??? - SIPÁ não tem VAAS

Ah, as quentes praias de Acapulco! Mesmo passando rapidamente pela cidade, consegui entender plenamente o que Winnie quis dizer com “tirar férias”. Realmente me faria bem passar algum tempo de molho em lugar como esse, mas esse dia não é hoje. Minha ida para esse paraíso oceânico era a trabalho. Mas não um trabalho qualquer. Os líderes da The Wolves indicaram um serviço encomendado pelo sindicato que representa os pescadores e trabalhadores da indústria pesqueira local acerca de um problema ambiental. A população de Shellder caiu drasticamente, a ponto de não aparecer mais nas redes dos pescadores e nas listas de exportação. Isso afeta diretamente a economia local, além de indicar um desequilíbrio que pode atingir proporções catastróficas.

Considerando que terei de passar um bom tempo no mar, levei comigo Groen, meu Dewgong. Mesmo não sendo muito bem o ambiente preferido dela, Kinney insistiu em ficar ao meu lado. Para aliviar o calor, consegui para ela um guarda-chuva infantil enquanto passava pela cidade, e agora tem uma Weavile se achando lindíssima com o acessório! Também me preocupei com minha própria saúde. Trouxe comigo um fardo de garrafas d’água na mochila, dois tubos de protetor solar, roupas mais leves, boné e um lenço para cobrir a nuca. Todo cuidado é pouco, certo? Com um Dewgong de um lado e uma Weavile desfilante de sombrinha na praia do outro, fui atrás dos representantes do sindicato para começar os trabalhos.

Bom, e esse é o primeiro ponto: onde encontrá-los? Havia uma sede? Um ponto de encontro? Perguntei à população local sobre essas informações e eles me indicaram um lugar. Primeiro objetivo concluído. Agora restavam todos os demais. E pela minha experiência, eles eram inúmeros e tendiam a crescer exponencialmente à medida que as complexidades surgiam. Ironicamente, nunca é um passeio na praia.              

Primeiramente, era um momento totalmente novo para mim de vivenciar! Apesar de estarem sofrendo um pouco pelo clima fora de suas zonas de conforto, ambos meus parceiros do lado de fora das esferas pareciam bem à vontade. Groen, mesmo tímido e mais contido, estava empolgado, não só por estar em um ambiente costeiro como ser uma região populada por espécies as quais compõem sua cadeia alimentar. Coincidente ou não, o sumiço de uma delas é o motivo de minha vinda para o local. Já pelo lado de Kinney, receber tantos elogios assim estava fazendo muito bem à sua autoestima! Tanto que a mesma começou a desfilar com toda a pompa possível! Eu mereço! Estar ao lado de uma celebridade é novidade pra mim, ainda mais se levar em conta meu estilo de vida mais reservado. Porém, é dela que estamos falando. Isso só me provoca risadas de diversão, mas se fosse comigo provavelmente estaria incomodado, até mesmo mais tímido que Groen!

Em segundo lugar, além da bela manutenção do local, pelo visto a rotina dos pescadores não foi tão afetada. As redes continuavam bem recheadas, mas a diversidade do pescado era bem perceptível. O impacto econômico e ambiental realmente era iminente, algo tinha de ser feito. E então minha atenção foi furtada pela simpática saudação do senhor. Franzi o cenho rapidamente. Ele me é familiar. Já o conheci antes? É alguma figura famosa? Ou era só o arquétipo de velho marinheiro? Ainda não sabia, mas talvez descobriria em breve, não antes, claro, de responder a simpatia com um sorriso aberto. - Haha, pois é! Uma chama atenção com o charme, o outro com a robustez! - comentei olhando para os dois. Kinney levou as garras até as penas e fez um movimento como se jogasse o cabelo, já Groen começou a ficar corado e tentou se esconder por trás das nadadeiras dianteiras. - Tento sempre dar o meu melhor para cuidar deles e dos demais! Vejo que as coisas seguem movimentadas por aqui… - aquele papo solto para começar a conversa - Bem, meu nome é Galvanis, cadete Ranger e membro da sociedade The Wolves. Fomos contratados para investigar a causa do desaparecimento da população de Shellders aqui da região. Gostaria de começar lhe fazendo algumas perguntas, se possível. - era o protocolo padrão, sem emoções ou desconfianças, só trabalho. - Gostaria de saber, primeiramente, seu nome e se o senhor é um sindicalizado ou trabalha na marina? - apresentações feitas, hora de anotar coisas. Se o senhor ser um sindicalizado, poderia me indicar pessoas para adiantar o meu lado. Se fosse um dos sindicalistas, melhor ainda. Para além disso, se tratando de um senhor de mais idade, se ser natural da região, poderia ter informações sobre a região, locais mais propensos a ter mais ninhos de Shellder, ciclos de reprodução, etc.                

Capitão Boreas parecia ser o que aparentava, de fato, ser. Um velho lobo do mar. Velho por se permitir devanear sobre todo e qualquer assunto que lhe passe pela mente. É o que geralmente acontece com o passar da idade, é o que dizem. Ao chegar em um ponto de vivência mais avançado, a pressa da vida adulta dá lugar ao saudosismo da idade, com todas as suas vantagens e desvantagens. Lobo do mar pelas palavras tão íntimas ao se direcionar ao mar. De toda forma, ele não era ligado ao sindicato nem trabalhava na marina, mas estava disposto a me ajudar, o que era ótimo. Uma das coisas que faria logo depois de fazer as apresentações era buscar alguém com um barco disponível para me ajudar. Não dava para explorar tudo nas costas de Groen, não é? Falando nele, ele cheirou rapidamente o petisco dado pelo capitão e me direcionou o mais brilhante dos olhares. Óbvio que permite que ele pegasse. Era um presente dado de bom grado, não havia motivo para rejeitar.

