[ROTA 1] Let's get started

O bater de asas dos voadores não me surpreenderam, em verdade, já esperava por alguma manifestação vinda de algum pokémon das redondezas diante de tanto barulho. Com passos firmes, continuei meu caminho. Felizmente, a ambientação era diferente da qual eu havia passado anteriormente e começava a se distinguir, um grande circulo podia ser visto formando-se a frente.

Um passo em falso fez com que eu deslizasse, percebendo que tratava-se de uma descida e não de um local plano, como imaginei anteriormente. Comecei a prestar mais atenção onde depositava meus pés para que um deslize não se transformasse em algo mais sério. Uma voz feminina e terrivelmente arrastada - de caipira de interior mesmo - quebrou o som ambiente. Parei de andar imediatamente e meti a mão direita no bolso, sentindo a pokébola e deixando-a preparada para caso fosse necessário, mas ainda sim sem revelá-la. Um leve sorriso formou-se em meus lábios ao ouvir a palavra "perdidinho" Perdido? Está tão óbvio assim? Girei meu corpo para onde imagina vir a voz e vi uma silhueta saindo pelo mesmo local que cheguei. Era mais baixa do que eu - não que tamanho fosse documento - mas seu chapéu causava uma leve diversão em quem o via. Sorri, tentando parecer gentil e meti a mão esquerda na nuca, como quem ri. -  Pode apostar nesse problema! Aliás, chamo-me Marc e você? Aproximei-me, mantendo a mão direita no bolso.

A recém aparecida menina aproximou-se de mim a longos passos, retirando o chapéu de sua cabeça para fazer menção de me cumprimentar. Pude ver melhor seu rosto e a agora reparava em seus trajes, que, permito fazer a comparação, eram praticamente o oposto aos meus. O rosto marcado pelo sol e a terra em sua roupa cessavam qualquer dúvida que ainda restava, ela deveria trabalhar em alguma fazenda ou sítio - e deveria por a mão na massa, ou melhor: na terra. Chacoalhei levemente sua mão assim que ela respondeu ao meu gesto e sorri. -  Prazer, Liza. Enfiei a mão esquerda no bolso, assim como a outra e inclinei levemente o tronco para trás. -  Bem... Eu desejava chegar à Viridian, mas as coisas não estão muito fáceis para mim... Será que ela caçoaria de mim por ser um aventureiro que não conseguia se aventurar, que se perdia logo na primeira rota? Não, ela não parecia ser esse tipo de pessoas, mas nunca se sabe.

Sorri ao ver a prontidão da garota em ajudar; assim que disse algo relacionado à pokébola, porém, o riso transformou-se em rubidez. De uma forma extremamente rápida e ágil, retirei as duas mãos de suas guardas de forma sincronizada e a agitei em frente ao corpo em forma de negação; não queria que a garota pensasse que eu estivesse atrás de alguma encrenca. -  Desculpe, desculpe... Não era a intenção.. Tentei um riso, mas ele saiu nervoso e desajeitado, mais do que eu imaginei poder criar.

Minha barriga roncou e percebi que há muito não comia, o pensamento voou para o pokémon em minha pokébola. Charmander deve estar com fome também... Em estado de devaneio, levei o dedo indicador esquerdo à boca e o mordi levemente quando alinhado aos incisivos centrais. -  Liza... Será que você poderia me ajudar? Se depender de mim, jamais sairei dessa rota, dando continuidade à aventura. Olhava para seus olhos tentando simular uma forma misericordiosa, tentando induzi-la a me auxiliar.

