~ O que é uma Aventura? |02| ~

Misdreavus observou o discurso com curiosidade e atenção, ficando ainda mais surpresa ao ver a mão de Leander ser estendida em sua direção, no que ela foi fortemente atraída pela visão dos seus dedos, como se esperasse que algo acontecesse com eles de novo. Por segundos ela encarou e esperou, até se dar conta de que nada aconteceria dessa vez. Foi então que resolveu se aproximar com um dos braços ainda molhados de tinta e, na intenção, sujou a palma e alguns dos dedos de Leander com aquela tinta arroxeada. Misdreavus gargalhou se divertindo com isso.

Pela aproximação e descontração ficava subentendido que da parte dela o clima ali era bem leve e até amigável. Ela não transmitia nenhuma intenção de arrumar encrenca nem de ser agressiva. Talvez só tivesse uma personalidade espontânea pouco compreendida e, claro, brincadeiras "selvagens" demais para os padrões humanos. Mas até isso era parte da essência daquele Pokémon, a tal ponto de ela não se importar tanto com a (falta de) receptividade de Notredam e Starly.

No mais, Berta estava começando a compreender melhor o que se desenrolava, por isso fez Tom buscar e entregar uma paleta que ainda continha tintas frescas, além de um quadro menor e em branco para o caso de o jovem Ottocard querer usá-lo.

Hearthome – Tarde | 25ºC – Leander

As tensões se dissolviam com o passar do tempo e conforme a compreensão mútua era estabelecida, principalmente por parte de Leander e Notredam, os mais maduros dali. Assim, quando o convite tomou forma e se concretizou, foi um pouco mais fácil para os Pokémon aceitarem.

Todos estavam prontos e dispostos a colaborar para uma arte nova, possivelmente abstrata já que Misdreavus (ainda) era um espírito livre - literalmente - e quase tão hiperativa quanto Starly, capaz de rabiscar quaisquer coisas sem muito padrão na tela branca.

Um último quadro acabaria sendo pintado naquele quintal, sob a luz emprestada de Romildo que, apesar de tudo, ainda era um vagalume em essência. Starly, é claro, se renderia fácil a uma nova oportunidade de diversão, enquanto Notredam não teria problemas em dar sua contribuição depois de ter decifrado um pouco melhor a situação. Shellos não tinha preocupações; ela havia aceitado a presença de Misdreavus muito antes.

Hearthome – Noite | 22ºC – Leander

Com a permissão concedida e o convite oficializado, Misdreavus tinha seu momento com o quadro, literalmente uma tela em branco que ela encarava sem saber bem o que fazer. Quer dizer, uma coisa é ser levada pela diversão e macular uma arte já feita pelos outros. Outra coisa era começar uma arte sua do zero.

Num sinal de decisão, Misdreavus se aproximou da tela com a mesma tinta em mãos e saiu pontilhando aleatoriamente a área, em movimentos tão rápidos e imprecisos que as gotas de tinta ficavam meio esparramadas, dando a impressão de serem estrelas de muitas pontas. Mas o toque final veio depois, segundos antes dela se afastar do quadro.

Misdreavus escolheu o canto inferior direito da tela e, feito um estudando que picha a cadeira da escola, rabiscou ali uma figura meio abstrata de cinco pontas finas. Algo peculiar que, olhando de perto, parecia duas mãos humanas, porém uma das pontas estava parcialmente incompleta, simbolizando um dedo cortado ou faltando. Decerto era a lembrança mais memorável que ela gostaria de registrar, mesmo que destoasse do contexto inicial.

Off escreveu:

kkkkkkkkk XD
Ah, não tem problema não. Pode editar se te incomodar muito sim, mas, por mim, não é necessário. Tá de boa ^^

Hearthome – Noite | 22ºC – Leander

Em instantes o quadro se enchia de cores e vida, contando um pedaço de uma história recente que unia os artistas que até então tinham tingido a superfície branca da tela. Era praticamente uma arte mística, mágica, envolta em truques e símbolos que causavam reações, além das cores.

Dos que participavam, Shellos era a única que não sabia bem o que estava acontecendo ali, pois não lhe fora dado um conceito como antes, mesmo assim tudo parecia fazer sentido para os outros. Mas isso não era algo que diminuiria o bom humor natural da lesminha rosa. Se Misdreavus via as coisas pelo olhar da diversão, Shellos percebia pela beleza e absorvia o que havia de positivo.

Quando convidada a contribuir com seus traços, Shellos apanhou o tom azul celeste e, com uma patinha livre começou a preencher parte dos espaços em branco que ficavam entre as "explosões" de Misdreavus. Havia uma ilusão fantasmagórica naquela combinação, ainda que o preenchimento não fosse dos mais perfeitos e precisos, e desconsiderando algumas gotinhas que acabavam escorrendo em algumas partes.

Berta não estava por ali para dar uma avaliação desta vez, mas Misdreavus parecia criteriosa o suficiente para se animar, dando giros no ar de empolgação com a arte final.

Hearthome – Noite | 22ºC – Leander

Trabalho feito, era hora de reorganizar aquilo que tinham usado, enquanto o quadro terminava de secar com a brisa que circulava pelo quintal. Com a ajuda de Romildo e sua luz natural, foi até fácil reencontrar os objetos usados para os levar de volta para dentro da casa. Dali, então, nos momentos finais restaram apenas Leander e os Pokémon no quintal, terminando de se higienizar.

A noite havia caído e o grupo era iluminado pela luz da lua crescente no céu e do que vinha da porta e da janela da cozinha de Berta, enquanto a família estava por lá. Starly e Shellos já começavam a refletir o fôlego daquela hora do dia, após horas intensas de atividade, por isso estavam mais quietinhos no momento. Isso dava a Misdreavus ainda mais destaque, já que ela era o oposto e, portanto, estava bastante enérgica e ativa flutuando ao redor do grupo.

Misdreavus já tinha visto muitos panos estendidos pelos varais de Hearthome, mas nenhum tão multicolorido e nem manipulado por mãos mágicas como as de Leander. Curiosa, permitiu ser tocada pelo rapaz, ou era o que esperavam até que a mão dele atravessasse o corpo intangível da fantasma na primeira vez, arrancando gargalhadas dela por mais um truque bem sucedido. Mas, na segunda tentativa Leander seria bem sucedido em tocá-la com o pano, removendo com facilidade a tinta seca que havia no rosto dela. Então Misdreavus se impressionou com o truque dele. Mãos mágicas com um pano mágico!

– Rapaz! Se Arno tivesse lhe conhecido na juventude, talvez você tivesse sido arrastado pra muitas aventuras com ele, no meu lugar! Eh-hehe... – Berta surpreendia vindo vê-los no quintal – Você parece tem um imã pros Pokémon. Veja só, em único dia, no começo das suas aventuras, e já fez tantos amigos. Tem gente que leva muito tempo até conquistar a confiança de um novo Pokémon. Isso só prova que meu palpite era o certo: você é uma boa pessoa, com um bom coração. – ela sorria, se aproximando da turma e observando Misdreavus – Com essa aí pra completar o time, você nem vai mais precisar ter medo se algum dia precisar viajar ou acampar ao ar livre, a noite. – comentou, trazendo um pouco das experiências vividas; mas Notredam subitamente virou para observar Berta com seu olhar vidrado, pois deve ter se enciumado com o comentário, afinal ele devia se achar guarda mais do que suficiente para o Ottocard, dia e noite.

Hearthome – Noite | 22ºC – Leander