Ranger por (mais) um dia!

Kiki tinha muitas informações para processar após conversar com o casal de agricultores. Inclusive a origem de veio, se era substantivo, adjetivo, ou um novo órgão descoberto ~q Decidiu ir até uma parte do lago onde a borda não era tão rasa. Ali, sentou-se com sua velha vara de pescar, buscando um momento de reflexão. Pescar exigia paciência, e ela esperava que esse tempo ajudasse a clarear suas ideias sobre o que estava acontecendo na região.

Com a vara de pescar nas mãos, Kiki observava o lago, a mente fervilhando de teorias e sem muitas respostas. O sol refletia nas águas, e o silêncio era interrompido apenas pelo som suave das ondas batendo na margem ou o piar de um starly ao longe, nenhum disponível pra ela capturar ~q Após um tempo, sentiu a linha pesar. No início, parecia um bom peso, exigindo esforço. Mas, de repente, o que estava na outra ponta da linha deixou de oferecer resistência.

Com um puxão final, Kiki trouxe à superfície um Floatzel. O Pokémon emergiu do lago com uma expressão de exaustão, seus olhos meio fechados e o corpo se movendo lentamente. Era claro para Kiki, com seu conhecimento de criadora, que algo estava errado. Floatzel parecia envenenado, os sinais eram evidentes: a coloração pálida, a fraqueza extrema e a respiração pesada. BOLHINHAS ROXAS SAINDO PELO CORPO. Kiki rapidamente puxou o Floatzel para a margem ao seu lado, analisando sua condição. Confirmando suas suspeitas de envenenamento.

Suspeitas confirmadas! Deu pra sentir só de puxar o cordão da vara, que o Pokémon na extremidade não oferecia quase nenhuma resistência. Quando finalmente o puxei pra fora só reforçou essa situação.

Bichinho, tava todo pôdi. Deu logo um aperto no peito e muita dó. Imediatamente tirei da mochila algumas cápsulas medicinais minhas, uma contendo extrato de Pecha Berry que curava efeitos de envenenamento - eu sei que esse aqui não é o mesmo que o causado por um Pokémon, mas os princípios ativos da fruta podem ter efeito paliativo - e outra contendo os extratos de Oran Berry, pra estimular a recuperação.

Longe de mim querer batalhar com uma criatura nesse estado! Nem cogitei uma atrocidade dessas. Ao contrário, se pudesse o levaria rápido até um Centro Pokémon, só que... É, não tem nenhum por aqui. Sei que o que vou fazer não vai resolver o problema, até porque inúmeros outros Pokémon no lago devem estar sofrendo como este. Mas, enfim, este aqui tinha vindo até mim e eu também não podia simplesmente devolvê-lo pro lago nesse estado.

Assim, retirava da bolsa uma pokébola pra tentar capturar o pobre Floatzel. Se conseguisse, até mandaria uma mensagem ligeira pro Prof. Birch pra que ele recebesse o Pokémon e sua equipe desse a ele o tratamento mais adequado pra se curar logo!

Com o procedimento emergencial feito, era hora de dar um pouco mais de urgência no restante. Acostumada a trabalhar sozinha eu admito que inicialmente nem pensei em já reportar as primeiras suspeitas à equipe, então foi até bom Hank me abordar no caminho, assim eu podia transmitir as novas informações pra ele.

– Ah sim, doutor. A situação é bem mais grave do que pensei. As pessoas daqui estão com a saúde debilitada e correndo sérios riscos. Acabei de pescar no lago e confirmei que a fauna aquática também tá seriamente comprometida. Isso é, porque aparentemente o problema está na contaminação da água do lago, que é a fonte de todo o resto. A origem da contaminação eu ainda não tenho certeza qual é, mas já sei onde fica. – apontei em direção a ilha solitária no meio do lago – Algo ou alguém tá lançando poluentes na água, lá na ilha. Pretendo ir lá agora, inclusive, fazer uma varredura, caso alguém procure por mim... Se me dá licença. – sorri com simpatia, mas nem tanto, pois estava aflita com a situação.

Se Hank não fizesse nenhuma objeção pra me impedir, iria montar em Togekiss e ir em direção a ilha pra sobrevoar a área e fazer um primeiro reconhecimento do local. Descobrir se a causa do problema estava à vista e, se sim, qual era. Dependendo do que encontrasse iria considerar dar meia volta e reagrupar com a equipe pra pensarmos como proceder.

"Frouxo!", foi como julguei Hank num primeiro momento. Um baita homem daqueles, ao invés de reconhecer o perigo e me acompanhar, não. Preferiu só fazer recomendações! ... Tô brincando. Um pouco... -q

– Pode deixar, vou só fazer um reconhecimento do lugar. – foi o que, na realidade, eu respondi pra ele.