Com a mão da garota firme em minha punho, fui puxado para acompanhá-la. Percorríamos todo o perímetro do círculo, ato que intrigou-me um pouco, já que era obvio o trajeto ser traçado pelo centro, preferencialmente por seu diâmetro, já que, segundo leis matemáticas, a menor distância entre dois pontos era uma linha reta. Aquilo martelava em minha cabeça, mas não tinha certeza se era prudente falar; ela parecia tão cheia de si, afinal. Antes mesmo de poder abrir minha boca para indagá-la a respeito de tal comportamento, obtive minha resposta e, como num "click", tudo parecia fazer sentido. As placas, então, não eram uma simples pegadinha, mas uma forma de cansar treinadores e de fazê-los atrapalhados jurante a rota. Confesso que temi esbarrar com algum enquanto estivesse desacompanhado, afinal, minha experiência de batalha era nula e não desconfiava que charmander não desse conta.

Resgatando-me de meus devaneios, Liza tentou puxar algum assunto, quem sabe para fazer o caminho menos extenso. Sorri simpático ao seu interesse e, primeiramente num tom baixo, respondi a respeito de meu pokémon. -  Sim, sim, tenho um charmander... Acabei de ganhá-lo, na verdade... Reafirmei minha resposta em um tom mais audível. Quanto à sua charada, tinha muitas hipóteses, todas pareciam fazer sentido. Poderia dizer que possuía uma miltank, ponyta ou até mesmo um taurus, esses pokémons pareciam combinar com a garota, mas... Nem sempre é uma certeza. Vencido, dei de ombros -  Eu poderia dizer vários deles, mas duvido acertar... Não sou muito bom com enigmas... Ela conseguiu despertar minha curiosidade, agora ela teria que mostrar seu pokémon, nem que eu precisasse obrigá-la a isso.

Percorríamos o perímetro tão despreocupados que nem parecia que estávamos evitando armadilhas e que homens mal intencionados estavam à espreita. Fiquei feliz em receber o elogio a respeito de minha escolha; continuava, porém, curioso em relação ao pokémon da garota, que a essa hora sugeria uma espécie de jogo de adivinhação. Devia ter dificultado mais para ela... Não foi um pensamento carrancudo, longe disso, só percebi o quão adiantado eu fui - mas não via maldade na atitude de Liza, pelo contrário, ela mostrava-se extremamente confiável. -  Posso dizer alguns nomes? Se acertar, você diz. Pensei na dica, para carregar pedras o pokémon deveria possuir braços e, obrigatoriamente, ser forte... Quem sabe um tipo de lutador seja a resposta. -  Machoke? Ou alguma de suas pré-evoluções? Arrependi-me no ato Machoke é um pokémon muito evoluído para estar com uma "criança", no máximo seria um Machop Respirei tentando uma aspirar alguma inspiração. -  Geodude? Graveler? Como eu odiava esses jogos!

-  Droga! Levei a mão direita para a franja, e apertei levemente a cabeça, relaxando os dedos e deixando a mão escorregar até o nariz; baixei a cabeça. Encarei os dedos da garota, três ainda estavam levantados e eu tinha um desafio à minha frente - acertar o pokémon. -  Tauros? Nidorino? Quem sabe uma nidorina... Meus pensamentos vagavam pela minha mente; indicavam, porém, apenas nomes que de nada me serviriam. Nomes de voadores, insetos, aquáticos, todos eles estavam frescos em minha memória, mas quadrúpedes, estes estavam escassos. Pensei na proposta, era um tanto quanto vazia, afinal, não queria que a garota se calasse, para ser sincero, pois se o fizesse, o caminho seria um verdadeiro tédio, seriam apenas as arvores e o vento; por outro lado, eu ficar calado era algo natural, então não seria um "castigo" permanecer mudo. Queria acertar a espécie pertencente à Liza só para poder dizer que o desafio proposto foi vencido por mim.

Começava a apreciar a companhia de Liza, se antes seu sotaque carregado soou estranho aos meus ouvidos e até mesmo chato, agora passasse por natural. Além de curioso para saber seu pokémon, também estava para conhecer sua história e o que a prende àquela terra no meio do nada - tão isolada que era pacífica demais, tranquila demais e deserta demais. Onde estavam os outros treinadores e, principalmente, o grupo de homens que planejavam atacar novatos?