[EVENTO] Marionete Cósmica!

Não vou negar, até que a dança estava bem agradável! Digo, não sou o melhor dos dançarinos, mas ao menos não era o único iniciante por ali. Um garotinho, com roupas finas e um brasão semelhante ao apresentado nas bandeiras do lado de fora do castelo, também seguia a dança juntamente com a cigana, que parecia lhe ensinar os passos. Ele tentava ao máximo se manter de pé e no ritmo, mas aos pouco ele ia pegando o jeito, assim como eu!

E então, outros Pokémon surgiam através de névoa. Era um grupo de seis Pokémon da mesma espécie, em formação organizada como um grupo militar, ou uma tropa de guarda do castelo. Tomei minha PokéDex, eram Bisharps, e pareciam ser bem fortes. O pequeno Pokémon da cigana, que agora sabia que se tratava de um Gogoat, até tentou chamá-los para a roda, mas foi completamente hostilizado, quase recebendo um golpe, de graça! Claro que isso nos incomodou, tanto que tive que erguer um dos braços para impedir o avanço de Bahlok, que soltava um de seus rosnados eloquentes. - Ainda bem que Logan não está aqui… - comentei com Kinney, que voltou a cruzar os braços, concordando comigo com um balançar de cabeça. Meu canino elétrico é bem ranzinza e estressado, mas definitivamente odeia esse tipo de situação, sendo pior se for com algum de nós e ainda pior se for com ele.

A cigana percebeu para que lado a coisa iria, então recolheu seu parceiro e liberou um novo Pokémon completamente novo para mim, novamente. Identificada como sendo uma Braixen, apenas pensei que seria o tipo de Pokémon que Tony ficaria interessado, para ser envolvido por uma névoa negra e densa. Quando a cena retornou, não haviam mais pessoas, não havia mais dança, nem música, nem cigana, nada. Apenas o garoto, caído, chorando, com as roupas cobertas por fuligem. Um sentimento bem incômodo brotou dentro de mim. “Fuligem? Sério?”. Outra situação envolvendo fogo! Mirana delicadamente repousou sobre meus ombros. Senti Groen se enfiando por entre minhas pernas enquanto Ciri se colocou na altura da minha mão. Leona chegou pelo outro lado, repousando a mão sobre meu ombro, Bahlok abria suas asas para cobrir a todos nós e Kinney levemente levava suas garras até minha mão. Todos nós, definitivamente, estávamos FARTOS de fogo. Mas havia algo que precisava ser feito. Não éramos os “astros principais”? - Ei, garoto. Por que choras? - agachei perto do jovem e toquei seu ombro.            

Certo, onde essa apresentação iria parar? O garoto, que antes parecia se divertir com a cigana, agora aparecia para ordenar que os Bisharps a prendessem. Uma horda de Pokémon, de todos os tipos, surgiam para contê-la. Mas se ela era tratada com aparente carinho pelo menino, a ponto de chamá-la de “tia”, qual o motivo desse tratamento? As coisas não estavam fazendo sentido.

E antes que pudessem fazer sentido, o cenário muda novamente. Agora estávamos em um grande salão, com um banquete servido. A cigana também estava lá, junto de seus Pokémon. E ela comia praticamente forçada. Pisquei algumas vezes enquanto analisava a cena. Deveria fazer alguma coisa? Havia algo que pudesse fazer?

A cena então muda, DE NOVO, de forma drástica, para um quarto, provavelmente pertencente ao príncipe. Este estava ouvindo uma história, contada pela cigana. E pelo visto, o conto que ela dizia era referente a ela e ao príncipe, mas este não percebeu devido a pouca idade. Pelo visto Esmeralda, o nome da cigana, era a ama do príncipe, e ela vivia presa no castelo contra sua vontade. Ela queria ser livre, viver na floresta provavelmente. E de fato, algumas pessoas só sabem viver bem se for por cima de outras pessoas, por cima de suas mazelas e dificuldades.