Sei que sou impulsiva e tudo mais, mas já tenho algumas sessões de terapia em dia pra me vangloriar e alegar que tenho sido um pouco mais controlada ultimamente. Eu realmente só queria dar uma verificada nas coisas. Definir qual das duas opções de "veio" eu estava lidando... Digo, se algo estivesse sendo diretamente despejado no algo eu acho que nós veríamos, né?!

Bom, mas pelo visto não era bem isso que eu encontrava. A princípio nada de suspeito era percebido por mim enquanto sobrevoei até lá, mas então eu os vi, praticamente montando guarda na ilha.

– Gyarados?!

Uma espécie possível de encontrar por aqui, mas aquele comportamento deles não era nada natural. E eu sei como Gyarados são! Posso dar a carteirada de Especialista e Aprendiz com bônus de Criadora aqui! O simples fato de estarem praticamente agindo em grupo não condizia com o esperado deles, ainda mais num lago poluído. Algo de errado não estava certo...

Bem, como disse. Dei uma primeira olhada no perímetro e encontrei algo. Hora de dar meia volta e reencontrar a equipe na base. Está perto da hora do almoço, então não deve ser difícil. Já tenho amostras significativas, considerando os fatos, então vamos trabalhar com isso, como Hank disse, e quem sabe deixar o trabalho sujo da investigação pro Scott com seu Lizardon maior que o normal.

Se ele precisar de companhia, estarei disposta a ir também. Ou será que temos que visitar a família de Marie depois do almoço?! Tô perdida. Mas vou me achar.

Estava quase saindo de cena quando algo mais me chamou atenção no lugar. Meus olhos de ornitóloga, treinados para encontrar criaturas voadoras, percebeu o pequeno pontinho negro no meio do azul que era o lago, e o poço de Gyarados. Era um Starly, como vários dos que haviam pela região. Mas, esse não era um comum, não, pois seu voo errático denunciava que algo de errado não estava certo com o bichinho. Quando ele caiu na água então, só confirmou a suspeita.

Até ali, quando o avistei, segurei a velocidade de Togepic pra que a gente continuasse planando em círculos na área, enquanto eu observava a avezinha. Assim, eu estava quase acima dele quando vi o acidente acontecer e uma tragédia se anunciar: os Gyarados iriam pegá-lo! Não posso dizer que por fome, já que um bichinho daquele tamanho era o equivalente a uma castanha única numa refeição humana. Mas, também não posso descartar a possibilidade já que os Pokémon do lago devem estar doentes e, então, Gyarados não se alimentariam deles. Na pior das hipóteses, poderíamos julgar essa agressividade pura e simplesmente pra natureza dos Gyarados, que eram ferozes e agressivos.

Ok, eu não tinha muito tempo pra divagar sobre a biologia desses Pokémon, não. E apesar de conhecer e defender o equilíbrio natural das coisas, estaria sendo estúpida de considerar que 2kg de galinha alimentaria 230kg de cobra!

– 'Pic, precisamos salvar ele! – comuniquei minha decisão, imediatamente retirando do bolso um par de esferas – Gylfie, Salamence, vão! Atraiam a atenção dos Gyarados pelos lados! Gylfie, faça flanco pelo lado esquerdo e atraia eles com Air Slash (x2)! Salamence, se aproxime pela direita e use Crunch (x2) em um deles. Façam com que os Gyarados se afastem do meio do lago! – era onde estava o Starly, já que os cinco aquáticos se reuniram quase que ao redor dele, prontos pra disputar a refeição – Togepic, prepare-se! Somos muito rápidas. Quando eu der o sinal, você voa com toda velocidade em um rasante na direção do Starly. Eu mesma pego ele. – na minha cabeça, isso ia parecer cena de filme...

Gylfie estava em sua forma aérea pra ganhar mais bônus habilidade de voo. Tanto ela quanto Salamence carregavam ovos da sorte (Lucky Egg), porque sorte era o que mais a gente ia precisar pra isso aqui dar certo.

Sucesso! O que eu fiz foi quase que uma loucura e eu podia muito bem ter perdido o equilíbrio e ter caído na água pôdi, mas não cai. Claro, estava bem equipada com minha jaqueta de voo e isso garantia um pouco da segurança e... Enfim, detalhes. Importante é que o plano maluco deu certo e o pequeno Starly estava em meus braços agora.

– Calminha, pequeno. Você tá seguro agora, tá bem?! Já já vou deixar você sequinho e melhor.

Tentava passar segurança pro bichinho assumindo um tom de voz naturalmente doce, mascarando minha apreensão pelo estado de saúde dele, principalmente depois do que vi com aquele Floatzel agora há pouco. Enfim, pedia um pouco de paciência de Starly porque simplesmente pra tirá-lo daquele perrengue eu me coloquei em um, e agora tinha que me resolver com os Gyarados brabos.

– Salamence, tire de circulação os dois Gyarados enfraquecidos usando Dragon Claw em cada um deles! Gylfie, use Rain Dance e pulverize o Gyarados com mais vida usando Thunder! – abraçava Starly e o colocava entre meu peito e a jaqueta, seguro e aquecido.