013 - Starchild

Era cômico ver a reação impaciente do jovem, mas ele tinha lá sua parcela de razão. Nada havia dado certo para ele e certamente ele não esperava por ver a hora de sair daquele local infernal.

Odayakana precisaria por um fim naquilo, ele já passou do ponto “amigável” e suas ações começavam a ser ignoradas completamente pelos Pokémon selvagem, os quais pareciam cada vez mais ferozes e agressivos, fazendo com que as ondas de poderes psíquicos continuassem a toda força e as ilusões também. Era bom ver que o Magic Coat de Braixen estava cumprindo seu papel com perfeição.

- Grrrr... êcoV iav rerrom... – Dizia Gabriela em palavras estranhas. – uE oreuq ues oproc!

Ela avançava em direção ao jovem e parecia não querer parar. Niko também fazia isso, mas graças ao Protect executado pela Gothita eles não foram atingidos. A jovem criadora da fazenda olhava para Haruki através da reflexão de energia com as pupilas completamente esbranquiçadas, seus olhos vazios não expressavam nada além de uma infinidade de nada.

Era visível que a garota não fazia aquilo por querer, literalmente em seus olhos, e o jovem poderia tirar ela daquele transe. Seria interessante fazer isso, mas ele precisaria querer. Ele resolver por lançar sua Delcatty em campo, talvez sua força e experiência fossem o suficiente para ajuda-los a recuperar a segurança e controle da situação, o que seria de grande ajuda caso a fizesse.

A Pokémon gata olhava para seu dono e também para Gabi e Niko, mas seus olhos não saíam de Myrtil, eles se completavam, e o Braixen provavelmente já entendia o que a felina queria fazer.

Haruki tinha que dar as ordens para o Pokémon seguir, e quais seriam?

Ambos os felinos se entendiam perfeitamente, e isso era visto através de seus olhares tão profundos e significativos.

Myrtil tinha, em seu graveto mágico, uma pequena chama que apenas com sua intenção poderia consumir toda aquela caverna, poder suficiente para incendiar todos naquele lugar. A Reina, ainda que não contendo tamanho poder destrutivo, tinha agilidade e furtividade para executar saques rápidos de movimentos que poderiam deixar as situações mais fáceis.

Myrtil ergueu seu graveto e dele uma enorme corrente de fogo surgia, antes disso ele havia posicionado seus feitiços protetivos em seu treinador e seus amigos e se posicionado a frente do grupo, de frente para os vários Lunatone e Solrock. Ele fazia com que a corrente de fogo contornasse toda a superfície da caverna, ela encobria tudo e as queimava incessantemente, parecia ter poder suficiente para purificar tudo o que tocava, e assim a fez, usando de sua outra habilidade, o Psybeam, conseguiu canalizar energia psíquica e executar um disparo místico contra a escuridão que lhes assombrava. O raio psíquico, contornado por um redemoinho de chamas místicas, conseguia abrir uma brecha na formação dos Pokémon meteorito, aquilo foi o suficiente para tirar Gabriela e Niko do transe ilusório.

Era a hora de Reina brilhar. Ela saltava de rocha em rocha com uma velocidade quase que imperceptível, ela conseguia deixar pequenas marcas nas rochas as quais eram consumidas pelo fogo do Braixen, e logo as marcas explodiam fazendo com que aquela entrada da caverna desabasse. Não era possível saber qual movimento ela havia usado para tal ato, mas foi completamente certeiro e funcional. Era também possível ouvir gritos e grunhidos de desespero vindos do outro lado da parede de rochas que havia se formado. Através das pequenas frestas nas rochas e rachaduras que estavam na parede de pedras a qual havia soterrado aquela passagem era possível ver um grande brilho rosa sendo emitido, algo parecido a uma explosão de luz.

Aquilo era preocupante, afinal a Delcatty havia se “sacrificado” pelo grupo, e sem qualquer sinal de sua vida eles provavelmente ficaram assustados com aquilo. A Gothita e Chansey pareciam bem assustadas, a pequena Swablu também ficara bastante assustada e tentava se esconder nas vestes de Haruki, mas Braixen destacava uma feição bem alegre, e também astuta. Ele percebia o sucesso de suas ações.

Alguns segundos após o silêncio total do outro lado da parede de rochas, era possível ouvir um miado bem forte e característico, certamente o jovem criador poderia reconhecer, afinal era de sua Pokémon Delcatty. Ela ainda estava do outro lado, mas em questão de segundos uma grande ventania atingia o grupo vinda da luz e logo em seguida Reina aparecia frente a Braixen, ela parecia intacta, além de olhar para Odayakana esperando sua reação.

Foi muito perigoso deixar a situação a cargo dos dois Pokémon sem qualquer orientação ou ordem, mas felizmente foi o suficiente para conseguir tirar Haruki e seus Pokémon e Gabi e seu Arcanine daquela situação.

Agora eles poderiam seguir caminho, eles tinham total liberdade tanto para continuar em direção a área principal de Meteor Falls como também, talvez, investigar algo suspeito ali, onde tudo aconteceu.

