Mayhem Opera

Enquanto caminhava sobre as trilhas artísticas de Forina, um incômodo surgiu das profundezas de meu ser, subvertendo meus pensamentos. A aparição de um grave ronco em meu estômago apenas confirmou minhas expectativas. Era fome. Decidi então vasculhar em minha mochila pra conferir se possuía algum lanche, talvez um daqueles clássicos que minha mãe fazia para eu levar no colégio. Porém, não consegui encontrar nada. Não sabia ao certo se minha atenção estava sendo distraída por minha avidez ou se eu realmente havia esquecido um dos principais componentes para uma aventura. Bem, querendo ou não, era necessário gastar meu precioso dinheiro em algum restaurante. Afinal, não iria durar muito naquele estado.

Percorri pelas ruas da cidade em busca de algum estabelecimento que pudesse me fornecer comida, seja paga ou não. Aron me acompanhava em uma velocidade reduzida; parecia sentir fome também.

Enquanto calcava pelas calçadas das ruas de Forina, uma música composta inteiramente por roncos em ambos os estômagos meu e do Aron me acompanhava. Os detalhes do cenário que se via ao meu redor não atraíam minha atenção, visto a urgência que estava tendo naquele exato momento. Busquei, em velozes movimentos de meus olhos, algum local onde pudéssemos nos alimentar. Infelizmente, não havia nada que se especializasse justamente nisso. Porém, havia um teatro. Todo teatro que se preze deve ter alguma lojinha que venda comida. Ou pelo menos, em minha concepção, é assim.

Decidi então encaminhar-me ao teatro. -Siga. – disse ao lagarto metálico, que estava um pouco atrás.

Enquanto tentava adentrar ao teatro, fui surpreendido pela aparição de um guarda, que dizia ser necessário um ingresso para a entrada ao recinto.

-Então... Onde posso conseguir esse ingresso? – perguntei, por instinto. -Ou melhor, você sabe onde fica algum restaurante que não seja tão caro e que não seja muito longe daqui?

Em resposta às minhas perguntas, o atendente deu início às explicações. De início, forcei-me a atentar o que me era falado, mas logo minha atenção foi distraída para um cartaz peculiar. Nele, uma treinadora e seu Pokémon flamejante posavam vitoriosos. O que mais me atraiu, porém, foi o fato de eu ter a chance de combater aquele frango assado que parecia ser tão poderoso. Mas, o melhor de tudo sem dúvidas era o prêmio que eu poderia receber caso vencesse aquela mulher. Dinheiro? Se fosse, não teria que me preocupar tanto com comida. Todavia, restava apenas cinco minutos para o começo do “espetáculo”.

-Gostaria de desafiar aquela tal de Renata. – disse, apontando para o cartaz. -Comprarei o ingresso se precisar do mesmo jeito.

Ao adentrar ao teatro, me fora apresentada uma encruzilhada de corredores e cortinas capazes de me conduzir para as mais diversas áreas daquele tão espaçoso local. Porém, segurei minha curiosidade, logo tomando rumo para a sala cujo número era o mesmo do bilhete de entrada. Chegando lá, sem dificuldades por sinal, iniciei uma busca que resultou em uma falha por algum lugar para me sentar. Fiquei de pé mesmo, próximo a um dos palanques de madeira do salão.

Quando me atentei ao cenário que se via ao meu redor, percebi a presença de uma escadaria que descendia até um palco no fundo do salão. Lá estava em curso uma peça um tanto peculiar. Como não tinha interesse algum naquela história, resolvi me apoiar num palanque, encarando os atores e de certa forma deixando-me levar... Ao final, acabei por prestar atenção em cada mísero detalhe da peça, de tanto tédio que estava tendo em ficar apenas aguardando, chegando até a me emocionar um pouco. E, com aplausos agudos, assisti ao fechamento das cortinas.

Naquele ponto, já havia até me esquecido do meu real objetivo, mas o que veio logo após esclareceu esta dúvida que mal tinha surgido em minha mente. As cortinas abriram-se, e de lá estava, em todo seu esplendor, a dupla que seria capaz de me fornecer um prêmio caso fosse mais fraca que meus Pokémon. Quando a treinadora do frango assado lançou seu desafio, eu apenas ergui meu braço, torcendo para que minha altura fosse o suficiente para me destacar em meio à multidão, talvez sendo chamado ao palco antes de alguns outros desafiantes. Afinal, não era do tipo de pessoa que simplesmente sairia gritando para chamar atenção.

Apesar de minha ansiedade, eu ainda pretendia assistir uma batalha de Renata para absorver informações sobre suas estratégias. Tendo a oportunidade, apontei a câmera da Pokédex para o Pokémon galináceo flamejante de forma discreta, só para registrá-lo em meu banco de dados e não ser convidado a me retirar por algum dos guardas que poderia acabar confundindo meu dispositivo com uma simples filmadora ou algo do gênero, coisa que geralmente não seria permitida em lugares como aquele.