Missão do Professor Birch

Rotting Roots

A conversa fluía com mais calma em seus primeiros segundos, o principal fator por trás disso era o cansaço de Naomi e Gaulvi, correr pelas ruas era muito mais exaustivo do que parecia. Óbvio que o mais velho estava com sinais bem mais marcados do que a loira, pois ela só respirava com mais velocidade e antes disso uma gota ameaçou aparecer em seu rosto, mas foi rapidamente refrescada pelo bater de asas de Masquerain.

- Isso explica o motivo de tanta demora para aparecer. – O professor acabava pensando alto demais, esboçando um sorriso levemente sem graça depois. – Quer dizer... Eu sabia que não seria fácil chegar aqui por conta dos Poochyenas, mas até os treinadores iniciantes já haviam aparecido. – Ele levou a mão esquerda à barba para coça-la, pensativamente. – Fico feliz que esse atraso tenha uma justificativa tão nobre.

O homem deixou a dupla contar o que havia acontecido, reagindo com expressões faciais diferentes conforme os ápices da história eram revelados. Naomi complementava as informações do líder da The Wolves com as que não foram mencionadas, inclusive o comportamento estranho das mães que levou à uma divisão de grupo, antes da evolução de uma delas ocorrer.

- Intrigante. Essa história me lembra àquela fábula antiga, conhecem? Do Flautista e os Rattatas? Só que nessa versão temos uma alcateia fiel a uma figura que obedece à um apito. – Birch sorriu comicamente, antes de voltar ao seu tom sério. – Como eu queria que a solução fosse tão óbvia... Acho que não vamos resolver esse problema só conversando, a sua teoria pode estar certa, mas também pode estar errada. Vocês por acaso teriam alguma ideia sobre o paradeiro dessa Mightyena? O ideal seria fazer uma busca por ela, assim poderíamos ficar mais próximos do causador.

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O rosto do homem acabava exibindo outra das suas expressões confusas ao escutar a pergunta do treinador, o comentário a respeito da flauta era mais um trocadilho com finalidade humorística do que uma teoria propriamente elaborada.

- Bom... Tem sim, mas não sou perito nelas, tem um especialista que mora perto de Fallarbor que poderia te ajudar com mais eficácia. – Respondeu, com certa dificuldade, não parecia recordar tão bem do tal profissional.

Não se passou muito tempo de conversa, discutindo estratégias possivelmente eficazes para a busca da Mightyena desaparecida.  Quando o treinador decidiu montar em seu Charizard, a menina de cabelos loiros olhou para o lado pensativamente, antes de balançar a cabeça e recusar a oferta do líder da The Wolves.

- Acho que não é uma boa ideia... – Ela olhava para as sombras projetadas no chão, e logo depois para cima. – A Mightyena parecia ser cautelosa e sorrateira, ela não andaria em um lugar visível a olho nu, talvez esteja esgueirando pelos becos e decidindo o que vai fazer. – Os olhos azuis da garota fitavam sua Poké Bola e Masquerain. – Nós vamos por terra, vou sinalizar a direção se eu ver algo suspeito. Vocês poderiam apenas sobrevoar para ver esses detalhes de cima... – Pela primeira vez, embolou um pouco a língua ao dizer a frase, já que não estava habituada a falar de forma tão polida.

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A menininha parecia ainda mais esperta do que antes, deixando até mesmo o professor Birch surpreso com as suas capacidades intelectuais. De longe ela era bem similar a qualquer criança da sua idade, mas já resolvia tantas coisas por si só que poderia ser capaz de deixar até mesmo adultos com inveja. Entretanto, ela também não fazia o tipo de se gabar e mal sabia que estava fazendo algo muito além do convencional.  

Quando Gaulvi mostrou o frasco repleto de repelente, a primeira a reagir negativamente foi Masquerain. Aquilo era específico para afastar o seu tipo primário, logo a deixava incrivelmente sensibilizada e com vontade de se afastar. Só esse incomodo foi o suficiente para fazer Naomi negar o vidrinho e libertar o seu Poochyena da Poké Ball.

- Eu prefiro mascarar o meu cheiro com algo conhecido por ela, talvez isso até sirva de isca. – Gargalhando por conta das cócegas, a loira esfregava o seu rosto no pelo do noturno, fazendo o mesmo em seus membros superiores e inferiores. Ela repetiu a estratégia na donzelinha, além de deixar o filhote fora da esfera de captura.