- Agradeço pelas informações e mais ainda por oferecer ajuda, capitão Boreas! - fiz uma breve reverência como forma de gratidão. Uma coisa ele tinha razão: há mistérios profundos em todos os lugares, e os do oceano são o que tenho menos afinidade. - Encontro o senhor na marina. Tenho que conversar com os representantes do sindicato sobre minha chegada. - era parte do protocolo, afinal. Assim, observei o caminho que o ancião tomava e segui pelo caminho contrário, em direção ao prédio da organização. Mas não tomaria muito tempo por ali. Me apresentaria, diria o motivo de minha chegada, perguntaria sobre informações acerca do problema e do capitão Boreas e pediria emprestado uma roupa de mergulho, caso houvesse uma sobrando. Não tenho um “scuba gear” a tiracolo e tenho atrasado minhas aulas de mergulho, admito. Mas é isso, a gente trabalha com o que tem, não é?

De toda forma, terminaria de fazer o que tinha que fazer no prédio e segui na direção para onde o capitão foi. Sendo sua reputação positiva ou não, ele havia oferecido ajuda e possivelmente tinha um barco. Era um adianto e tanto. - Muito obrigado pela ajuda, capitão! Podemos começar pelos arrecifes que mencionou, onde os Shellder gostam de ficar. Poderemos encontrar pistas por lá. Groen e Kinney, vamos no barco por enquanto. Investigaremos pelo mar quando encontrarmos um ponto favorável. - dei as instruções para meus parceiros e, assim, entrei no possível barco do capitão Boreas. E como ele mesmo diz, ahoy!                    

Recebi boas referências do velho capitão, o que me deixava mais tranquilo e me permitia riscar um dos itens da lista. Pelo visto Boreas era bem quisto por essas bandas e as conhece muito bem. Apesar da descrença dos sindicalistas, meu objetivo não era necessariamente achar os Shellder, mas sim o porquê de seu desaparecimento. Bem, com tudo pronto e estabelecido, era hora de zarpar!

Uma vez dentro da embarcação, permiti que o capitão analisasse o equipamento. Groen parecia afoito para pular na água, enquanto Kinney curtia a brisa salgada. Imaginei que os outros também gostariam disso. Leona com certeza iria gostar. Bahlok ficaria voando o tempo todo. Ciri ficaria um tanto incomodada e iria buscar alguma sombra pra ficar deitada. Howllet talvez ficasse um tanto amedrontado. Mas essas experiências eram importantes para ele. Depois de pensar um pouco, decidi deixá-lo sair um pouco. Uma vez fora da esfera, o Sneasel hisuiano estranhou, e muito, estar em mar aberto. Mas a companhia de Kinney e Groen aos poucos o acalmava. E então o pequenino logo foi trocando o medo pelo encanto das marés.

Ainda mantendo os olhos nos equipamentos, voltei até o capitão. - Ouvi na merina que os Shellders são mais ativos à noite, mas podemos usar a luz do dia para encontrar algo. Falta muito até os recifes? - não havia muito o que ver por ali, além dessa situação ser muito complexa e crucial, então não tinha muito tempo para admirar a paisagem. Vou deixar isso com meus parceiros.                      

- Na verdade, não. - olhei para o horizonte distante enquanto respondia a primeira questão do capitão. Não é algo que conte para todos ou registre em um cartão de visitas, mas sou natural de uma cidade litorânea. Os tais segredos do mar não me apetece tanto assim, seja por esse motivo ou pelo fato de não querer lembrar muito de Olivine ou de minha infância. Mas definitivamente NÃO ERA ALGO QUE DIRIA EM VOZ ALTA! Isso poderia soar indelicado e até mesmo ofensivo para alguém que vive do mar, como Boreas. Segurando Howlett no colo, que eu jurava estar brincando com Kinney e Groen, observei meus parceiros pelo convés. Não é como se eu tivesse liberado todos eles ali. Aliás, EU NÃO ME LEMBRO de ter feito isso. Mas de alguma forma, eles estavam ali. O que não era de mal algum, muito pelo contrário. Não é como se eu tivesse controle total das minhas ações e escolhas. Falando nisso, ultimamente tenho ficado atento a como algumas coisas acontecem como se eu tivesse tomado a iniciativa para que elas acontecessem, sendo que NÃO FIZ NADA. Desde o ato de liberar meus Pokémon, seja dizer algo que apenas pensei, seja ir para um local que só cogitei ir. Estranho, né?

Mas para que pensar nisso, não é? A vida é bela e é isso que importa. Talvez não encontraria nada analisando por fora, tampouco estava com vontade de mergulhar para investigar antes do anoitecer. Se os Shellders não são ativos de dia, não faz sentido mergulhar agora, certo? Ainda mais com Bahlok agitando as ondas com seus mergulhos esporádicos. Era exatamente por isso que não queria muita movimentação por agora, mas é como dizem: o que está feito, está feito. Quanto ao segundo convite do capitão… - Claro! Vamos a uma pescaria! - sim, era uma boa ideia, talvez até um bom treino para Howlett.