pouco antes de fisgar uma nova esfera do bolso e, com um simples gesto, permitiu a liberação de um feixe esbranquiçado que rasgou o ar e tomou posse de matéria logo atrás da belíssima senhorita Karinna Bley.

Essa liberação resultou na materialização de Navi - ou, para os menos íntimos, Cofagrigus.

Foi esse mesmo Navi que escancarou sua tampa e simplesmente engoliu a loira, sem mais nem menos, aprisionando-a do lado de dentro do sarcófago como já bem o fizera em outros carnavais.

Uma narradora me contou que ele é à prova de som, e eu adotei esse detalhe a partir dali.

E esse é o seu castigo, Karinna.
...mas claro que tudo em nome de ter que te esconder um momento de qualquer autoridade que possa aparecer. Sei que você entende, não é verdade?

Obviamente não foi por irritar sua irmãzinha, nem nada assim.

— ...eu espero que a gente não tenha que lidar com a polícia antes de começar a missão. Isso não vai ser nada legal. — Resmungou, balançando a cabeça em negativa e dando meia-volta nos calcanhares, encaminhando-se mais uma vez para o banquinho recém-abandonado. Cofagrigus, por sua vez, deu uma breve olhada em Freda, os dentinhos de seu sorriso se ampliando um pouco mais - entretanto, com seu buchinho cheio, limitou-se a dar uns pulinhos atrás.

— ...Relaxa. — Foi a única resposta que pôde dar à Freda, a irritação se amenizando um pouco diante do tom de seriedade da rosada (bem, não por muito tempo, levando em consideração que não levou muito antes que fossem interrompidas por uma mensagem que envolvia um "report" e uma mudança de planos - embora, cá entre nós, tivesse suas desconfianças a respeito da sinceridade dessa última parte). — Não é ruim do jeito que parece, mas às vezes... — Um olhar de esguelha na direção do fantasma, os passos se esforçando para ir além de um arrasto no novo ponto de encontro apontado por Miss B. — ...esse aí começa a falar demais. — Comentou, um dar de ombros curto. — Eu já tive que entrar, também, pra sair fora de uma missão fracassada. — Admitiu (afinal, quando a gente mesmo já teve que se botar nessa, dá mais confiança, né?!), a ponta da língua umedecendo com amargor o lábio inferior enquanto se recordava do bate-bola patético de Sienna, onde tivera de tirar as coisas do rabo pra tentar endireitar uma situação completamente cagada pela organização.

Não havia dado muito certo, mas sinceramente, sequer era novidade.

— ...de qualquer jeito... Não é costume. Eu tive que botar ela pra dentro uma vez quando a bonita ficou catatônica no meio de-... enfim, problemas. É o jeito mais seguro de se mandar, ou arrastar alguém. Sabe? — Murmurou, balançando a cabeça com suavidade... Mas então, os pés pararam por um instante, as mãos se enfiando nos bolsos e os orbes acinzentados pairando na imagem de Freda que, sinceramente, já parecia estar acostumada àquele tipo de gente maluquinha pelo caminho dela. — Eu não vou fazer isso com você... — Uma pausa. — ...aleatoriamente. Se chegar em um ponto que você precise de mim em uma situação crítica, eu não vou pensar duas vezes. — Admitiu para a outra, com a mesma firmeza que veio a "ordem" de que não o fizesse.

Queixadas à parte, toda regra há uma exceção.
Mas se tratando de bem-estar alheio, acho que dá pra passar pano, não dá?

... ... ...

Isso nos leva ao encontro com Miss B - ou com uma taturana esguia que podia imaginar se tratar da mesma. Taturana, sim, pois é uma ótima palavra (que decidi agora, aliás) pra nomear Rockets mais altos. À fatídica questão que exigia a presença de Karinna, e também ao erguer de Navi (aqui eu devo explicar que, ora, ao carregar uma pessoa, é bem mais confortável ir passando de quatro, entende?) diante de um simples olhar de esguelha. O pé, suave, se movimentou para dar uma batidinha na lateral do pokémon que, tão respeitosamente quanto gostaria, simplesmente deu à luz para a irmã com uma cusparada que a arremessou (sequinha, felizmente!) junto ao trio.

...

Veja, é verdade que ainda tinha no peito aquela sensação irritadinha de ter que baixar a poeira que Bley levantava pelo meio do caminho. Era divertido ver a bonita dar um ataquezinho de pelanca (para o qual já estava preparada, mesmo que fosse bem de levinho, considerando a situação e a presença aleatória), uma vingança relativa e boba para os estresses que aquela doida a fazia passar.

Essa sensação desapareceu, porém, diante da compostura imediata da monotreinadora assim que seus olhos cerúleos se quebraram sobre a imagem daquela que estaria à cargo daquela missão.

Não entenda errado: Querer de vez em quando disciplinar e dar uma punição aleatória (e leve, por mais que a birrenta proteste que não) não era, de maneira alguma, uma sinalização de qualquer desgosto que poderia arriscar possuir por Karinna. A situação, em realidade, era bem o contrário: Batia nessas teclas justamente pelo apreço enorme que guardava n'alma em relação à garota - principalmente levando em consideração o tanto de coisas que já haviam passado juntas após a reunião.

Raios, era por conta dela que estava ali.
Não em Mossdeep; na própria organização criminosa.
Havia sacrificado certos valores ao se meter, até a cabeça, no furacão patético que era a ER. Já havia se estressado, perdido tempo, corrido riscos completamente desnecessários: Galgara nas vísceras daquela imundice para que pudesse servir como uma barreira sólida contra qualquer ameaça real que pudesse se prostrar contra a especialista psíquica.

Karinna Bley não é o tipo de pessoa que respeita, obedece e faz etiqueta abrupta diante de um superior aleatório.
Ela não possui um pingo de etiqueta, afinal.

E tudo isso é necessário se mencionar para que possa pontuar que, sim, a mudança comportamental quase violenta da mais velha havia sido suficiente para disparar inúmeros alarmes que, por si só, expulsaram a chateação dominante de outrora. Ela também havia sido suficiente para que o corpo se movesse, tão automático quanto o próprio tom da moça, para que se posicionasse à sua frente, a expressão sóbria e o queixo erguido pois, em realidade, não sabia no que estava se metendo.

Não se importava, particularmente.

Estava com o pé na porta para a Elite criminosa e podia muito bem assumir a frente de duas agentes menos experientes - independente se a missão como um todo fosse liderada por alguém de um patamar completamente diferente.

...duas, sim.

Porque se Karinna tinha medo daquela mulher, também não estava disposta a deixar Freda à própria sorte.
Dois coelhos com uma cajadada só, é o que dizem.

— ...eu imagino que tenha mais informações a repassar, agora. — Adiantou-se para a madame, as pupilas repentinamente vidradas em quaisquer movimentos que ela pudesse realizar. — Qual o motivo do desvio de rota? — Se ele realmente existia, afinal, era de se supor que seria algum importante.

...mesmo que ainda acreditasse que aquele era o plano inicial, de qualquer das formas.