A cena então se desfaz, com cada qual indo para seus aposentos. Nós sete ficamos juntos, obviamente. - Acho que entendo do que se trata… - Kinney novamente começava a falar - Sim, e não gosto pra onde vai. - completei o pensamento, recebendo um sinal de concordância da felina - O que acontece se simplesmente tiramos Esmeralda daqui? - Ciri propunha um plano de ação - Provavelmente, teríamos toda a guarda em nosso encalço. - Mirana ponderava os fatores - E o que isso tem de ruim? - Bahlok abria um sorriso e mostrava suas presas - E-eu não sei, só sei que quero ajudá-la! - Groen sintetizava - Gal, estamos com você. - Leona, então, completava aquela rodada de troca de ideias. Um pensamento correu novamente pela minha mente - Nós somos os astros, segundo o Ventríloquo, certo? - olhei para cada um deles. Se iríamos agir, deveria ser em grupo, como um. - Tá bem óbvio o que tá acontecendo aqui, não é? - levei as mãos na cintura e voltei a encará-los.

Groen parecia confuso e tombou a cabeça quando perguntei. - É o Ventríloquo, né? - Ciri puxou - É o que suspeito. Ele é a fonte da anomalia, e está nos usando para algo. - coloquei, então, minhas suspeitas - E o que devemos fazer, então? - Leona agora questionava - Fazemos parte desse show, correto? - Mirana levantava - Então… - Bahlok olhou para Kinney, que lançou um sorriso sapeca e meio malicioso - Vamos roubá-lo!

O plano era simples: Ciri e Mirana correriam para os aposentos de Esmeralda e a tirariam de lá. Bahlok, Kinney, Groen e Leona criaram um caos dentro do castelo para atrair o máximo de guardas para os jardins do mesmo. Enquanto a mim? Corri para a torre do sino e me joguei na grande corda, fazendo-o ressoar para todos os cantos! - SANTUÁRIO! SANTUÁRIO! - sim, eu era a distração!          

- Lembrem-se! - dizia para meus Pokémon enquanto corríamos cada grupo para seus objetivos - Nossa missão é perturbar o máximo até que o Ventríloquo se revele! - continuava - Tem certeza que vai dar certo? - Kinney me perguntava - É melhor do que ficar brincando de teatrinho! - Bahlok respondia, já impaciente - De toda a forma, vamos agir rapidamente! - Leona dava sua contribuição - E-ei, esperem! - pobre Groen!

Acontece que as coisas não aconteceram exatamente como pensei. Os sons e tremidas do castelo doíam forte na minha cabeça, talvez na de meus parceiros também. E então, nova mudança de cena…

Nossas ações levaram até um desfecho nada satisfatório. Mas isso apenas me fez concluir uma única coisa: Ventríloquo estava por trás disso. Interferir na história dessa maneira gerou uma grande consequência extremamente negativa. Esmeralda estava presa, juntamente de mim e meus Pokémon. Estávamos acorrentados, dentro de gaiolas separadas, observando Esmeralda ser presa. E, enfim, surge o rei. Ele acusa Esmeralda de traição, e ordena que eu seja retirado da gaiola. Agora era, de fato, o ato final. Se essa Ventríloquo quer um teatro, ele terá um teatro! - Haha… - comecei a rir, depois das palavras do rei, no começo baixo, e então crescendo, crescendo.. - HAHAHA! - até se tornar uma gargalhada - Você é um rei tolo e arrogante! Lhe foi dada uma dádiva na mais bela forma de uma musa das artes, e como você retribui? A colocando em uma gaiola! A única punição aqui recairá sobre você e seu reino! - olhando, então, para Esmeralda, continuei - Que lhe seja retirada a voz, para que nunca mais possam ouvir suas belas palavras, suas canções, e que a vocês recaia a maldição do eterno silêncio! - gritava, a plenos pulmões, como um legítimo ator em um palco - Eis que cai o pano, e já não há cordas me controlando! - ouviu Ventríloquo? Essa foi pra você, maldito!        

O rei deferiu a sentença, que não agradou nada ao príncipe. Meus parceiros olhavam para aquilo com um certo pesar, espero que eles não tenham ficado ressentidos com minha decisão. Era uma entre duas escolhas ruins. E se escolhesse por não escolher, provavelmente Ventríloquo aprontaria das suas, atrapalhando nossa investigação. Um dos guardas Bisharp executou a ordem, retirando a capacidade vocal de Esmeralda para sempre. E o príncipe, pobrezinho, estava desolado. O rei por mais que sentisse pesar, não me enganava nem um pouco. A coroa nunca pesa igual para todos os lados.