Gabi parecia ter acabado de acordar, ela olhava a sua volta e expressava uma feição bem confusa e perdida. Ela também olhava para Haruki como se não o conhecesse, seus olhos voltavam ao normal, mas ainda sim ela parecia possessa. Felizmente bastou apenas um rugido de Niko para que a jovem aspirante a criadora voltasse ao normal. Ela olhava para seu canino flamejante com um largo sorriso no rosto e o acariciava como nunca visto antes, e ele o mesmo, lambia sua treinadora de cima a baixo, como se tivesse ficado meses, talvez anos, sem a ver.

Odayakana, a indagando, foi bem preciso nas perguntas, e elas seriam respondidas futuramente. Enquanto o grupo se recompunha um Solrock todo machucado passava levitando por todos. Ele tinha diversas rachaduras e pequenas crateras sobre sua superfície, e as labaredas de seu sol estavam algumas quebradas e também rachadas. Ele estava bem mal, à primeira vista. Sua levitação era lenta e bem baixa, além de que seus olhos não brilhavam de forma ativa como o normal.

Delcatty voltava a sua atenção para seu treinador assim como o Braixen, eles esperavam alguma ação. E o resto do grupo continuava como estavam.

Gabi, junto de Niko, também começavam a dar mais atenção ao Solrock.

Outra coisa que poderia chamar a atenção do grupo era um cientista que vinha correndo desesperadamente em direção aos garotos. Ele carregava diversos papeis e uma bolsa branca com alguns detalhes em azul.

O cientista, ao ver toda a seriedade de Odayakana, sorria de forma sínica. Ele ajeitava seus óculos, deixando alguns papéis cair no chão, e logo voltava a olhar para o jovem. Ele tinha uma aparência bem “acabada”. Suas roupas estavam intactas, brancas e impecáveis, porém seus olhos eram profundos como os de alguém que não dormia a dias e também tinha diversos sinais de cansaço. Seu cabelo estava completamente bagunçado. Seus óculos tinham algumas manchas de sujeira, mas o que talvez não lhe atrapalhasse, e suas mãos tremiam bastante. Era muito estranho permanecer olhando para aquele “ser” por muito tempo.

- Hehehehe... Acho que o experimento 3478 não deu muito certo. – Disse o cientista pegando alguns papéis que haviam caído no chão, mas deixando cair outros. – Vou ter que começar tudo de novo... Hehehe...

Sua risada era bem seca e sem graça, ele parecia rir por desgosto e cinismo. Ele também ignorava completamente as perguntas do garoto enquanto voltava sua atenção ao Solrock.

- Vamos, experimento 3478, temos mais alguns testes a fazer com você... Hehehehe...

Ele se virava de costas para o grupo enquanto acompanhava o Solrock em sua levitação. O Pokémon não demonstrava nenhuma reação quanto ao cientista, apenas continuava o seguindo.

Gabi e Niko olhavam bem suspeito para Haruki, eles estavam confusos e também irritados com o que o cientista havia feito. – Mas que filho da p... – A criadora foi interrompida por um latido do Arcanine.

Enquanto o rapaz saía ele acabou, por displicência, deixando cair alguns dos papeis que segurava. Ele não olhou para trás e continuou andando, mas ainda continuava ao alcance e também no campo de visão do grupo.

- Queimar a papelada? Hehehehehe – Gargalhava bem alto e descontrolado. – Você vai ter que me matar para apagar todos meus estudos. Hahahahahahaha!

O cientista parecia fora de si, ele olhava para Odayakana, agora, com curiosidade, ele via no jovem a oportunidade de continuar seus experimentos e fazem com que finalmente, depois de tantas tentativas, eles dessem certo. Ele também observava os Pokémon do garoto, via o potencial neles em atingir seu objetivo.

- Acho seus Pokémon bem interessantes. Hehehehe. – Dizia ajeitando seus óculos, e por segundos, e pela primeira vez, o grupo conseguia ver os olhos dele diretamente. A íris de seus olhos estava bem esbranquiçada, como alguém que estava próximo de atingir a cegueira total. Ele não tinha foco nenhum em seu olhar. – Que tal você me passar este Pokémon aí? – Dizia apontando para o Braixen. – Eu nunca o vi nesta região... abrir ele e estuda-lo seria interessante. Hehehehe.

Aquilo era perturbador, certamente fazia com que o estômago de Gabi embrulhasse e ela começava a olhar para o rapaz com nojo. Seus punhos cerravam de raiva e seus olhos também, fixavam o rosto do cientista com puro ódio.

- Nossa... – Sussurrou Gabriela. – Ele vai pagar por isso!

Seu Arcanine rugia forte contra o cientista, o fazendo se assustar por alguns segundos, mas logo voltava a gargalhar loucamente.

- Hahahahahaha! Eu adorei este Arcanine! – Dizia o cientista completamente fora de si.

O Solrock parava por alguns instantes e também voltava a sua atenção ao grupo, e ver que eles estavam bem agressivos, talvez prestes a atacar, ele se posicionava em forma de ataque e aguardava a ordem de quem lhe fazia experimentos.

- Experimento 3478, vamos acabar com eles e pegar seus Pokémon! Hahahahahaha! – Dizia o cientista olhando para Haruki, Arcanine e Braixen tal qual um estripador prestes a fazer sua vítima.