Mayhem Opera

“Iremos à Terra Nova”... “Eles que enfrentem a fúria do mar”... “E o dia do juízo final chegará!”. Afinal, o que significavam tais palavras? Todas aquelas pessoas, por algum acaso, acreditavam na aproximação do apocalipse? Tolice. Ninguém é capaz de prever o último julgamento, nem mesmo que houvesse os mais especiais indícios. Mas... E se fosse verdade? A partir deste ponto os meus mais profundos pensamentos se entrelaçaram num forte nó.

Carecia de mais informações para saciar a minha curiosidade, então logo fui perguntar sobre as crenças daquelas pessoas para a garota que antes havia me pedido para ajoelhar:

-Ei... – procurei chamar a sua atenção. -Você tem alguma ideia do que aquele cara está falando?

Crianças são inconsequentes – foi o que pensei. Talvez ela me revelasse todos os conhecimentos que eu queria.

Seguindo o conselho de uma criança de aparentemente cinco anos de idade, o jovem adulto, vulgo eu, acomodara-se no banco suavemente e aguardou pelo término da missa após ter dito um belo "OK, farei isso". Missas eram missas, e se eu já não aguentava as da minha própria religião, só Deus e Groudon saberiam como eu iria me portar diante daquela situação.

-Aron, pare de morder meu dedo! – sussurrei em alto tom, o que pode parecer controverso, mas essa seria a melhor definição.

Com o término da missa, o amargo silêncio foi brevemente quebrado durante a saída dos fiéis. Trazendo em seu semblante nada mais que um tranquilizante sorriso, o pastor se aproximou, buscando saber sobre a minha opinião a respeito da palavra do deus daquela religião. Era acoberto por vestimentas comuns de padre, com o diferencial de sua coloração. Em sua mão carregava um livro sagrado, mas nada que me despertasse a curiosidade.

-Olá. – cumprimentei. -Achei que os valores ditos foram, no mínimo, interessantes... Estava só de passagem e a excentricidade deste local me chamou a atenção. – procurava ser o mais formal e delicado possível, já que estava falando com um líder religioso. -Embora esta religião seja interessante, não planejo me converter, mas gostaria de saber mais sobre ela. – fui direto ao ponto.

Aron, acomodado sobre minhas coxas, parecia sonolento. Já fazia algum tempo que ele não saía de casa, e provavelmente o impacto do início de nossa aventura tenha abalado seu físico. Afinal, a aparição de um Pokémon estranho capaz de nos teleportar através de portais negros, a captura de um novo companheiro forte e uma viagem à outra cidade foram acontecimentos consecutivos que simplesmente marcaram a manhã do dia em que vivíamos.

O padre, após apresentar em seu semblante insatisfação com a notícia de que eu não pretendia me converter à religião daquela igreja, rapidamente retomou sua expressão conciliadora e tranquila. Seguindo com sua pergunta em busca de detalhes, não tardei em me pôr a falar.

-Bom – iniciei -, tenho vontade em tomar ciência da maior parte de suas crenças. – como era demonstrado, fazia uso de um português formal, que eu sem dúvidas não utilizaria ao conversar com alguma pessoa que eu não respeitasse tanto.

O resumo das crenças da religião que o padre e aqueles outros devotos cultuavam facilmente penetrara no âmago de minha mente, como se minha simplória curiosidade tivesse se alimentado de cada palavra proferida pelo homem. Segundo ele, a batalha final entre Groundon e Kyogre estava próxima do presente.

-Então Kyogre se sente injustiçado porque nós, humanos, vivemos nos domínios de Groundon e não nos dele? – pensei alto. -Mas, se este combate voltar à tona, não acha que Rayquaza possa novamente intervir? – desta vez me dirigia diretamente ao padre.

-É realmente uma história intrigante, não? Daquelas que te deixa frustrado por não haver um lado vencedor. – concluí, como se tivesse certeza que o tal Rayquaza pudesse surgir mais uma vez, afinal, se ele havia feito Groundon e Kyogre pararem de lutar no passado, porque os deixaria fazer o que quisessem agora, no presente? Naquele instante, apenas recitei minhas palavras, sem me preocupar com a possível reação de desaprovação do homem.

Aron remexia-se em meu colo, como se sonhasse que estava a correr em amplas planícies.