- Tudo bem, eu ficarei caminhando aos arredores da minha casa e vou tentar conversar com os vizinhos. Também vou arrumar um meio de sinalizar quando encontrar alguma informação útil. – O homem assentiu, antes de começar a sua parte, andando em direção à uma das casas já reabitadas e tocando a campainha.

No céu de Littleroot as coisas pareciam calmas, a observação de Naomi não podia ter sido mais coerente, só dava para ver o básico lá de cima. O laboratório estava fechado, as casas principais, de Birch e dos pais de Ruby, nem haviam sido tocadas. Bastava esperar algum sinal de um deles para agir ou até mesmo olhar o começo da rota mais próxima.

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Os primeiros minutos de busca consumiam o restante do gás que a equipe do treinador, além dos integrantes da investigação, tinha disponível, trazendo aos poucos a sensação de desanimo. Nem mesmo as conquistas anteriores foram capazes de cessar esse sentimento, talvez porque ninguém pode descansar desde o ataque dos noturnos.

Claro que o jovem de cabelos pretos ainda possuía Pokémon completamente recuperados e que não haviam lutado diretamente, mas todos estavam cansados de tanto andar, proteger e cessar golpes. Nada podia ser feito em relação a isso, uma missão daquele nível exigia bastante dos integrantes, porém indicava algo importante a ser aprendido pelo treinador: não usar todos os recursos de uma única vez.

O Charizard só tinha energia o suficiente para se manter sobrevoando a cidade, não haveria comida disponível capaz de cessar o seu cansaço. Seus movimentos estavam reduzindo de velocidade aos poucos e se o líder da The Wolves não tomasse as medidas necessárias logo correria o risco de ficar sem a montaria aérea por boas horas. Para piorar isso, todos os Pokémon que viam a chegada do Fire Type corriam imediatamente, já não estava mais sendo surpresa ver as andorinhas voando para longe e os roedores voltando para seus esconderijos.

Quando estava prestes a desistir, um tornado chamativo subiu aos céus. Entretanto, não era só isso que desviava a atenção de Gaulvi: duas outras coisas possuíam qualidades apelativas. A primeira era claramente provocada por monstrinhos e a segunda foi causada por um disparo de uma pistola sinalizadora. Qual delas o rapaz escolheria? Apolo o indagava silenciosamente, só tinha energia para mais esse voo.

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Movido pela curiosidade, o treinador decidia optar pelo sinal emitido pelo sofisticado dispositivo, era o que mais se destacava entre os outros e isso poderia ser um bom indicador... Pelo menos, na teoria.

Primeiro, o moreno acalmava o seu grande voador dracônico, o incentivando a continuar firme por esse último esforço. O Charizard o olhou com certa compreensão, mas estava obviamente exausto e não conseguiria voar depois dessa viagem sem um descanso reparador, digno de causar inveja aos usuários de Rest.

O rastro deixado pela pistola era vermelho e levava à uma parte mais periférica de Littleroot, com casas humildes e uma infinidade de becos. Quando finalmente avistaram o local de onde o sinal teria vindo, depararam-se com uma pessoa usando um sobretudo preto, estatura mediana e completamente oculta.

Gaulvi e Apolo foram atraídos para uma armadilha. Como o dragão já estava em seu limite, foi obrigado a pousar pelo cansaço e quando o fez foi pego desprevenido pelo par de olhos vermelhos brilhando em um dos becos. Aquela figura já era conhecida, mas ficava ainda mais traiçoeira nas sombras. Urrando como nunca antes visto, o Fire Type teve controle só para afastar o seu treinador, antes do pior acontecer.

Ele estava confuso e irritado. Fora pego por uma estratégia igualmente baixa, a provocação de um uivo combinada com o brilho malicioso da Mightyena. Dessa vez a intenção dela não era conquistar espaço para batalhar, mas deixar o treinador sozinho para lidar com o seu próprio Pokémon, em um nível extremamente agressivo e descontrolado. Tanto ela como a pessoa usando sobretudo riram amargamente, antes de fugir pelas sombras dos becos. Charizard olhava para Gaulvi de uma forma bem diferente agora, estava pronto para cuspir fogo.