#001 - Chegada em Lilycove

O garotinho ficou extremamente feliz com a afirmativa de Avan, desarmando o pai por completo. Parece que nem o adulto achou que seria tão fácil assim convencer o moço de cabelo azul a pagar "o que deve", mas será que... deve mesmo?! Por um instante o homem botou a mão no queixo e pensou. Ele estava genuinamente confuso sobre a onde levar aquilo para consertar.

Por fim, mais calmo, disse:
- Sinceramente, acho melhor levarmos para a loja onde comprei. É uma réplica rara de uns minibôs antigos e meio folclóricos, não sei se todo mundo mexe com isso - Agora fora possível ver ele muito mais desarmado. Ele deixava seus ombros caírem, enquanto um braço acariciava o topo da cabeça do filho enquanto o outro estava na cintura, dando sustentação para a escoliose do NPC - Mas é logo ali. Pera, me segue.

E começou a marchar. O "logo ali" foi o famoso "logo ali" de mineiro: andaram cerca de dois quilometros. Quando estavam já quase saindo do centro, entrariam numa ruela de pedras, cujo uma plaquinha muito fofa sinalizava: "se esta rua, se esta rua fosse minha... eu mandava, eu mandava ladrilhar". Porque disso?! Não sei, é só um detalhezinho meio fofo.

Era uma das poucas ruas residenciais do centro de Lilycove, o metro quadrado não era tão caro justamente por ser um bairro comercial e fazer casas lá não era muito quisto. Os muros eram caracachentos e cor-de-reboco, porém com um ou outro risco de giz e canetinha. Ao fundo, era possível ouvir crianças brincando, mas não era possível vê-las, provavelmente estavam em algum quintal.

Depois de uns seis pares de números de casa, chegam a um cafofozinho. Um lugar que aparentemente está em reformas eternas, com uma enorme "portão roll-up" preto e aberto. No fundo, cortinas em vermelho separavam o balcão do fundo da loja, enquanto as paredes eram pintadas de cinza escuro.

Na parte visível do balcão, um rapaz com roupas coloridas e uma enorme capa preta, com um capuz sombreando seu rosto. Não combinava, era completamente démodé e um bocado desarmonioso, mas fazer o que?! Logo mais ele olha diretamente para os olhos de Avan e questiona:
- Boa noite, no que posso ajudar?

... pera, noite?! Passara tanto tempo assim que o sol começava a se por. Ainda havia sol, mas chegavam naquele ponto em que, daqui a alguns minutos, a penumbra iria consumir o cenário.

Um piado rouco, repentinamente, cortou o silêncio. Só um, e não durou muito. Provavelmente vindo do fundo de vermelho-feltro.

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- Hmmm, ta bom! - Disse o atendente, pedindo o drone para o pai sem nome - Vou ver o que posso fazer.

E o pai, obviamente, deu o bicho pra ele. A criança, nesse momento, já estava com sono, então começou a pedir colo e bocejar. Seu silêncio foi notável e logo mais ela estaria dormindo. Demoraria cerca de trinta minutos o conserto, e ele faria tudo ali mesmo, na frente de Avan, só pegaria uma ou outra ferramenta, além de uma ou outra peça atrás da cortina. Durante todo o processo, ele ficaria em silêncio, salvo no momento em que reparou que o nosso protagonista estava olhando para suas roupas com um olhar um pouco duvidoso. Na dúvida, questionou:
- Gostou?! - E abriu um sorriso singelo

Logo mais estaria pronto.

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Gargalhou. Com todos os fonemas possíveis o homem deu uma enorme risada, abrindo bastante a boca, mostrando os dentes e perdendo o fôlego. Foi até difícil se recompor depois, além de ser impressionante o fato da criança não acordar perante o berro retumbante que tomara forma de riso.

Depois que conseguiu parar e respirar - nessas horas a gente sempre pensa que vai morrer de rir -, passou a mão na testa e tirou o excesso de humor do rosto, junto com uma gotinha de suor. "Esquentou, né?", pensou com seus miolos, e voltou a mexer naquele troço. Por fim, ouviu a deixa desengonçada de Avan e deixou o riso escapar pelos dentes e pelo nariz, num som muito mais contido.

O que ele entendeu? Não sei, muito provavelmente você também nunca saberá, mas o importante é que depois de mexer mais um tico naquele negócio, acabou.
- Vem cá, acho que você vai se interessar por isso - Deu-lhe um cartão - A gente vai se encontrar na frente do farol às 20h. Se prometer que vai, prometo não te cobrar nada - Deu-lhe uma piscada simpática, talvez sendo apenas carismático, talvez retornando a cantada.

No cartão, um fundo branco dava alicerce para uma mensagem de texto em Arial 10, negrito.


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- Descobriu rápido - Disse o rapaz, dando uma outra piscadinha, tornando ainda mais difícil saber o que ele quis dizer.

Pra ser sincera, havia aqui dois tons enigmáticos (com Avan, três): o bilhete macabro e o homem passivo-agressivo, que só falava as coisas em tom humorístico deixando entender se havia um atrito, um flerte, uma piada ou a simples e pura sinceridade. No mais, o drone foi devolvido e Avan podia se livrar daquele problema horrível.

Se olhasse no relógio veria que eram sete horas, sendo uma horinha para se arrumar, descansar e ir. Era muito tempo?! Não, mas era um tempo considerável. O farol não ficava tão longe dali, poderia muito bem chegar mais cedo se assim desejasse, não é?!

O curioso foi perceber que o homem que lhe atendeu parecia estar com isso em mente. Assim que deram as costas para ele, ele sumiu do balcão, fechou as portas e sumiu. Minutinhos depois passaria em um fusca preto (?) bem ao lado dos NPCs, dando uma buzinadinha e indo em direção ao farol.

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Fedido? Só o suficiente para ninguém mais sentir. O suor do rosto era facilmente contornado, o pior mesmo era o couro cabeludo, que começava a ficar um pouco mais pesado. Visível? Não. Avan só estava sendo como qualquer outra sub-celebridade: nem um pouco higiênica fora das câmeras. Se fosse para o PPP (Pik Pokers Paldea) iria facilmente ser alvejado pelos sites de fofoca. Enfim! Vamos ao caminho, né?!

Segui o Rotom Phone? Pediu informações? Fez o caminho freestyle?! Não sei, mas fato era que andar observando a movimentação funcionava: o fluxo era, majoritariamente, do centro à praia, pois todos estavam voltando de um dia cansativo de trabalho para seus lares. Não tardou para ver o Farol e perceberia que estava uns 30 minutos adiantados. Já no pé do monumento, veria uma faixa branca "impedindo" a passagem, que era facílima de transgredir. Podia cortar, passar por cima, contornar ou fazer qualquer coisa para ultrapassar, servindo mais de enfeite do que de qualquer outra coisa.

Se ultrapassasse, veria que atrás da faixa tinha uma enorme praça, com um palco bem ao fundo. No meio, havia a construção do enorme farou, que tinha uma portinha - aberta - que dava a um pequenininho salão, que tinha uma outra portinha - fechada - e uma escadaria circular, que ia até o topo do monumento.

A portinha fechada tinha um vão no alto do batente, permitindo ver que a luz daquele cômodo estava acessa, além de vazar vozes mais afloradas e repletas de raiva... quer dizer, gritos, né?! Acho que é esse o termo certo.

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