Mayhem Opera

Era como se o vocábulo inquieto do padre ingressasse em um de meus ouvidos e saísse de maneira imediata pelo outro. Eu unicamente concedia minha atenção ao que ele dizia por pura educação e capacidade de dar continuidade à conversa, afinal, ouvia tudo com indiferença. Se os lendários realmente chocassem suas forças numa batalha revolucionária, acreditava que ou Rayquaza pudesse intervir ou que simplesmente faleceríamos, confiando ou não no triunfo de Groundon.

Assumi que já havia gasto tempo de mais escutando as crenças daquela Igreja, e logo proferi:

-Entendo... Bom, preciso ir agora, não quero atrasar ainda mais os meus afazeres. – agarrei Aron, envolvendo-o com meus braços. Em seguida me ergui do banco, dando um sinal de despedida com a minha cabeça, voltando-me para a direção oposta e me dirigindo à saída.

-Eu preciso ir agora. – repeti, voltando minha face para seu semblante, encarando com desdém a insistência estampada em sua expressão. -Desista, eu apenas estava de passagem por aqui e acabei com a sensação de que precisava satisfazer a minha curiosidade, nada mais, nada menos... Não pretendo me converter, como já disse.

Aron, em meus braços, acordara com sua empolgação rotineira, imediatamente libertando-se de meu colo e pousando desastradamente sobre o chão. Ao ver o padre, correu em sua direção, dando voltas em torno deste como se o convidasse a brincar. Subitamente, um feixe de luz escarlate surgira de dentro de minha mochila, atravessando o zíper e materializando-se no Tangela colorido que havia sido capturado durante o Holi Park. A esfera enrolada em vinhas azuis se aproximou do pequeno metálico, como se apresentasse sua disposição amistosa em brincar junto de Aron. Os dois, após conversarem entre si em suas próprias linguagens, começaram a rodear o padre.

-Você não cansa mesmo, hein, Aron. – disse, levando minha mão à nuca para coçá-la. -E agora você também, Tangela?

Logo, movi meus olhos para a direção do líder religioso que em minha frente se estendia.

-Não se importe com eles, aparentemente não sabem a hora que devem ou não brincar. Venham logo de uma vez, Aron e Tangela. – disse, dando passos largos para a saída daquele local.

-E como você pretende me proteger, afinal? – retruquei. -Você também é um humano. Se Groundon quer nos proteger tanto assim, por que ele protegeria apenas os fiéis e não outras pessoas como eu também? – suspirando, voltei-me para o padre novamente. -A vitória dele é tão incerta assim? Ou ele só se importa com aqueles que o reconhecem? Para dizer a verdade, o que mais parece ser falso aqui é a crença de que realmente vai ocorrer uma batalha entre lendários tão cedo. Não vou acreditar em algo assim sem ter uma prova de existência. Em parte é por isso que não pretendo me converter, entende?

-Se você não quer me deixar simplesmente sair, creio que terei que derrota-lo aqui e agora. – disse, ainda convencido de que toda aquela conversa sobre lendários não passava de pura baboseira.

Puxei minha Pokédex rapidamente de um dos compartimentos da minha mochila, apontando sua câmera para o Pokémon desconhecido apresentado pelo padre. -Trapinch, tipo solo então... Aron, afaste-se. – comandei, logo em seguida chamando Tangela à frente. -Tenha certeza de que não vai errar. Use Sleep Powder e aproveite para acertá-lo com Vine Whip! – falei, apontando para a formiga alaranjada.

A célere formiga do padre parecia experiente em combates, de modo a tornar-se capaz de esquivar dos golpes de Tangela com extrema facilidade. Aparentemente até mesmo um Pokémon de aproximadamente mesmo nível de habilidade que seu inimigo poderia superar as suas desvantagens naturais e lidar com a situação a partir de sua calma e estratégia. Tranquilidade e consciência em meus atos não me definiam naquele momento.

-Tangela, não fraqueje! Dessa vez espere uma brecha na defesa do Trapinch e o acerte e enrole com seu Vine Whip, em seguida usando Absorb! – comandei, um tanto quanto eufórico.