E então éramos redirecionados novamente. Dessa vez, bem… de um jeito bem incômodo! Boa parte de nós estávamos sobre uma cama claramente feita para uma criança. Eu estava sobreposto por: Kinney, Ciri, Seel e, pasmem, Bahlok! - Bah… lok… - tentava falar, mas não dava! - Sai de cima, bocó! - obrigado Ciri! - Ai, minha perna! - Kinney resmungava - Não… consigo… respirar… - tadinho do Groen! - Desculpa ai, gente! - finalmente, ele saiu, e todos pudemos respirar com tranquilidade! Leona até conseguiu rir da situação, de pé, ao lado da cama, tendo Mirana próxima a si.

Era claramente um quarto infantil. Havia alguns livros em uma estante, decorações características e uma grande janela levando ao luar. Bahlok observava a lua tendo Kinney sobre si. Leona conversava com Mirana sobre os livros, e Ciri conversava com Groen sobre tudo que aconteceu até então. Bom, vamos dar um giro nos grupinhos e ver o que eles tanto conversam… - Incrível como a lua parece real aqui… - o dragão puxava - Mas tudo parece bem real aqui. Talvez seja… - a felina completa

- Pelo visto o Dream World é bem material, apesar de ser constituído por sonhos…
- Sim… - Bahlok então respira profundamente - Irmãozão, fizemos a escolha certa, né?
- Fala da Esmeralda? - Kinney levanta a questão, recebendo um movimento positivo de cabeça como resposta. Ela então vira para mim, sem uma resposta aparente.
- Sinceramente? Não havia uma escolha positiva ali, garoto. Fizemos o que podíamos, mas não temos muito controle sobre nossas ações… - ficou claro para mim, no momento que aquele som poderoso nos atordoou o jogou direto para a cena da sentença, que éramos somente peças no jogo de alguém. E esse alguém parece ser o Ventríloquo…

- São tantos livros! Podemos encontrar alguma pista aqui, não? - a inseto gélida questiona a fada
- Talvez. Vale a pena dar uma olhada.
- Encontraram algo, garotas? - me aproximei devagar para não atrapalhá-las demais.
- Nada ainda, Gal! - Leona se vira com um sorriso no rosto, mas claramente era um sorriso mais amarelo do que os habituais.
- Deixa eu adivinhar: Esmeralda? - a fada se surpreende com a questão, e então desvia o olhar para baixo
- Sei que fizemos o que estava ao nosso alcance. Mas o gosto não deixa de ser amargo, não é? - suas palavras não poderiam ser mais assertivas.
- Muitas coisas são amargas, mas nem todas fazem mal. Certo, Gal? - Mirana? De onde saiu essa sabedoria toda?
- Não poderia ter dito melhor! - e, tomando as mãos da fada, continuei - Vamos ao final disso e vamos solucionar toda essa confusão, tudo bem? - ela assentiu com a cabeça, agora com o semblante mais determinado, e pude sentir uma aura quente vindo dela, como se ela expandisse essa determinação para todos.

- Poxa, Groen, não se cobra tanto! - Ciri comentava possivelmente sobre algo que não ouvi, e Groen estava meio cabisbaixo…
- E-eu queria ter feito mais! Q-queria ter ajudado… - opa, isso é novidade.
- Garoto… - me aproximei, sentando ao seu lado e deixando que ele repousasse a cabeça sobre meu joelho por um momento - Eu também queria ter feito mais. Queria ter resolvido a questão toda bem antes. Mas é isso que fazemos por aqui, não é? Fazemos o que pudemos, da melhor forma possível com o que temos. - percebi os olhinhos dele me encarando, com um brilho diferente. É completamente normal se sentir mal depois de um fracasso, mas… - Eu, Ciri… todos confiamos em você como parte desse time, e sei que você está dando seu melhor como todos aqui! Não precisa se sentir assim, tenho muito orgulho de ter você no nosso time! - Ciri sorria e assentia com a cabeça. Percebi os olhos do pequeno aquático marejados, e então ela respira fundo, puxando tudo aquilo para dentro e me encara de forma diferente. Agora séria e determinada! - A gente vai pegar eles, Gal! - era a minha vez de assentir - Vamos sim, pode ter certeza!

Por fim, recolhi os fragmentos no chão e comecei a fazer minhas investigações. O que mais poderia ter naquele espaço que ainda não percebi?